O principal fundamento do adventismo

Um dos principais historiadores e teólogos adventistas, Damsteegt perguntou em um de seus artigos (publicado em 1994): Qual seria o principal fundamento da doutrina adventista? Segundo ele, modernamente se daria uma das seguintes respostas: “Jesus”, “a Bíblia” ou “nosso estilo de vida peculiar”. Entretanto, Damsteegt apontou que os pioneiros teriam outra resposta: “Os 2.300 dias e o santuário celestial” (para entender melhor essa questão, assista a este vídeo). Como um dos grupos herdeiros da mensagem de Miller (conheça Miller e sua mensagem aqui), os adventistas sabatistas tiveram de buscar respostas satisfatórias para o grande desapontamento de 22 de outubro de 1844 (veja aqui o que aconteceu com os mileritas após o desapontamento). Utilizando as Escrituras para interpretar a experiência sofrida, eles puderam compreender progressivamente o conjunto de verdades bíblicas que estudos posteriores trataram de aprofundar adequadamente. A ideia central desse núcleo passou a ser o entendimento de que em 22 de outubro de 1844 Jesus iniciou uma nova fase de Sua obra no Santuário Celestial.

Todavia, a compreensão do julgamento investigativo pré-advento como chave para a experiência do desapontamento surgiu tão cedo quanto a manhã de 23 de outubro de 1844, em uma espécie de iluminação advinda a Hiram Edson. Edson, F. B. Hahn e Crosier começaram a estudar o assunto e a publicar suas descobertas, as quais, em síntese, apontavam para a ideia de que Jesus não estava finalizando a purificação do santuário (ao vir para julgar o mundo), mas iniciando o dia antitipico da expiação no Santuário Celestial (assista a este vídeo para entender por que o santuário celestial necessitava ser purificado).

A descoberta sobre o Santuário celestial serviu de chave para o desapontamento e permitiu a Edson e Crosier traçar paralelos entre sua experiência e o desapontamento sofrido pelos primeiros discípulos em face da crucificação de Cristo. A essa altura, a doutrina do Santuário Celestial se encontrava bastante desenvolvida, após Edson, Hahn e Crosier haverem estudado o assunto por meses, concentrando-se no sistema cerimonial do Antigo Testamento, em Hebreus e nos livros proféticos de Daniel e Apocalipse. Seus estudos se tornariam artigos publicados no Day-Dawn, periódico mantido por eles mesmos.

No fim da década de 1840, o grupo de adventistas sabatistas perdeu importantes componentes, como Preble, Crosier e Cook, que se tornaram oponentes de seus antigos companheiros. Entretanto, o casal James e Ellen White se mantiveram junto com Bates, sendo o trio considerado co-fundador do grupo que posteriormente adotou o nome oficial de Igreja Adventista do Sétimo dia.

Devido às polêmicas surgidas ao redor do sábado, o casal White e Bates organizaram conferências públicas em 1848, ocorridas em Connecticut, New York, Massachusetts e Maine, entre os meses de abril e novembro, sendo no total seis conferências. Os pioneiros adventistas sabatistas reuniam-se em diversos locais, estudando e discutindo visivelmente sobre pontos doutrinários. Durante o período de 1844 a 1850, estabeleceram-se as bases do sistema doutrinário adventista, tendo como doutrina integradora o santuário celestial e as três mensagens angélicas. Ambas as doutrinas validavam o movimento do décimo dia do sétimo mês, além de exaltar o decálogo como vigente para o cristão.

O tema do santuário tornou-se o alicerce da teologia adventista e permaneceu como principal ensino até que o pequeno movimento se tornasse uma denominação religiosa, cerca de duas décadas depois. Graças ao entendimento sobre o santuário, pavimentou-se o caminho para um processo de desconstrução teológica, que levou o adventismo a se desprender das bases ontológicas da teologia clássica, as quais se fundamentavam na filosofia grega. Uma nova compreensão do plano da salvação emergiu a partir da tipologia do santuário em conexão com a existência de um santuário localizado no Céu (veja um pouco mais sobre a história da salvação neste vídeo).

Hoje, mais do que nunca, os adventistas necessitam resgatar sua compreensão do santuário. Somente assim poderão firmar sua identidade e cumprir sua missão. Afinal, Deus espera isso de Seu povo.

(Douglas Reis é mestre em Teologia, doutorando em Teologia [PhD] pela Universidade Adventista del Plata e autor de livros e artigos acadêmicos sobre identidade adventista, desenvolvimento da doutrina adventista e pós-modernidade)

Sobre Weleson Fernandes

Escritor & Evangelista da União Central Brasileira

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