Os títulos que encimam este assunto têm dado motivo para intermináveis controvérsias entre católicos e protestantes.
Os irmãos são mencionados nas seguintes passagens: Mat. 12:46; 13:55; 28:10 e Marcos 6:3.
Outras duas passagens relacionadas com os irmãos de Jesus e a virgindade de Maria são Mat. 1:25 e Luc. 2:7.
Em Mar. 6:3 lemos: “Não é este o carpinteiro, filho de Maria, irmão de Tiago, José, Judas e Simão? e não vivem aqui entre nós suas irmãs?”
Este versículo já deu origem a muitas conjecturas e continua sendo motivo de acaloradas divergências. Muitos protestantes, baseados neste verso concluem que Maria foi mãe, não apenas de Jesus, mas em virtude de sua união com José, de quatro homens mais e de algumas mulheres, nascidos todos depois de Jesus, que foi o primogênito. É uma realidade inegável que não se encontra nos Evangelhos e em nenhum outro livro da Bíblia nenhuma referência a outros filhos de Maria além de Jesus.
Lucas 2:7. Descrevendo o nascimento de Jesus, usa com referência a Maria, a conhecida frase “ela deu à luz o seu filho primogênito”.
Os defensores de outros filhos de Maria apresentam Mat. 1:25 como prova para assim crerem, especialmente as palavras “conheceu” e “até”. Conhecer é um eufemismo semita para indicar as relações conjugais. Os comentaristas, de modo geral, citando a expressão “até que”, afirmam que Mateus quis especificar o que acontecera (nenhum contato) antes do nascimento de Jesus e não o que se verificou depois. Segundo nossa sintaxe, as palavras “até que” pressupõem o fim de uma situação e o início de uma outra contrária. Outros argumentam que no hebraico e no grego a expressão pode ser usada, mesmo que não haja uma mudança de situação.
O dicionário da Bíblia de João Davis, pág. 288, declara: “O que parece mais razoável e mais natural é que eles eram filhos de Maria depois de nascido Jesus. Que esta teve mais filhos é claramente deduzido de Mat. 1:25; e Luc.2:7 que explica a constante associação dos irmãos do Senhor com Maria”.
Os católicos, começando por S. Jerônimo, sempre solícitos em defenderem o dogma da perpétua virgindade de Maria, afirmam que os chamados irmãos, nas passagens citadas, são na realidade primos de Jesus, filhos de uma irmã de Maria, mulher de Alfeu ou Clopas, segundo João 19:25. A opinião mais defendida desde a antigüidade apoia que esses irmãos eram apenas “primos – irmãos”. Os que apoiam essa idéia alegam que em todas as línguas, mas especialmente naquela falada por Jesus, o termo “irmão” tem uma elasticidade notável; emprega-se para irmão, por parte de pai ou de mãe, primo e também para um parente mais afastado. Apresentam citações bíblicas para provar, que os judeus tinham por costume chamar de irmãos a certos parentes.
A Igreja Católica, desde os primeiros séculos, sempre venerou Maria como virgem em sentido absoluto, antes, durante e depois do nascimento de Jesus. Para nós esse dogma é uma simples tradição, admitida mesmo por alguns comentaristas católicos, como podemos verificar em “Cem Problemas Bíblicos”, pág. 278, Edições Paulinas. É real que tal tradição não teria surgido se os apóstolos tivessem conhecido e mencionado autênticos “filhos” de Maria além de Jesus.
Há uma terceira interpretação, semelhante às mencionadas e que foi defendida também pelos antigos pais da igreja (Orígenes, Eusébio de Cesaréia, Epifânio, Ambrósio e outros), segundo a qual José era viúvo quando se casou com Maria, e os aludidos irmãos e irmãs eram filhos de seu matrimônio anterior, com uma tal Melca ou Esca, chamada por outros Salomé.
Sabemos que os Evangelhos nada dizem com respeito a José, sobre seu estado de viuvez antes de seu casamento com Maria.
Apesar do silêncio dos evangelistas, esta versão é a que deve ser aceita por nós, como nos comprova o Comentário Adventista e o Espírito de Profecia.
“Seus irmãos. Os escritores dos evangelhos tornam claro que esses eram filhos de José em razão de matrimônio anterior. O fato de que Jesus confiou Sua mãe aos cuidados de João (ver S. João 19:26, 27) indica que os ‘irmãos’ (e irmãs) de Jesus não eram propriamente filhos de Maria. Que eles eram mais velhos que Jesus é demonstrado pela atitude deles e seu relacionamento para com o Senhor. Eles tentavam repreendê-Lo e falavam-Lhe com severidade (S. João 7:3, 4) procurando interferir em Sua conduta por outras maneiras. Tais atitudes somente seriam cabíveis a irmãos mais velhos, segundo os costumes da época. Para quem está familiarizado com a vida nas terras bíblicas esse argumento, por si só, parece conclusivo…
“Embora esses ‘irmãos’ não cressem em Jesus naquele tempo (S. João 7:3-5), eles posteriormente O aceitaram e foram contados entre Seus seguidores (ver Atos 1:4)”. – Seventh-Day Adventist Bible, comentário de S. Mateus 12:46
“Seus irmãos, como eram os filhos de José, tomavam o lado dos rabinos.” – O Desejado de Todas as Nações, pág. 86.
“Tudo isso desgostava os irmãos. Sendo mais velhos que Jesus, achavam que Ele devia estar sob sua direção.” – Idem.
O Pastor Juan Ferri defendeu tese idêntica declarando:
1º) Que os chamados “irmãos” mencionados em Mat. 13:55 e Mar. 6:3 não são primos do Senhor.
2º) Que são pessoas diferentes e não os filhos de Maria, esposa de Alfeu, embora tivessem nomes iguais.
3º) Que a única conclusão lógica seria que fossem filhos de um primeiro matrimônio de José, o que é confirmado por antiga tradição.
A seguir apresenta as provas bíblicas, que segundo seu parecer, constituem a base dessa última conclusão. Não as transcreveremos por duas razões:
1º) Não as reputamos essenciais;
2º) Por serem muito extensas. O Pregador Adventista, março-abril de 1949, págs. 3-8.
A Castidade de José
A Igreja Católica, apoiada em idéias defendidas por S. Jerônimo e S. Agostinho, afirma que José se conservara casto não somente depois do seu casamento com Maria, mas também antes dele.
Juan Ferri, no artigo já citado, sustenta a castidade de José após o nascimento de Jesus declarando:
“Vejo nisso nada mais do que a atitude conseqüente de um homem que, desde o momento em que o anjo Gabriel lhe revelara o propósito divino, compreendeu seu dever, aceitando a sagrada incumbência e se limitando a ser o que Deus queria que fosse: o pai legal e mantenedor de Jesus e o esposo legal e mantenedor de Maria …
“A sua união legal com a virgem era requerida somente como uma medida indispensável para que o bom nome daquela santa mulher permanecesse protegido de calúnia e infâmia”.
É bom frisar que ele declara ser esta uma opinião pessoal e não a posição da Igreja.
Conclusões Gerais
Tanto católicos como protestantes têm tomado posições extremadas, para as quais não se acham nenhuma base bíblica.
Não encontramos nada em o Novo Testamento a respeito da eterna virgindade de Maria; se esse fato fosse essencial para o plano da salvação ele seria apresentado.
Em contrapartida os protestantes também não podem, pela Bíblia, apresentar provas convincentes de que os irmãos e irmãs de Jesus fossem filhos de José e Maria. Russell Norman Champlin em seu Novo Testamento Interpretado (I vol. pág. 396) apresenta argumentos, na sua opinião irrefutáveis de que José e Maria tiveram vários filhos. Para mim ao menos, os argumentos não são convincentes.
Em face destas duas posições exageradas, nossa posição devia estar no meio termo: Maria somente deu à luz a um filho, o nosso Salvador; e por ser virgem “antes do parto”, não há nenhuma base para crer que continuasse a sê-lo no parto e depois dele.