Examinando o Sentido de Termos Bíblicos Especiais
(Sheol, Hades, Tártaro)
Para entendermos melhor sobre o assunto do inferno e castigo eterno, temos de analisar alguns pontos:
1°.) Quais as palavras hebraicas e gregas que foram impropriamente traduzidas por inferno;
2°.) Que significam estas palavras na língua original;
3°.) Analisar as dificuldades em bem traduzi-las.
A doutrina de um inferno para tormento eterno é de origem pagã, foi aceita pela igreja dominante, nos séculos escuros da Idade Média, para intimidar os pagãos a aceitar as crenças católicas.
Vamos fazer uma análise das palavras traduzidas por inferno. Partes deste estudo foi tirado do livro de Pedro Apolinário, Explicação de Textos Difíceis da Bíblia, págs. 135 a 142:
Análise das palavras erradamente traduzidas por inferno:
Sheol – Este vocábulo aparece 62 vezes no Velho Testamento.
Sheol, o lugar para onde iam os mortos, por isso é sinônimo de sepultura, ou lugar de silêncio dos mortos.
Sheol nunca teve em hebraico a idéia de lugar de suplício para os mortos.
É difícil traduzir alguns desses termos bíblicos porque nenhuma palavra em português dá a exata idéia do significado original. O melhor é mantê-la transliterada como fazem muitas traduções. A tradução brasileira não a traduz nenhuma vez.
Experimente traduzir sheol por inferno nestas duas passagens: Gênesis 42:37,38 e Jonas 2:1-2.
Gênesis 42:37,38
37 “Mas Rúben falou a seu pai, dizendo: Mata os meus dois filhos, se eu to não tornar a trazer; entrega-o em minha mão, e to tornarei a trazer.
38 Ele porém disse: Não descerá meu filho convosco; porquanto o seu irmão é morto, e só ele ficou. Se lhe suceder algum desastre pelo caminho em que fordes, fareis descer minhas cãs com tristeza ao Seol.”
Jonas 2:1-2.
1 “E orou Jonas ao Senhor, seu Deus, lá das entranhas do peixe;
2 e disse: Na minha angústia clamei ao senhor, e ele me respondeu; do ventre do Seol gritei, e tu ouviste a minha voz.”
Hades – É usada apenas 10 vezes no Novo Testamento: Mateus 11:23; 16:18; Lucas 16:23; Atos 2: 27,31; Apocalipse 1:18; 6:8; 20:13,14 (I Cor. 15:55). Sobre o emprego desta palavra em I Cor. 15:55, Edílson Valiante numa Monografia sobre a palavra hades, pág. 27 (1978), declarou:
“Nós concluímos que também em I Cor. 15:55, onde a palavra sepultura é uma tradução de hades, e descreve que sobre o tal os justos serão finalmente vitoriosos na ressurreição. Incidentalmente, I Cor. 15:55 é uma citação do Velho Testamento (Oséias 13:14), onde encontramos a palavra Sheol aplicada”. – F. Nichol. Answers to Objections, pág. 366.
A palavra hades no Novo Testamento corresponde exatamente á palavra Sheol do Velho Testamento. No Salmo 16:10 Davi disse: “Pois não deixarás a minha alma no Sheol...”.
Pedro usando esta passagem profética do Velho Testamento afirmou em Atos 2:27: “Porque não deixará a minha alma no hades…”.
Outra prova da sua exata correspondência se encontra na tradução da Septuaginta, pois das 62 vezes que Sheol é usada no Velho Testamento, 61 vezes foi traduzida por hades.
Origem da palavra hades:
Provém do prefixo a – alfa grego com a idéia de negação, privação e do verbo idein = ver, significando então: o que não é visto, lugar de onde não se vê, por isso é sinônimo de sepultura, habitação dos mortos.
Os gregos dividiam o hades em duas partes, (posteriormente falavam até em quatro): o Elysium–a habitação dos vitoriosos, e o Tártarus – a habitação dos ímpios.
Esta idéia de divisões e subdivisões do hades é totalmente pagã sem nenhum apoio bíblico.
Geena – Palavra hebraica transliterada para o grego Geena, que se encontra nas seguintes 12 passagens: Mateus 5: 22, 29, 30; 10:28; 18:9; 23:15, 33; Marcos 9:43, 45, 47; Lucas 12:2; Tiago 3:6.
Geena vem do vocábulo hebraico Ge Hinom ou Gé Ben Hinom – Vale de Hinom ou Vale do filho de Hinom. Nesse vale havia uma elevação denominada Tofete, onde ímpios queimavam seus próprios filhos. Este vale se situava a sudoeste de Jerusalém; neste local, antes da conquista de Canaã pelos filhos de Israel, cananitas ofereciam sacrifícios humanos ao deus Moloque. Terminados os sacrifícios humanos, este local ficou reservado para depósito do lixo proveniente da cidade de Jerusalém. Juntamente com o lixo vinham cadáveres de mendigos encontrados mortos na rua ou de criminosos e ladrões mortos quando cometiam delito. Esses corpos, ás vezes, eram atirados onde não havia fogo, aparecendo os vermes que lhes devoravam as entranhas num espetáculo dantesco e aterrador. É a este quadro que Isaías se refere no capítulo 66 verso 24.
Por estas circunstâncias, esse vale se tornou desprezível e amaldiçoado pelos judeus e símbolo de terror, da abominação e do asco e mencionado por Jesus com estas características. Ser atirado no geena após a morte era sinônimo e desprezo ao morto, abandonado pelos familiares, não merecendo ao menos uma cova rasa, estando condenado á destruição eterna do fogo.
O vale de Hinom era um crematório das sujidades da cidade de Jerusalém. O fogo ardia constantemente nesse lugar e com o objetivo de avivar as chamas e tornar mais eficaz a sua força lançavam ali enxofre. Devido a essas circunstâncias, Jesus com muita propriedade usou esse vale para ilustrar o que seria no fim do mundo a destruição dos ímpios, sendo queimados na geena universal.
Tártaro — A palavra grega “Tártaro” ocorre somente uma vez no Novo Testamento. Encontra-se em II Pedro 2:4 e diz o seguinte:
II Pedro 2:4
4 “Porque se Deus não poupou a anjos quando pecaram, mas lançou-os no inferno, e os entregou aos abismos da escuridão, reservando-os para o juízo;”
“Ora, se Deus não poupou a anjos quando pecaram, antes precipitando-os no inferno (tártaro no original) os entregou a abismos de trevas, reservando-os para o juízo”.
A palavra tártaro, usada por Pedro se assemelha muito à palavra “Tartarus”, usada na etimologia grega, com nome de um escuro abismo ou prisão; porém, a palavra tártaro, parece referir-se melhor a um ato do que a um julgar. A queda dos anjos que pecaram foi do posto de honra e dignidade à desonra e condenação; portanto, a idéia parece ser: Deus não poupou aos anjos que pecaram, mas os rebaixou e os entregou a cadeias de trevas. Não existe nenhuma idéia de fogo ou tormento nesta palavra; ela simplesmente declara que esses anjos estão reservados para julgamento futuro.
Os problemas relacionados com a palavra ‘inferno’ se desfazem como bolhas de sabão, quando conhecemos bem o significado etimológico dos termos sheol, hades, Geena e tártaro, que jamais poderiam ser traduzidos pela nossa palavra ‘inferno’ por ter uma conotação totalmente diferente do que é expresso por aqueles vocábulos.
A palavra ‘inferno’ foi usada pelos tradutores por influências pagãs e por preconceitos enraizados na mente de muitos, mas totalmente estranhos ao texto sagrado.
De acordo com a Bíblia todos os que morrem, quer sejam bons, quer sejam maus, descem à sepultura, ao lugar de esquecimento e ali esperam até o dia da ressurreição, quando então receberão a recompensa. (Apocalipse 22:14).
Apocalipse 22:14
14 “Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestes [no sangue do Cordeiro] para que tenham direito à arvore da vida, e possam entrar na cidade pelas portas.”
As palavras sheol em hebraico e hades em grego eram usadas para sepultura, não trazendo nenhum sentido de sofrimento e castigo eterno.
Geena apenas figuradamente foi usada por Jesus como um símbolo das chamas destruidoras dos últimos dias por causa do envolvimento da palavra nos acontecimentos anteriormente descritos.