O Uso da Música “Soul” na Adoração

Temos visto, nos últimos tempos, pessoas que advogam o uso do estilo Soul na adoração. Estas pessoas defendem que este é um estilo perfeitamente apropriado para a adoração, tendo como base os seguintes argumentos:

  • Música Soul é como qualquer outra música
  • Não vejo nada de prejudicial
  • O que eu sinto é uma sensação muito boa quando canto ou ouço um louvor de música Soul
  • Soul significa “alma”
  • Música Soul fica muito bonita
  • Música Soul me traz alegria, fervor, vontade enorme de louvar mais e mais
  • Minha mente não me acusa de nenhum erro e nem sinto que Deus não goste da música Soul, e pra mim isso basta.

Vemos que estes argumentos apóiam-se em dois alicerces principais:

  • O que “eu” acho ser certo, e
  • O que “eu” sinto quando uma música Soul é executada.

Este artigo pretende ressaltar alguns pontos importantes que devem ser levados em consideração quando o assunto é o uso da música na adoração ou louvor a Deus. Antes de entrar no debate do uso ou não do Soul, devemos entender o que é, propriamente, o culto a Deus e o que Ele pede a este respeito. Somente depois disso é que poderemos tentar discutir sobre o uso da música na adoração. Sabendo que a música Soul tem como característica principal um forte apelo emocional, trataremos neste artigo, de modo suscinto, da tensão entre a razão e a emoção na adoração. Vamos por partes:

I. O que é correto e o que é incorreto no uso dentro da igreja? O que é o culto? Qual deve ser nossa postura no culto?

O motivo do cristão em ir à igreja, ao contrário do que se diz no costume popular, não é o de “assistir ao culto”. Deveríamos ir à igreja, a cada sábado, não para ver o pastor pregar, ou para assistir à Escola Sabatina, mas para prestar um culto conjuntamente com o pastor e participar ativamente da Escola Sabatina. O pastor, ao pregar (além de estar alimentando o rebanho com o alimento espiritual) está representando toda a sua congregação diante de Deus, ou seja, está adorando a Deus conjuntamente com todos aqueles que compartilham daquela mensagem. O pastor prega e o verdadeiro adorador participa! O verdadeiro adorador não é apenas um ouvinte passivo, é um participante ativo: em ouvidos, respostas, “améns”, pensamento, oração!

Deste pensamento, tiramos um outro muito precioso: se a adoração é ativa, devemos oferecer algo a Deus! Mas Deus pede alguma coisa de nós? Claro que sim! E o que Deus pede?

Em João 4:23-24, lemos: “No entanto, está chegando a hora, e de fato já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade. São estes os adoradores que o Pai procura. Deus é espírito, e é necessário que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade”. Portanto, o que Deus pede de nós na adoração é nada mais, nada menos do que: adoração em espírito e verdade e nosso coração! Ou seja, Deus pede o melhor que podemos dar!

Sobre o ato da adoração no culto, sobre aquilo que Deus pede (sobre o que devemos oferecer), sobre “certo X errado” e sobre qual a relação de tudo isso com a música, indico vários artigos:

1. Nosso Culto de Adoração

2. Adoração – O Presente do Homem para Deus

3. A Dualidade Divina para a Música e Adoração

4. A Escolha da Música é Realmente Importante?

Indico sobre este assunto vários outros artigos correlatos, localizados na Seção “A Forma da Adoração” do site Música Sacra e Adoração.

II. Por que o Soul? O gosto pessoal é o mais importante ou a Bíblia apresenta uma diretriz sobre este assunto?

Faço a você, leitor, apenas duas perguntas: 1. Quando a mulher de Ló, ao sair corrida de Sodoma, virou-se para trás e tornou-se estátua de sal, estava buscando a verdade de Deus ou o seu gosto pelas coisas mundanas de sua antiga cidade? 2. Quando Caim ofereceu o seu melhor para Deus e, mesmo assim foi rejeitado, estava ele seguindo os preceitos de Deus ou o seu próprio coração, o seu próprio gosto?

Através desses dois exemplos já podemos ver que o gosto do homem leva à perdição… Com a escolha da música acontece o mesmo! Ai de nós se escolhermos a música errada para adorarmos a um Deus que é Amor, mas que é também Soberano, Juiz, Altíssimo e Senhor do Universo! Devemos ter este cuidado porque lemos em Hebreus 12:28-29 as seguintes palavras: “Portanto, já que estamos recebendo um Reino inabalável, sejamos agradecidos e, assim, adoremos a Deus de modo aceitável, com reverência e temor, pois o nosso Deus é fogo consumidor!”

Para que escolhamos a música correta, é necessário termos em mente, com muita oração, leitura da Bíblia e do Espírito de Profecia, qual é a teologia bíblica da adoração! Ao perceber que a bíblia apresenta sim, e claramente, uma teologia com respeito à música e à adoração, descobriremos também que o gosto pessoal é insignificante. Artigos básicos sobre o tema:

1. Dois capítulos do livro “O Cristão e a Música Rock” de autoria do Dr. Samuele Bacchiocchi: O Capítulo 6 – “Uma Teologia Adventista da Música na Igreja” e o Capítulo 7 – “Princípios Bíblicos de Música“.

2. Bases Bíblicas Para Uma Teologia de Música e Adoração

III. A música Soul é apropriada? Pode ser usada dentro da igreja?

Para responder a essa pergunta, teríamos que remontar às origens deste tipo de musica.

A música Soul é uma música característica dos negros norte-americanos e nasceu a partir de modificações de um outro ritmo, o Blues. Para entendermos melhor o Soulprecisamos entender a sua raiz, o Blues.

A palavra Blues é uma gíria dos negros norte-americanos para “tristeza”, ou “melancolia”. É mais ou menos um correlato da palavra que os negros trazidos para o Brasil usavam: “banzo”. A palavra representava a tristeza profunda por estar na situação de escravo, de estar longe da terra natal, ou (mesmo depois da libertação) de serem cidadãos marginalizados e vítimas de imenso preconceito racial. Esta melancolia foi canalizada pelos negros norte-americanos em uma música que ficou conhecida segundo a palavra que lhe dera origem, ou seja, o Blues. Hoje, por exemplo, o grande expoente do Blues é B.B.King.

Até aqui, não é possível ver qualquer ligação entre este estilo musical e a adoração. Muito pelo contrário, vimos que este é um estilo puramente emocional e que, além disso, tenta expressar toda a melancolia de um povo oprimido. A religião cristã é exatamente o oposto destas duas características.

Podemos exemplificar a origem da música Soul com o seu maior expoente, Ray Charles. Ele começou tocando Blues (mais especificamente, Rhythm & Blues, mas, para não alongarmos este desvio do assunto, não entraremos no mérito das posteriores alterações do Blues). A este estilo musical ele acrescentou elementos da música Gospel (que já se misturava aos estilos populares, com Elvis Presley e outros) e também adicionou uma seção de metais, principalmente o trompete com surdina. Estava formada, em poucas palavras, a música Soul.

Vemos assim que a música Soul nasce como uma forma híbrida. Por um lado encontramos o Blues, o melancólico, o triste. Por outro, temos o Gospel, que já começava a perverter os valores cristãos, em uma busca apelativa do puro sentimento. Não entrarei aqui em detalhes sobre este desenvolvimento, uma vez que não é este o propósito do artigo, mas, mais uma vez, indico algumas leituras (quem realmente estiver interessado sobre a verdade, lerá esses artigos):

1. Os capítulos 09 – “Como a Música Pop Entrou na Igreja“, e 10 – “A Música Popular e o Evangelho“, do já citado livro do Dr. Bacchiochi.

2. O Capítulo 01 – “A Verdadeira e a Falsa Teoria Comparadas” do livro “Santificação”, de Ellen White

IV. Mas se “eu me sinto bem”, se “eu estou contente”, se “a música não afeta minha adoração”, não estou correto? O que importa não são minhas sensações? Quais os limites entre razão e emoção?

Este, infelizmente, tem sido assunto de imensos e acalorados debates. Em primeiro lugar devemos tomar o cuidado de não dividir rigidamente o ser humano em dois: um racional, outro emocional. O ser humano, tal qual criado por Deus, é, ao mesmo tempo, racional e emocional, não um átomo ora emocional, ora racional.

O que devemos ter em mente, portanto, não é se devemos escolher uma música para o culto de Deus (ou para a nossa adoração diária) segundo o critério da razão ou da emoção, mas sim que o critério (o único infalível) é aquele apresentado pela Bíblia (como já dito anteriormente). Afinal, após o pecado, tanto a nossa razão quanto a nossa emoção foram destroçados, embotados, diluídos. Sobre este assunto, indico dois artigos. O primeiro, tencionando a razão e a emoção em busca do equilíbrio; o segundo, nos advertindo de que não se deve confiar nas circunstâncias para escolher uma música, sim na palavra de Deus:

1. Adoração Intelectual ou Emocional?

2. A Verdade Está Acima da Contingência

Espero, com sinceridade, que o Espírito de Deus os oriente no caminho das leituras apresentadas. O trabalho de conhecer a verdade não é sempre fácil, e algumas leituras e reflexões são necessárias. Depois de ler bastante acerca da vontade de Deus, dificilmente nos perderemos em debates infrutíferos e rasos. A leitura destes textos será uma experiência altamente enriquecedora e espiritual, tenho certeza!

Autor: Adrian Theodor


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Sobre Weleson Fernandes

Evangelista da Igreja Adventista do sétimo dia, analista financeiro, formado em gestão financeira, pós graduado em controladoria de finanças, graduado em Teologia para Evangelistas pela Universidade Adventista de São Paulo. Autor de livros e de artigos, colunista no Blog Sétimo dia, Jovens Adventista. Tem participado como palestrante em seminários e em Conferências de evangelismo. Casado com Shirlene, é pai de três filhos.

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