Como entender a questão do uso do vinho na Bíblia?

Os termos mais comuns para “vinho” no Antigo Testamento são, em hebraico, yayin e tirosh e, em aramaico, chamar. O Seventh-day Adventist Bible Dictionary, p. 1.176, 1.177, esclarece que o termo yayin é “a palavra comum para vinho envelhecido e, portanto, intoxicante (Gn 14:18; Lv 10:9; 23:13, etc.), e tirosh é usado em várias passagens para designar o suco de uva fresco ou o vinho ainda não completamente envelhecido mas já intoxicante (Gn 27:37; Nm 18:12; Dt 12:17; Jz 9:13; Pv 3:10; Os 4:11, etc.).” Ambos os termos hebraicos são vertidos na Septuaginta (a clássica tradução do Antigo Testamento para a língua grega) pela palavra oînos. Já no Novo Testamento a palavra comum para “vinho” é o mesmo termo oînos, que pode designar tanto o suco de uva não fermentado (Jo 2:9, 10, etc.) como o vinho fermentado (Ap 14:8, etc.). Por sua ambigüidade, o termo deve ser interpretado à luz do contexto em que aparece inserido e do seu significado teológico mais amplo.

O fato de alguns patriarcas, como Noé (Gn 9:20, 21) e Ló (Gn 19:30-38), terem se embebedado em determinadas ocasiões não provê o endosso divino à essa prática. Existiam outros costumes antigos como, por exemplo, a poligamia, que era tolerada por Deus, mas não sancionada por Ele. O mesmo Antigo Testamento, que menciona esses casos de embriaguez, também adverte: “O vinho é escarnecedor, e a bebida forte, alvoroçadora; todo aquele que por eles é vencido não é sábio” (Pv 20:1). “Não olhes para o vinho, quando se mostra vermelho, quando resplandece no copo e se escoa suavemente. Pois ao cabo morderá como a cobra e picará como o basilisco” (Pv 23:31, 32).

Tanto o “bom vinho”, produzido por Cristo nas bodas de Caná da Galiléia (Jo 2:9, 10), como o “fruto da videira”, usado por Ele na última ceia com os discípulos (Mc 14:23-25), são definidos por Ellen White como sendo “o puro suco de uva” não fermentado (ver O Desejado de Todas as Nações, p. 149).

Descrevendo a última ceia, ela afirma: “Acham-se diante dEle os pães asmos usados no período da páscoa. O vinho pascoal, livre de fermento, está sobre a mesa. Estes emblemas Cristo emprega para representar Seu próprio irrepreensível sacrifício. Coisa alguma corrompida por fermentação, símbolo do pecado e da morte, podia representar ‘o Cordeiro imaculado e incontaminado’” (Ibid., p. 653).

Quando Paulo aconselha a Timóteo a não continuar bebendo “somente água”, mas também “um pouco de vinho”, a razão é puramente medicinal, como evidencia a explicação “por causa do teu estômago e das tuas freqüentes enfermidades” (1Tm 5:23). Paulo também exorta os crentes a não se embriagarem “com vinho, no qual há dissolução” (Ef 5:18) e aos diáconos a não serem “inclinados a muito vinho” (1Tm 3:8). Alguns alegam, com base nessa última declaração, que não podemos consumir “muito vinho” fermentado, mas um pouco, sim. Porém, à luz de outras declarações de Paulo (ver 1Co 3:16, 17; 6:19, 20; 1Tm 3:2, 3, 11, etc.), podemos inferir que a mera diminuição no consumo de vinho fermentado não é o ideal divino, mas apenas um paliativo que deve culminar na completa abstinência.

Em resposta aos que procuram justificar o uso moderado de vinho fermentado, Samuele Bacchiocchi afirma em seu livro Wine in the Bible: A Biblical Study on the Use of Alcoholic Beverages (Berrien Springs, MI, Biblical Perspectives, 1989, p. 248), que “adicção a algo que é intrinsecamente mau é sempre moralmente errado, quer seja moderado ou excessivo”. E Ellen White acrescenta: “Quanto ao chá, ao café, fumo e bebidas alcoólicas, a única atitude segura é não tocar, não provar, não manusear” (A Ciência do Bom Viver, p. 335). “Quando a temperança for apresentada como parte do evangelho, muitos notarão sua necessidade de reforma. Perceberão o mal das bebidas intoxicantes, e que a completa abstinência é a única plataforma sobre a qual o povo de Deus pode conscienciosamente permanecer” (Testemunhos Para a Igreja, v. 7, p. 75).

Texto de autoria do Dr. Alberto Timm Revista do Ancião (julho – setembro de 2007).


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Sobre Weleson Fernandes

Evangelista da Igreja Adventista do sétimo dia, analista financeiro, formado em gestão financeira, pós graduado em controladoria de finanças, graduado em Teologia para Evangelistas pela Universidade Adventista de São Paulo. Autor de livros e de artigos, colunista no Blog Sétimo dia, Jovens Adventista. Tem participado como palestrante em seminários e em Conferências de evangelismo. Casado com Shirlene, é pai de três filhos.

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