Puxa uma cadeira e senta porque esse texto provavelmente é para você. Para você, para mim e para mais da metade das pessoas que conhecemos. O nosso emocional está em ruínas. Há uma estrutura frágil sustentando o pouco que nos resta; e milhares de fragmentos espalhados pelo chão de nossa alma. É para você, não é? Eu sei.
Deve fazer uns quatro anos que percebi. Eu estava me tornando mais triste, negativo, ansioso, impaciente, angustiado, frágil, instável, desanimado e compulsivo. Não demorou muito tempo e vi que também meus familiares mais próximos estavam no mesmo processo. E logo fui descobrindo diversos amigos e conhecidos repletos de problemas emocionais/psicológicos também. Ao longo desses anos, chegaram a mim muitos desabafos e pedidos de ajuda, conselhos e oração. E eu também fiz chegar os meus aos amigos próximos. Tudo isso me fez concluir: há uma epidemia de desânimo, ansiedade e depressão na sociedade. Ela alcança a descrentes e também a cristãos. E é um mal recente.
Os efeitos mais comuns são os seguintes: desestímulo de fazer as coisas e até de viver; sensações de inutilidade; sensações de culpa; perda do sentido da vida; vazio interior; falta de objetivos; compulsões; vícios; instabilidade; tristeza.
O que tem causado esse surto e como podemos resolve-lo são as duas perguntas de ouro da atualidade. Eu quero ponderar brevemente sobre isso nesse artigo, não como quem está acima dos outros, mas como quem está exatamente no mesmo barco.
As causas do surto
Pelo que tenho visto em mim e nos demais, creio que podemos elencar sete fatores causadores dessa epidemia de abalo emocional.
1) Estamos carentes de afeto e atenção. A gente se cumprimenta perguntando se está tudo bem. E sempre dissemos que estamos! Ou, no máximo, “levando”, “na medida do possível”. E o assunto se encerra ali. Lembro-me de uma vez, há alguns anos, em que resolvi ultrapassar o meu egoísmo natural e insistir com um colega (nem amigo era, à época) para saber o que havia de errado. Eu sabia que ele não estava bem. Resultado: descobri uma pessoa nascida em um ambiente totalmente sem demonstrações genuínas de amor e atenção, lutando sozinho contra seus problemas e sem ninguém para desabafar. Devo tê-lo ouvido por meia hora e depois falado por uma hora. E dali para frente se construiu não uma amizade apenas; uma relação de irmãos.
Passamos, às vezes, horas na internet, em redes sociais. Fazendo o quê? Nada. Inconscientemente, o que esperamos ali é afeto e atenção. É muitas vezes a motivação para postar uma foto ou qualquer outra coisa. E não há mal nisso em si mesmo. É normal querer ser amado, desejar interações humanas, sentir-se aceito. Normal e necessário. Mas se buscamos tanto isso na internet é sinal de que não estamos encontrando na vida real. Ou que estamos fugindo de encontrar. Nos dois casos, a razão é a mesma: vivemos numa geração de inaptos sociais. Mas nem sempre foi assim.
Se voltarmos aos séculos passados, veremos que as famílias eram maiores, seus membros conversavam mais entre si, os vizinhos interagiam mais uns com os outros, as crianças brincavam mais na rua e os amigos se esforçavam mais para estar juntos, já que não havia contato virtual. Talvez por isso existisse uma noção mais forte de compromisso. Se há mais relações pessoais diretas na sociedade, a tendência é que os laços sejam mais fortes e que haja maior preocupação mútua. E se há laços mais fortes e maior preocupação mútua, a tendência é que sejamos mais aptos para interações e relacionamentos, seja com a família, amigos, vizinhos ou companheiro amoroso.
A pós-modernidade introduziu conceitos e estilos de vida que foram minando essas relações. A começar pelo mundo não-cristão, a contestação aos pais e às gerações mais antigas, o divórcio, o sexo livre, o aborto e o hedonismo formaram um novo modelo de homem ocidental: mais egoísta, com princípios líquidos, guiado pela própria felicidade, despreparado para assumir compromissos e, consequentemente, indisposto à sacrifícios. E o novo homem não só moldou sua própria geração, mas a que surgiu dele. Pessoas egoístas, entregues aos vícios e indispostas à sacrifícios de amor tiveram filhos, os quais não contaram nem com carinho, nem com atenção, nem com limites. Apenas com o mal exemplo de que o que importa é a felicidade própria. Mesmo aqueles que tiveram uma família estruturada, serão atingidos por essa onda de inaptidão social, já que pessoas à volta são fruto de famílias desestruturadas.
Dois tipos de inaptos sociais surgem daí: aqueles que buscam interações diretas superficiais (apenas para satisfazer seus prazeres momentâneos) e aqueles que fogem das interações diretas, pois elas dão trabalho, tem potencial de trazer frustrações e causam medo. E no meio desses dois grupos há os que desejam interações mais profundas, mas não conseguem ou porque também são inaptos (formando um terceiro grupo) ou porque são aptos, mas não encontra quem quer e saiba como se relacionar. Uma vez que todo o ser humano, por mais que não ache, necessita naturalmente de interações profundas, os três grupos se sentirão cada vez mais carentes. E aqui voltamos à internet: se faltam interações mais profundas na vida real ou se desejamos fugir delas e interagir de modo mais líquido e sem compromisso, vamos para onde? Para a internet! Para o Facebook, Twitter, Instagram, WhatsApp, Youtube, páginas de memes. Os três grupos estão lá sentindo a mesma coisa: carência.
Há um aspecto menos óbvio dessa problemática, mas não menos importante. A carência que sentimos vai além da necessidade de recebermos afeto: nós temos a necessidade de amar. Assim, mesmo o egoísta, de família desestruturada, que só quer sua própria diversão, sente um mal estar “inexplicável”, um vazio implacável, porque ele precisa amar e não faz isso. E não estou falando apenas de amor romântico, mas de amor em geral. O sujeito não sabe o que é ser amado de verdade e também não tem o hábito de dar esse amor. O resultado é carência. O mesmo se dará com o tímido que diz “não gostar de gente” e gasta o dia inteiro na internet e também com aquele que almeja interações, mas não tem muitos a quem amar profunda e diretamente. Até porque o virtual não substitui a relação pessoal direta. E assim vamos nos tornando mais tristes e com sensação de falta.
2) A velocidade nos deixou ansiosos. Se mais uma vez voltarmos aos séculos passados, veremos que a vida era mais vagarosa. As viagens, a comunicação, as tarefas domésticas, tudo. E com isso, também as conversas, a reflexão, a contemplação, a dedicação às relações familiares, com amigos e vizinhos, e a própria dedicação à vida espiritual. Se tudo é vagaroso, aprendemos a aproveitar as pequenas coisas, a esperar, contemplar enquanto esperamos, a fazer uma coisa de cada vez. A velocidade induz à agitação constante, dificultando o foco em uma coisa só e criando impaciência. Um dos efeitos disso é justamente a dificuldade de manter relações diretas porque elas requerem (advinha…) tempo. Temos também a impressão de não estar aproveitando o tempo e não conseguimos dar atenção plena à maioria das coisas que nos propomos a fazer, resultando em falta de concentração. O quadro final é de frustração, pois sabemos que há algo errado e não é essa a maneira correta de levar a vida.
3) Nós não nos abrimos. A inaptidão social gerou desconfiança, medo e inabilidade para se abrir. E não poderia haver mal maior. Vamos sofrendo as pressões da vida, as cobranças, a insegurança da vida adulta e guardamos para nós. Não é tanto o meu caso, mas é o de grande parte das pessoas com as quais conversei. E sabe o que as fez se abrir? Confiança. Em todos os casos que Deus colocou no meu caminho, eu procurei, primeiramente, me abrir para a pessoa. Quando você se abre com alguém, a pessoa sente que pode se abrir também. E quando isso acontece, ela fala. Fala de tudo o que a aflige. E então é a hora se você se mostrar interessado no que a pessoa tem a dizer, buscar compreender o problema e aconselhar não com clichês e frases prontas, mas com algo que possa ser útil. Na falta de uma solução, ter ouvido e dizer que está ali sempre que a pessoa precisar, é essencial.
O problema é que nem temos feito isso com os outros, nem recebido. Não nos abrimos e não se abrem conosco. Muitas pessoas, aliás, se escondem através de distrações diversas. Memes podem ser muito relaxantes. Mas eles não irão resolver seus problemas. Apenas te farão suportar um pouco mais, adiar um momento de explosão ou de queda. Se o leitor é esperto, já reparou que tudo gira em torno de relacionamentos. Não é à toa que Jesus apontou como base de toda a Torá o amor a Deus sobre todas as coisas e a próximo como a si mesmo. Posteriormente, elevou a base, dizendo que devemos amar ao próximo como Ele amou a Igreja. Para se amar assim, é preciso cultivar relacionamentos profundos, reais e diretos.
O mundo atual nos induz a não termos essa profundidade nem com Deus, nem com as pessoas à nossa volta. É principalmente por essa razão que muitos fogem de matrimônios, que filhos são cada vez menos desejados, que pais velhos morrem em asilos, que o sexo passou a ser sem compromisso, o real em grande parte foi substituído pelo virtual e não temos mais tempo! Como o Coelho de Alice no País das Maravilhas, estamos sempre atrasados. Atrasados demais para encontrar com Deus, atrasados demais para ouvir a quem dizemos amar, atrasados demais para conhecer melhor o outro. No fim das contas, atrasados demais para viver.
4) Nossa vida material é mais fácil. Esse é o grande paradoxo. Emocionalmente, sofremos de mais problemas hoje. Mas nossa vida material é mais fácil que a vida dos nossos antepassados. Temos máquina de passar roupa, ferro elétrico, forno microondas, geladeira, vaso sanitário, celular, internet, televisão, rádio, computador, fraudas descartáveis. Veja quantas facilidades, utilidades, acessibilidades. Tudo muito bom, mas infelizmente o ser humano possui uma natureza corrompida. Quando a vida material é mais fácil, torna-se mais difícil ser emocional e moralmente forte.
A dificuldade tem enorme potencial de lapidar o caráter e de nos fazer psicologicamente resistentes. As facilidades fazem de nós pessoas fracas. Mais uma vez, volte aos séculos passados e veja que como seus antepassados suportavam muito mais dificuldades materiais e não havia surto de depressão. Nossa geração cresceu com muito pouco preparo para receber as pancadas da vida. Corroborando com isso, olhe para os lugares mais sem tecnologia e veja como as pessoas sofridas se divertem com muito pouco e parecem mais felizes; olhe para os lugares onde tudo é maravilhoso materialmente falando e perceba como o índice de depressão e suicídios é enorme.
A verdade é que quanto mais difícil é a vida material, mais somos obrigados a enfrentar os problemas. Quanto mais fácil, mais temos distrações e fugas. Sem lidar diretamente com os problemas, tornamo-nos fracos. Some essa fraqueza a problemas como uma família desestruturada e uma sociedade inapta para construir boas relações pessoais. O resultado é uma pessoa emocionalmente destruída.
5) A culpa nos corrói. Esse problema é mais comum entre cristãos. E é muito comum mesmo. O cristão possui uma percepção melhor do que está certo e do que está errado em sua vida. Assim, ele falha e sabe onde está falhando. Mas como ele é frágil e não tem muitas pessoas que o ajudem, dia após dia ele cai e a frustração bate forte. Sentimo-nos culpados por nossa inabilidade social, por nossa espiritualidade frágil, por nossa falta de concentração, por nossos pecados, por nossas manias, por nossa teimosia, por nossa fraqueza e por nossa inutilidade. Tudo isso causa desânimo e o próprio desânimo nos frustra também, já que ele torna uma reação muito mais difícil.
6) Procuramos vícios. É daí que surgem os vícios. Destruídos emocionalmente, cheios de quedas, cansado das pancadas da vida, frustrados com nosso próprio proceder e vazios, buscamos qualquer coisa que nos distraia ou que possa, quem sabe, nos apresentar magicamente a solução para os nossos problemas. Descontrole alimentar, compras desordenadas, horas vagando na internet sem destino, tirinhas, memes, piadas. Às vezes, coisas mais pesadas. Alguns entram pelo poço profundo da pornografia, um poço do qual é tão difícil de se sair como as drogas, já que altera a estrutura química de nosso organismo e de nosso cérebro. E a angústia desses viciados é não desejarem mais seus vícios, odiarem a vida que levam e não terem força para mudar. O vício já não traz mais prazer, porém criou dependência. Essa é a estrutura de todos os vícios. O viciado não é só um pecador. É um doente. E precisa de ajuda.
7) O mundo está cansando mais. Para os cristãos, a verdade básica é que esse mundo está longe do ideal e não tem esperança em si mesmo. O motivo pelo qual Jesus vai voltar é porque o paraíso é impossível enquanto houver pecado no mundo. E enquanto há pecado, há também tristezas, pressões, sofrimento e injustiças. Se por um lado a internet nos trouxe acesso à informações e distrações divertidas, por outro lado nos trouxe maior acesso aos problemas do mundo. E isso angustia. Como se não bastassem nossos próprios problemas pessoais e em casa, temos que absorver os problemas e preocupações que o mundo nos gera. Para conservadores, a degradação da moral, da família e de tudo o que é mais sagrado causam dor e cansaço indescritíveis. O mundo está cansando mais.
O efeito de todos esses pontos é um desânimo generalizado, que acaba descambando para a falta de sentido na vida. O mundo está em ruínas e eu também. E dessa forma, não tenho como ser útil. Sem utilidade, não tenho objetivos. Apenas sobrevivo. Acordo cedo, vou trabalhar, volto, durmo. Se não tenho trabalho, é pior. Não há nada para ocupar a mente. O desânimo bate à porta constantemente. E eu me sinto um lixo.
Infelizmente, essa é a situação de muitos cristãos, em maior ou menor grau. Todos cansados, sobrecarregados, destruídos. Muitos com feridas causadas por família, amigos, namorados, namoradas. Carentes, infelizes, frustrados, viciados. Eu sei que estou falando com você. Eu te descrevi. Descrevi os seus problemas. Pelo menos boa parte deles. Sabe por que? Porque você não é o único.
A primeira pergunta de ouro foi respondida. Mas e a segunda? Bom, vamos tentar responder. É mais fácil resolver os problemas quando sabemos as suas causas.
Como resolver o problema
1) Cultive as relações pessoais diretas. Isso vai ser um desafio para nós, eu sei. Nós nos fechamos numa concha. Tive uma amiga que chegou a desenvolver uma forte fobia social por conta disso. Ser antissocial virou moda e muitos falam isso com orgulho. Não há o que se orgulhar. Embora as pessoas sejam diferentes e alguns, naturalmente, mais calados (e não isso não é ruim), todos precisam de interações humanas diretas. Quem se fecha para isso não está em seu normal. O natural do ser humano é querer se associar, ainda que com alguns poucos. A timidez extrema e a antipatia grande por relações diretas é uma disfunção. Acredite, você não é assim. Isso é um estado. Um mal estado que precisa ser tratado e vai requerer esforço de sua parte.
Comece com quem você achar mais fácil. Nenhum hábito deve ser iniciado a partir do mais difícil. Até 2004 eu não gostava de ler. Aprendi a gostar quando li um livro que realmente me interessou. A partir de então formei o hábito e o expandi. Eu não seria um bom leitor se tivesse começado com algo difícil demais. Então, comece com o que está mais acessível em sua situação. E suba um degrau de cada vez. Procure trabalhar sua mente para se desligar da vida virtual quando tiver oportunidade de interagir diretamente com seus pais, seus irmãos, seus amigos, vizinhos, etc. Procure estar mais com quem gosta e sem se preocupar com o relógio. Sei que o tempo é corrido, mas se não pararmos um pouco para dar atenção e desfrutar das pessoas que mais amamos, nada mais fará sentido.
Dar tempo a quem ama inclui, em primeiro lugar, Deus. Amamos a Deus, mas nosso amor é fraco. Precisamos nos concentrar melhor nele e desfrutar do momento. Há alegria em estar com Deus, mas só vamos sentir isso se nos habituarmos a criar um momento especial. Como se faz isso? Aí vai de cada um. Você sabe melhor que eu. Posso apenas dar algumas dicas.
2) Desabafe. De maneira nenhuma guarde tudo para si. Óbvio que não devemos sair contando tudo para qualquer um. Mas procure pessoas confiáveis. A confiança em humanos nunca deve ser plena (como é plena em relação a Deus). Mas confiamos por probabilidade. E essa confiança é imprescindível. Ninguém pode viver como se todos fossem lhe fazer mal. Sim, toparemos com pessoas que nos ferirão, mas aceitar isso faz parte de nosso fortalecimento. Amar implica e requer disposição para sofrer. É isso o que nos torna melhores.
O desabafo tornará sua carga mais leve, te aproximará de outras pessoas, abrirá as portas para que elas também desabafem, fortalecerá vínculos, criará a possibilidade de exercitar o amor e se sentir amado. Não só desabafe, mas se abra em relação ao que gosta, ao que sonha, ao que espera, ao que te faz feliz. Conte do seu dia. Valorize quem demonstra querer te ouvir. E também ouça!
O ideal é que essa abertura exista à nível pessoal direto. Mas ela pode existir à nível virtual. Embora o mundo virtual não substitua o real, uma boa amizade pode sim ser cultivada à distância. A internet não é um mal. Se não há alguém por perto para desabafar, ou se a pessoa em quem você mais confia está distante, se abra com ela mesmo. O importante é não guardar tudo para si. Apenas tome o cuidado de não trocar a vida virtual pela vida real. O mundo virtual é uma metáfora para a realidade direta. É uma ponte. Não devemos trocar o símbolo pela coisa simbolizada. Crie laços virtuais, mas não se limite a isso, não se feche nesse mundo. Sim, eu sei que não é fácil. A maioria dos meus amigos são virtuais. Mas você me entendeu. Tanto eu como você tendemos a nos fechar nisso. Não rume por esse caminho. Esteja aberto ao real.
3) Ajude aos outros. Talvez você se ache inútil. Eu também já me senti muito assim e frequentemente esse pensamento me vem à mente. Mas saiba que você pode ajudar muito aos outros fazendo sabe o quê? Ouvindo (ou lendo, no caso da internet). O desabafo é importante não apenas porque a pessoa quer ouvir conselhos. Às vezes, ela só precisa compartilhar, saber que alguém se importa, que vai torcer, orar e ouvir sempre que necessário. Essa é a essência de amizade, aliás, o que talvez tenha se perdido.
Ajudar as pessoas ouvindo, aconselhando, visitando, fazendo companhia, orando, chamando para conversar, etc. é o tipo de ajuda do qual as pessoas mais precisam hoje; e também o tipo de ajuda que você mais precisa dar. Você não precisa saber pregar, falar bonito, escrever bem, cantar, dançar, ser engraçado ou bonito. Você só precisa amar e mostrar que ama. Isso fará bem a quem você ajuda e suprirá parte de sua carência, já que você precisa amar. Mas não faça só por obrigação. Busque se interessar, ser sensível, colocar-se no lugar do outro. Uma vez que se abra a isso, o resto vem naturalmente. À nível pessoal, abrace mais, ria mais, olhe mais nos olhos, seja sincero e autêntico. Faça que se sintam à vontade com você e busque se sentir à vontade com os que estão à sua volta. Ninguém está dizendo que é fácil. Mas é bom. Pode acreditar. Precisamos disso.
4) Entenda quem você é. Você não é antissocial, nem alguém naturalmente sem vontade de viver. Você pode até ser um pouco mais tímido e reservado. Não há problema nisso. E também momentos de solidão, introspecção e silêncio são essenciais a qualquer ser humano. Mas sim você precisa das outras pessoas e precisa de Deus. Essa é a sua natureza. Se hoje você não sente isso, trata-se de um estado. Ou seja, pode ser mudado. Pode e deve. Entender quem você é te ajuda a lutar contra quem você tem sido. Para o cristão, isso é ainda mais importante. Se você aceitou a Jesus como Senhor e Salvador (e eu sei que você aceitou), a Palavra diz que você nasceu de novo. Isso não quer dizer impecabilidade. Isso quer dizer que você nasceu agora para progredir ao que Deus projetou para você ser. Os percalços da vida fazem parte. Mas ouça: Deus está contigo e sua situação pode sim ser mudada.
O diabo dirá que você é pecador. E é verdade. Mas você não é só um pecador. Você foi alcançado pela graça de Deus, foi lavado e remido pelo sangue de Jesus e tem o Espírito Santo a te ajudar. E o Pai está pronto para te perdoar a cada vez que você cair, pois conhece o seu coração e sabe que você quer mudar. Além do mais, você tem irmãos para te ajudar. O motivo pelo qual Jesus deseja que nos relacionemos com nossos irmãos em Cristo é que possamos nos encorajar uns aos outros. Está difícil? Conte comigo. Eu conto contigo.
5) Entenda a raiz de seus problemas. Nem sempre a origem de nossos problemas emocionais é tão óbvia. Às vezes é preciso parar e analisar o que pode nos ter levado a estar como estamos. Isso é crucial e pode levar ao sexto ponto.
6) Busque ajuda profissional. Nem sempre conseguimos resolver problemas sozinhos ou só com o apoio de amigos e família. Assim como muitas vezes estamos doentes fisicamente e precisamos de um médico para nosso corpo, também ocorre de estarmos doentes em nossa mente e carecermos de um psicólogo. Isso não é vergonha. Em um contexto onde a sociedade no geral está doente, é uma necessidade comum. Para ficar emocionalmente saudável devemos considerar as diversas opções. Se você tem condição financeira de buscar esse tipo de ajuda ou se está numa situação em que apenas um psicólogo pode te ajudar, não hesite em tomar esse passo.
7) Entenda que você é amado. Quando acabam as motivações e nos sentimos inúteis, um pensamento que pode vir à nossa mente é: “Se eu me for, ninguém vai sentir a minha falta”. Ou ainda: “Não faço diferença alguma no mundo”. Já ouvi isso de alguns amigos e é doloroso. Se isso passou pela sua cabeça, entenda o seguinte: em primeiro lugar, a utilidade não é um bom parâmetro para o amor. Qual é a utilidade de um bebê que só sabe chorar e mamar? Qual a utilidade de um velhinho aposentado e cheio de doenças? Ou de um filho que ficou tetraplégico? Qual a nossa utilidade para Deus, já que tudo o que Ele nos ordena poderia ser feito por anjos ou por Ele mesmo? Teria Jesus morrido porque nos achou útil? Não, não. O amor não tem muito a ver com utilidade. Sentimos necessidade de amar e ser amados porque fomos feitos por Deus para isso. Se, então, você pensa que deve ter utilidade para ser amado, bom, entenda que o próprio fato de existir já é útil. Para quem te ama, o que importa é que você esteja vivo e feliz.
Em segundo lugar, dificilmente isso é verdade. Dificilmente uma pessoa não tem ninguém que se importe. Nem que seja uma pessoa, quase sempre há. E acima de todos, Cristo te ama a ponto de ter morrido também por você. Se está difícil de achar amor nas pessoas, foque no amor de Cristo. Reflita sobre como Ele deseja que você saia dessa. E faça isso por Ele. Na verdade, faça isso por Ele ainda que você esteja repleto de bons amigos e familiares. Afinal, ninguém tem amor maior que o de Cristo. Não à toa Ele não está interessado em te condenar, mas em te ajudar diariamente. E Ele sabe da sua sinceridade.
Se te passar pela cabeça a ideia louca de tocar na sua vida, afaste isso rapidamente. A sua vida não te pertence. Ela pertence a Deus e também às pessoas que estão à sua volta. Na série, Sherlock, o famoso detetive diz mais ou menos isso em um dos episódios: tirar a própria vida é uma expressão sem sentido. Uma vez que você morre, você já não existe, o que significa que quem te perdeu foram todos os outros, não você. Entenda que Cristo não quer te perder. E eu, ainda que não te conheça, também não quero. A sua vida, de certa forma, me pertence. E a minha pertence a você.
8) Tenha objetivos e sonhos. Uma pessoa sem objetivos e sonhos é uma pessoa sem motivação para viver. Você tem hobbies, tem planos, tem metas. Pense nisso, invista, se esforce. Tenha sempre uma motivação e corra atrás dela. Se essas motivações forem não apenas prazerosas, mas servirem para ajudar a outros, melhor ainda.
9) Não foque na sua imperfeição, mas em Jesus. Um dos erros mais fáceis de cometer no processo de santificação é focar em nossa imperfeição. Quando fazemos isso, achamos que o nosso grande problema são os pecados que cometemos e percebemos o quanto estamos distantes da santidade de Deus. Isso gera culpa e angústia, pois começamos a tentar reparar os erros e não conseguimos.
É diferente quando reconhecemos nossa imperfeição, mas focamos em Jesus. Focar em Jesus é focar num relacionamento íntimo com Ele. Não significa deixar de reparar os erros, mas concentrar seus esforços em se relacionar melhor com Deus, encontrando prazer na prática de conversar com Ele e na reflexão da Palavra; lembrando sempre da bondade e do amor de Cristo e em como Ele te dá forças.
Quando mudamos o foco, o pecado tende a perder força e o Espírito de Deus ganha liberdade para fazer por nós o que não conseguimos por nós mesmos. É daí que sai a força para se santificar. Portanto, foque naquilo que Jesus pode fazer por você e não no que você não consegue fazer por si mesmo.
10) Não duvide de sua conversão. Essa é uma das estratégias mais sórdidas de Satanás e tenho alertado vários amigos em relação a isso. Sim, você precisa reconhecer que é pecador e que não é nada sem Cristo. Deve reconhecer essa dependência diariamente e a todo o momento. Mas nunca, em hipótese nenhuma, deve duvidar de que é um cristão e aceitou a Cristo de verdade. O diabo, acusador, tentará te convencer disso. “Veja o que você faz, como você está. Você é um falso cristão. O que está fazendo na Igreja?”. Não caia nessa. Se você se preocupa com sua espiritualidade e se às vezes se faz essa pergunta, isso é evidência clara de que você é sim um cristão sincero. A dúvida tem o único objetivo de te afastar de Deus.
Quando essa dúvida bater, lembre-se dos bons momentos com Deus que você já teve, do seu desejo sincero de estar com Ele e resolver seus problemas, de sua alegria quando alguém se batiza, de sua tristeza quando alguém abandona a fé. Tudo isso demonstra que você se converteu e almeja as coisas de Deus. Então, não desista. Cristo conhece a sua sinceridade e vai te ajudar. Conte com Ele. E conte com seus irmãos na fé.
Essa é a singela contribuição que posso oferecer no intuito de ajudar a resolver esses problemas. O texto está longe de abarcar tudo o que precisa ser dito. Mas espero que ele possa servir de ponto de partida para nós combatermos essa epidemia. A minha mensagem final é: não desista! Na posição de um dos administradores e escritores do Reação Adventista, eu te conclamo a reagir e continuar reagindo até o fim. Em breve, Jesus Cristo voltará e todo o esforço terá valido à pena. Você não está sozinho. Tem a nós. E tem a Cristo.
“Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo. Ao vencedor, dar-lhe-ei sentar-se comigo no meu trono, assim como também eu venci e me sentei com meu Pai no seu trono. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas” (Ap 3:20-22).
Por Davi Caldas
Fonte: Reação Adventista