Avaliação teológica da teologia negra de James Cone

Disponibilizamos neste post uma avaliação teológica realizada por Isaac Malheiros a respeito da teologia negra de James Cone. Abaixo segue um trecho da introdução da pesquisa. O pdf pode ser baixado ao fim do post. Boa leitura!

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Introdução

Este artigo, produzido entre 2019 e 2021, faz uma avaliação da teologia negra na forma como ela é exposta, principalmente (mas não exclusivamente), na obra de James Cone. A teologia negra não deve ser confundida com a teologia africana, pois é a teologia dos negros segregados numa sociedade racista branca.2 Em sentido estrito, a teologia negra só vai surgir nos anos 1960 (ente 1966 e 1969), motivada por alguns fatores como:

1) o movimento pelos direitos civis (1955-1965); 2) o livro Black Religion, do historiador negro Joseph Washington; e 3) o movimento Black Power (surgido dos guetos em 1966).3 Outros eventos marcaram o surgimento da teologia negra, como o surgimento do National Committee of Negro Churchmen, em 1969. No mesmo ano, James Forman publicou o Black Manifesto, exigindo que as igrejas brancas e sinagogas pagassem uma indenização simbólica de 500 milhões de dólares aos negros dos EUA (o que daria 15 dólares por negro).4

Mas o grande nome da teologia negra, tanto na sua fase inicial quanto em sua sistematização posterior, foi o teólogo negro James Cone (1938–2018). Em 1969, ele publicou Black Theology and Black Power, considerada a primeira obra de teologia negra sistematizada.5 Por causa de sua importância, neste artigo, o pensamento de James Cone será considerado representativo da teologia negra – a teologia negra não é apenas Cone, mas não se pode falar em teologia negra sem passar por ele. Esta é uma pesquisa bibliográfica que fará uma apresentação panorâmica e uma avaliação de alguns conceitos teológicos da teologia negra de Cone sob uma perspectiva cristã adventista.

Inicialmente, é importante reconhecer que a teologia negra denuncia questões raciais sérias que precisam ser abordadas, e chama a atenção para o sofrimento real que os negros experimentaram e ainda experimentam. A teologia negra não surgiu ex-nihilo, ela tem razão histórica para existir. O envolvimento de instituições e indivíduos cristãos

com a escravidão, e o silêncio e a omissão de outros setores cristãos diante de manifestações históricas de racismo ajudam a explicar as denúncias e a dureza do discurso da teologia negra. Ao avaliar a teologia negra, é preciso levar em conta a realidade da situação dos negros nos EUA, desde o início da história até hoje, e reconhecer que, em geral, as demandas eram/são justas. Este artigo não trata disso, mas se concentra apenas na questão teológica presente nas alegações feitas, especialmente, por James Cone.

As denúncias e experiências com o racismo contidas na bibliografia da teologia negra devem ser ouvidas, mas o que nos interessa aqui são os seus argumentos teológicos e sua relação com a Bíblia. A teologia negra não trata apenas de uma justa demanda social, ela é essencialmente uma teologia, e como tal, tem feito alegações teológicas que devem ser avaliadas por cristãos bíblicos. A vida cristã deve estar fundamentada solidamente nas Escrituras, não em relatos emocionais que causem tristeza, comoção ou revolta. Esperamos que essa objetividade na análise não seja confundida com insensibilidade em relação à questão racial. Serão mantidas, até onde o espaço permitir, as citações diretas para que as posições dos autores sejam expostas em suas próprias palavras, pois questões semânticas estão envolvidas. Os leitores fariam bem se examinassem cuidadosamente cada citação. Por causa das circunstâncias em que este estudo foi feito, foram utilizadas obras de Cone em inglês, mas também versões de duas dessas obras em português. 6 Todas as traduções das fontes primárias em inglês foram feitas pelo autor deste artigo. Ao final, será feita uma breve reflexão crítica das principais questões levantadas.

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1   Doutor em Teologia (EST- São Leopoldo, RS). Email: [email protected]

2   GIBELLINI, Rosino. A teologia do século XX. São Paulo: Edições Loyola, 2012. p. 383.

3 OGBAR, Jeffrey O. G. Black Power: Radical Politics and African American Identity. Baltimore: John Hopkins University Press, 2004. p. 153-158. Para uma exposição mais detalhada dos antecedentes e dos contextos históricos do surgimento da teologia negra, ver FINLEY, Stephen C. African American History and African American Theology. In: CANNON, Katie G.; PINN, Anthony B. (eds.). The Oxford Handbook of African American Theology. Oxford: Oxford University Press, 2014. p. 15-26.

4     GIBELLINI, 2012, p. 394.

5     GIBELLINI, 2012, p. 393-395.

6     Com a pesquisa em andamento, o autor deste artigo teve acesso a versões em português de duas obras de Cone:Teologia Negra Deus dos Oprimidos, da editora Recriar.

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Sobre Weleson Fernandes

Escritor & Evangelista da União Central Brasileira

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