A Oratória de Sócrates

Sócrates, filósofo grego (Atenas 470/69 – ed. 399 a.C.)

Sócrates nasceu em uma família rica de Atenas, filho do escultor Sofronisco e da parteira Fenareta. Por um certo período, serviu no Exército, mas passou a maior parte da vida nas praças da cidade e nos mercados, conversando com as pessoas que lá encontrava. quando estava na casa dos 50 anos de idade, casou-se com Xantipa, com quem teve três filhos.

As descrições que se fazem dele o pintam como alguém extremamente feio: barrigudo, com olhos esbugalhados e nariz arrebitado. Mas consta que era “agradabilíssimo”. Apesar disso, foi condenado à morte por suas atividades filosóficas.

Sócrates foi, provavelmente, a figura mais enigmática de toda a história da filosofia, ele por si só foi um problema filosófico. Não escreveu nada, enquanto a produção literária de seu tempo era abundante; não fez carreira de professor, enquanto inúmeros contemporâneos seus aproveitaram o talento pedagógico, e apesar disso foi um dos filósofos que mais influenciaram o pensamento europeu.

Sócrates é conhecido através de Aristófanes, que o denigre sob uma visão caricatural; de Xenofonte, que nos oferece dele uma imagem simplista; e de Platão, que lhe dá uma estatura fundamental na história da filosofia.

 

Mas Platão, seu principal discípulo, ao que parece, teria feito de Sócrates um retrato fiel ou um retrato sublimado por sua devoção e seu própria genialidade? Essa questão ficou insolúvel e somente nos foi permitido extrair os traços comuns dos textos daqueles que o conheceram, sem deixar de lado elementos da visão que a tradição consagrou, que é a que maior influência exerceu no Ocidente.

No final dos anos 1980, porém, o jornalista norte-americano Izzy Stone escreveu um livro respeitável e desmistificador a respeito do filósofo grego: O julgamento de Sócrates (1987). Para isso, empreendeu uma pesquisa longa e exaustiva, onde procurou reconstituir o retrato mais fiel possível do Sócrates histórico.

No entanto, no ano de 399 a.C., Sócrates foi acusado de “introduzir novos deuses” (as “vozes interiores divinas” que ele afirmava ouvir na cabeça) e corromper os jovens, além de não acreditar nos deuses venerados. O governo de Atenas foi uma das primeira democracias do mundo.

Sócrates, por outro lado, não escondia que acreditava que seria melhor para o Estado ser governado por uma só pessoa, que ele qualificava como “aquele que sabe”.

Alguns consideravam os pontos de vista de Sócrates uma ameaça à estrutura da vida em Atenas. Preocupado com a influência antidemocrática de Sócrates sobre os jovens aristocratas (entre eles Platão) envolvidos no pensamento socrático, um júri de 501 membros o declarou culpado, por pequena maioria.

Ele poderia ter pedido clemência. Poderia ter salvado a vida concordando em sair de Atenas. Mas, agindo desse modo, Sócrates não teria sido coerente consigo mesmo. Para ele, a consciência – e a verdade – tinha mais calor do que a vida. Assegurou ao júri que agira apenas pelo melhor dos interesses do Estado, mas foi condenado a tomar cicuta.

Embora lhe preparassem a fuga de Atenas, preferiu cumprir a sentença. Pouco depois da sentença, bebeu do veneno na presença de amigos e morreu. A democracia fracassava, ao permitir sua condenação e morte – e esse era, quase com certeza, o plano de Sócrates.

A Atenas da época de Sócrates era um importante centro de debates, visitado por todos os grandes pensadores de então. Um desses grupos de filósofos itinerantes era chamado de sofista.

Os sofistas ensinavam por dinheiro, ao mesmo tempo que afirmavam que as indagações da filosofia, os enigmas do Universo, jamais seriam respondidas pelo mortal – uma perspectiva filosófica conhecida como ceticismo.

Com os sofistas e Sócrates, o centro da reflexão filosófica grega deslocou-se dos problemas cosmológicos para os problemas humanos, particularmente a ética. E, para Sócrates, a virtude se identificaria com o saber: o homem só agiria mal por ignorância.

Assim como os sofistas, Sócrates tinha mais interesse no homem e em seu lugar na sociedade do que nas forças da Natureza. Ao contrário deles, Sócrates jamais recebeu dinheiro em troca de ensinamentos, e se distinguia dos sofistas em um outro aspecto bastante importante. Sócrates não se considerava um “sofista” – ou seja, uma pessoa erudita ou sábia.

Tendo encontrado a sociedade ateniense minada pela demagogia e pelas repercussões negativas da desastrosa Guerra do Peloponeso, o filósofo teria se empenhado, a partir dos 40 anos, na reestruturação moral de seus concidadãos. Passou então a viver nas ruas de Atenas ensinando a virtude e a sabedoria.

Não aceitava pagamento por isso e tampouco aceitou cargos públicos. Opôs-se aos sofistas, afirmando que o conhecimento é possível e que seu objeto primordial é a própria alma (Sócrates teria se inspirado no adágio do oráculo de Delfos: “Conhece-te a ti mesmo”).

Ele achava que o filósofo é aquele que admite não entender inúmera coisas, e que se aflige com isso. Nesse sentido, o filósofo ainda é mais sábio do que aqueles que se orgulham do conhecimento que têm das coisas sobre as quais, na verdade, nada sabem. Sócrates declarou: “Só sei que nada sei”.

Consta que um amigo de Sócrates perguntou ao oráculo de Delfos quem era o homem mais sábio de Atenas. O oráculo respondeu que, dentre todos os mortais, Sócrates era o mais sábio.

Sócrates ficou pasmo ao saber disso. Procurou imediatamente a pessoa na cidade que, para ele e para todo mundo, era extremamente sábia. Mas quando aconteceu de essa pessoa não dar as respostas satisfatórias a suas perguntas, embora se achasse capaz disso, Sócrates concluiu que o oráculo estava certo.

A sabedoria de Sócrates de devia ao faro de ele estar plenamente ciente da própria ignorância.

Embora colocasse em constante dúvida a extensão de seu conhecimento (um método que Descartes usaria cerca de dois mil anos mais tarde). Sócrates achava possível um homem alcançar verdades absolutas acerca do Universo.

Ele sentia a necessidade de estabelecer uma base sólida para nosso conhecimento, um alicerce que, segundo ele, estaria na razão do homem. Com essa inabalável crença na razão humana, Sócrates era decididamente um racionalista.

Ele afirmava que era guiado por uma voz interior divina, e que essa “consciência” lhe dizia que ele estava certo. Ele disso: “Aquele que conhece o bem faz o bem”. Com isso, queria dizer que o entendimento justo leva à ação justa. E só o justo pode ser um “homem virtuoso”.

Quando agimos erradamente é porque nada sabemos. Sócrates estava interessado em descobrir definições claras e universalmente válidas para o certo e o errado. Ao contrário dos sofistas, ele achava que a capacidade de distinguir o certo do errado está na razão das pessoas e não na sociedade.

A natureza essencial da arte de Sócrates está em que ele parecia não querer ensinar as pessoas. Pelo contrário, dava a impressão de desejar aprender com aqueles com quem conversava.

Em vez de dar aulas como um mestre tradicional, debatia, simplesmente fazendo perguntas – principalmente para começar uma conversa – com se nada soubesse. Ao longo dos debates, em geral levava os oponentes a reconhecer a fraqueza de seus próprios argumentos e, encostados contra a parede, finalmente compreender o que estava certo e o que estava errado.

Partindo da consciência da própria ignorância (“Só sei que nada sei”), utilizava como método não a exposição, mas a dialética (aqui com o sentido de arte do diálogo e da discussão), que podia assumir duas formas distintas: a ironia socrática, com a qual alegava ignorância em assuntos de que os outros se julgavam profundos conhecedores, apenas para demolir suas opiniões, levando o interlocutor à contradição e, desse modo, a purificar o espírito de idéias falsas e preconceitos.

Ao se passar por ignorante, Sócrates obrigava as pessoas a usar o senso comum. Ele não hesitava em agir desse modo na praça da cidade; e a maiêutica (arte de partejar os espíritos, numa alusão à profissão materna), pela qual Sócrates auxiliava o interlocutor a encontrar a resposta por meio de um trabalho de reflexão; em outras palavras, Sócrates via como sua tarefa ajudar as pessoas a “dar à luz” a compreensão correta, uma vez que o verdadeiro entendimento deve vir do interior. Ele não pode ser transmitido por outra pessoa.

E só o entendimento que vem de dentro pode levar ao verdadeiro conhecimento.

A vida e o pensamento de Sócrates fascinaram os filósofos ocidentais e suscitaram uma admiração quase mística em Rousseau, Kant e Hegel, ao mesmo tempo que uma rejeição exemplar em Nietzsche, que via nele o aniquilador do mito em nome da razão.

 

Fonte: Mais Relevante

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Escritor & Evangelista da União Central Brasileira

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