“A Pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal Pedra, angular; isto procede do SENHOR e é maravilhoso aos nossos olhos. Este é o dia que o SENHOR fez; regozijemo-nos e alegremo-nos nele.” (Salmos 118:22-24)
Baseados no trecho do verso 24, “este é o dia que o SENHOR fez“, os opositores do quarto mandamento criaram a capciosa afirmativa de que isso seria uma referência ao “primeiro dia da semana” e estaria relacionada com a ressurreição de Jesus. Esta interpretação tão somente comprova o irrisório e frágil conhecimento bíblico por parte de seus elaboradores e, daqueles que a sustentam. O objetivo principal para tal alegação é tentar justificar o desprezo premeditado quanto a observância sabática.
Salmos 118:22-24 pertencem a uma profecia que esta associada a um incidente histórico ocorrido durante a construção do templo de Salomão:
“Ao ser erigido o templo de Salomão, as imensas pedras para as paredes e os fundamentos foram inteiramente preparadas na pedreira; depois de serem levadas para o local da construção, nenhum instrumento devia ser nelas utilizado; os obreiros só tinham que as colocar em posição. Fora trazida para ser empregada nos fundamentos uma pedra de dimensões extraordinárias, e de singular feitio; mas os construtores não conseguiam achar lugar para ela e não a queriam aceitar. Era-lhes um estorvo, jazendo para ali, sem utilidade.
Por muito tempo assim ficou como pedra rejeitada. Mas, ao chegar a ocasião de colocar a pedra angular, procuraram por muito tempo uma de tamanho e resistência suficientes e do devido formato, para ocupar aquele lugar e suportar o grande peso que sobre ela repousaria. Fizessem uma imprudente escolha para esse importante lugar, colocariam em risco a segurança de todo o edifício. Deveriam encontrar uma pedra capaz de resistir à influência do Sol, da geada e da tempestade. Várias pedras foram escolhidas, diversas vezes, mas, sob a pressão de imensos pesos, haviam-se despedaçado. Outras não puderam suportar a prova das súbitas mudanças atmosféricas. Afinal, a atenção dos construtores foi atraída para a pedra por tanto tempo rejeitada.
Ficara exposta ao ar, ao Sol e à tempestade, sem apresentar a mais leve fenda. Os edificadores examinaram essa pedra. Suportara todas as provas, menos uma. Se pudesse resistir à prova de vigorosa pressão, decidir-se-iam a aceitá-la para pedra angular. Foi feita a prova. A pedra foi aceita, levada para o lugar que lhe era designado, verificando-se a ele ajustar-se perfeitamente. Em profética visão, foi mostrado a Isaías que essa pedra era um símbolo de Cristo.”1, 2
Assim como a “pedra angular” descrita por Davi deveria “suportar o grande peso que sobre ela repousaria”, Cristo de igual modo o fez com os nossos pecados (Isaías 53:3-4). O rei Davi e o profeta Isaías descrevem o dia em que a Pedra angular (Jesus Cristo), embora rejeitada pelo homem, seria enaltecida pelo SENHOR e estabelecida como a única base de sustentação para o pecador arrependido. Em Sua humilhação, Cristo foi desprezado e recusado, mas ao ser glorificado Se transformou em cabeça de todas as coisas, tanto no Céu como na Terra (Efésios 1:22-23).
A exaltação de Cristo não é obra humana. Mas provém de Deus, que “O exaltou sobremaneira” (Filipenses 2:5-11). Paulo vivendo em uma época em que essa profecia já havia se cumprido, declarou: “Porque Ele diz: Eu te ouvi no tempo da oportunidade e te socorri no dia da salvação; eis, agora, o tempo sobremodo oportuno, eis, agora, o dia da salvação.” (II Coríntios 6:2).
O patriarca Abraão, assim como Davi, contemplou o contínuo trabalho de salvação que Cristo desempenha em favor da humanidade (cf João 5:17):
“Abraão, vosso pai, alegrou-se por ver o Meu dia, viu-o e regozijou-se.” (João 8:56)
“Este é o dia que o SENHOR fez; regozijemo-nos e alegremo-nos nele.” (Salmos 118:24)
Ambos os textos aludem ao mesmo acontecimento profético. Deus concedeu a Abraão e a Davi a oportunidade de contemplarem o dia (a época, o tempo) tão aguardado em que a salvação se consolidaria na vida daqueles que sustentaram a fé em Cristo e em Seu sacrifício. E este dia (período, momento) estava preparado “deste a fundação do mundo” (Apocalipse 8:13).
O contexto e a inter-relação dos versos bíblicos avaliados não proporcionam nenhuma base para se considerar que Salmos 118:24 estejam vinculado ao “primeiro dia da semana” ou faça alguma alusão a um dia de descanso. A Bíblia também não atribui a característica de “pedra angular” a Jesus devido a Sua ressurreição. John Wesley (pioneiro do movimento metodista) e os fundamentalistas Robert Jamieson, Andrew Fausset e David Brown, fazem as seguintes avaliações sobre os versos de Salmos 118:22-24:
“Estas palavras são aplicadas por Cristo (Mateus 21:42) a Si mesmo, como o alicerce da Igreja (compare Atos 4:11; Efésios 2:20; I Pedro 2:4 e 7). Pode-se aqui representar a exaltação maravilhosa de Deus através do poder e influência dAquele a quem os governantes da nação desprezaram. (…) há aqui simbolicamente os surpreendentes feitos de Deus em exaltar a Cristo, crucificado como um impostor, para ser o Príncipe, Salvador e Cabeça de Sua Igreja. Este é o dia – ou período expressivo da graça de Deus por todos.”3
“A comunidade de Israel e a Igreja de Deus são aqui e em outros lugares comparadas a um edifício, onde, as pessoas são as pedras, e os príncipes e governantes são os construtores. E assim como esses mestres-construtores rejeitaram a Davi, os seus sucessores rejeitaram a Cristo, a Pedra angular de todo o edifício, pela qual as demais partes são sustentadas e firmemente unidas. Assim como Davi uniu todas as tribos e as famílias de Israel, deste modo Cristo uniu judeus e gentios. Portanto, Cristo é justamente este lugar descrito em Marcos 12:10; Atos 4:11; Romanos 9:32 e Efésios 2:20. (…) Consagrado parauma época que jamais será esquecida.”4
Outros estudiosos da Bíblia como Lutero e Calvino também negam que Salmos 118:22-24 se refiram ao “primeiro dia da semana” ou que se trate de um dia de guarda semanal. Para eles, estes versos tratam da celebração da festa dos tabernáculos, e aplicam o trecho “este é o dia“, à ela ou a qualquer outro dia de celebração vinculado às festividades de Israel.
1. WHITE, E. G. Desejado de Todas as Nações, O; sec. VII, cap. 35, p. 597-598.
2. Isaías 8:13-15; Isaías 28:16; Mateus 21:42; I Pedro 2:6-7.
3. JAMIESON, R.; FAUSSET, A. R.; BROWN, D. Commentary Critical and Explanatory on the Whole Bible, Psalms 118:22-24.
4. WESLEY, J. Wesley’s Notes on the Bible, Psalms 118:22-24.