O pichador e a hipocrisia

Nesta semana, certo indivíduo pichou uma série de ofensas a Deus e os cristãos no muro de uma Igreja Adventista do Sétimo Dia, no município de Novo Progresso, Pará. Uma pichação em especial me chamou a atenção. Disse o pichador na pichação: “Crente hipócrita”.

Assumindo que a frase é uma crítica à “hipocrisia do crente”, acompanhe meu raciocínio.

Se o indivíduo critica a hipocrisia do crente é porque crê que hipocrisia é algo errado. Se crê que é errado, isso significa que o indivíduo possui um padrão moral, um padrão de valores, onde há comportamentos certos e comportamentos errados. Logo, ao criticar o crente por hipocrisia, ele está querendo dizer que esse padrão, que ele crê ser verdadeiro, também deveria ser seguido pelo crente.

A implicação disso é que para o pichador em questão, há um padrão moral que está tanto sobre o crente quanto sobre ele. Isso é óbvio, já que não faria sentido ele criticar o crente por não seguir um padrão que está apenas sobre o próprio pichador. Portanto, o pichador crê numa moralidade que atinge a ele e aos crentes, provavelmente uma moralidade universal que todos deveriam seguir.

E por que o crente seria hipócrita? Bom, hipócrita é aquele que diz uma coisa, mas faz outra. Então, o pichador está querendo dizer que o crente professa verbalmente esse padrão moral universal (no qual o próprio pichador crê), no entanto, não age conforme aquilo que professa.

Mas, agora, veja: no padrão moral do crente, pichar muros seria algo errado. Afinal, é um ato de vilipêndio daquilo que é do outro. Isso seria não só falta de amor ao próximo como uma negação dos direitos de cada indivíduo, o que contraria o pensamento de que Deus criou cada um com sua individualidade e, portanto, direitos individuais. 

Esse padrão moral, como o leitor pode perceber, não está restrito à fé cristã. Outras religiões seguem o mesmo pensamento e as próprias leis civis pelo mundo, em maior ou menor grau, partem do pressuposto de que existem direitos individuais e eles devem ser respeitados. Assim, o que pertence ao outro não pode ser vilipendiado, salvo se houver autorização e consentimento real do mesmo.

O pichador, como já vimos, crê em um padrão moral que está sobre ele e sobre o crente, e critica o crente por professar esse padrão moral, mas não agir em conformidade com ele. Logo, o pixador crê exatamente no mesmo padrão moral que o crente e com base nesse padrão moral julga o crente por não segui-lo.

Aqui entra o paradoxo: (1) o padrão moral que o pichador crê coloca a pichação dos muros do próximo como um erro; (2) o pichador critica o crente por não seguir esse padrão moral; (3) o pichador picha o muro do crente. Logo, o pichador é hipócrita.

Como o pichador hipócrita pode criticar o crente hipócrita?

Lembro aqui as palavras de Jesus, no Sermão do Monte:

“[…] com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também. Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás claramente para tirar o argueiro do olho de teu irmão” (Mateus 7:2-5).

Pichador hipócrita, tire primeiro a trave do seu olho.

Por Davi Caldas

Fonte: Reação Adventista


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Sobre Weleson Fernandes

Evangelista da Igreja Adventista do sétimo dia, analista financeiro, formado em gestão financeira, pós graduado em controladoria de finanças, graduado em Teologia para Evangelistas pela Universidade Adventista de São Paulo. Autor de livros e de artigos, colunista no Blog Sétimo dia, Jovens Adventista. Tem participado como palestrante em seminários e em Conferências de evangelismo. Casado com Shirlene, é pai de três filhos.

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