Sete razões pelas quais usar armas de fogo para proteção não é pecado

Alguns cristãos acreditam que seria errado buscar a autoproteção e reagir a agressões físicas, principalmente utilizando armas de fogo. Entende-se que a reação, por ser uma forma de agressão, descumpre os princípios do amor e do perdão, sendo assim uma postura anticristã. Propomos nesse muito breve texto sete razões pelas quais a proteção por meio de armas de fogo não pode ser considerada um pecado. Esse texto pode servir de ponto partida para uma discussão mais ampla.

Em primeiro lugar, deve-se ter em mente que a nossa vida é um atributo que pertence a Deus. Isso significa que é obrigação de cada um zelar por sua própria vida. Deste modo, a legítima defesa emerge não apenas como uma opção, mas como uma obrigação em circunstâncias normais. Qualquer indivíduo que lute para proteger a sua própria vida está cuidando do maior bem que Deus lhe deu e, ademais, seguindo um instinto natural criado por Deus em nós para nos ajudar em nossa preservação. O princípio não só é legítimo do ponto de vista lógico, como a própria Bíblia o endossa, nunca repreendendo quem por legítima defesa agrediu e até matou a alguém.

O princípio da legítima defesa se estende para além de nós mesmos. Em uma situação de perigo, se podemos proteger a vida de nossa família ou mesmo de pessoas que estão à nossa volta, isso se torna uma obrigação moral. Ele também pode se estender, até certo ponto, à defesa daquilo que Deus nos deu além da vida. Uma vez que Deus é dono de todas as bênçãos, tudo o que Ele coloca debaixo de nossas mãos deve ser protegido. A Bíblia leva isso tão à sério que, no Antigo Testamento, constava na lei civil de Israel que um homem não seria culpado de matar um ladrão por legítima defesa de sua vida e propriedade (Êx 22:2).

Em segundo lugar, os textos utilizados para sustentar a não reação são mal interpretados por quem defende essa tese. É o caso de Mateus 5:39-41. Se entendermos que Jesus está sendo literal ao dizer que devemos dar a outra face, dar mais do que o ladrão quis roubar e andar a segunda milha com quem ordenou apenas uma, isso significa que em qualquer situação de agressão devemos oferecer ao agressor a possibilidade de nos agredir mais ainda. Levando às últimas consequências, pediríamos para que quem nos cegou de um olho, cegasse do outro também ou que quem nos violentou, violentasse de novo.

Evidentemente, o sentido das palavras de Cristo não é esse. Jesus está desestimulando o impulso de vingança, através de imagens fortes, que chocam. Elas não devem, de forma alguma, ser tomadas ao pé da letra. Jesus usava muitas imagens fortes que eram apenas símbolos. Ele afirma que é preferível arrancarmos um membro do corpo que nos faz pecar porque é melhor entrar sem ele no céu do que entrar inteiro no inferno (Mt 5:29-30). Também diz que é melhor amarrar uma pedra no pescoço e se afogar no mar com ela do que fazer um cristão cair (Mt 18:6-9). Para Nicodemos, Jesus afirma que um homem precisa nascer de novo para ser salvo (Jo 3:1-10). Para os discípulos e uma plateia de judeus, assevera que todos deveriam comer a sua carne e beber o seu sangue para viver (João 6:51-66). Para diversos líderes judeus, diz que poderia reconstruir o templo em três dias (João 2:19).

Se formos entender tudo isso como literal, teremos grandes problemas teológicos e de ordem prática. São obviamente analogias que “brincam” com o absurdo. Jesus não estava defendendo a automutilação, um céu com pessoas mutiladas, o suicídio de quem atrapalha os cristãos, a antropofagia de seu próprio corpo, um segundo nascimento carnal e a reconstrução do templo literal em três dias. Da mesma forma, Jesus não defende que reagir é pecado em Mateus 5:39-41.

Outro texto mal interpretado é o de Mateus 26:52, onde Jesus repreende a Pedro por ter cortado a orelha de um soldado. A frase dita foi: “Guarde a espada! Pois todos os que empunham a espada, pela espada morrerão”. Ao contrário do que muitos pensam, a repreensão de Jesus não era pelo fato de Pedro estar armado e reagir. A bronca de Cristo era porque (1) fazia parte da missão de Cristo ser preso e morrer, de modo que Pedro não deveria impedir isso; (2) embora a autodefesa seja legítima, os discípulos foram chamados para ser missionários integrais, em um contexto de grande poderio romano sobre os judeus e o mundo. Nesse contexto, reações armadas poderiam levar os cristãos a serem vistos pelo império como um grupo paramilitar, o que dificultaria a pregação do evangelho e desvirtuaria a imagem do cristianismo.

O problema, portanto, não era a reação de Pedro em si mesma, mas o contexto. Tanto que o mesmo evento é narrado em Marcos 14:47 e Lucas 22:51 sem a repreensão de Jesus a Pedro. E João 18:11, Jesus o repreende focando no fato de que fazia parte de sua missão ser morto. O que isso nos ensina é que, em determinadas circunstâncias, mesmo sendo nosso direito nos defender, devemos abrir mão disso por conta de algo maior. É contextual. Não se trata de uma regra.

Em terceiro lugar, a fé em Deus não nos desobriga a tomar medidas de segurança. Se assim fosse, não faria sentido trancar a porta de casa com chave, ter extintor no carro, usar cinto de segurança, comprar um computador com garantia de fábrica, guardar pertences valiosos em um cofre, ir ao médico, etc. Na verdade, o próprio Jesus diz a Satanás: “Não tentarás o Senhor teu Deus”. E o texto bíblico que afirma: “Se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela” (Salmo 127:1), não exclui a necessidade de um sentinela, embora ele nada possa se Deus não estender sua proteção.

Em quarto lugar, se o uso de armas para proteção fosse errado, seria pecado ser policial e também pecado depender de policiais para a nossa proteção. Ora, se não vemos mal em que a polícia nos defenda com armas, então o uso de armas, a autoproteção e a reação não podem ser atitudes erradas.

Em quinto lugar, amar não implica necessariamente permitir que coloquem em risco sua vida ou a vida de alguém ao redor. Imagine que você está andando na rua e encontra um sujeito tentando se aproveitar de sua filha. Qual será sua postura? Deixar que o sujeito abuse de sua filha, alegando que precisa amá-lo e não agredi-lo? Ou tentará salvar sua filha, apartando-o com sua força física ou algum instrumento de proteção? Tenho certeza de que sua postura será a segunda. Não é diferente quando se trata de nossa própria vida em jogo. É perfeitamente possível ser um cristão amoroso, perdoador e que ajuda ao próximo, mas, ao mesmo tempo, que reage quando sua vida ou a vida de pessoas ao seu redor está em perigo.

Enfatizamos que toda essa reflexão se refere à autoproteção e não ao uso da violência como forma de vingança, justiça própria e retaliação. A Bíblia é bem clara ao dizer que não devemos nos vingar, no âmbito moral, pois a “vingança” pertence a Deus. E, no âmbito civil, também não devemos buscar justiça com as próprias mãos, pois cabe ao Estado julgar, através do corpo de leis vigentes e de juízes preparados para isso.

Em sexto lugar, não faz sentido demonizar as armas quando não só homens santos da Bíblia as utilizaram no AT e no NT, como também a própria imagem de Cristo utilizada no Apocalipse, por exemplo, é dele armado voltando para fazer justiça. Não há nada de errado nas armas em si mesmas, mas sim na intenção no coração de cada um.

Em sétimo e último lugar, é errado supor que armas só servem para matar. Sua função é proteger. Isso pode implicar morte ou não. Existem casos de pessoas que se protegeram só por sacar a arma, sem sequer dar um disparo. Há também pessoas que dispararam e acertaram um agressor sem levá-lo à morte. Ainda que eventualmente uma pessoa mate outra por legítima defesa, não há pecado nisso. O mandamento bíblico nunca foi para não matar, mas para não assassinar (essa é a tradução mais correta). Embora Deus não se agrade de derramamento de sangue, nos outorga o direito de tirar a vida de quem está atentando contra a nossa. Se só há esta alternativa, em um momento de embate, não se trata de assassinato, mas sim de autoproteção.

Por essa razão, defender o direito de homens honestos e mentalmente sãos terem armas não é o mesmo que defender a barbárie. É sim reconhecer que Deus deu ao ser humano o direito de autodefesa e proteção dos que estão ao redor. É uma discussão civil, não religiosa, a forma como as leis procurarão garantir que só os bons cidadãos tenham acesso a essas armas. Mas biblicamente falando, não há problema algum em ter armas e/ou defender que quem assim deseje tenha.

Por Davi Caldas

Fonte: Reação Adventista

Sobre Weleson Fernandes

Escritor & Evangelista da União Central Brasileira

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