“O altar apresentado no quadro profético era provavelmente reminiscências do altar de bronze do santuário dos hebreus, e os mártires podem ser lembrados como sacrifícios apresentados a Deus. Como o sangue das vitimas era derramado na base do altar, e a vida da carne está no sangue, assim as almas daqueles que foram martirizados são comparadas como estando debaixo do altar”. 1
“O altar corresponde nesta liturgia celeste ao altar dos holocaustos (I Reis 8:64). Os mártires, testemunhas da Palavra, são associados à imolação de seu Mestre (cf. Filip. 2:7). Segundo a concepção bíblica e oriental, a vida reside no sangue. Aqui as vidas dos mártires estão ‘escorrendo’ para a base do altar celeste onde se consumam os seus sacrifícios cruentos (cf. Lev. 4:7)”. 2
As “almas debaixo do altar”, apresentadas por João nesta passagem, são uma representação simbólica aos filhos de Deus, que foram martirizados na Idade Média por causa do Evangelho. O sangue ou a vida que seus perseguidores derramaram simbolicamente clama a Deus pedindo vingança a exemplo do sangue de Abel, em Gên. 4:10, que clamava a Deus. Se o altar do sacrifício estava sobre a terra, e as almas são representadas como estando debaixo do altar do sacrifício, consequentemente não eram almas que estavam no céu.
O que deixa a muitos leitores perplexos nesta passagem é o conceito popular, mas antiescriturístico da palavra alma – uma essência imaterial, invisível e imortal que existe no homem. O conhecimento da palavra no original hebraico e grego jamais admite tal definição. Dentre seus múltiplos significados se destacam também os de vida e pessoa. Este é o caso de Apoc. 6:9, onde as “almas debaixo do altar” simbolizam pessoas, isto é, os mártires, sendo altar simbólico de sacrifício ou martírio. Seria um disparate indescritível a aceitação literal de que essas almas estivessem presas, debaixo de um altar no céu. Se aceitássemos o relato como real, essas almas no céu, e os seus ímpios perseguidores no inferno, segundo a crença popular, qual a razão de clamarem ainda por vingança, já que os seus torturadores estavam pagando seu merecido castigo?
Esta passagem traz uma mensagem de conforto para os que sofreram, sofrem e sofrerão por Cristo o cuidado incessante de Deus em favor dos que aceitaram o Seu plano de salvação. Muitos não podem compreender por que Deus permite que alguns de Seus filhos fiéis sejam maltratados pelos ímpios. Embora o procedimento divino, por vezes, esteja além de nossa limitada compreensão, de uma coisa podemos ter certeza, Deus fará justiça dando o galardão aos fiéis e deixando que os ímpios sejam destruídos.
No capítulo seis de Apocalipse, João apresenta uma profecia dos acontecimentos que se realizariam durante a era cristã.
A referência às “almas debaixo do altar” do verso 9 relaciona-se com a época da Reforma. Tanto a história secular quanto a sagrada nos informam que milhares e milhares dos chamados hereges foram barbaramente massacrados e mortos por todos os meios imagináveis. Felizmente, este estado de coisas teve o seu fim, com o protesto dos príncipes na Dieta de Spira em 1529 e o incremento da Reforma através de toda a Europa. O contexto geral das Escrituras nos impede de tomar esta passagem em seu sentido literal, pois se assim fosse teríamos de aceitar a Morte e o Inferno cavalgando um cavalo literal através da terra.
Referências:
- Seventh-Day Adventist Bible Commentary, vol. VII, págs. 777-778.
- A Bíblia de Jerusalém, pág. 1614. Nota sobre Apoc. 6:9.