Como harmonizar o relato da cura do servo do centurião de Mateus 8:5-10 com o de Lucas 7:1-10?

Os relatos de Mateus 8:5-10 e de Lucas 7:1-10 não são necessariamente contraditórios entre si, mas podem ser harmonizados sem maiores dificuldades. Mateus 8 apresenta, de forma abreviada e objetiva, o milagre da cura do servo do centurião romano. Lucas 7 descreve o mesmo milagre com detalhes adicionais não encontrados em Mateus. O contraste mais notório entre ambos os relatos diz respeito à identificação dos interlocutores no diálogo com Jesus. Em Mateus, o próprio centurião aparece como dialogando com Jesus. Já em Lucas é dito que a comunicação ocorreu por meio de dois grupos distintos de mensageiros que o centurião enviou a Jesus. Quando ainda em Cafarnaum, Jesus foi abordado por “alguns anciãos dos judeus”. Estando já próximo da casa do centurião, outros “amigos” do centurião foram conversar com Jesus.

Sendo a descrição de Lucas a mais completa e minuciosa, é natural que ela seja tomada como referencial para se entender a de Mateus. Tanto Lucas como Mateus mencionam o sentimento de indignidade do centurião em receber a visita de Jesus em sua casa (Lc 7:6; Mt 8:8). Mas Lucas acrescenta que esse mesmo sentimento acabou inibindo o próprio centurião, que era gentio, de se aproximar diretamente de Jesus, que era judeu (Lc 7:7; cf. Jo 4:1-30; At 10).

Por essa razão, o centurião enviou primeiro “alguns anciãos” judeus da sinagoga que ele lhes construíra, os quais disseram ao Mestre: “Ele é digno de que lhe faças isto; porque é amigo do nosso povo, e ele mesmo nos edificou a sinagoga” (Lc 7:4 e 5). O segundo grupo, constituído de alguns “amigos” do centurião, transmitiu a Cristo as seguintes palavras daquele líder militar romano: “Senhor, não Te incomodes, porque não sou digno de que entres em minha casa. Por isso, eu mesmo não me julguei digno de ir ter contigo; porém manda com uma palavra, e o meu rapaz será curado…” (Lc 7:6 e 7).

Em Mateus 8:9 (e também em Lc 7:8), o centurião revela seu hábito de enviar subalternos para cumprir ordens específicas: “Pois também eu sou homem sujeito à autoridade, tenho soldados às minhas ordens e digo a este: Vai, e ele vai; e a outro: Vem, e ele vem; e ao meu servo: Faze isto, e ele o faz.” O próprio pedido feito a Jesus (“apenas manda com uma palavra, e o meu rapaz será curado”, Mt 8:8) corrobora o conceito de que, para o centurião, uma palavra enviada é tão eficaz quanto a própria presença de quem a enviou.

O fato de Mateus afirmar que o centurião dialogou com Jesus não implica necessariamente que esse diálogo não possa ter ocorrido por intermédio de mensageiros, como mencionado por Lucas. Diálogos diplomáticos levados a efeito por intermédio de mensageiros oficiais são muitas vezes considerados como levados a efeito pelos próprios soberanos que originaram as mensagens transmitidas. Creio que esse é o caso no Evangelho de Mateus. O diálogo do centurião com Jesus através de mensageiros especiais é descrito nesse evangelho como levado a efeito pelo próprio centurião.

Fonte: Sinais dos Tempos, novembro/dezembro de 2002. p. 30 

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Sobre Weleson Fernandes

Evangelista da Igreja Adventista do sétimo dia, analista financeiro, formado em gestão financeira, pós graduado em controladoria de finanças, graduado em Teologia para Evangelistas pela Universidade Adventista de São Paulo. Autor de livros e de artigos, colunista no Blog Sétimo dia, Jovens Adventista. Tem participado como palestrante em seminários e em Conferências de evangelismo. Casado com Shirlene, é pai de três filhos.

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