Pecado Original

…pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores… Romanos 5:12a

A questão do “Pecado Original” gerou discussões teológicas por séculos na história da interpretação bíblica, e basta pensar um pouco sobre esse tema para saber por que! Como pode ser justo que todos nós sejamos pecadores não por culpa nossa? mas por culpa de Adão e Eva? Como entender isso e quais as implicações dessa compreensão para entender a humanidade dos pecadores, e a humanidade de Cristo sem pecado?

Alguns pensamentos sobre Pecado Original

Introdução

Pecado não é meu assunto favorito. Eu preferiria escrever sobre o amor de Deus, sobre Cristo, ou sobre profecias. Contudo o pecado desempenha uma parte importante no grande conflito, e a Bíblia fala muita coisa a respeito do pecado, assim como fazem os teólogos. Dentre os 19 volumes de G. C. Berkouwer sobre dogmática, o maior volume é sem dúvida o que trata do pecado com 590 páginas. Seus dois volumes sobre justificação e santificação têm menos de 400 páginas.

Por que esse assunto é tão importante? Por que sem o pecado nós ainda estaríamos no jardim do Éden. Sem um correto entendimento sobre a origem e sobre a natureza do pecado nós teremos uma visão distorcida de Cristo e da salvação. De fato, muito de nossa discussão sobre a natureza de Cristo e sobre o perfeccionismo é fútil, a menos que primeiramente nós cheguemos a um entendimento apropriado sobre o que é o pecado realmente.

Por que esse assunto é tão vasto, nesse documento eu me concentrei no conceito do pecado original. Outros aspectos do pecado serão tratados enquanto eles contribuírem para um entendimento do pecado original.

Definição

“Pecado original” como “trindade” não é uma expressão bíblica, mas uma expressão teológica. Ainda assim, o termo expressa o que a maioria dos teólogos cristãos acredita ser um conceito bíblico. Um catecismo católico faz a pergunta: “o que é o pecado original?” a resposta é dada: “Pecado original é a culpa e mancha que herdamos de Adão que foi o originador e cabeça da humanidade.” [1] Notamos que a resposta claramente identifica dois aspectos do pecado original: (a) culpa herdada; e (b) mancha herdada. A mancha herdada se refere a nossas paixões pecaminosas, nossas tendências e propensões para o pecado.

O assunto e perguntas a respeito dele[2]

Uma grande porção das escrituras é devotada à questão do pecado. “depois da palavra “Deus,” a palavra pecado é a palavra mais fortemente carregada de significado para a raça humana e para todo o universo.[3] Mas como o pecado deveria ser definido? É o pecado um ato, simplesmente a transgressão da lei (1 Jo 3:4), ou se refere a um estado de existência? É a natureza corrupta em si mesma pecaminosa ou não? Deveria o pecado como um estado de existência ser considerado a causa dos atos pecaminosos? E quanto às crianças? Elas nascem já pecadoras, ou se tornam pecadoras na primeira vez que transgridem a lei? O homem é um pecador por que peca, ou peca por que é um pecador? O que nós herdamos de Adão? Essas são as questões e temas que vamos analisar.

Os adventistas estão divididos a respeito da maneira como o pecado deve ser definido. Heppenstall, por exemplo, escreveu: “esse estado de pecado no qual os homens nascem é chamado de pecado original- não no sentido de culpa herdada, mas de uma herdada disposição para o pecado. Ela volta até uma fonte original, o pecado de Adão e Eva, os primeiros pais da raça humana. Envolvida nessa condição pecaminosa de todos os membros da raça humana antes que eles mesmos fossem realmente culpados de cometer pecado.”[4]

Em contraste com essa posição, D. E. Priebe disse: “Pecado não é basicamente o que um homem é, mas o caminho que o homem escolhe… o pecado se relaciona mais com a vontade do homem do que com sua natureza.”[5]

Desde que essas questões tratam de assuntos importantes, nós primeiramente olharemos nas evidências bíblicas, então vamos explorar a história da doutrina do pecado original, e por último vamos investigar o entendimento dessa doutrina ente os adventistas do sétimo dia.

A evidência Bíblica

A Bíblia é muito explícita relativamente à extensão (universalidade) do pecado assim como em relação a sua intensidade.

A extensão do pecado: A universalidade do pecado é estabelecida a partir de declarações diretas das Escrituras.

(1 Reis 8:46) Quando pecarem contra ti (pois não há homem que não peque)
(Salmo 14:3) Todos se extraviaram e juntamente se corromperam; não há quem faça o bem, não há nem um sequer.
(Eclesiastes 7:20) Não há homem justo sobre a terra que faça o bem e que não peque.
(Romanos 3:10) como está escrito: Não há justo, nem um sequer,
(Romanos 3:23) pois todos pecaram e carecem da glória de Deus,

Mesmo os heróis da fé de Hebreus 11 que são descritos como perfeitos (Gen 6:9), como amigos de Deus (Tiago 2:23), ou de homem segundo o coração de Deus (Atos 13:22), eram pecadores. Noé ficou bêbado (Gen. 9:21), Abraão (Gen. 12:13), Davi foi um adúltero e assassino (2 Sam 1). Dessa forma eles poderiam se juntar a todos nós seres humanos ao repetirmos as palavras de Isaías (53:6) “todos nós nos desviamos como ovelhas, cada um para o seu caminho.” A exceção é uma só, Jesus Cristo, é mencionado no texto de Isaías “e o Senhor fez cair sobre Ele a iniqüidade de nós todos.”

O fato de que as Escrituras relatam a necessidade universal de expiação (João 3:16; Atos 4:12), de regeneração (João 3:3,5), e de arrependimento (Atos 17:30) também indicam que o pecado é universal. Uma prova adicional é o fato de que todas as pessoas são sujeitas a morte, a penalidade do pecado (Rom. 6:23).

A intensidade do pecado

Como o pecaminoso é pecador? Quão profundo é o nosso pecado? Somos basicamente bons, criados a imagem de Deus, mas por causa da tentação nós transgredimos a Lei de Deus; ou nós somos basicamente maus, com a imagem de Deus quase totalmente destruída, e por causa da nossa natureza má é que cometemos pecado?

A Bíblia geralmente define o pecado como um ato, 1 joão 3;4 dia que a “transgressão da lei é o pecado,” ou o “pecado é iniqüidade.” No velho Testamento a palavra mais comum usada para pecado é (chata’) que em seu senso mais literal significa: “errar o alvo” como em Juízes 20:16 “Entre todo este povo havia setecentos homens escolhidos, canhotos, os quais atiravam com a funda uma pedra num cabelo e não erravam (Chata’).” Em termos morais, “errar o alvo” se refere ao fato de que a Lei de Deus é o padrão do comportamento ético ao qual devemos objetivar. Assim, quando José diz: “como, pois, cometeria eu tamanha maldade e pecaria contra Deus?” (Gen. 39:9), ele está dizendo com efeito: “Como eu posso cometer tamanha maldade e ficar aquém do padrão revelado na lei de Deus?” Errar o alvo não é meramente um erro acidental, mas um voluntário e culposo ato errado. C.R. Smith disse:

As centenas de exemplos do uso moral da palavra pressupõem que o ímpio “erra o alvo correto” e “erra o caminho certo por que deliberadamente segue um caminho errado” (ou tem um alvo errado). Ou seja, não há a possibilidade de ser um erro inocente ou meramente a ideia de fracasso.[6]

Há várias outras palavras hebraicas que expressam a idéia de pecado como um ato. Por exemplo: Shaga (falha intensa em 1 Sam 26:21); chet (errar em Isa 1:18); ou pesha (rebelião em 1 Rs 12:19). No Novo Testamento as palavras mais freqüentemente usadas para pecado são: Hamartano (43 vezes)[7], Hamartia (173 vezes)[8], também enfatizando o pensamento de se errar um ponto ou alvo.[9]

Entretanto, um grande número de textos no Velho e no Novo testamento se referem ao pecado como um estado, ou tendência do coração. Jeremias representa o pecado como uma doença espiritual que aflige o coração. Ele diz que o coração é “enganoso e desesperadamente corrupto: quem o conhecerá?” (jer. 17:9). Davi no salmo 51 expressa o pensamento de que ele já nasceu pecador, “Eu nasci na iniqüidade, e em pecado me concebeu minha mãe.” Note que a mãe dele não fez nada errado m conexão com sua concepção ou nascimento, ela era uma mulher honrada, mas ele reconhece que ele nasceu com uma natureza pecadora. Ele deseja ser lavado e limpo do pecado (51:2, 7) e pede a Deus que crie nele um coração puro (verso 10). O mesmo pensamento é expresso em salmo 58:3: “Desviam-se os ímpios desde a sua concepção; nascem e já se desencaminham, proferindo mentiras.” Israel é chamado de “transgressor desde o ventre” (Isaías 48:8). E “Desde a planta do pé até à cabeça não há nele coisa sã, senão feridas, contusões e chagas inflamadas, umas e outras não espremidas, nem atadas, nem amolecidas com óleo.” (Isaías 1:6).

O verbo hebraico chashab (pensar) e suas derivações aparecem cerca de 180 vezes no Velho Testamento. Ele é usado em conexão em conexão com os pensamentos e propósitos de Deus, mas especialmente em referência às enganosas e pecaminosas divisas do coração de Deus. Em Genesis 6:5 Deus olha para baixo em direção à terra e vê que a maldade do homem é grande, “toda imaginação dos pensamentos (chashab) de seu coração era somente má continuamente.” Os pensamentos dos homens, diz Isaías, são pensamentos (chashab) de iniqüidade. (59:7). Ele adiante chama os ímpios a “abandonarem seus caminhos, e o ímpio os seus pensamentos (chashab)” (55:7).

O Novo testamento é ainda mais claro e mais enfático nessa questão. No sermão da montanha Jesus fala da interna disposição como pecado. Mateus 5:21-22, 27-28. Aos fariseus ele disse: “Raça de víboras, como podeis falar coisas boas, sendo maus? Porque a boca fala do que está cheio o coração.” (Mateus 12:34). Ações e palavras malignas se desenvolvem a partir dos pensamentos do coração: “Porque do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias.” (Mateus 15:19). Essa pecaminosidade do coração humano, a que chamaremos de PECADO, produz atos individuais de transgressão que são pecados. Assim, por natureza somos filhos da ira (efésios 2:3) que são incitados ao pecado por suas próprias cobiças (Tiago 4:1).

O próprio testemunho de Paulo também é um poderoso argumento que é a corrupção da natureza humana que produz os pecados individuais. Ele recorda que “quando vivíamos segundo a carne, as paixões pecaminosas postas em realce pela lei operavam em nossos membros, a fim de frutificarem para a morte.” (Rom 7:5). Ele vê o pecado em seus membros: ”mas vejo, nos meus membros, outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros.” (verso 23). Em gálatas 5:17 ele escreve que a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne. A palavra aqui é epithumeo, que pode se referir tanto ao desejo neutro quanto a um desejo impróprio. Há inúmeras “obras da carne: “prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções, invejas, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes” (19-21). Portanto no pensamento de Paulo como no pensamento de Jesus, os pecados são resultados (produtos) da natureza humana. Em todo ser humano há uma forte inclinação em direção ao mal com efeitos definidos.[10]O único ser humano sem pecado nas Escrituras é Jesus. Somente dele nós lemos que: “ele não conheceu pecado” (2 cor 5:21); que ele era “separado dos pecadores” (Heb 7;26); e que “nenhum dolo foi achado em sua boca” (1 Pe 2:22). Assim se pode dizer que ele é “o cordeiro sem culpa ou mancha” (1 Pe 1:19).

Total depravação

Total depravação é a expressão usada para descrever o efeito compreensível (passível de ser comprovado [nota do tradutor]) do pecado. Isso não significa que os seres humanos todos sejam tão maus quanto seriam capazes de ser, nem que haja nenhum traço de bondade neles. A expressão total depravação simplesmente se refere ao fato de que o homem como um todo foi infectado com o pecado (Rom. 6:6, 12; 7:24; 8:10). Sua mente ou razão está envolvida (Rom. 1:28; 2 Cor 3:14-15; 4;14), e sua alma ou suas emoções foram pervertidas (Rom. 1:24-27; 2 Tim. 3:2-4). Finalmente, também sua vontade foi afetada pelo pecado. A pessoa não convertida não possui verdadeiramente o livre arbítrio. Ela é uma escrava do pecado (Rom. 6:17). Ele, adiante, é incapaz mesmo de entender e encontrar a verdade sobre si mesmo como Deus o vê.

“O homem em sua pecaminosidade não pode apreender a verdade de Deus. Cada geração sucessiva comete os mesmos erros trágicos. Parece que o homem nunca aprende. As tendências malignas abundam. O pecado tem produzido uma radical insanidade que se manifesta nas paixões malignas, ambições egoístas, desejos selvagens, emoções irracionais que são maldições que acompanham todos os homens sob a face da terra”[11]

Se essa natureza inata deve ser entendida como um estado de pecaminosidade por causa do qual mereçamos condenação, ou apenas algo como uma inerente propensão ao pecado, é algo que será discutido mais tarde. Por agora devemos voltar nossa atenção à questão da origem.

A origem de nossa natureza pecaminosa

A doutrina da origem do pecado não é em nenhum lugar das Escrituras desenvolvida de forma sistemática. Ela é baseada em passagens isoladas e depois reunidas de todas as partes da Escrituras. Teólogos por toda a história têm colocado esses textos juntos para estabelecer essa doutrina. Um dos textos-chave usados para sustentar essa doutrina é Genesis 3, a história da queda. Contudo, encontramos em uma análise mais de perto, vários resultados do pecado de Adão: culpa (3:8); inimizade (3:15); sofrimento ao nascer (3:16); trabalho duro (penoso) (3:19); morte (3:19); etc. Mas a depravação da humanidade não é especificamente citada. Isso pode explicar por que, tirando possíveis referências a Genesis 3 em Isaías 43:27 e em Oséias 6:7, o Antigo Testamento em nenhum lugar explicitamente conecta a queda com a universal pecaminosidade do ser humano. Ele descreve a realidade do pecado e afirma que o homem é pecador desde o nascimento, mas não explica como o pecado é passado adiante de geração a geração.

Paulo é o único escritor bíblico que claramente conecta a queda do homem com nossa morte e com nossa natureza pecaminosa. Em 1 Cor 15:21-22 ele ensina que a morte teve sua origem em Adão: “Visto que a morte veio por um homem, também por um homem veio a ressurreição dos mortos. Porque, assim como, em Adão, todos morrem, assim também todos serão vivificados em Cristo.” Em Romanos 5:12 ele disse que o pecado igualmente veio através de Adão. “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram.”

É particularmente a parte final de Rom. 5:12 que tem causado considerável debate entre os intérpretes. A expressão “todos pecaram” se refere aos pecados individuais de todos, ou ao fato de que todos os homens de alguma forma “pecaram” em Adão? Tanto quanto a gramática do grego possa nos auxiliar as duas coisas são possíveis. Se escolhermos a primeira interpretação, o significado é que o resultado do pecado de Adão é meramente que ele próprio se tornou sujeito à morte, e adiante, por que todos os homens pecaram todos se tornaram sujeitos ao mesmo destino. Esse parece ser o sentido pleno do texto. O aoristo “hemarton” “pecaram” é entendido da mesma forma como em 3:23 “todos pecaram e carecem da glória de Deus.”

Contudo se Paulo pretendia que todos se tornaram sujeitos à morte, por causa dos próprios pecados, a conclusão logicamente serial que todos recebem vida eterna na base da justiça que eles mesmos alcançassem. Mas isso é rejeitado pelas afirmações de Paulo em 5:17-19. A morte passou a todos através da queda de um só homem (Adão), assim da mesma forma a vida é concedida a todos por causa da justiça de um só homem (Jesus Cristo).

A segunda interpretação, entretanto, entende “todos pecaram” como sendo: “todos os homens pecaram em Adão.[12] Isso é sustentado por um apelo à 2 Cor 5:14, a morte de um foi a morte de todos. Assim em Romanos 5:12 o pecado de um seria o pecado de todos. Além disso, essa interpretação é fortalecida pelo contexto imediato de Romanos 5; “pela ofensa de um só, morreram muitos” (5:15), “pela ofensa de um e por meio de um só, reinou a morte” (5:17). “Pela desobediência de um só muitos foram feitos pecadores” (5:19). Dessa forma parece que “Paulo ensina que o pecado de Adão produziu não apenas a penalidade da morte, mas também um real estado de pecado”[13].

“Finalmente, o aoristo hemarton “pecaram” é relacionado com os dois outros aoristos no verso 12; “o pecado entrou (eiselthen) no mundo” e “a morte passou (dielthen) a todos os homens” Todos os três aparecem como aoristos históricos indicando o que aconteceu no Éden.”[14]

Como o pecado de Adão resultou no pecado e na morte da humanidade, e como Romanos 5:12 deve ser entendido corretamente, tem sido objeto de discussão por mais de dois mil anos.

A história da doutrina do pecado original

A apócrifa

Durante o período inter-testamental Ben Sira (ca. 180 B.C.) o autor de sabedoria de Jesus filho de Sirac (também conhecido como Eclesiástico) escreveu, “A partir de uma mulher começou a pecado; a por causa dela todos nós morremos” (Sir. 25:24). E o desconhecido autor de Sabedoria de Salomão (ca. 150-50 B.C.) afirmou que, “Deu criou o homem incorruptível, e à sua imagem e semelhança o criou. Mas pela inveja do Diabo a morte veio ao mundo, e eles que pertencem a ele a experimentarão” (Sabedoria de Salomão 2:23-25).

Esses são as mais antigas fontes extra-bíblicas ensinando que a morte é o resultado do pecado de Adão e Eva. Contudo, uma afirmação específica de que o pecado de nossos primeiros pais é transmitido para cada um de seus descendentes – ideia do que seja o peado original – não é encontrado em nenhum lugar.[15]

A literatura apocalíptica judaica

A literatura apocalíptica judaica floresceu entre 200 a.C. e 150 d. C. Esses escritos lidam primariamente com o futuro, o fim deste mundo, ao invés de com o presente. Frequentemente na forma de experiências visionárias eles descrevem o mundo espiritual dos anjos e dos poderes cósmicos; e eles se ocupam mais com os propósitos de Deus do que com as ações de homens. Entre os exemplos mais bem conhecidos estão: O livro de Enoque; O quarto livro de Esdras; O apocalipse de Baruque; O livro dos Jubileus; e A assunção de Moisés. De Qumran vem A guerra dos filhos da luz contra os filhos das trevas.[16]

A ideia da morte como uma pena herdada é mencionada um número de vezes nesses escritos. Alguns autores colocam a culpa da morte em Eva, outros a Adão.

Apocalipse de Moisés (1º século d. C.)[17]

14:2
Adão disse a Eva: “por que você trouxe destruição entre nós e trouxe sobre nós grande ira, pela qual a morte está ganhando acesso sobre toda a nossa raça?”

4 Esdras (100 d. C.)
3:7
Falando a Deus Esdras diz: “e Tu colocaste sobre ele um mandamento teu; mas ele o transgrediu, e imediatamente tu designaste a morte a ele e seus descendentes.”

2 Baruque (2º século d. C.)
23:4
“Quando Adão pecou e a morte foi decretada contra aqueles que haveriam de nascer, a multidão dos que haveriam de nascer foi numerada”

54:15
“Adão pecou primeiro e trouxe morte sobre todos que não estavam em seu próprio tempo.”

56:6
“Pois quando ele transgrediu, atemporalmente a morte veio à existência…”

Aparte da morte como consequência da queda de Adão, 4 Esdras 7:118 parece indicar que em Adão todos os seus descendentes caíram “Óh Adão, o que fizeste? Pois foste tu que pecaste, (mas) a queda não foi só sua, mas nossa que somos teus descendentes.” E na obra A vida de Adão e Eva (1º século d. C.) o pecado de todas as gerações é traçado até Eva, “e Adão disse para Eva, o que você fez? Você trouxe sobre nós grande ferida, transgressão e pecado em todas as nossas gerações” (44:2).

No pensamento rabínico o homem foi criado com um impulso bom (yetzer ha-tob) e um impulso mal (yetzer ha-ra) que lutam pelo predomínio no coração. Dessa forma lemos em 4 Esdras:

“Pois o primeiro Adão queimou com um coração mal, transgrediu e foi vencido, como foi com todos que descenderam dele. Dessa forma a doença se tornou permanente; a lei estava no coração do povo bem como a raiz maligna, mas o que era bem partiu e o mal permaneceu.”

Através do estudo da Torá o homem poderia proteger a si mesmo contra esses maus impulsos malignos do coração.[18] Dessa forma os “tannaim,” os pensadores religiosos citados na Mishná, diziam que Deus disse o seguinte aos homens: “Se eu criei a má inclinação para vos tentar ao erro, também criei a Torá para te manter afastado do erro.”[19] Vemos então na literatura judaica uma tentativa de lutar com a questão do pecado e de sua hereditariedade, mas uma afirmação não ambígua a respeito do pecado original e de sua propagação está ausente.

Os escritos dos pais da igreja

A controvérsia gnóstica, na qual o problema do mal teve um papel importante, forçou a igreja primitiva a definir as doutrinas do estado original e da queda.

Os pais gregos

Os pais gregos viam o homem como tendo sido criados “nem mortal, nem imortal, mas capaz de ser ambas as coisas; seu destino dependia de como ele exercitasse seu livre arbítrio.”[20] Quando o ser humano caiu ele se tornou mortal e corrupto. Essa corrupção física era vista como sendo propagada na raça humana, mas não era considerado pecado em si. Nem envolvia a humanidade em culpa.[21] Romanos 5:12-21 era geralmente interpretado em termos da morte à qual o ser humano se torou sujeito. O pecado em Romanos 5:12b “pois todos pecaram” era entendido como se referindo ao pecado pessoal do homem.

Irineu (morreu em 195 d.C.), bispo de Lion, via todos os homens como estando seminalmente presentes em Adão, o cabeça da humanidade. Por virtude dessa união todos os homens eram concebidos como existindo em Adão e dessa forma como estando pessoalmente envolvidos no pecado de Adão. “No primeiro Adão”, ele escreveu “nós ofendemos a Deus, não cumprimento seus mandamentos… a Ele somente nós nos tornamos devedores, cuja ordenança nós transgredimos no princípio.”[22] Contudo, ele negou que as crianças compartilhavam da culpa de Adão pois o pecado sempre se iniciava com a escolha livre do homem.[23]

Orígenes (185-254 d.C.), um teólogo de Alexandria, primeiramente ensinou a teoria da pecaminosidade do feto como resultado da queda de todas as almas individuais em uma existência prévia e celestial. Mais tarde, contudo, ele aceitou a doutrina da corrupção herdada, introduzida pela queda de Adão.[24]

Para resumir: Os pais gregos entenderam a morte como a penalidade pelo pecado de Adão. Eles acreditavam que todos os homens estavam envolvidos no pecado de Adão e que esse pecado afetou a nossa natureza moral. Eles ensinavam que nós herdados uma natureza corrupta, mas que nenhuma culpa está ligada a ela.

Os pais latinos

Similar aos pais gregos, os pais latinos viam o estado original do homem como um estado de bem aventurança sobrenatural. Adão e Eva, criados imortais,[25] radiavam perfeita inocência e virtude, eles estavam isentos da necessidade de comida.[26] Por causa do orgulho Adão caiu e se tornou imortal.

Tertuliano (160-251 d.C.), o fundador da teologia latina, igualou o pecado original com a concupiscência (libido sexual) que, por herança, Adão transmitiu a seus descendentes.[27] Ele entendia isso em termos da doutrina traducionista da origem da alma, que diz que todas as almas individuais estavam de alguma forma contidas em Adão de quem eles derivam em última instância. Por seu pecado é dito que Adão infectou a raça humana inteira com sua semente, fazendo dela o canal (traducem) da danação.[28] Ele disse:

Cada alma, então, por razão de seu nascimento, tem sua natureza em Adão até nascer de novo em Cristo; Mais ainda, é impura todo o tempo em que ela continua sem essa regeneração; e por ser impura, é ativamente pecaminosa, e cobre mesmo a carne com sua própria vergonha.[29]

Ambrósio (339-397 d.C.) e Ambrosiaster (4º século), dois outros pais latinos, enfatizaram fortemente a ideia da solidariedade do homem no pecado (original) por virtude da participação de todos no pecado de Adão.

Ambrósio: “Em Adão eu cai, em Adão eu fui expulso do paraíso, em Adão eu morri. Como Deus deveria me restaurar, a menos que ele me encontre em Adão, justificado em Cristo, exatamente como no primeiro Adão eu estava sujeito à culpa e destinado à morte.[30]

Ambrosiaster: “É, portanto, claro que todos os homens pecaram em Adão como em uma massa informe (quase in massa). Pois Adão mesmo foi corrompido pelo pecado e todos que ele gerou nasceram debaixo do pecado. Dessa forma nós somos todos pecadores a partir dele, uma vez que todos nós derivamos dele.[31]

Não obstante, nenhum desses escritores parece ter considerado esse pecado herdado como digno de punição. Ambrósio explicitamente distingue nossa injustiça herdada pela qual nós não devemos ser punidos de nossos pecados pessoais pelo quais devemos ser punidos.[32] E Ambrosiaster em sua interpretação de Romanos 5:12-21 atribui a morte de todos os homens à imitação deles do pecado de Adão.[33]

Parece haver certa quantidade de ambiguidade e incerteza nessas afirmações. Por um lado Ambrósio fala do homem como sendo sujeito à culpa em Adão (ver acima), por outro lado ele nega que a culpa de Adão é de alguma forma transferida para nós. Possivelmente isso é uma indicação da tensão que esses escritores experimentaram enquanto lutavam com o problema do pecado original.
Pelágio (5º século) era um britão bem educado, treinado em advocacia, que apareceu em Roma por volta do ano 400 ensinando a perfeição cristã e chamando ao arrependimento e penitência.

De acordo com Pelágio Adão foi criado com uma natureza média. i.e., nem santa nem pecaminosa, mas com a capacidade do bem ou do mal. Ele foi criado mortal, mas com inteira liberdade e com vontade indeterminada. Ele escolheu pecar ainda que sua queda não machucou a ninguém além dele mesmo. Pelágio negava qualquer transmissão hereditária de uma natureza pecaminosa, ou de culpa, dessa forma o homem ainda nasce na mesma condição na qual Adão estava antes da queda. Não existem más tendências ou desejos na natureza do homem. A única diference entre Adão e o homem é que o último tem o exemplo do mal diante de si. O pecado não consiste em afeições erradas ou desejos errados, mas somente em um separado ato da vontade.[34] A universalidade do pecado, disse Pelágio, é devida à má educação, ao mal exemplo, a um hábito há muito tempo estabelecido de pecar. “por força do hábito, o pecado atinge um poder semelhante ao poder da natureza – o pecado se torna como se fosse ‘uma segundo natureza’.”[35]

A graça de Deus para Pelágio é primariamente o presente de Deus em conceder uma boa natureza ao homem com a capacidade de escolher livremente o bem e de fazer o bem. Ele via a graça em termos de “dons externos e dotações naturais, tais quais: a natureza racional humana, a revelação de Deus na Escritura, e o exemplo de Cristo.”[36]

Jesus Cristo, de acordo com Pelágio, é a plena concretização da graça original da natureza. Como a direta imagem de Deus, Cristo é um espelho do que o homem é e deveria ser. Por contemplar a Cristo o homem é transformado em sua imagem, pois o exemplo de Cristo efetua uma resposta ressonante o mais profundo do ser humano, i.e., em sua memória – a ligação noédica ontológica com sua natureza original.[37]

O pelagianismo com sua visão cor-de-rosa da natureza humana foi condenada em vários concílios e foi finalmente anatematizado no concílio de Éfeso em 431.[38]

Agostinho (354-430),[39] o maior dos pais latinos, foi bispo de Hipona no norte da África. Ele se tornou o principal oponente de Pelágio.

Agostinho concebeu quatro estágios na história do homem: Antes da queda, depois da queda, depois da conversão, e na perfeição. No estado edênico o homem possuía uma plena medida de liberdade. Ele podia escolher entre bom e mal e era dessa forma capaz de se abster do pecado (posse non peccare). Essa habilidade não era uma habilidade inata, não uma dotação natural, mas um dom da Graça divina.

Uma vez que o livre arbítrio contém a possibilidade de uma queda, o primeiro pecado foi ocasionado pelo livre arbítrio. Através da queda o homem perdeu o dom da graça e com ele a liberdade que constituía a habilidade de escolher o bem. Pois quando a graça foi perdida, a natureza humana mudou. Sua atitude fundamental mudou. Considerando que antes da queda a vida do homem era direcionada a Deus, agora ela estaria direcionada em direção a si. O amor a si foi um substituto para o amor a Deus. Os poder mais básico da natureza humana – a concupiscência – assumiu uma posição de domínio. Em uma instância isolada a vontade pode vencer a concupiscência, mas a direção da vontade, entretanto, não permanece a mesma.

O homem depois da queda não mais tem poder de escolher o bem, ele agora tem uma compulsão pelo pecado. Ele não é mais capaz de não pecar (non posse non peccare). Isso não significa que ele não pode fazer boas obras isoladas, mas a direção de sua vontade é em direção ao mal. Dentro dessa atitude básica em direção ao mal o homem ainda tem uma livre vontade, mas o homem só é livre para pecar.[40]

Agostinho cria que toda a raça humana estava seminalmente presente em Adão, e portanto, também pecaram de fato nele. Ele disse, “na escolha má direcionada daquele único homem todos pecaram nele, uma vez que todos eram aquele único homem, de quem, por causa disso, ele todos severamente originaram o pecado original”[41]

Através da procriação sexual Adão transmitiu sua natureza caída (culpa e corrupção) à sua posteridade. Dessa forma o homem, separado de Deus, queimou de culpa, e sob o domínio do mal, não pode desejar aquilo que é bom à vista de Deus, i.e., aquilo que flui do motivo do amor de Deus.

Aqui nós temos a primeira clara definição de pecado original como ele veio a ser aceito pela maioria dos cristãos daí em diante.

A salvação para Agostinho e totalmente da graça de Deus, mas essa graça inclui a regeneração do homem. A vontade do homem é alterada, e ele pode verdadeiramente fazer aquilo que é bom, e dessa forma ele pode se tornar co-obreiro de Deus em fé. O homem é salvo pela fé, mas essa fé também faz aquilo que é bom. As obras que se originam no amor são vistas como sendo meritórias e elas serão eventualmente recompensadas. Mas tal mérito só poder obtido pela graça.[42] A base factual da salvação, para Agostinho, é a graça somente (não o livre arbítrio humano), mas aquela que é a nota na obra da graça não é tanto a justiça “estranha/exterior” de Cristo que é imputada a nós, mas antes, é a mudança que se dá na vida do indivíduo nascido de novo.

Para resumir: Como os pais gregos, os pais latinos antes de Agostinho ensinavam que a morte e a corrupção original são o resultado de sua participação no pecado de Adão. A maioria deles, contudo, negou que a corrupção do homem merecesse punição. Agostinho, na controvérsia com Pelágio, formulou a clássica doutrina do pecado original que inclui a morte, a corrupção, e a culpa.

De Tomás de Aquino até Armínio

Tomás de Aquino (1224-1274) foi o maior filósofo e teólogo da igreja medieval. Construindo sobre os ensinamentos de Agostinho e de Anselmo (1033-1109), Tomás de Aquino definiu o pecado original como a privação da justiça original.[43] Deus criou o homem e a mulher em um estado de justiça original que incluía graça sobrenatural e a ausência da concupiscência e da morte. Além disso, nesse estado original de inocência (justiça), a razão e a vontade do homem estavam em submissão a Deus. Quando Adão se rebelou, o dom sobrenatural da graça lhe foi retirado e a harmonia interior de sua natureza bem como sua submissão a Deus foram perdidas.[44] Essa é a condição do pecado original na qual todos os homens nascem. O pecado original para Tomás de Aquino incluía a culpa uma vez que ele via a humanidade como constituída de um só corpo no sentido de que uma comunidade cívica pode ser descrita como sendo um só corpo.[45]

Em oposição a Tomás de Aquino os reformadores mantiveram que o pecado original é mais do que uma mera ausência de justiça original. Como Agostinho eles viam o pecado original como uma corrupção total da natureza humana (depravação total). Eles consideravam mesmo os primeiros movimentos de seus desejos, que tendem em direção ao pecado, de serem pecados – pecados interiores que tornam os homens culpados e merecedores de condenação.[46]

O concílio de Trento (1545-1563) foi um dos concílios mais importantes na história da igreja católica romana. Ele foi reunido para deter o sucesso contínuo do movimento da reforma protestante. Enquanto o imperador tinha a esperança de que o concílio fosse unir a cristandade ocidental como forma de fortalecer o poder imperial contra os turcos, o papa queria que o concílio anatematizasse todas as formas de heresia protestante. No final o concílio proveu o fundamento para uma revitalização do catolicismo e o eventual sucesso da contra-reforma.

Em respeito à questão do pecado original, o objetivo do concílio de Trento foi corrigir o ensinamento dos reformadores protestantes sobre a radical corrupção da natureza humana pelo pecado de Adão. Os decretos desse concílio representam a afirmação mais compreensível e definitiva sobre o pecado original jamais afirmada pela igreja católica romana.

Canon Um[47]

Se alguém não professa que o primeiro homem Adão perdeu imediatamente a justiça e a santidade nas quais foi constituído quando ele desobedeceu ao mandamento de Deus no paraíso; e que, através da ofensa desse pecado, ele incorreu na ira e na indignação de Deus, e consequentemente incorreu na morte com a qual Deus o havia ameaçado e, junto com a morte, a escravidão ao poder que a partir daquele tempo tinha “o poder da morte” (Hb 2:14), ou seja, do diabo; “e que é o Adão completo, tanto corpo como alma, que foi transformado para o pior através da ofensa de seu pecado”: que seja anátema.

Canon Dois

Se alguém afirmar que o pecado de Adão foi prejudicial somente ao próprio Adão e não aos seus descendentes, e que foi somente ele que perdeu a santidade e justiça que tinha recebido de Deus, e não para nós também; ou que depois de sua contaminação pelo pecado da desobediência, ele “transmitiu à humanidade não somente morte” e punição “do corpo, mas não também o pecado, que é a morte da alma”: que seja anátema. Pois ele contradiz as palavras do apóstolo: “através de um só homem entrou o pecado no mundo, e através do pecado a morte, e a morte passou a todos os homens por que todos pecaram” (Rom 5:12)

Canon Três

Se alguém afirmar que esse pecado de Adão, que é um por origem, e que é comunidade para todos os homens por propagação não por imitação (propagatione, non imitatione transfusum), e que está em todos os homens sendo-lhes peculiar, é retirado seja pelos poderes da natureza ou através de qualquer remédio outro que não seja os méritos do único mediador, nosso Senhor Jesus Cristo que nos reconciliou com Deus através de seu sangue, “o qual se tornou justiça, santificação e redenção” (1 Cor 1:30); ou nega que, através do sacramento do batismo corretamente conferido na forma da igreja, esse mérito de Jesus cristo é aplicado tanto a adultos quanto à crianças: que seja anátema. Pois “não há debaixo do sol nenhum outro nome pelo qual importa que sejamos salvos” (Atos 4:12). Por isso aquele voz: “Eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (João 1:29). E “todos que foram batizados em Cristo, de Cristo se revestiram” (Gal 3:27).

Canon Quatro

“Se alguém nega que recém-nascidos devam ser batizados,” mesmo que ele nasça de pais já batizados, “ou diz que eles são de fato batizados para a remissão dos pecados, mas que eles não possuem nada do pecado original de Adão que precise ser expiado pelo banho da regeneração” para obter a vida eterna; “e consequentemente, que para eles a forma do batismo – ‘para a remissão dos pecados’ – deva ser entendida, não em um sentido verdadeiro, mas falso: seja anátema. Pois as palavras do apóstolo “através de um só homem entrou o pecado no mundo, e através do pecado a morte, e a morte passou a todos os homens por que todos pecaram” (Rom 5:12), não podem ser entendidas de outra forma do que a forma como a igreja católica sempre as entendeu. Por causa dessa regra de fé”, de uma tradição dos apóstolos “mesmo recém-nascidos que não foram sequer capazes de cometer quaisquer pecados pessoais, são verdadeiramente batizados para a remissão dos pecados, que neles nos quais ele foi contraído [contraxerunt] por geração deve ser lavado através da regeneração” (DS, 223). “Quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus.” João 3:5
Canon Cinco
Se alguém nega que através da graça de Nosso Senhor Jesus Cristo conferida no batismo a culpa do pecado original é cancelada, ou mesmo afirma que tudo que tem a natureza verdadeira e própria do pecado não é retirada, mas é apenas limpada superficialmente ou imputada: que seja anátema. Pois Deus não odeia nada daqueles que foram regenerados por que “não há condenação para aqueles que estão verdadeiramente sepultados com Cristo através do batismo na morte” (Rom 6:4), que “não andam de acordo com a carne” (Rom 8:1), mas se despindo do velho homem e se revestindo do novo homem “que foi criado segundo a imagem a Deus” (Ef 4:22ss; Col 3:9ss), são feitos inocentes, sem mácula, puros, não mais odiosos, mas amados filhos de Deus, “herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo” (Rom 8:17), de forma que absolutamente nada atrasa sua entrada no céu. É a mentalidade desse concílio e ela professa que a concupiscência ou a faísca do pecado permanece no batizado; mas desde que ele deixe de constituir em uma prova, isso não tem mais poder de machucar aqueles eu não consentem e que, pela graça de Jesus Cristo, resistem de forma madura. Além do mais, aqueles que “lutam segundo as normas recebem a coroa” (2 Tim 2:5). Quanto a essa concupiscência que às vezes o apóstolo chama de “pecado” (Rom 6:12ss), esse santo concílio declara que a igreja católica jamais a entendeu como sendo verdadeira e propriamente “pecado” naqueles que nasceram de novo, mas por que é do pecado e inclina ao pecado. Se alguém pensa o contrário: que seja anátema.

O concílio de Trento ao invés de definir o que é o pecado original descrê quais são os seus resultados – perda da justiça original e santidade, morte, e escravidão ao poder do diabo (Canon um). O pecado de Adão e seus resultados são transmitidos à sua descendência (Canon dois) através da propagação não por imitação (Canon três). Dessa forma o pecado de Adão em virtude da imputação desse único pecado original a todos os homens é inerente a cada ser humano.

O pecado original é retirado através do batismo que é a aplicação da morte de Cristo em favor de adultos e crianças (Canon três). Assim, mesmo recém-nascidos que ainda não cometerem pecados pessoais precisam ser batizados (Canon quatro) para que a culpa do pecado original seja cancelada (Canon cinco).

O Canon cinco está particularmente apontado contra o ensino dos reformadores, especialmente de Lutero que afirmava “que a concupiscência, entendida como a inclinação culposa do homem em direção ao mal, permanece no cristão e constitui pecado em um sentido verdadeiro e apropriado.”[48] Dessa forma o cristão, de acordo com Lutero, pode ser descrito como simus Justus et peccator (ao mesmo tempo justo e pecador): “justo, por que pela fé compartilha da redenção de Cristo e, no poder dessa fé, luta contra o mal que está dentro dele; pecador, por que precisamente esse mal, como “concupiscência invencível”, permanece dentro dele.”[49]

Como Lutero, João Calvino (1509-64) cria que o pecado original era uma depravação hereditária que produzia as obras da carne no homem. Essa corrupção, Calvino ensinava, não é, como Agostinho pensava, encontrada primariamente nos apetites sensuais, mas também nas faculdades mais nobres do homem.[50]

Jacó Armínio (1560-1609) foi um reformador holandês professor na universidade de Leyden na Holanda que veio a questionar alguns dos ensinamentos do calvinismo. De acordo com Armínio nós recebemos de Adão uma natureza corrupta, mas não a culpa. Nós iniciamos nossa vida sem justiça original, incapazes de obedecer aos mandamentos de Deus sem ajuda divina, e destinados à morte. Como uma questão de justiça, porém, Deus garante a cada pessoa um dom especial do Espírito Santo (graça preveniente) que neutraliza a corrupção recebida de Adão. Ela torna a obediência possível, capacitando a vontade humana a cooperar, o que ainda tem o poder de fazer.[51]

Más tendências, disse Armínio, podem ser chamadas de pecado, mas elas não envolvem em si mesmas culpa ou punição, nem somos nós responsabilizados ou culpados por causa do pecado de Adão. “Deus imputa para cada homem suas inatas tendências ao mal somente quando ele conscientemente e voluntariamente se apropria e ratifica essas tendências a despeito do poder em contrário, que, em justiça ao homem, Deus lhe tem especialmente comunicado.”[52]

Sumário

Durante os primeiros 1600 anos da era cristã, descobrimos que três visões dominaram a história da doutrina do pecado original.

1. A visão Pelagiana: Nessa visão Adão não transmitiu nem corrupção nem culpa aos seus descendentes. Seu pecado é simplesmente um mau exemplo. Desde que o batismo não remove pecado ou culpa nas crianças, coisas que elas não possuem. A morte física não é a penalidade do pecado, mas uma lei original da natureza. Rom 5:12d “a morte passou a todos os homens por que todos pecaram” significa: “todos incorreram em morte eterna por pecarem pelo exemplo de Adão.” Os unitarianos defendem essa visão hoje.[53]

2. A visão Agostiniana: Nessa visão Adão transmitiu tanto corrupção quanto culpa aos seus descendentes. Ela afirma que Deus imputa o pecado de Adão diretamente (imediatamente) a toda sua posteridade, pois quando Adão pecou toda a humanidade estava seminalmente presente nele como sua cabeça. Romanos 5:12d se refere à morte física, espiritual, e morte eterna para todos os homens, pois todos pecaram em Adão (o cabeça natural da humanidade).[54] Lutero e Calvino sustentaram essa posição e a igreja luterana e a católica romana[55] são as representantes modernas desse pensamento.

3. A visão arminiana: Nessa visão Adão transmitiu corrupção, mas não culpa aos seus descendentes. O estado de pecado no qual os homens nascem não envolve em si mesmo culpa ou punição. Somente quando os homens pecam conscientemente e voluntariamente e dessa forma ratificam sua natureza corrupta, então Deus imputa a cada homem sua tendências inatas naturais ao mal. Romanos 5:12d é entendido como significando que a morte física e espiritual é experimentada por todos os homens pois todos consentiram com sua tendência pecaminosa inata por atos de transgressão. A igreja metodista é a moderna representante dessa visão.[56]

A era pós-reforma

Na era pós-reforma três teorias (variações) adicionais a respeito da imputação do pecado de Adão foram desenvolvidas.

1. A teoria Federal:[57] Essa teoria se originou com João Cocceius (1603-69), um teólogo alemão que ensinou em Leyden na Holanda, e é conhecida também como “a teoria das alianças.”

De acordo com essa visão, Deus entrou em aliança com Adão como o cabeça federal da raça humana, afirmando que se Adão obedecesse a Ele, e sua posteridade, eles receberiam a vida eterna. Contudo, se Adão desobedece, a depravação e a morte seriam o quinhão da humanidade.

Por Adão ter pecado, Deus reputa todos os seus descendentes como pecadores, i.e., Deus imediatamente cria cada alma da posteridade de Adão com uma natureza corrupta e depravada que sempre conduz ao pecado e que é pecado em si mesma. Dessa forma, uma natureza corrupta veio sobre a raça humana através da aliança de Deus e não através do pecado de Adão.

Em contraste com Agostinho, que acreditava que todos os homens pecaram em Adão, a teoria federal ensina que o pecado de Adão é imputado para sua posteridade. Dessa forma Romanos 5:12d “a morte passou a todos os homens, por que todos pecaram”, significa “a morte física, espiritual, e eterna passou a todos os homens pois todos foram reputados e tratados como pecadores.” A igreja reformada é uma representante moderna dessa visão.

2. Teoria da mediação imputada:[58] Placens (1606-1655), professor da teologia em Saumur na França, ensinava que todos os homens nascem fisicamente e moralmente depravados por causa do pecado de Adão. Essa pecaminosidade inata descende das leis naturais da propagação desde Adão à toda sua posteridade e que é a consequência, não a penalidade, a transgressão de Adão como a fonte de todo pecado de fato, e é em si mesma pecado. A alma é imediatamente (diretamente) criada por Deus, mas se torna ativamente corrupta tão logo se une ao corpo.

Em certo sentido, portanto, o pecado de Adão (culpa) é imputado aos seus descendentes, não imediatamente, como se eles mesmos estivessem em Adão ou estavam representados nele, mas através da mediação da natureza corrupta que é resultante do pecado de Adão. Em Romanos 5:12d, “a morte passou a todos os homens por que todos pecaram” significa “a morte física, espiritual e eterna passou a todos os homens, pois todos pecaram por possuírem uma natureza corrompida.”

3. Teoria da Nova escola, ou New Haven:[59] Essa teoria foi desenvolvida na universidade Yale (condado de New Haven) sob a liderança de Timothy Dwight (1752-1817) e Natanael Taylor (1786-1858) e foi direcionada particularmente contra a doutrina de Calvino sobre a predestinação.

A teologia da Nova Escola (Haven) ensinava que um recém-nascido adentra a vida com predisposição ao pecado, mas essa predisposição não era denominada pecaminosa uma vez que nada além de um ato voluntário de transgressão pode, nessa visão, ser chamado de pecado. Consequentemente crianças não necessitam de um Salvador. O pecado não é visto como um estado, mas somente como um ato, uma vez que o homem não peca até atingir a idade da consciência moral. A morte física é o resultado do pecado de Adão, mas a morte espiritual é resultado do pecado próprio. Em Romanos 5:12d a expressão “a morte passou a todos os homens por que todos pecaram”, significa: “a morte espiritual passou a todos os homens, pois todos os homens de fato pecaram individualmente”.

Para resumir: As teorias federal e de Placens são próximas à teoria agostiniana, a teoria da Nova escola (Haven) é similar à posição arminiana. Na tradição agostiniana o homem nasce pecador e, portanto, peca; na tradição arminiana a noção de pecado é confinado ao de um ato, dessa forma o homem é pecador por que ele peca.

A doutrina do Pecado Original no adventismo[60]

As primeiras décadas

A incipiente Igreja Adventista do Sétimo Dia foi edificada no contexto da Nova Inglaterra (EUA) e foi inicialmente influenciada pela teologia da teoria da Nova escola (Haven).

George Storrs (1796-1867), um pastor metodista que deixou sua igreja em 1840 por causa da questão da imortalidade natural, se tornou a figura central no tratamento do pecado original no adventismo inicial. Seu livro, Uma pergunta: São as almas dos ímpios imortais? Em seis sermões (1842)[61] teve ampla circulação entre os adventistas e foi adotado por muitos.[62]

A visão de Storrs pode ser resumida em cinco pontos:

O homem deve ser visto como uma unidade holística. O que quer que afete qualquer aspecto do homem, afeta o homem todo, i.e., o homem não tem uma alma ele é uma alma.

Em sua criação original o homem foi feito neutro, tanto em seu caráter com em sua natureza constitutiva essencial. Ele não era nem santo, nem ímpio, mortal ou imortal. O caráter (bom ou mal) é o resultado das escolhas em relação com a vontade de Deus. A mortalidade é o resultado da desobediência de Adão. Dessa mesma forma a imortalidade teria sido o resultado da obediência e do acesso à árvore da vida no Éden.

A natureza da penalidade pelo pecado original, i.e., do pecado de Adão, deve ser vista como literal, física, temporal, e factual, morte – o oposto da vida, i.e., a cessação de ser. Por nenhuma manipulação dos fatos escriturísticos a morte pode ser espiritualizada no conceito de depravação. Deus não puniu Adão tornando-o em um pecador. Essa era a obra do próprio Adão. Todos morrem a primeira morte por causa do pecado de Adão a despeito de seu caráter moral pessoal – incluindo-se as crianças.

O papel da expiação de Cristo é conceder uma segunda provação às vítimas do pecado original. Consequentemente todos podem demonstrar sua própria fidelidade através da obediência a Deus e o destino eterno é determinado com base no pecado próprio, não no pecado de Adão.

Finalmente, a natureza “corrupta” que toda a posteridade de Adão herdou dele não deve ser percebida como depravação, mas como uma natureza mortal – “morrendo para morrer”, ou destinada a morrer – mortalidade. O pecado original não significa morte espiritual para o homem, antes ele significa a condição/estado mortal do homem.[63]

Adventistas primevos aceitaram a visão de Storrs a respeito do pecado e a publicaram nas páginas da Review and Herald em 1854 e 1855 através de artigos escritos por J. M. Stephenson,[64] D. P. Hall,[65] e J. N. Loughborough.[66]

J. M Stepherson, cuja série de artigos foi posteriormente publicada em forma de livro, cria que a posteridade de Adão estava envolvida em seu pecado por representação, ou por seu representante, mas não de fato. Devido à queda Adão se tornou mortal e transmitiu uma “natureza mortal, corrompida, e morrendo” aos seus filhos. Mas por ter sido Adão que pecou pessoalmente, sua posteridade não é responsabilizável apesar deles agora partilharem da mesma condição. Responsabilização só vem com pecado pessoal.

Dessa forma, ninguém morre por causa de seus pecados pessoais, exceto aqueles que estão perdidos, mas todos morrem a primeira morte pequem eles pessoalmente ou não. Uma vez que crianças não têm pecados pessoais elas são automaticamente cobertas pela expiação perfeita de Cristo, ainda que elas morram por causa do pecado original.[67]

Ambos os Testamentos representam o homem como estando exposto à morte por causa de pecados pessoais. Mas, assim como todos morrem por causa do pecado original, ninguém morre por causa de pecado pessoal, sem uma ressurreição para uma segunda vida; Uma vez que a Bíblia ensina que haverá uma ressurreição dos mortos, “tanto de justos como de injustos.” Ser precedido por uma segunda vida, deve, pela natureza das coisas, existir uma segunda morte; Uma vez que a penalidade pelo pecado é apenas uma morte, ainda em referência à sua relação com a penalidade pelo pecado original, ela será a segunda morte.[68]

Como Storrs, Stepherson usava “pecado original” como significando “pecado de Adão.” Ele via o resultado do pecado de Adão apenas em termos de uma natureza física mortal, mas não como morte espiritual ou natureza depravada. Ele entendeu a perdição espiritual do homem somente como resultado de transgressão pessoal ao invés de como resultado do pecado original.[69]

Tiago White (1821-1881) estava em concordância básica com isso quando sugeriu que as crianças são inocentes e nascidas num estado de graça. Apesar dele admitir que elas possuíam uma natureza caída e corrupta, ele não cria que elas fossem culpadas por causa disso. “Cristo cancelou a culpa da transgressão de Adão, e na ressurreição do último dia, todos os efeitos da queda nos inocentes, ou justificados, serão removidos, não antes.”[70]

Nas primeiras décadas Ellen White (1827-1915) falou pouco sobre esse assunto, apesar dela discordar de seu marido a respeito das criancinhas.

Crianças são legítimas presas do inimigo, por que elas não são súditas da graça, não experimentaram o poder expiatório do sangue de Cristo, e os anjos maus têm acesso a essas crianças; e alguns pais são descuidados e permitem que seus filhos cresçam com poucas restrições.[71]

O escritor adventista mais prolífico sobre o tema do pecado de Adão durante as primeiras décadas foi Uriah Smith (1832-1903), por longo tempo editor da Review. Como Storrs e Stepherson, Smith cria que Adão tinha uma natureza média – criado sem moralidade – e que a penalidade do pecado de Adão era a morte física, não a morte espiritual. Ele entendia a morte espiritual como sendo a realidade da existência pecaminosa do homem, mas ele via isso como um resultado do pecado de Adão, não como uma penalidade por causa disso. Isso estava em contraste com a posição comumente defendida pelos protestantes de que a punição era a morte – espiritual (estado de pecado), temporal (separação da alma e do corpo), e eterna (miséria eterna).[72] A definição de Smith de “depravação total”, i.e., “nossa inabilidade de render, não acrescida por Cristo, obediência aceitável a Deus”,[73] reflete as visões moderadas da teologia da Nova escola (Haven).[74] O estado de pecado é realmente o pecado de fato da pessoal individual e somente pecados pessoais, não sua natureza, decidem o destino eterno do homem.[75]

Assim que, para os primeiros adventistas o resultado do pecado de Adão foi a mortalidade – uma natureza que está morrendo – a morte física. Algumas vezes adventistas se referiam a isso como sendo a natureza pecaminosa: “lembre-se que uma natureza mortal e uma natureza pecaminosa são idênticas.”[76] Por causa de sua aderência à imortalidade condicional, os adventistas primeiramente estudaram o pecado original de uma perspectiva antropológica.

Uma mudança no entendimento

A ênfase antropológica continuou até a década de 1880. Naquele tempo, particularmente depois de 1888 quando uma nova ênfase sobre a justificação pela fé emergiu da assembleia da conferência geral em Mineápolis, o foco dos estudos sobre pecado original mudou da antropologia para a soteriologia. Já tão cedo quanto 1870 Ellen White tinha escrito:

O pecado de Adão e Eva causou uma temerosa separação entre Deus e o homem. E aqui Cristo se interpõe entre o homem caído e Deus, e diz ao homem, você ainda pode ir ao Pai; há um plano divisado através do qual Deus pode ser reconciliado com o homem, e o homem com Deus; e através de um mediador você pode se aproximar de Deus.[77]

Esse tema da separação foi tomado em 1888 por L. A. Smith, editor assistente da Review, que argumentou sobre os efeitos morais da separação de Deus. Ele acreditava que a queda de Adão afetou as dimensões físicas, mentais e morais do homem. O homem peca por que ele é moralmente degenerado; e todos os seres humanos são “herdeiros por natureza” dessa natureza moral adoecida.[78] Por volta da virada do século os adventistas do sétimo dia vieram a considerar o pecado original em termos de separação de Deus.

A respeito da degeneração moral, os primeiros adventistas criam que ela era adquirida mais por imitação do que por herança física, pois não é pecado ou culpa que o cabeça da humanidade transmitiu para seus filhos, mas simplesmente a morte, uma natureza mortal/morrendo.[79] Ellen White, contudo, a partir da década de 1880 em diante passou a claramente identificar isso com a natureza depravada herdada do coração humano.

A degeneração moral, a que chamamos depravação, encontra amplo espaço para atuar, e homens, mulheres e jovens que professam ser cristãos exercem uma influência baixa, sensual, demoníaca.[80]

Hábitos maus se formam mais facilmente do que bons hábitos, e os hábitos maus são abandonados com mais dificuldade. A depravação natural do coração é responsável por esse fato muito conhecido: que dá muito menos trabalho desmoralizar os jovens, corromper suas ideias sobre moral e religião, do que incutir-lhes no caráter esses duradouros, puros e incorruptos hábitos de justiça e verdade… Em nosso presente estado decaído, tudo que é necessário é abandonar às suas tendências naturais a mente e o caráter.[81]

Declarou-se-lhes (Adão e Eva), porém, que sua natureza ficara depravada pelo pecado; haviam diminuído sua força para resistir ao mal, e aberto o caminho para Satanás ganhar mais fácil acesso a eles. Em sua inocência tinham cedido à tentação; e agora, em estado de culpa consciente, teriam menos poder para manter sua integridade.[82]

Por causa do pecado sua (de Adão) posteridade nasceria com propensões inerentes para a desobediência.[83]

Em seu próprio âmago a natureza humana foi corrompida. E desde então o pecado tem continuado sua obra odiosa, alcançando de mente em mente. Cada pecado jamais cometido desperta os ecos do pecado original.[84]

Há em sua natureza um pendor para o mal, uma força à qual, sem auxílio, não poderá ele resistir.[85]

Há a questão se por acaso Ellen White considerava/entendia a depravação como sendo pecado ou não, i.e., é o homem culpado antes que ele cometa atos de pecado simplesmente por ele ser depravado, ou não? E. Zackrison parece pensar que não,[86] enquanto Roberto Olson acredita que nossa natureza pecaminosa (depravação) também carece de perdão. Em apoio a essa posição ele cita Testemunhos para a igreja, vol. 5, página 645, “Deus será glorificado se confessarmos a corrupção inata, secreta do coração para Jesus somente do que se abrirmos seus recessos ao homem finito, e falível.”[87]

Seguindo a direção de Ellen White, um número de escritores adventistas durante a década de 1890 tomou um rumo decidido em direção a uma expressão mais radical do pecado original do que nas décadas prévias. E. R. Jones, um pastor de Healdsburg escreveu:

“Pela desobediência de um só homem muitos se tornaram pecadores” (Rom 5:19). Ninguém negará que isso se refere à depravação herdada, a natureza e tendência pecaminosa na qual, através da desobediência, cada alma da raça de Adão é nascida.[88]

F. J. Hutchins, evangelista pioneiro e médico missionário na América Central descreveu o legado de Adão nos seguintes termos:

Primeiro, Adão perdeu sua inocência e nos deixou pecaminosos; segundo, ele perdeu seu domínio, e nos deixou sem lar, sem uma herança; terceiro, ele perdeu sua vida, e nos deixou morrendo, nossa vida perdida, e somente um processo de tempo requerido para demonstrar o fato pelo poder da morte.[89]

Por volta de 1894, M. E. Kellogg pôde escrever que foi o pecado de Adão que deixou o homem com “uma natureza pecaminosa que o fazia sujeito à segunda morte – a morte eterna.”[90] Essa visão claramente sugere que o legado de Adão não foi simplesmente a mortalidade física que conduz à primeira morte, mas também a depravação espiritual merecedora da segunda morte. Contudo, a velha visão tradicional de Storrs persistiu em alguns círculos[91] e Uriah Smith continuou até a sua morte em 1903 a reiterar e repetir a visão que Storrs tinha introduzido sessenta anos antes.[92]

Nossa posição no presente

Em 1988 a conferência ministerial da associação geral publicou o livro “Nisto Cremos,” uma exposição bíblica de nossas vinte e sete (na época) doutrinas fundamentais. No capítulo que trata da natureza do homem é dito que o pecado inclui: “a transgressão da lei (1 Jo 3:4), uma falha de alguém que “sabe o bem que deve fazer e não o faz” (Tg 4:14), ou tudo que não provê da fé (Rom 14:23).”[93] Na questão do pecado original ele diz:

Paulo observou que “em Adão, todos morrem” (I Cor. 15:22). Em outro ponto ele mostra que “Assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram” (Rom. 5:12).

A corrupção do coração humano afeta a pessoa em sua totalidade. É à luz desta realidade que Jó exclama: “Quem da imundícia poderá tirar coisa pura? Ninguém!” (Jó 14:4). Davi observou: “Eu nasci na iniquidade, em pecado me concebeu minha mãe” (Sal. 51:5). Paulo afirmou que “o pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus” (Rom. 8:7 e 8). Antes da conversão, fez notar o apóstolo, os crentes eram “por natureza, filhos da ira” (Efésios 2:3), assim como o restante da humanidade.

Embora, como crianças, adquiramos comportamento pecaminoso através da imitação, os textos anteriores afirmaram que já herdamos nossa pecaminosidade básica. A universal pecaminosidade da raça humana constitui evidência de que por natureza tendemos ao mal, e não ao bem.[94]

Assim é que o consenso dos eruditos adventistas, como expresso nesse livro, define o pecado como um ato (1 Jo 3:4) bem como um estado (Salmo 51:4; Efésios 2:3). Nós herdamos uma natureza pecaminosa (Pecado) que, a menos que seja reprimida pelo Espírito Santo nos instiga a cometer atos individuais de transgressão (Pecados).

A expressão mais clara da natureza hereditária de nossa pecaminosidade inata é encontrada no Salmo 51:5 “Eu nasci na iniquidade, em pecado me concebeu minha mãe.” O comentário bíblico adventista observa o seguinte a respeito desse texto:

Davi reconhecia que as crianças herdam naturezas propensas ao mal (ver Jó 14:4; Salmo 58:3; Patriarcas e Profetas 61, 306; Ciência do Bom Viver 372, 373; O grande conflito 533). Ele não procurou desculpar o seu pecado, mas procurou enfatizar a ainda maior necessidade da misericórdia de Deus por causa de suas tendências inatas para o mal (ver Patriarcas e Profetas, 64).[95]

Pecado como Separação de Deus

A causa fundamental de nosso estado pecaminoso (corrupção original) é nossa separação de Deus. A primeira ação de nossos primeiros pais depois de seu primeiro pecado foi a de se esconder (Gen 3:8). E a humanidade sempre seguiu suas pegadas desde então. Através da queda a comunhão íntima que Adão e Eva tinham desfrutado com seu Criador fora destruída. Ao pecar o homem quebrou seu relacionamento com Deus.

A expulsão do homem do Jardim do Éden era um símbolo desse relacionamento rompido. Dali em diante ele deveria existir longe de Deus. E todo ser humano, exceto um, nasceu nesse estado de separação de Deus. Portanto, Bebês morrem, não por eles mesmos terem pecado de fato ou por estarem sendo punidos por Deus, mas por que eles agora são parte dessa separação da fonte da vida. Todo homem nasce centrado em si mesmo, não em Deus.[96]

A centralidade em si mesmo (egoísmo) foi o motivo da queda de Satanás, “subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo” (Isaías 14:14). Esse também é o centro do problema do pecado original. Através da queda, Ellen White diz, Satanás conformou com sua própria natureza o pai e a mãe de nossa raça.[97] Existe alguma surpresa de que nós nasçamos como rebeldes centrados em nós mesmos? Como quaisquer pais sabem, as crianças são egoístas por natureza, tudo pertence a elas e orbita em torno delas; as crianças precisam aprender a compartilhar, a serem altruístas em suas atitudes.

Como Heppenstall aponta: O pecado original não é em si fazer coisas más, mas ser mal. Então há uma conexão causal entre o primeiro pecado do primeiro homem e o egoísmo de sua posteridade. A consequência do pecado de Adão foi total. Consequentemente o pecado original é o estado do “eu” como um todo em relação a Deus. Ele nunca é um problema unicamente psicológico ou biológico. Tentar localizar o pecado ou a transmissão do pecado geneticamente simplesmente deixa de lado o problema real. A questão é espiritual e não genética. O pecado não é transmitido geneticamente dos pais aos filhos. O pecado não pode ser reduzido a algo físico.[98]

A última parte dessa citação contém um ponto importante. O PECADO é um problema espiritual, não um defeito físico, apesar de que nossa degeneração física é certamente um dos resultados do pecado de Adão. Mas “maus hábitos e práticas são desenvolvidos, não vêm através dos genes.”[99] Quaisquer defeitos de caráter herdados que tenhamos, como a morte eles são o resultado da queda – a consequência de nossa separação de Deus. Nossa natureza pecaminosa está localizada/manifesta em nossas mentes não em nossa corrente sanguínea. Por causa disso Ellen White diz: “A fim de entender corretamente esta questão, cumpre-nos lembrar que nosso coração é naturalmente depravado, e somos incapazes, por nós mesmos, de seguir uma direção reta.”[100] Em outro lugar ela escreve:

Pelo pecado, perturba-se todo o organismo humano, a mente é pervertida, corrompida a imaginação. O pecado tem degradado as faculdades da alma. As tentações exteriores encontram eco no coração, e os pés se volvem imperceptivelmente para o mal.[101]

O efeito mais importante que o pecado de Adão teve foi a separação entre o homem e Deus. Privado da arvora da vida natureza física do homem começou a morrer. Privado da presença dos seres santos a natureza espiritual (sua mente) se tornou degenerada. O homem se tornou centrado em si mesmo e soberbo (a soberba da vida, 1 João 2:16). Seus olhos, que tinham contemplado a glória de Deus na criação, agora lhe mostravam o que ele desejava para si mesmo (a concupiscência dos olhos); E por causa da íntima relação entre corpo e mente os instintos naturais como o sexo e o apetite se tornaram nas perversões anti-naturais da carne (a concupiscência da carne). Morte, doença, e uma natureza corrupta e depravada são todos resultados da separação de Deus – a fonte de toda vida e de toda bondade.

Culpa de Adão

A teoria agostiniana do pecado original, que em grande medida se tornou a doutrina católica romana, inclui a ideia de que a culpa de Adão é herdada por cada recém-nascido. Bebês, portanto, precisam ser batizados para lavar sua culpa herdada.

Os adventistas geralmente negam que nós herdamos culpa de Adão. A Enciclopédia Adventista do Sétimo Dia afirma: “Adventistas do sétimo dia creem que o homem herdou uma natureza pecaminosa com propensão ao pecado, e seus escritos rejeitam ou não enfatizam a ideia de que os homens herdam culpa pela transgressão de Adão.”[102]

Alguns teólogos adventistas, contudo, incluem a culpa de Adão em sua definição de pecado original. Robert Olson, por exemplo, diz: “nós herdamos culpa de Adão de forma que mesmo um bebê que morre um dia depois de seu nascimento necessita de um Salvador apesar de nunca ter cometido de si mesmo.”[103] Ele baseia isso em afirmações de Ellen White como essas: “Relacionados ao primeiro Adão, os homens nada receberam dele senão a culpa e a sentença de morte.”[104] “Adão pecou, e os filhos de Adão partilham de sua culpa e das consequências.”[105] Contudo ela também diz: “É inevitável que os filhos sofram as consequências das más ações dos pais, mas não são castigados pela culpa deles, a não ser que participem de seus pecados.”[106]

Permanece a questão, portanto, se as afirmações de Ellen White se referem a uma amputação de fato da culpa de Adão aos seus descendentes ou se isso é apenas a consequência do pecado de Adão. Em outras palavras, assim como morte veio a todos os homens por causa do pecado de Adão, assim a culpa vem a todos por que todos nascem pecadores e cometem pecados eles mesmos. A. L. Moore nega que Ellen White ensine a culpa herdada. Ele diz:

A preocupação de Ellen White aparenta se relacionar com as consequências da separação de Deus e ao processo de escravidão a Satanás – que é herdada de Adão. Uma cadeia de causa e efeito é vista na qual o pecado causa separação para com Deus e deixa a alma com culpa.[107]

Pode ser útil distinguir entre a culpa de Adão e nossa culpa como uma consequência de nossa pecaminosidade herdada. Nós não herdamos culpa, mas como uma consequência da queda de Adão nós nascemos distantes de Deus, em um estado de pecado que é condenável, e, portanto, nós somos culpados diante de Deus. Ellen White pode estar se referindo à culpa desse ponto de vista.

Implicações Cristológicas

Temos visto que o pecado é mais do que um ato, ele é um estado que nós herdamos por causa da separação entre Adão e Deus. M. J. Erickson disse corretamente:

O pecado não consiste meramente de atos e pensamentos errados, mas também de pecaminosidade, uma disposição interior inerente que nos inclina a atos e pensamentos errados. Dessa forma não é simplesmente que somos pecadores por que pecamos; nós pecamos por que somos pecadores.[108]

Agora, se todo homem nasce um pecador, separado de Deus e necessitado de Salvação, então como Cristo pôde ter nascido como homem e ainda assim ser sem pecado? Fontes do início do adventismo mostram uma grande divergência sobre a questão da natureza humana de Cristo. Em 1888 G. W. Morse responde à questão: “Se Cristo não possuiu nossa natureza carnal, ou paixões malignas, como ele pôde ser tentado em todas as coisas?” dizendo:

O único ponto de diferença entre a oportunidade dele e a nossa, para resistir a tentações, é encontrado no fato de que ele não possuía nenhum traço, ou tendência, para pecar, como nós temos. É preciso ter em mente o fato de que Cristo veio ao mundo para começar do ponto onde Adão havia iniciado, e não do ponto onde nós nos encontramos.[109]

Dois anos mais tarde, em 1890, E. J. Waggoner, editor da revista Signs of the times, escreveu em seu livro Cristo e sua Justiça:

O fato de que Cristo tomou sobre si a carne, não de um ser sem pecado, mas do homem pecaminoso, ou seja, aquela carne que ele assumiu tinha todas as fraquezas e tendências pecaminosas às quais a natureza humana está sujeita, isso é demonstrado pela afirmação de que “ele foi feito da semente de Davi segundo a carne.”[110]

Com justiça a Waggoner, devemos lembrar que os adventistas do sétimo dia acreditavam naquela época que propensões e inclinações a pecar não eram pecado no sentido estrito da palavra.

Por um lado, a resposta à pergunta feita a Morse deve evitar fazer de Cristo um homem assim como nós. Pois a solidariedade corporativa da raça humana com Adão tornou impossível que alguém da raça humana vivesse acima do problema fundamental do pecado, i.e., da separação de Deus. “Somente alguém de fora da raça humana poderia entrar nela para promover uma mudança.”[111] Por outro lado, ela evita fazer de Cristo tão diferente do homem de forma que ele não posse ser identificado conosco. “Ele precisa ser um conosco em natureza, mas não em pecado (pecado como separação de Deus, como natureza, ou como atos).”[112]

Os dois lado do problema estão presentes na miraculosa concepção de Cristo (Lucas 1:35), quando ele tomou todas as limitações de nossa humanidade, exceto o pecado (ver o texto grego de Hebreus 4:15).

Ele [Cristo] deixou de lado seu manto real por nós, desceu do trono no céu, e condescendeu em revestir sua divindade com a humanidade e se tornou como um de nós exceto no pecado.[113]

Jesus era tanto semelhante quanto diferente de Adão em sua natureza humana.

“Não era a Humanidade adâmica em virtude de possuir as inocentes fraquezas dos caídos. Não era a natureza caída porque Ele jamais caiu em impureza moral. Sua natureza era, portanto, mais apropriadamente a nossa humanidade, porém sem pecado”.[114]

A afirmação em Romanos 8:3 de que Jesus veio “em semelhança de carne pecaminosa” não significa que ele tinha carne pecaminosa, de outra forma a palavra “semelhança” seria inapropriada. A palavra grega homoiomati se refere à semelhança não à “igualdade”.[115] Jesus não era pecador nem por natureza nem por atitudes. Dessa forma é que Ele era um substituto único – o cordeiro perfeito.

Sumário e Conclusões

Uma pesquisa da história da doutrina do pecado original indica que particularmente esse ensino bíblico foi entendido de formas bastante variadas. As mais influentes foram as interpretações de Pelágio, Agostinho, e de Armínio.

Até o fim do século 18 a teologia agostiniana dominou o entendimento do pecado original na América (do Norte). Os teólogos da Nova Escola (New Haven) no século 19, em sua oposição à posição calvinista de teologia federal, desenvolveram uma doutrina do pecado original similar à posição arminiana.

O adventismo do sétimo dia, nascido no ambiente da Nova Inglaterra, aderiu a uma hamartologia (doutrina do pecado) semelhante à dos teólogos da Nova Escola (New Haven) que viam a herança do homem nem como responsabilidade nem como significando propriamente pecado. Existe uma conexão perceptível entre a teologia da Nova Escola, o condicionalismo de George Storrs, e o entendimento do pecado original no início do adventismo.

Os primeiros adventistas ensinavam:

1) Adão em seu estado antes da queda tinha uma natureza média – capaz de se tornar moralmente bom ou corrupto.

2) O pecado original era entendido como se referindo apenas ao pecado de Adão.

3) A penalidade pelo pecado de Adão era vista apenas em termos de uma natureza mortal – morte física. Essa natureza mortal também era chamada de natureza pecaminosa.

4) A morte espiritual (depravação) era vista como uma consequência não como uma penalidade do pecado original.

5) Pelo pecado ser definido em termos de Transgressão da lei, a depravação não era considerada como sendo pecado, mas como a tendência ou inclinação natural para pecar.

Os escritos de Ellen White a partir de 1880 em diante vagarosamente mudaram a visão da igreja em direção a um entendimento mais bíblico. Pelo final do século foi reconhecido que o legado de Adão não foi simplesmente a mortalidade física que conduz à primeira morte, mas também a depravação espiritual que merece a segunda morte.

Os adventistas do sétimo dia hoje, de forma geral, definem o pecado como falta de conformidade com a vontade de Deus, seja por atos ou por condição (estado). Eles creem que as crianças nascem com uma natureza pecaminosa e depravada como consequência do pecado de Adão e como o resultado da separação de Deus. Esse estado pecaminoso significa que se um bebê morre poucas horas depois de seu nascimento ele/ela está sujeito(a) à segunda morte, mesmo que ele/ela não tenha cometido nenhuma transgressão de nenhum mandamento.

Se assim não fosse, então os bebês que morreram não precisaram de um Salvador. Cristo não permitiu tal exceção quando disse: “Eu Sou o caminho, a verdade, e a vida, ninguém vai ao Pai senão por mim” (João 14:6).[116]

Que cada recém-nascido possua a culpa de Adão não é algo aceito comumente entre os adventistas. Não obstante, o termo pecado original é usado por autores adventistas – “não no sentido de culpa herdada, mas de uma inerente disposição a pecar.”[117] Para sermos claros e evitarmos confusão, eu sugeriria que usássemos a expressão “pecado original” para designar o conceito agostiniano de culpa imputada e depravação; e a expressão “corrupção original” para designar o estado de pecado no qual cada membro da raça humana nasce.

Existe uma tendência da parte de alguns adventistas em voltar ao entendimento de nossos pioneiros com respeito ao pecado original, com objetivo de justificar sua oposição ao nosso presente entendimento (que eles consideram como sendo calvinista). Contudo, qualquer entendimento de verdades teológicas deve levar em consideração todo o contexto escriturístico bem como os conselhos inspirados de Ellen White.

Enquanto alguns creem que o pecado é apenas uma violação consciente ou negligente da vontade de Deus, nosso estudo da Escritura tem demonstrado que o pecado é também um estado no qual nascemos (corrupção original). Esse estado pecaminoso permanecerá conosco até o fim, mesmo que pela graça de Deus sejamos capazes de vencer todas as tentações para pecar.

Um entendimento correto da natureza do pecado é também algo vital para uma visão equilibrada da natureza de Cristo. Conquanto ele tenha se tornado verdadeiro homem, “semelhante aos irmãos” (Hebreus 2:17), ele não herdou a corrupção original na qual nós nascemos (Hebreus 4:15).

O estudo do pecado e corrupção original deveria nos conduzir a uma maior conscientização de nossa parte sobre a necessidade de justiça/justificação. Que nós necessitamos de um Salvador desde o dia em que nascemos, não apenas depois de transgredirmos a lei de Deus, essa é a mensagem desse estudo. O Evangelho Eterno de Jesus Cristo satisfaz nossa necessidade.

Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego; visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé. Romanos 1:16-17

Referências

[1] A Catechism of Christian Doctrine (London: Catholic TruthSociety, 1958), p.19.
[2] Para alguns dos pensamentos e fontes desse artigo estou em débito para com Norman Gulley, “Preliminary Considerations of the Effects and Implications of Adam’s Sin”, Adventist Perspectives, 2:2(1988), 28-44.

[3] E. Heppenstall, The Man Who is God (Washington, D.C.: Review and Herald, 1977), p.107.
[4] Ibid., pp.107-108.
[5] Dennis E. Priebe, Face-to-face With the Real Gospel (Boise, ID: Pacific Press, 1985), p.17.
[6] Charles Ryder Smith, The Bible Doctrine of Sin and of the Ways of God with Sinners (London: Epworth, 1953), p.20.
[7] Mat 18:15; Lc 15:18; Jo 5:14; Rom 2:12; 3:23; 5:12; etc.
[8] Mat 1:21; 3:6; 9:2,5,6; Mc 1:4,5; Lc 1:77; Jo 1:29; etc.
[9] R. C. Trench, Synonyms of the New Testament (Grand Rapids: W. B. Eerdmans, 1948), p.239.
[10] Millard J. Erickson, Christian Theology (Grand Rapids: Baker Book House, 1983), p.627.
[11] Edward Heppenstall, Salvation Unlimited (Washington, D.C.: Review and Herald, 1974), p.16.
[12] Anders Nygren, Commentary on Romans (Philadelphia: Fortress Press, 1949), pp.214-215.
[13] A.M. Dubarle, The Biblical Doctrine of Original Sin (London: G. Chapman, 1964, p.147.
[14] R.C.H. Lenski, St. Paul’s Epistle to the Romans (Minneapolis: Minnesota, 1936), p.360.
[15] Johannes B. Bauer, Encyclopedia of Biblical Theology (London: Sheed and Ward, 1970), p.621.
[16] J. D. Douglas, ed., The New International Dictionary of the Christian Church (Exeter: Paternoster Press, 1978), p.52.
[17] Todas as citações antigas nessa seção foram tiradas de James H. Charlesworth, ed., The Old Testament Pseudepigrapha 2 vols.(New York: Doubleday, 1983.
[18] William D. Davis, Paul and Rabbinic Judaism (Philadelphia: Fortress Press, 1980), pp.21-22.
[19] Nathan Ausubel, The Book of Jewish Knowledge (New York: Crown Publishers, 1964), p.506.
[20] J. N. D. Kelly, Early Christian Doctrine, 5th ed., (London: A. and C. Black, 1977), p.168.
[21] Louis Berkhof, The History of Christian Doctrines (Grand Rapids: Baker Book House, 1975), p.128.
[22] Kelly, p.172.
[23] Julius Gross, Entstehungsgeschichte des Erbsündendogmas, 2 vols. (München: E. Reinhardt Verlag, 1960), 1:94.
[24] James Hastings, ed. Encyclopedia of Religion and Ethics, 13 vols. (Edinburgh: T. and T. Clark, 1956), 9:560.
[25] Gross, I:113.
[26] Kelly, p.353.
[27] Gross, I:117.
[28] Kelly, p.175.
[29] Tertullian, A Treatise on the Soul, 40 (ANF 3:220).
[30] Kelly, p.354.
[31] Ibid.
[32] Ibid., p.355.
[33] George Vandervelde, Original Sin (Amsterdam: Rodopi, N.V., 1975), p.10.
[34] Berkhof, pp.132-133.
[35] Vandervelde, p.12.
[36] Berkhof, p.133.
[37] Vandervelde, p.13.
[38] Kelly, p.361.
[39] Essa seção está baseada em Bengt Hägglund, History of Theology (Saint Louis: Concordia Publishing House, 1968), pp. 135-136, and Berkhof, pp.134-135.
[40] Kelly, p.365.
[41] Ibid., p.364. Nesse argumento Agostinho confiou na tradução de Rom 5:12 da Vulgata que diz: “in quo omnes peccaverunt,” i.e., “em quem todos pecaram.” Todas as traduções modernas reconhecem que a expressão grega “eph ho” tem o sentido de “por que” ou “considerando que”

[42] Isso é diferente dos reformadores que disseram que apenas a fé em cristo e Seus méritos justificam o homem, as obras não entram aqui.
[43] Vandervelde, p.28.
[44] Ibid., p.29.
[45] Ibid., p.30.
[46] Berkhof, p.147
[47] These texts are from Vandervelde, pp.33-39.
[48] Vandervelde, p.39.
[49] Ibid.
[50] Berkhof, p.147.
[51] A. H. Strong, Systematic Theology (Valley Forge: The Judson Press, 1967), p.601.
[52] Ibid.
[53] Ibid., p.597.
[54] Ibid., pp.619-620.
[55] Há uma diferença entre o catolicismo e o luteranismo a respeito da questão se o cristão permanece pecador após o batismo. Lutero disse que ele permanece um pecador, o concílio de Trento no Canon cinco negou isso.
[56] Ibid., pp.601-602.
[57] Strong, pp.612-613.
[58] Ibid., p.617.
[59] Ibid., pp. 606-607. Some Presbyterians and Congregationalists support this view.
[60] Essa seção é baseada em grande medida em Edwin H. Zackrison, “Seventh-day Adventists and Original Sin” (unpublished Ph.D. dissertation, Andrews University, 1984).
[61] L. E. Froom, The Conditionalist Faith of Our Fathers, 2 vols. (Washington, D.C.: Review and Herald, 1966), 2:307.
[62] J. White, Life Incidents (Battle Creek: SDA Pub. Assn., 1868), p.154.
[63] Zackrison, pp.224-225.
[64] J. M. Stephenson, “The Atonement,” RH 6, Aug.-Dec., 1854.
[65] D. P. Hall, “The Mortality of Man,” RH 6, Aug.-Sept. 1854; “Man Not Immortal,” RH 6, Sept.-Dec. 1854.
[66] J. N. Loughborough, “Is the Soul Immortal?” RH 7, Sept.-Dec. 1855.
[67] Stephenson, “The Atonement” RH 6:2 (August 22, 1854):10.
[68] Ibid.
[69] Zackrison, p.235.
[70] James White, “The Kingdom of God,” RH 5:20 (June 13, 1854): 153.
[71] E. G. White, “The Duty of Parents to Their Children,” RH 6:6 (Sept. 19, 1854): 46.
[72] Albert Stone, “Thou Shalt Surely Die,” RH 22:24 (Nov. 10, 1863):190.
[73] U. Smith, “Perpetuity of the Moral Law,” RH 14:6 (June 30, 1859):45.
[74] Zackrison, p.261. Cf. Quando … eu digo que a humanidade é inteiramente depravada por natureza, eu não quero dizer que sua natureza é em si mesma pecado, nem que sua natureza é a causa física ou eficiente de seus pecados. Mas eu quero dizer de que sua natureza é a ocasião, ou razão de seu pecado – que tal é a sua natureza, que em todas as circunstâncias apropriadas de seu ser, eles irão pecar e apenas pecar . . . Quando o apótolo afirma, que a humanidade foi feita pecadora por natureza, ele quer dizer simplesmente que tal é a sua natureza que uniformemente em todas as circunstâncias apropriadas de seu ser, ele pecarão (Nathaniel Taylor, Concio ad Clerum 2 [Ahlstrom, Theology in America, p. 224]), Zackrison, p.335.

[75] U. Smith, “What is the Penalty of the Law?” RH 9:23 (April 9, 1857):181.
[76] E. Goodrich, “Grace Through Unrighteousness,” RH 16:19 (Sept 25, 1860):149.
[77] E. G. White, “Christian Recreation,” RH 35:24 (May 31, 1870):185-186.
[78] L. A. Smith, “The Irrational Nature of Man,” RH 65:45 (Nov. 13, 1888):715.
[79] J. N. Andrews, “Institution of the Sabbath,” RH 16:1-2 (May 29, 1860):10.
[80] Ellen G. White, Letter 26d, 1887, reprinted in In Heavenly Places, p. 196. (itálicos supridos).
[81] Idem, Letter 26d, 1887, ibid., p.195.
[82] Idem, Patriarchs and Prophets, p. 61.
[83] Idem, Letter 8, 1895, reprinted in Nichol, ed. SDA Bible Commentary, 5:1128.
[84] Idem, “The Warfare between Good and Evil,” RH 78:16 (April 16, 1901):241.
[85] Idem, Education (Mountain View, 1903), p.29.
[86] Zackrison, p.335, n.1.
[87] Robert W. Olson, “Outline Studies on Christian Perfection and Original Sin”, Insert to Ministry, Oct. 1970, p.29.
[88] E. R. Jones, “In the Flesh,” RH 67:1 (Jan 7, 1890):2.
[89] F. J. Hutchins, “The True Object of Life,” RH 69:7 (Feb. 16, 1892):98.
[90] M. E. Kellogg, “Life from the Dead,” RH 71:42 (Oct. 23, 1894):644-645.
[91] See the Sabbath School Quarterly, Second Quarter (April 25, 1896):12.
[92] U. Smith, “The Resurrection of the Wicked,” RH 70:27 (July 4, 1893):434.
[93] Seventh-day Adventists Believe . . . (Washington, D.C.: Review and Herald, 1988), p.89.
[94] Ibid., pp.90-91.
[95] F. D. Nichol, ed., Seventh-day Adventist Bible Commentary 7 vols. (Washington, D.C.: Review and Herald, 1954), 3:755.
[96] E. Heppenstall, Salvation Unlimited, p.12.
[97] Ellen G. White, Desire of Ages, p.114.
[98] E. Heppenstall, The Man Who Is God, p.122.
[99] Ibid., p.124.
[100] White, Ellen G. Counsels to Parents, Teachers, and Students, p.544.
[101] White, Ellen G. A ciência do bom viver. p. 451.
[102] Don F. Neufeld, Ed. Seventh-day Adventist Encyclopedia (Washington: Review and Herald, 1966), p.748.
[103] Olson, ibid., p.28.
[104] White, Ellen G. Carta 68, 1899 (6 BC, 1074). O contexto imediato dessa citação é a educação das crianças: “Os pais têm encargo mais sério do que imaginam. O pecado é a herança dos filhos. O pecado os separou de Deus. Jesus deu Sua vida para poder unir com Deus os elos partidos. Com relação ao primeiro Adão, os homens nada receberam dele senão a culpa e a sentença de morte. Mas entra Cristo e passa pelo terreno em que Adão caiu, suportando cada prova em favor do homem. Ele redime o terrível fracasso de Adão por sair da prova incontaminado. Isso coloca o homem em situação vantajosa diante de Deus. Coloca-o onde, através da aceitação de Cristo como Salvador, ele se torna participante da natureza divina. Assim ele se torna conectado com Deus e com Cristo.”
[105] Idem, Fé e Obras, p. 88. Essa afirmação aparece em um artigo na Signs of the times, 19/05/1890 intitulado “Obediência é santificação.” O parágrafo completo é o seguinte: “Temos motivo para incessante gratidão a Deus porque Cristo, por Sua perfeita obediência, reconquistou o paraíso que Adão perdeu pela desobediência. Adão pecou, e os filhos de Adão partilham de sua culpa e suas consequências; mas Jesus assumiu a culpa de Adão, e todos os filhos de Adão que correrem para Cristo, o segundo Adão, podem livrar-se da penalidade da transgressão. Jesus recuperou o Céu para o homem suportando a prova a que Adão deixou de resistir; pois Ele obedeceu perfeitamente à lei, e todos os que têm correta compreensão do plano da redenção verão que não podem estar salvos enquanto continuam na transgressão dos santos preceitos de Deus.”
[106] Idem, Patriarcas e Profetas, p. 306. Esse é um comentário de Ellen White sobre o segundo mandamento que diz: “visitando a iniquidade dos pais nos filhos até a terceira ou quarta geração daqueles que me odeiam.”
[107] A. Leroy Moore, The Theology Crisis (Corpus Christi, TX: Life Seminar, 1980), p.109.
[108] Erickson, p.578.
[109] G. W. Morse, “Scripture Questions,” RH 65:35 (Aug. 28, 1888): 554.
[110] E. J. Waggoner, Christ and His Righteousness (Oakland, 1890), pp.26-27.
[111] Gulley, p.39.
[112] Ibid.
[113] White, Youth’s Instructor, Oct. 20, 1886.
[114] Seventh-day Adventists Believe . . ., p.47. (Nisto Cremos, p. 71-72).
[115] W. F. Arndt and F. W. Gingrich, A Greek-English Lexicon of the NT 2nd ed. (Chicago: University Press, 1979), p.567. s.v. “homoioma.” A respeito de Romanos 8:3 os autores dizem que a palavra homoiomati tra a ideia de que “nessa terra a carreira de Jesus era similar à carreira do homem pecaminoso e ainda assim não absolutamente igual à sua carreira.

[116] Gulley, p.34. Não podemos concordar com Erickson (p. 639) que crê que não há condenação até que alguém chegue à idade da responsabilidade. Ele diz, “Se uma criança morre antes de ser capaz de fazer decisões genuinamente morais, só existe inocência, e a criança irá experimentar o mesmo tipo de existência com o Senhor como irão aqueles que atingiram a idade da responsabilidade moral e tiveram seus pecados perdoados como resultado de terem aceitado o convite de Salvação baseado na morte expiatória de Cristo.” Essa linha de raciocínio introduziria a ideia de que algumas pessoas chegarão ao céu sem um Salvador e que é melhor que as crianças morram, pois estarão salvas para a eternidade, do que crescerem e terem a possibilidade de perder a eternidade através de escolhas erradas.
[117] Heppenstall, The Man Who is God, p.107.

Texto de autoria de Gerhard Pfandl, Ph.D. publicado originalmente no site do Instituto de Pesquisas Bíblicas da Conferência geral! (Acesse o artigo original em inglês aqui!!!)

Créditos da Tradução: Ezequiel Gomes – site: Sim Vem Senhor Jesus

Sobre Weleson Fernandes

Escritor & Evangelista da União Central Brasileira

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