O redescobrimento do paganismo e a estratégia da desinformação

 

Dentre os sinais que indicam a proximidade da volta de Jesus, o redescobrimento dos antigos mistérios como parte do despertar religioso contemporâneo é um dos mais representativos.

Ao chamar o clímax da apostasia no fim dos tempos de Babilônia, o Apocalipse não somente antecipa um fenômeno de dimensão institucional – a união das igrejas e sua influência no poder civil -, mas também um fenômeno conceitual, na medida em que abrange uma tentativa muitas vezes deliberada de resgatar certos aspectos das tradições religiosas provenientes da cultura babilônica e de suas congêneres do passado.
Este fenômeno, tão recorrente em nossos dias, representa um claro desafio à mensagem de Deus na voz do segundo anjo (Apocalipse 14:8), o qual expressamente anuncia a queda moral e literal deste falso sistema de adoração.

Os adeptos da nova espiritualidade, porém, ao restituírem determinadas crenças e mitos pagãos à sua antiga condição de prestígio, contrariam a sentença divina, como se dissessem: “Babilônia nunca caiu, nem jamais cairá”. Desse modo, revivem o mesmo espírito recalcitrante dos construtores da torre de Babel, em um renovado desafio à autoridade de Deus.

Em complemento à postagem 

A reconstrução simbólica de Babilônia nos últimos dias, apresentarei neste artigo mais três exemplos da atual tendência de reabilitação do paganismo, frequentemente acompanhada de uma verdadeira campanha de desinformação que procura desqualificar ou distorcer importantes verdades bíblicas para o nosso tempo, precisamente no momento em que elas são mais necessárias.

“Vejam, Atlantis ressurge!”

Dubai, a maior cidade e emirado homônimo dos Emirados Árabes Unidos, é mundialmente conhecida por seus projetos megalomaníacos, entre eles o Burj Khalifa, a estrutura mais alta do mundo, cuja dimensão, à semelhança da torre de Babel bíblica, procura rivalizar com o céu.

Em pouco menos de três décadas, Dubai passou de uma inexpressiva cidade erguida no meio do nada a um arrojado modelo urbanístico futurista que não encontra paralelo em nenhum outro lugar do planeta, com ilhas artificiais e ousados projetos arquitetônicos que fazem outras cidades do mundo parecerem provincianas.

Apesar dos limitados recursos e do crescente endividamento, Dubai continua erguendo estruturas fabulosas que celebram o orgulho de seus construtores. Um desses empreendimentos é o hotel Atlantis na Palm Jumeirah, uma das ilhas artificiais em forma de palmeira de Dubai.

O resort, de proporções extravagantes, foi inaugurado em 2008 e consumiu 1,5 bilhão de dólares. Estima-se que os organizadores tenham gasto cerca de 20 milhões de dólares somente para entreter os mais de dois mil convidados para a festa de inauguração, entre eles várias personalidades do show business.

A cerimônia foi tão pomposa quanto o empreendimento em si, incluindo uma grande queima de fogos de artifício que podia ser vista do espaço!

A festa incluiu também performances que se assemelhavam a uma verdadeira dedicação religiosa, não para exaltar o nome de Deus, naturalmente, mas para reviver o suposto glamour dos deuses mitológicos do paganismo por meio de uma representação ostentatória e marcante.

Durante a cerimônia, um “exército” de Hórus, deus solar egípcio, entrou em cena acompanhando solenemente uma “Alta Sacerdotisa”, numa performance semelhante a da cantora Madonna no intervalo do Superbowl de 2012

A certa altura, a “Alta Sacerdotisa” diz, em tom triunfante: “Vejam, Atlantis ressurge!”, como se a própria ilha mítica de Platão ressurgisse das profundezas do mar, lembrando a fênix que renasce das cinzas (significativamente, a Palm Jumeirah foi inspirada em uma palmeira do gênero Phoenix).

O figurino usado pela atriz parece fazer alusão a uma divindade aquática, possivelmente Dagon, deus semita do leste da Mesopotâmia, algumas vezes representado como metade homem e metade peixe, ou o deus babilônico Oannes, um ser anfíbio que, segundo a descrição do sacerdote babilônio Beroso, teria a forma de um peixe.

Oannes era provavelmente o emissário de Ea, o deus das profundezas da água doce e da sabedoria (1), considerado também um mestre artesão, patrono de todas as artes e ofícios. Ea parece ter sido o protótipo de Oannes, o qual teria ensinado o homem a arte da escrita e da pintura e todos os ofícios. Além disso, atribui-se a ele a organização de cidades e o estabelecimento de templos. (2) Beroso relata que

Em Babilônia havia (nestes tempos) um resort de pessoas de várias nações, que habitavam a Caldeia e viviam de uma forma anárquica como os animais do campo. No primeiro ano, apareceu Oannes, proveniente daquela região do mar da Eritreia que faz fronteira com Babilônia, […] cujo corpo inteiro (de acordo com o relato de Apolodoro) era o de um peixe […]. Este ser costumava passar o dia entre os homens […] e deu-lhes discernimento sobre letras, ciências e artes de todo o tipo. Ensinou-lhes a construir cidades, fundar templos, compilar leis e explicou-lhes os princípios do conhecimento geométrico. (3)

A partir destas constatações, faz todo o sentido que os organizadores da grande inauguração do hotel resort Atlantis, em Dubai, tenham escolhido como tema para as performances daquela noite uma combinação de narrativas míticas provenientes de antigas culturas pagãs.

Inadvertidamente ou não, o espetáculo de proporções cinematográficas protagonizou uma autêntica celebração religiosa que, certamente, cumpriu seu desígnio.

Um fato digno de nota diz respeito à persistente relação entre a cosmovisão pagã e o discurso globalista do consenso, o que demonstra que a atual demanda por uma nova configuração mundial é inspirada, sobretudo, nos conceitos místicos de imanência, interconexão e unidade, os quais definem o movimento da Nova Era.

Luz, câmera, desinformação!

Mais do que qualquer outra organização de alcance global, Hollywood tem se dedicado a reviver a antiga cosmovisão pagã, seja por meio de espaços temáticos como a “Babylon Court”, uma área de lazer e entretenimento bem no coração do Hollywood & Highland inspirada em uma das cenas do filme Intolerance, de D.W. Griffith; seja mediante produções fílmicas cujos temas são frequentemente inspirados em narrativas míticas do gnosticismo e do misticismo em geral.

Esta influência insidiosa e quase onipresente não pode ser subestimada.

Em seu livro Engolidos pela Cultura Pop, Steve Turner lembra que os profissionais que produzem a cultura popular não são crianças brincando com giz de cera.

Predominantemente, são pessoas treinadas com um profundo conhecimento de sua forma de arte e de sua história. Mais adiante, ele acrescenta:

Alguns diretores, produtores e roteiristas são bastante sinceros sobre como querem que seus filmes ou programas de TV mudem atitudes. Eles percebem, por exemplo, que filmes e novelas são mais efetivos como transformadores de mente do que documentários, porque os expectadores se envolvem nos conflitos internos dos personagens que aprenderam a amar. Eles reconhecem que o público é mais efetivamente influenciado pelas emoções do que pelo intelecto. (4)

Gigantes da indústria cinematográfica, como a Disney, têm levado isso muito a sério. Recentemente, um artigo publicado no site do The Economist destacou que os personagens de propriedade da Disney delineados em projetos bem utilizados de estrutura mítica conferem à suas histórias ressonância cultural.

O próprio Walt Disney possuía uma compreensão intuitiva sobre o poder das fábulas. George Lucas, o criador de Star Wars, é um ávido estudioso da obra de Joseph Campbell [O Poder do Mito]. Ambos os cineastas entusiasticamente se aproveitaram da mitologia antiga e do folclore. O universo Marvel vai além, apropriando-se diretamente de fragmentos da mitologia greco-romana e nórdica.

O artigo do The Economist diz ainda que “os mitos modernos também têm o poder de unificar as pessoas ao longo das gerações, grupos sociais e culturas, criando redes de referências compartilhadas, mesmo quando outras formas de consumo de mídias tornam-se cada vez mais fragmentadas.” (5)

Transmitindo um conceito alternativo de Deus

O sucesso de algumas produções comprova esse tipo de influência, principalmente quando a narrativa combina ficção com antigos mitos.

Uma das produções que se tornaram cult é 2001: Uma Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick, um filme sobre interferência alienígena na evolução da humanidade (note como ficção e evolução se complementam na história). O filme foi inspirado no conto de Arthur C. Clarke, The Sentinel, publicado em 1951 sob o título Sentinel of Eternity.

Em uma entrevista à Rolling Stones, Kubrick revelou o conceito por trás do filme:

No nível psicológico mais profundo, a trama do filme simboliza a busca de Deus, e, finalmente, postula o que é pouco menos que uma definição científica sobre Deus. O filme gira em torno dessa concepção metafísica… (6)

Kubrick não deixa nenhuma dúvida quanto ao conceito de Deus que ele procura enfatizar no filme:

Digo que o conceito de Deus está no coração de “2001”, mas não se trata de qualquer ideia antropomórfica tradicional de Deus. Eu não acredito em nenhuma das religiões monoteístas da Terra, porém acredito que é possível construir uma intrigante definição científica de Deus. (7)

Não é de admirar que o filme contenha elementos gnósticos ao longo da narrativa, em que evolução e misticismo se combinam para transmitir a ideia de um desenvolvimento da humanidade, sobretudo de um ponto de vista místico.
Significativamente, o monólito negro de origem extraterrestre, protagonista do enredo, está literalmente ou simbolicamente ligado ao Sol em todas as cenas do filme. (8)

Desconstruindo a mensagem do Apocalipse

Filmes e séries que adaptam narrativas míticas do paganismo em seus enredos não só popularizam essa cosmovisão primitiva, como também distorcem a Palavra de Deus, particularmente o Apocalipse, ao explorarem relatos bíblicos sob uma perspectiva gnóstica, ou combinarem contos míticos ou folclóricos com narrativas bíblicas.
Este é o caso de Sleepy Hollow, uma série estadunidense em que os produtores fazem uma miscelânea entre o famoso conto americano de Washington Irving e as Sagradas Escrituras.

Keith Detwieler, do Little Light Studios, observa que, além da Bíblia, essa nova experiência cinematográfica explora ao longo de seus episódios mitologia, paganismo, demonologia e maçonaria, levando o telespectador a envolver-se profundamente com a história.

Em uma entrevista, os produtores Alex Kurtzman e Roberto Orci descrevem abertamente as motivações que tem moldado o conteúdo de cada episódio.

Kurtzman, por exemplo, diz que as histórias “gravitam em torno da Bíblia” e são “realmente relevantes para a nossa narrativa”. Orci, por sua vez, menciona as muitas referências ao Apocalipse, como os Sete Selos e os 144 mil, acrescentando o seguinte comentário:

A Bíblia é o ponto de partida, mas queremos explorar as diferentes interpretações da cultura religiosa e postular a ideia de que qualquer bíblia em qualquer cultura é, de certo modo, uma descrição e uma interpretação impressionista de uma única religião mundial verdadeira… (9)

As palavras de Orci apenas demonstram, mais uma vez, a íntima e perturbadora relação entre misticismo, desconstrução das Escrituras e o discurso consensual globalista.

Todos estes elementos estão presentes de alguma forma ao longo da série, cujas histórias contribuem, em maior ou menor grau, para uma mudança sistemática e intencional nos padrões de pensamento, comportamento e valores.

Conclusão

As diversas tentativas de reabilitação do paganismo e das religiões primitivas pela pós-modernidade não deveriam surpreender o sincero estudante das Escrituras. O livro do Apocalipse antecipa o desenvolvimento de semelhante fenômeno pouco antes da volta de Jesus, identificando-o como Babilônia.

Obviamente, a espiritualidade desse modelo consensual globalista desafia todo seguidor de Jesus que deseja permanecer fiel a Ele e à Sua Palavra.

À medida que nos aproximamos do bem-aventurado retorno de nosso Senhor, a ira de Satanás aumenta, pois ele sabe que tem pouco tempo (Apocalipse 12:12). Como inimigo da verdade, ele fará tudo o que estiver ao seu alcance para enganar, iludir e desviar as pessoas da necessária preparação para o grande Dia do Senhor.

Por esta razão, Jesus Cristo, por intermédio de Seu profeta, apela para que sejamos sóbrios e vigilantes (I Pedro 5:8).

De fato, o tempo presente exige de cada um de nós a mais absoluta lucidez mental e espiritual. A verdade e a suposição caminham lado a lado, a tal ponto que a linha divisória entre ambas parece se tornar cada vez mais tênue.

Somente os que compreendem e respondem positivamente ao chamado divino através das três mensagens angélicas poderão ser preservados dos poderosos enganos que dominam o mundo, e, assim, estar em pé quando o Senhor Jesus regressar.

Notas e referências

1. http://global.britannica.com/topic/Oannes

2. A. Leo Oppenheim. Ancient Mesopotamia: portrait of a dead civilization. Revised Edition. Chicago: The University of Chicago Press, 1977, p. 195 e 369.

3. Fragments of Chaldaean History, Berossus: from Alexander Polyhistor.

4. Steve Turner. Engolidos pela Cultura Pop: arte, mídia e consumo: uma abordagem cristã. Viçosa, MG: Ultimato, 2014, p. 15.

5. “Star Wars, Disney and myth-making“. The Economist, 19 de dezembro de 2015.

6. https://en.wikipedia.org/wiki/Stanley_Kubrick#cite_ref-krusch-q12_136-0

7. http://www.krusch.com/kubrick/Q12.html

8. http://secretsun.blogspot.com.br/2008/04/astronaut-theology-exhibit-no-2001.htmlhttp://jaysanalysis.com/2010/06/11/2001-a-space-odyssey-esoteric-analysis/

9. Keith Detwieler. “Not So Sleepy, Not So Hollow“. Little Light Studios, 24 de outubro de 2013.[Este artigo foi revisado em 07 de novembro de 2020]

 

 

Sobre Weleson Fernandes

Escritor & Evangelista da União Central Brasileira

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