As Três Mensagens Angélicas e sua Relação com a Doutrina da Criação

O ano de 1844 foi um ano importante. Os mileritas experimentaram o Grande Desapontamento, levando a um completo re-estudo das profecias relacionadas ao segundo advento. A crescente compreensão da Bíblia que resultou daquele estudo levou ao estabelecimento da Igreja Adventista do Sétimo Dia.

Naquele mesmo ano, Charles Darwin completou um resumo de suas referências sobre a evolução através da seleção natural. Ele o chamou de um abstrato, mas era muito mais do que um livreto. Contudo, Darwin não publicou seu “abstrato” naquele ano. Em 1844 também, Robert Chambers publicou anonimamente o livro Vestiges of the Natural History of Creation. Esse livro especula abertamente sobre a possibilidade de uma mudança evolucionária em longos períodos de tempo. Foi dito que este livro causou maior impacto no público do que o livro de Darwin uns 15 anos depois. A reação do público foi tão intensa à obra de Chambers que Darwin segurou seu livro por mais 15 anos.

A ironia aqui é obvia: o nascimento da Igreja Adventista do Sétimo Dia, com sua ênfase na criação bíblica em seis dias, coincidiu como a apresentação pública do pensamento evolucionário. Isto foi uma coincidência? Creio que não.

Os adventistas do sétimo dia se consideram comissionados a apresentar uma mensagem especial ao mundo, chamada “As Três Mensagens Angélicas” de Apocalipse 14:6-12. Nosso propósito aqui é explorar o significado dessas mensagens e sua relação com a doutrina da criação.

O Primeiro Anjo

O contexto de Apocalipse 14 indica um cenário escatológico, prensado entre a perseguição apresentada nos capítulos 12 e 13 e a “colheita” do final do capítulo 14. Os adventistas compreendem que as três mensagens angélicas de Apocalipse 14 representam o movimento final preparando o mundo para a segunda vinda de Cristo. Os Adventistas do Sétimo Dia esperam desempenhar uma função importante na proclamação dessas mensagens. Consequentemente, precisamos compreender o que elas dizem.

Essas três mensagens estão em sequência, pois entre elas, existem elos subjacentes. Um elo é a doutrina da criação conforme foi registrada por Moisés; outro elo é a justificação pela fé. A igreja não pode alcançar êxito na pregação das três mensagens angélicas sem fé no relato bíblico da criação, que é fundamental para essas mensagens e indispensável para a nossa missão.

O primeiro anjo, (Ap 14:6) é descrito como tendo o “evangelho eterno”. O evangelho é as boas novas da salvação, que é necessário devido à queda do homem. A história da criação forma a base para compreender essa queda: “Assim, pois, todos os que pecaram sem lei também sem lei perecerão; e todos os que com lei pecaram mediante lei serão julgados”(Rm 2:12, cf 1 Tm 2:13-14).

A mensagem do primeiro anjo consiste em duas partes. A primeira parte é (parafraseada): “Temei a Deus e dai-lhe glória, por causa do julgamento.” Essa mensagem foi enfatizada no início da história do adventismo, nas doutrinas do juízo investigativo e executivo. A segunda parte é (novamente parafraseada): “Adorai Aquele que criou.” Na escrita hebraica, a mesma idéia era frequentemente expressa duas vezes, usando diferentes palavras. Este é um modo de enfatizar um ponto. A primeira mensagem angélica pode ser tratada com tal paralelismo:

Temei a Deus e dai-lhe glória, por causa do julgamento,

Adorai a Deus por causa da criação.

Temer a Deus é reverenciá-Lo, e implica a adoração:

“Quem não temerá e não glorificará o teu nome, ó Senhor?

Pois só tu és santo;

por isso, todas as nações virão e adorarão diante de ti,

porque os teus atos de justiça se fizeram manifestos.”

Apocalipse 15:4

O julgamento é um dos atos de justiça de Deus. Para muitos, a ênfase no julgamento não parece ser boas-novas. Porque deveríamos considerar a vinda do julgamento como “boas novas” (evangelho)? E qual é o relacionamento da criação e das boas novas? Vamos considerar estas perguntas ao examinarmos o paralelismo no texto.

“Temer” a Deus significa dar-Lhe reverência, ou adorá-Lo. Esta é a primeira parte do paralelismo. Deus é digno de adoração porque Ele é tanto Criador como Juiz. “Tu és digno, Senhor e Deus nosso,… porque todas as coisas tu criaste….” (Ap 4:11). Ser o Criador demonstra a autoridade de Deus e dá a Ele o direito (responsabilidade?) de julgar.

Qual é o paralelismo entre julgamento e criação? Quem é o Criador? Quem é nosso Juiz? Foi Jesus quem nos criou, e quem estará conosco também no julgamento. As boas novas (evangelho) é que a criação e a redenção estão unidas em Jesus Cristo. Jesus é o nosso Criador (João 1:3) bem como nosso advogado no julgamento (1 João 2:1). Deus tanto nos criou como nos salvou através de Jesus (Cl 1:13-17). Devido a este relacionamento, o julgamento é boas novas para o Cristão.

Apesar de ser muito defendido pela igreja, o aspecto referente à criação nas três mensagens passou a receber a mesma atenção dada ao conceito do julgamento, apenas no início da história da nossa igreja. Havia menos necessidade de enfatizar Deus como Criador porque virtualmente todos os cristãos aceitavam o relato bíblico da criação, o que agora já não é uma realidade.

A história bíblica da criação é que o ser humano foi criado perfeito, à imagem de Deus. Devido à sua própria escolha errônea, caiu em pecado. Deus não poderia simplesmente desculpar seu pecado e permanecer justo, então, o próprio Deus, na pessoa de Jesus Cristo, veio a terra morrer em nosso lugar. Assim, Deus poderia ser justo e justificador de todo aquele que crê (Rm. 3:26). Isto significa que a salvação vem pela graça. (Ef 2:8).

O julgamento da humanidade está intimamente relacionado com a história da criação. Nossa responsabilidade é baseada no fato de que na criação os ser humano era perfeito. Sem a queda da perfeição, não há responsabilidade para com Deus pelo pecado, e necessidade de um Salvador. O julgamento incluirá responsabilidade final pela condição do mundo (Ap 11:18), uma responsabilidade dada na criação (Gn 1:28). Os criacionistas devem ser bons mordomos dos recursos da terra.

O Segundo Anjo

O segundo anjo declara (Ap 14:8) que “Babilônia caiu”. Por que a segunda mensagem vem somente depois da primeira? Poderia ser que a rejeição da primeira mensagem fosse o passo final na queda de Babilônia? Babilônia representa religiões mundiais caídas, inclusive igrejas na Cristandade que caíram para longe de Cristo. A igreja é impura. A fornicação implica que algo está tomando o lugar de Cristo. A Bíblia frequentemente retrata o relacionamento de Cristo e da igreja como um casamento (cf Ap 19:6-8, as bodas do Cordeiro). O esposo (Cristo) é identificado como o Criador em Isaías 54:5. Este texto sugere que a substituição com outro “criador” seria fornicação. Qualquer igreja que fez tal escolha caiu. A mensagem do segundo anjo pode ser considerada como uma resposta à reação do mundo cristão à mensagem do primeiro anjo em relação à criação e ao julgamento.

Na história bíblica da criação, Adão e Eva foram criados perfeitos. Sua queda introduziu pecado e morte ao mundo. Jesus, como Criador e Juiz, ofereceu a Si mesmo como sacrifício substituto por nossa salvação. A salvação, portanto, é puramente uma questão de graça; deste modo, podemos apenas aceitá-la como um dom, ou rejeitá-la.

E quanto às outras histórias da criação? Alguns propuseram que como raça, nós estamos melhorando através da evolução. Não existiu Adão e Eva, nem queda, nem morte substituta. Jesus veio para a terra apenas para nos mostrar como viver. Se formos impressionados por Sua vida, se pudermos imitá-Lo, e se nos esforçarmos o suficiente, poderemos nos qualificar para a salvação. Jesus não tomou nosso lugar com Sua morte, mas nos deu um exemplo de como alcançarmos salvação.

A Bíblia tem más notícias quanto a este tipo de evangelho: não importa quanto você tem se esforçado, não importa quanto a sua vida se assemelha à de Jesus, isto não é importante. O tipo de perfeição, não é bom o suficiente! Não há como ganhar a nossa própria salvação. Não fazemos boas obras para sermos salvos, mas porque já estamos salvos. A Babilônia é baseada na justificação pelas obras. O Céu é um dom somente da graça.

O Terceiro Anjo

A mensagem do terceiro anjo (Ap 14:9-12) é uma advertência: “Não adore a besta e ou receba sua imagem.” Aqueles que desconsiderarem essa advertência enfrentarão julgamento e punição. Note a palavra “adoração”, novamente ligada ao julgamento. Adorar a besta em lugar de Deus é fornicação espiritual. A marca da besta é um sinal de fornicação e queda espiritual. Essa queda vem como resultado da rejeição da mensagem do terceiro anjo: adorar a Deus o Criador, e aceitar Sua oferta de lhe declarar “não culpado” no julgamento. Aparentemente, os que rejeitam a mensagem do primeiro anjo se unirão para “marcar” os que discordam deles. Eles vão até mesmo valer-se de força para prevenir qualquer pessoa de aceitar a mensagem dos três anjos.

Compreendemos que a adoração da besta e a recepção de sua marca envolverão controvérsia com o sábado. A observância do sábado está baseada no relato bíblico da criação em seis dias (Ex 20:11). Guardando o sábado, testemunhamos e evidenciamos nossa aceitação da primeira mensagem angélica: adorar o Criador. Adorando no sábado testemunhamos que aceitamos a Bíblia como autoridade máxima. Adorando no sábado testificamos que aceitamos a salvação somente pela graça, baseada apenas nos méritos do sacrifício substituto de Jesus.

Desacreditando a história da criação seria remover a base para a observância do sábado, e muito mais. Que melhor modo de destruir o sábado, o sétimo dia, do que desacreditando da criação em seis dias, a base de sua observância? E qual é o propósito do julgamento se não existiu a queda no pecado? Sem a doutrina da criação em seis dias, as três mensagens angélicas perdem seu significado.

A Três Mensagens Angélicas: Justificação pela Fé

A mensagem unificada dos três anjos é a justificação pela fé. Justificação vem pela fé na morte substituta de Jesus Cristo. Essa morte é necessária porque Deus, em Sua justiça, não poderia desculpar a queda de nossos primeiros pais, Adão e Eva. A queda de Adão e Eva foi o resultado de sua própria escolha de crer na evidência de seus sentidos em vez de crer na palavra de Deus. O termo “queda” implica um estado previamente melhor. Adão e Eva não foram criados através de algum processo de melhora gradual, mas foram criados em um estado de perfeição impecável. A história da criação é encontrada em Gênesis 1.

Alguns nos incentivam a aceitar outra história da criação, uma que esteja mais de acordo com as idéias de importantes cientistas e teólogos. É impopular aceitar as palavras de um livro antigo, em vez das últimas idéias da ciência. Devemos dizer o seguinte aos que nos incentivam a abandonar a nossa fé na criação de Gênesis, em seis dias: Conta-me a história de Cristo e Sua salvação. Tem a ciência uma história que inclui Jesus e a salvação? Apenas a Bíblia mostra o caminho para a salvação e a base para este caminho.

As três mensagens angélicas revelam Jesus como Criador, Advogado no julgamento, e Redentor. É por isso que o relato da criação de Gênesis é tão importante. Gênesis apresenta o mais detalhado relato da criação do mundo encontrado na Bíblia. A história da criação é a base para a adoração a Deus, a razão de Sua autoridade no julgamento, e a questão controversa por trás da marca da besta. O registro da criação em Gênesis é um tema unificador das três mensagens angélicas.

Em virtude do significado da criação e do dilúvio para as três mensagens angélicas no final dos tempos, é sensato considerar a advertência de Pedro quanto aos escarnecedores nos últimos dias: “Tendo em conta, antes de tudo, que, nos últimos dias, virão escarnecedores com os seus escárnios, andando segundo as próprias paixões e dizendo: Onde está a promessa da sua vinda? Porque, desde que os pais dormiram, todas as coisas permanecem como desde o princípio da criação. Porque, deliberadamente, esquecem que, de longo tempo, houve céus bem como terra, a qual surgiu da água e através da água pela palavra de Deus, pela qual veio a perecer o mundo daquele tempo, afogado em água. Ora, os céus que agora existem e a terra, pela mesma palavra, têm sido entesourados para fogo, estando reservados para o Dia do Juízo e destruição dos homens ímpios” (2 Pe 3:3-7).

De acordo com Pedro, os escarnecedores negarão tanto a criação como o dilúvio. Isto está acontecendo agora, não apenas no mundo, mas até mesmo dentro da igreja. As três mensagens angélicas devem ser proclamadas, até mesmo em tal atmosfera de cepticismo. Quando o mundo inteiro for alcançado, virá o fim. E então o Criador novamente exercerá Seu poder na criação, desta vez para restaurar o que foi perdido por causa do pecado.“Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça” (2 Pe 3:13).

Autor: Weleson Fernandes


Descubra mais sobre Weleson Fernandes

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

Sobre Weleson Fernandes

Evangelista da Igreja Adventista do sétimo dia, analista financeiro, formado em gestão financeira, pós graduado em controladoria de finanças, graduado em Teologia para Evangelistas pela Universidade Adventista de São Paulo. Autor de livros e de artigos, colunista no Blog Sétimo dia, Jovens Adventista. Tem participado como palestrante em seminários e em Conferências de evangelismo. Casado com Shirlene, é pai de três filhos.

Verifique também

Consequências da união da Igreja com o mundo (Parte 2)

No artigo anterior, vimos que a visão de João em Apocalipse 17:3-6 revela seis características …

Uma palavra ao católico romano

O tema de Apocalipse 17 – o julgamento da grande meretriz (verso 1) – envolve …

Entre o “não é” e o “aparecerá”

A revelação mais surpreendente de Apocalipse 17 é a declaração de que a besta “está …

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *