Por meio do idolátrico sacrifício da missa, uma das mais ousadas presunções de Roma, os sacerdotes pretendem abertamente converter o simples pão e vinho no verdadeiro corpo e sangue de nosso Salvador, atribuindo-se o poder de criarem Deus, o único Criador de todas as coisas.
Através desse rito profano e destituído de sentido, o sacrifício expiatório de Jesus e Sua Pessoa são difamados, o lugar de Seu santuário, “deitado abaixo”, e Sua verdade, lançada por terra (Daniel 8:11-12; Hebreus 8:1-2; Apocalipse 13:6).
A doutrina católica da transubstanciação [1] implica a rejeição do ensino bíblico de que Cristo veio ao mundo realizar uma obra completa.
Em contraste com os sacrifícios levíticos efetuados diariamente sob a antiga aliança, Cristo “não tem necessidade, como os sumos sacerdotes, de oferecer todos os dias sacrifícios, primeiro, por seus próprios pecados, depois, pelos do povo; porque fez isto uma vez por todas, quando a si mesmo se ofereceu” (Hebreus 7:27).
Jesus não precisa “se oferecer a si mesmo muitas vezes”, pois “se manifestou uma vez por todas, para aniquilar, pelo sacrifício de si mesmo, o pecado” (Hebreus 9:25-26).
A santificação é recebida “mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas” (Hebreus 10:10).
Jesus ofereceu, “para sempre, um único sacrifício pelos pecados”, assentando-Se “à destra de Deus” (verso 12).
Essa ênfase bíblica no final sacrifício de Cristo esclarece que o dom de Sua vida em favor da humanidade é tão eterno quanto Ele mesmo. Não precisa ser repetido.
No entanto, a doutrina católica da transubstanciação nega esta verdade.
Ao se referir ao sacramento da eucaristia, o Concílio de Trento decretou: [2]
Ensina primeiramente o santo Concílio e confessa aberta e simplesmente que no augusto sacramento da Santa Eucaristia, depois da consagração do pão e do vinho, debaixo das espécies destas coisas sensíveis, se encerra Nosso Senhor Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, verdadeira, real e substancialmente. (…) Uma vez, porém, que Cristo Nosso Redentor disse que aquilo que oferecia sob a espécie de pão era verdadeiramente o seu corpo (Mt 26,26; Mc 14,22 ss; Lc 22,10 ss; 1 Cor 11,24 ss.), sempre houve na Igreja de Deus esta mesma persuasão, que agora este santo Concílio passa a declarar: Pela consagração do pão e do vinho se efetua a conversão de toda a substância do pão na substância do corpo de Cristo Nosso Senhor, e de toda a substância do vinho na substância do seu sangue. Esta conversão foi com muito acerto e propriedade chamada pela Igreja Católica de transubstanciação.
Em Dignity and Duties of the Priest , de Alfonso de Liguori (1696-1787), uma obra destinada ao clero romano, há declarações detalhadas (e extraordinárias) sobre essa tradição da Igreja: [3] [4]
Mas nosso espanto deve ser muito maior quando descobrimos que, em obediência às palavras de seus sacerdotes – Hoc est Corpus Meum –, o próprio Deus desce ao altar, vem aonde quer que o chamem e sempre que o chamarem, e se coloca nas mãos deles, mesmo que sejam seus inimigos. E depois de ter vindo, ele permanece inteiramente à disposição deles; eles o movem como querem, de um lugar para outro; eles podem, se quiserem, fechá-lo no tabernáculo, ou expô-lo no altar, ou colocá-lo fora da igreja; eles podem, se quiserem, comer sua carne e dá-lo como alimento a outros. ‘Oh, quão grande é o poder deles’, diz São Lourenço Justiniano, falando dos sacerdotes. ‘Uma palavra sai de seus lábios e o corpo de Cristo é formado substancialmente a partir da matéria do pão, e o Verbo Encarnado, descido do céu, está realmente presente na mesa do altar! Nunca a bondade divina concedeu tal poder aos anjos. Os anjos cumprem a ordem de Deus, mas os sacerdotes o tomam em suas mãos, distribuem-no aos fieis e participam dele como alimento para si mesmos.’
Além disso, o poder do sacerdote supera o da Bem-Aventurada Virgem Maria; pois, embora essa divina Mãe possa orar por nós e, por meio de suas orações, obter tudo o que deseja, ela não pode absolver um cristão nem mesmo do menor pecado. ‘A Santíssima Virgem era eminentemente mais perfeita do que os apóstolos’, diz Inocêncio III; ‘não foi, porém, a ela, mas apenas aos apóstolos, que o Senhor confiou as chaves do reino dos céus’. São Bernardino de Siena escreveu: ‘Santa Virgem, desculpe-me, pois não falo contra vós: o Senhor elevou o sacerdócio acima de vós.’ O santo atribui a razão da superioridade do sacerdócio sobre Maria; ela concebeu Jesus Cristo apenas uma vez; mas, ao consagrar a Eucaristia, o sacerdote, por assim dizer, o concebe quantas vezes quiser, de modo que, se a pessoa do Redentor ainda não estivesse no mundo, o sacerdote, ao pronunciar as palavras da consagração, produziria essa grande pessoa de um Homem-Deus. ‘Ó maravilhosa dignidade dos sacerdotes’, clama Santo Agostinho; ’em suas mãos, como no ventre da Santíssima Virgem, o Filho de Deus se encarna’. Por isso, os sacerdotes são chamados de pais de Jesus Cristo: esse é o título que São Bernardo lhes dá, pois eles são a causa ativa pela qual ele passa a existir de fato na hóstia consagrada.
Portanto, o sacerdote pode, de certa forma, ser chamado de criador de seu Criador, uma vez que, ao dizer as palavras da consagração, ele cria, por assim dizer, Jesus no sacramento, dando-lhe uma existência sacramental, e o produz como uma vítima a ser oferecida ao Pai eterno. Assim como, ao criar o mundo, bastou que Deus dissesse: ‘Faça-se’, e tudo se fez, Ele falou, e tudo foi feito, assim também basta que o sacerdote diga: ‘Hoc est corpus meum’, e eis que o pão não é mais pão, mas o corpo de Jesus Cristo. ‘O poder do sacerdote’, diz São Bernardino de Siena, ‘é o poder da pessoa divina; pois a transubstanciação do pão requer tanto poder quanto a criação do mundo’. E Santo Agostinho escreveu: ‘Ó venerável santidade das mãos! Ó feliz função do sacerdote! Aquele que criou (se assim posso dizer) me deu o poder de criá-lo; e aquele que me criou sem mim é ele mesmo criado por mim!’ Assim como a Palavra de Deus criou o céu e a terra, assim, diz São Jerônimo, as palavras do sacerdote criam Jesus Cristo. ‘Por um sinal de Deus, surgiram do nada tanto a sublime abóbada dos céus quanto a vasta extensão da terra; mas não menos grandioso é o poder que se manifesta nas misteriosas palavras do sacerdote.’ A dignidade do sacerdote é tão grande que ele até abençoa Jesus Cristo no altar como uma vítima a ser oferecida ao Pai eterno. No sacrifício da missa, escreve o Padre Mansi, Jesus Cristo é o principal ofertante e vítima; como ministro, ele abençoa o sacerdote, mas como vítima, o sacerdote o abençoa.
O erudito católico John A. O’Brien, em seu livro The Faith of Millions, fornece explicações igualmente blasfemas: [5]
O terceiro grande poder do ofício sacerdotal é o ponto culminante de todos. É o poder de consagrar. ‘Nenhum ato é maior’, diz São Tomás, ‘do que a consagração do corpo de Cristo’. Nessa fase essencial do ministério sagrado, o poder do sacerdote não é superado pelo do bispo, do arcebispo, do cardeal ou do papa. De fato, ele é igual ao de Jesus Cristo. Pois, nessa função, o sacerdote fala com a voz e a autoridade do próprio Deus.
Quando o sacerdote pronuncia as tremendas palavras de consagração, ele vai até os céus, traz Cristo de Seu trono e O coloca em nosso altar para ser oferecido novamente como vítima pelos pecados do homem. É um poder maior do que o dos monarcas e imperadores. É maior do que o dos santos e anjos, maior do que o dos serafins e querubins; de fato, é maior até do que o poder da Virgem Maria. Pois, enquanto a Santíssima Virgem foi a agência humana pela qual Cristo se encarnou uma única vez, o sacerdote traz Cristo do céu e o torna presente em nosso altar como a Vítima eterna pelos pecados do homem – não uma, mas mil vezes! O sacerdote fala e eis que Cristo, o Deus eterno e onipotente, inclina Sua cabeça em humilde obediência à ordem do sacerdote.
Que dignidade sublime é o ofício do sacerdote cristão que tem o privilégio de agir como embaixador e vice-regente de Cristo na Terra. Ele continua o ministério essencial de Cristo – ensina os fiéis com a autoridade de Cristo, perdoa o pecador penitente com o poder de Cristo, oferece novamente o mesmo sacrifício de adoração e expiação que Cristo ofereceu no Calvário. Não é de se admirar que o nome que os escritores espirituais gostam especialmente de aplicar ao sacerdote seja o de ‘alter Christus’. Pois o sacerdote é e deve ser outro Cristo.
Notas e referências
1. Segundo Cooke & Macy, o termo foi cunhado para tentar descrever como o corpo redivivo e glorificado de Cristo poderia também estar presente no pão e vinho consagrados. O conceito é baseado na metafísica aristotélica e afirma que a “substância” ou “essência” do pão e do vinho consagrados na cerimônia seriam alteradas para a “substância” ou “essência” do corpo e sangue do Cristo ressuscitado. Uma vez que a “substância” não pode ser sentida, mas apenas compreendida pela mente, essa explicação parece satisfatória, embora seja infinitamente debatida por teólogos e muito pouco compreendida. – Bernard Cooke, Gary Macy. Christian Symbol and Ritual: an Introduction. New York: Oxford University Press, 2005, p. 100.
2. Concílio Ecumênico de Trento, Contra as inovações doutrinárias dos prostestantes. Sessão XIII, Cap. 1, #874, Cap. 3, #876 e Cap. 4, #877. Montfort Associação Cultural. Acesso em: 20 out. 2011, 09h23min.
3. Alfonso Maria de Luguori. Dignity and Duties of the Priest: or, Selva. a collection of materials for ecclesiastical retreats. Rule of life and spiritual rules. Eugene Grimm (Editor). New York, Cincinnati, Chicago: Benziger Brothers, 1889, p. 26 e 27.
4. Ibid., p. 31 a 33.
5. John A. O’Brien. The Faith of Millions: The Credentials of the Catholic Religion. Huntington, IN: Our Sunday Visitor, 1933, p. 270 e 271.