301 – Lei, Graça e a Guarda do Sábado

Existe um grande conflito e que hoje está muito acentuado. Esse conflito consiste em conhecer a verdadeira vontade de Deus. Daí a importância de saber se cumprir todos os mandamentos é realmente necessário, ou se só acreditar no sacrifício de Jesus é suficiente.

Esse conflito nasce com a incapacidade do homem de chegar a Deus pelo próprio intelecto. A Teologia é importante, a Filosofia dá referências, a Ciência, em amplo sentido, pode também contribuir para a compreensão de muitas questões insertas nas Escrituras. 

Porém, é importante nos achegarmos a Deus com o coração aberto, humilde e disposto a aceitar a verdade, mesmo que ela contrarie nossas tendências e conveniências.

Acho que o exemplo de Abraão é suficiente para elucidar e afastar a aparente oposição estabelecida entre a lei e a graça. Abraão, muito antes de ser pai, acreditou em Deus e em Sua promessa de que seria pai de muitas nações. Esta fé lhe foi imputada por justiça, ou seja, Abraão foi justificado pela fé.

 

As obras não salvam. Isso é correto. Mas será pelas más obras que os ímpios serão condenados. Você pode procurar e irá encontrar inúmeras advertências relacionando as más obras (ou descumprimento das leis) ao juízo. Juízo, você sabe, é a execução de uma sentença, a condenação, a morte eterna. 

 

Os santos não entrarão em juízo, por isso os termos: salvos, salvação, remidos, etc. Salvação de quê? Do juízo, é claro. Da morte eterna, evidentemente, e do pecado.

Voltando a Abraão, notamos que Deus lhe prometera uma descendência como o número das estrelas, mas quando lhe dá um filho, Isaque, o pede em sacrifício. Foi uma ordem direta e clara (como dizem os militares) a Abraão. 

Abraão já havia cumprido tal ordem em seu coração, pois se dispôs a executá-la. Abraão sacrificaria Isaque se fosse realmente esta a vontade de Deus. Ele sabia que o Criador honraria Sua promessa, qualquer que fosse a circunstância. Abraão cumpriu a lei em seu coração, pois intentou sacrificar seu filho ao Senhor. Isto é OBRA, OBEDIÊNCIA!

A fé sem obras é morta (Tiago 2:26). Todo crente diz e repete isso o tempo todo, principalmente quando fala em caridade, esmolas, visitas a doentes e presos, etc. 

Mentalmente, muitos se indispõem em estender o conceito de obras ao cumprimento da lei, dos mandamentos, embora este seja o completo sentido da palavra “obras”. Caridade, auxílio, visitas, não matar, não adulterar, guardar o Sábado, não se curvar a outros ídolos, etc.

Grifei o “guardar o Sábado” porque as outras questões, a meu ver, estão de certa forma pacificadas. O Sábado é a grande questão. Existem outras, eu sei. A questão dos alimentos puros e impuros é uma delas. Mas a disposição para reconhecer a vigência de um mandamento é a mesma para reconhecer a vigência do outro, e o inverso também é verdadeiro.

A quem muito for dado, muito será cobrado (ver Lucas 12:47, 48). Imagino que depois de Satanás e seus anjos, os que mais sentirão o peso da glória de Deus em confronto com a própria pecaminosidade serão os TEÓLOGOS que não cumprem a lei (não a civil dos judeus, nem o cerimonialismo). 

Ai do Teólogo que estuda a Palavra de Deus para satisfazer sua própria vaidade, diz conhecer as Escrituras e delas tira conclusões que não revelam a verdadeira vontade de Deus. Dessa maneira eles (teólogos anti-lei) se tornam verdadeiras pedras de tropeço, cuja repulsa Jesus deixou bem clara no evangelho (Mateus 7:21-23).

A verdade que envolve a lei e a graça é muito simples. Mas Deus só a revela ao coração que se dispõe a recebê-la. Ele a oculta dos sábios e entendidos, porque estes, em sua maioria, são soberbos, e Deus resiste aos soberbos! (Tiago 4:6; 1 Pedro 5:5).

Jesus já acenava para tal questão em Seu ministério, pois sabia que Satanás, pai da mentira (João 8:44 – nela incluída a meia-verdade), iria utilizar o próprio processo de salvação para enganar o homem mais uma vez e arrastá-lo para longe do Senhor. 

Afirmou Jesus que a árvore que não der frutos será cortada e lançada ao fogo (Mateus 7:19, 20). Paulo afirma que os frutos da carne são (não taxativo): prostituição (não adulterarás, etc), homicídios (não matarás), idolatria (não terás outros deuses diante de mim), “e coisas semelhantes a estas” (Gálatas 5:21).

Seria coincidência o fato de a maioria dos frutos da carne mencionados por Paulo consistirem no descumprimento dos 10 mandamentos?

Jesus diz que não é possível uma árvore dar frutos bons e ruins. Diz também que uma árvore boa não dá frutos maus, nem a árvore má, frutos bons (Mateus 7:17, 18).

Jesus cumpriu efetivamente todas as leis (até as civis). Mas Seu êxito não se deve à Sua natureza divina, no fato de, mesmo sendo homem, foi ungido pelo Espírito Santo, porque orava constantemente, porque jejuava, porque estava em comunhão com o Pai, ininterruptamente.

Isso prova que a nós também é possível observar os mandamentos pela graça de Deus, é claro (Filipenses 2:13). Sozinhos não conseguimos nem amar a nós mesmos. 

Claro que pecaremos (pois a natureza pecaminosa continua dentro de nós e precisa ser morta todos os dias), mas não porque os mandamentos são pesados (1 João 5:3) ou impossíveis de se observar quando estamos totalmente ligados a Deus. Quem diz isso é Lúcifer, o tempo todo, desde antes da fundação do mundo. Ele é quem acusa as leis de Deus de irrazoáveis; é ele quem acusa Deus de tirano. 

É comum ouvir do crente a repetição de alguns textos bíblicos como: “Nada é impossível ao que crê”. “Tudo posso naquele que me fortalece”. Mas, em sinceridade, você já ouviu algum crente dizer isso sob a perspectiva de cumprir a lei, os mandamentos?

Para nos socorrer em nossas ânsias materiais e seculares, em nossos medos e apuros, clamamos a Deus e sem o menor constrangimento cobramos-Lhe o cumprimento de Suas promessas. Mas para nos ajudar a cumprir a lei, já ouviu alguém dizer a Deus: “Ó Senhor, tu disseste que ao que crê tudo é possível, e eu creio, e eu quero que o Senhor me ajude a cumprir a lei”? 

Se pecamos, não é porque não podemos cumprir a Lei com a ajuda de Jesus, pois podemos sim (o Espírito de Deus efetua em nós “tanto o querer quanto o realizar” – Filipenses 2:13). Desobedecemos porque somos naturalmente maus, inclinados às coisas deste mundo. 

Veja o que está escrito em 1 Coríntios 10:13: “Não vos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, vos proverá livramento, de sorte que a possais suportar.” O problema não está na Lei de Deus, mas em nós!

Vejo a graça como esta oportunidade a mais que o Senhor nos dá, a cada momento, de interrompermos a conduta pecaminosa e agirmos segundo Sua vontade.

Assim, é claro que todos pecamos, mas não vivemos no pecado. Há uma diferença substancial aí. Lutamos contra o pecado. Isso é a busca pela santificação, sem a qual ninguém verá a Deus (Hebreus 12:14).

Tudo é bem simples. As obras não salvam: são consequência natural da fé (ver Efésios 2:8-10). Guardar o Sábado não é legalismo, é reconhecer que Deus o santificou ainda antes da entrada do pecado (Gênesis 2:1-3). 

É reconhecer que nosso Criador e Pai sabia de antemão das nossas necessidades de descansar fisicamente, mediante a abstenção de quaisquer obras, e espiritualmente, entrando em Seu descanso quando dedicamos um período que ELE DETERMINOU – a Ele e à comunhão contínua com Ele (Êxodo 20:8-11).

Jesus afirmou categoricamente que não veio revogar a lei, e sim cumpri-la (Mateus 5:17-19). Quem afirma que Jesus revogou a lei advoga a tese acariciada por muitos de que Jesus foi cínico, populista e político naquele momento. Ora, Jesus jamais utilizou meias-palavras. Jesus não revogou o Sábado. 

Muitas, inúmeras obras foram realizadas por Jesus em pleno Sábado, e muitos se apegam a isto para dizer que Jesus revogou a observância do sétimo dia. Ora, que eu saiba, Jesus não era um assalariado nem um empresário. Só vivia para cumprir o Seu ministério. 

Jesus não estava trabalhando no Sábado, estava sinalizando, dizendo ao homem, EU SOU O CORDEIRO DE DEUS, Eu sou o “EU SOU” do antigo Testamento (João 8:58, 59; compare com Êxodo 3:14), o DEUS ETERNO, e estava no templo todos os sábados. É preciso entender que a natureza da obra que Jesus realizava aos sábados não é a mesma natureza das obras terminantemente proibidas pelo Senhor de serem realizadas no dia santo.

O Senhor sabe que temos nossos afazeres, nossas ansiedades, e Ele quer que lancemos sobre ele toda a nossa fadiga, carnal e espiritual, e que descansemos nossa mente e coração num dia reservado só pra Ele, no momento em que ELE DETERMINOU, não nós: NO  SÁBADO (Marcos 2:27, 28).

Existem muitas conjeturas e muitos argumentos sedutores para desabonar a guarda do Sábado. Você com certeza os encontrará. Mas nenhum deles, você vai sentir, irá destruir o discernimento dado pelo Espírito de Deus.

Disse Jesus que até do Sábado o Filho do homem é Senhor (Mateus 12:8). Ele não diria isso se o Sábado tivesse de perder a santificação dada por Deus, afinal, para quê ser Senhor de algo sem importância? 

Veio-me agora uma coisa à mente: os mandamentos de Deus foram escritos por Suas próprias mãos (Êxodo 31:18). Eles são o que Mauro Fernando Meister chama de “Leis Morais”… 

Hoje ninguém discute a vigência dos mandamentos: não matar, não adulterar, não roubar, não cobiçar, honrar pai e mãe, não dirás falso testemunho… Porque estes mandamentos regulam a vida entre os homens. Mas note: os mandamentos que regulam a relação dos homens com Deus  estão a cada dia mais fragilizados sob a rubrica do legalismo:

Não terás outros deuses diante de mim: Hoje um programa de televisão, um jogo de futebol, a profissão, o automóvel, o status social (principalmente o intra-igreja), entre outros tantos, podem muito bem se constituir em deuses que se interponham entre nós e o Senhor. 

Mas é tudo muito “discutível”. A transigência com este preceito precede o descumprimento do mandamento seguinte.

Não farás para ti imagem de escultura… e não te encurvarás a elas nem as servirás…: 

A transgressão deste mandamento não é prerrogativa dos católicos e dos umbandistas. Muitos ídolos e imagens, se não levantados por nós, nos são apresentados diariamente: a perversão sexual, luxúria, glutonarias, etc. Essas coisas estão aí, e nos curvamos a elas quando não as resistimos. Mas isto também é muito “discutível”.

Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão: Muitos querem mostrar ao mundo que pertencem a um “grupo de elite”: “os salvos”, e fazem questão de usar camisetas e adesivos com slogan do tipo: PROPRIEDADE EXCLUSIVA DE JESUS. E a vida desses crentes, em muitos casos, não encontra correspondência em seus dizeres. Isto não é usar o nome do Senhor em vão? É “discutível” também? 

Lembra-te do dia do Sábado, para o santificar: Não há um único verso em toda a Bíblia que ordene a guarda do domingo, mas muitos teólogos insistem em tirar conclusões a partir de textos que não autorizam esse método de interpretação.

Por fim, deixo-lhe um verso para meditação: Tiago 2:14-26.

“Verificais que uma pessoa é justificada por obras e não por fé somente.” (Tiago 2:24)

Não era minha intenção ser tão longo, mas senti o Espírito Santo me ordenar estas palavras. 

Continue escrevendo, vamos continuar estudando.

Um abraço, sincero e amigo em Cristo Jesus, o Senhor do Sábado.


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Sobre Weleson Fernandes

Evangelista da Igreja Adventista do sétimo dia, analista financeiro, formado em gestão financeira, pós graduado em controladoria de finanças, graduado em Teologia para Evangelistas pela Universidade Adventista de São Paulo. Autor de livros e de artigos, colunista no Blog Sétimo dia, Jovens Adventista. Tem participado como palestrante em seminários e em Conferências de evangelismo. Casado com Shirlene, é pai de três filhos.

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