Em seu templo

Depois disto desceu a Cafarnaum, Ele, e Sua mãe, e Seus discípulos, e ficaram ali não muitos dias. Estava próxima a Páscoa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém” João 2:12, 13.

Nessa jornada, uniu-Se Jesus a um grande grupo que ia de caminho para a capital. Ainda não havia anunciado publicamente Sua missão, e misturava-Se despercebido com o povo. Nessas ocasiões, a vinda do Messias, a que o ministério de João dera tanta preeminência, era muitas vezes o tema de conversação. Com vivo entusiasmo consideravam a esperança da grandeza nacional. Jesus sabia que essa esperança haveria de sofrer decepção, pois baseava-se em uma falsa compreensão das Escrituras. Com profundo zelo explicava Ele as profecias, e procurava despertar os homens para mais acurado estudo da Palavra de Deus.

Os guias judaicos haviam instruído o povo de que em Jerusalém deviam ser ensinados quanto ao culto a Deus. Ali, durante a semana da Páscoa, se reuniam em grande número, vindos de todas as partes da Palestina, e mesmo de terras distantes. Os pátios do templo enchiam-se de uma multidão promíscua. Muitos não podiam levar consigo os sacrifícios que deviam ser oferecidos em símbolo do grande Sacrifício. Para comodidade destes, compravam-se e vendiam-se animais no pátio exterior do templo. Ali se reunia toda espécie de gente para comprar suas ofertas. Ali se trocava todo o dinheiro estrangeiro pela moeda do santuário.

Todo judeu tinha por dever pagar anualmente meio siclo como “resgate da sua alma” (Êxodo 30:12-16); e o dinheiro assim obtido era empregado para manutenção do templo. Além disso, levavam-se grandes somas, como ofertas voluntárias, para serem depositadas no tesouro do templo. E exigia-se que todo dinheiro estrangeiro fosse trocado por uma moeda chamada o siclo do templo, a qual era aceita para o serviço do santuário. A troca do dinheiro dava lugar a fraude e extorsão, havendo descaído em desonroso tráfico, fonte de lucros para os sacerdotes.

Os mercadores exigiam preços exorbitantes pelos animais vendidos, e dividiam o proveito com os sacerdotes e principais, que enriqueciam assim à custa do povo. Ensinara-se aos adoradores que, se não oferecessem sacrifícios, as bênçãos de Deus não repousariam sobre seus filhos e sua terra. Assim era garantido elevado preço pelos animais; porque, depois de vir de tão longe, o povo não queria voltar para casa sem realizar o ato de devoção que ali o levara.

Grande era o número de sacrifícios oferecidos por ocasião da Páscoa, e avultadas as vendas no templo. A conseqüente confusão dava a idéia de uma ruidosa feira de gado, e não do sagrado templo de Deus. Ali se podiam ouvir ásperos ajustes de compras, o mugir do gado, o balir de ovelhas, o arrulho de pombos, de mistura com o tinir de moedas e violentas discussões. Tão grande era a confusão, que os sacerdotes eram perturbados, e as palavras dirigidas ao Altíssimo, afogadas pelo tumulto que invadia o templo. Os judeus orgulhavam-se extremamente de sua piedade. Regozijavam-se por causa de seu templo, e reputavam blasfêmia uma palavra proferida em desmerecimento do mesmo; eram muito rigorosos quanto à execução das cerimônias com ele relacionadas; o amor do dinheiro, porém, desfazia todos os escrúpulos. Mal se apercebiam de quão longe tinham sido levados do original desígnio do serviço instituído pelo próprio Deus.

Quando o Senhor descera sobre o monte Sinai, o lugar fora consagrado por Sua presença. Moisés recebeu ordens de pôr limites em volta do monte e santificá-lo, e a palavra do Senhor se fez ouvir em advertência: “Guardai-vos que não subais ao monte, nem toqueis o seu termo; todo aquele que tocar o monte certamente morrerá. Nenhuma mão tocará nele, porque certamente será apedrejado ou asseteado; quer seja animal, quer seja homem, não viverá” Êxodo 19:12, 13. Assim foi ensinada a lição de que sempre que Deus manifesta Sua presença, o lugar é santo. As dependências do templo de Deus deviam ser consideradas sagradas. Na luta pelo ganho, porém, tudo isso se perdeu de vista.

Os sacerdotes e principais, chamados para ser representantes de Deus perante a nação, deviam ter corrigido os abusos do pátio do templo. Deviam haver dado ao povo um exemplo de integridade e compaixão. Em lugar de cuidar do próprio proveito, deviam ter considerado a situação e as necessidades dos adoradores, e estado prontos a ajudar os que não podiam comprar os sacrifícios exigidos. Mas assim não fizeram. A avareza lhes endurecera o coração.

Iam a essa festa pessoas que se achavam em sofrimento, em necessidade, em aflição. O cego, o coxo, o surdo, ali se achavam. Alguns eram levados em leitos. Iam muitos demasiado pobres para comprar a mais humilde oferta para o Senhor, pobres demais mesmo para comprar o alimento com que saciassem a própria fome. Estes ficavam grandemente desanimados com as declarações dos sacerdotes. Os sacerdotes gloriavam-se de sua piedade; pretendiam ser os guardas do povo; eram no entanto, faltos de simpatia e compaixão. O pobre, o doente, o moribundo, em vão suplicavam favor. Seus sofrimentos não despertavam piedade no coração dos sacerdotes.

Ao penetrar Jesus no templo, abrangeu toda a cena. Viu as desonestas transações. Viu a aflição do pobre, que julgava que, sem derramar sangue, não havia perdão para seus pecados. Viu o pátio exterior do Seu templo convertido em lugar de comércio profano. O sagrado recinto transformara-se em vasta praça de câmbio.

Cristo viu que era necessário fazer alguma coisa. Numerosas eram as cerimônias exigidas do povo, sem a devida instrução quanto ao sentido das mesmas. Os adoradores ofereciam seus sacrifícios, sem compreender que eram símbolos do único Sacrifício perfeito. E entre eles, não reconhecido nem honrado, achava-Se Aquele a quem prefiguravam todos os seus cultos. Ele dera instruções quanto às ofertas. Compreendia-lhes o valor simbólico, e via que estavam agora pervertidas e mal interpretadas. O culto espiritual estava desaparecendo rapidamente. Nenhum laço ligava os sacerdotes e principais ao seu Deus. A obra de Cristo era estabelecer um culto totalmente diverso.

Enquanto ali, de pé, nos degraus do pátio do templo, Cristo abrangeu com penetrante visão, a cena que estava perante Ele. Seu olhar profético penetra o futuro, e vê, não somente anos, mas séculos e gerações. Vê como sacerdotes e principais despojam o necessitado de seu direito, e proíbem que o evangelho seja pregado ao pobre. Vê como o amor de Deus seria ocultado aos pecadores, e os homens fariam de Sua graça mercadoria. Ao contemplar a cena, exprimem-se-Lhe na fisionomia indignação, autoridade e poder. A atenção do povo é para Ele atraída. Voltam-se para Ele os olhares dos que se acham empenhados no profano comércio. Não podem dEle despregar os olhos. Sentem-se que esse Homem lhes lê os mais íntimos pensamentos, e lhes descobre os ocultos motivos. Alguns tentam esconder o rosto, como se suas más ações lhes estivessem escritas no semblante, para serem perscrutadas por aqueles olhos penetrantes.

Silencia o tumulto. O som do tráfico e dos ajustes cessa. O silêncio torna-se penoso. Apodera-se da assembléia um sentimento de respeito. É como se estivessem citados perante o tribunal de Deus, para responder por seus atos. Olhando para Cristo, vêem a divindade irradiando através do invólucro humano. A Majestade do Céu está como o Juiz há de estar no último dia — não circundado agora da glória que O acompanhará então, mas com o mesmo poder de ler a mente. Seu olhar percorre rapidamente a multidão, abrangendo cada indivíduo. Seu vulto parece elevar-se acima deles, em imponente dignidade, e uma luz divina ilumina-Lhe o semblante. Fala, e Sua clara, retumbante voz — a mesma que, do Sinai, proclamara a lei que sacerdotes e principais ora transgridem — ouve-se ecoar através das arcadas do templo: “Tirai daqui estes, e não façais da casa de Meu Pai casa de venda” João 2:16.

Descendo silenciosamente, e erguendo o açoite de cordéis apanhado ao entrar no recinto, manda aos vendedores que se afastem das dependências do templo. Com zelo e severidade nunca dantes por Ele manifestados, derruba as mesas dos cambistas. Rola a moeda, ressoando fortemente no mármore do chão. Ninguém Lhe pretende questionar a autoridade. Ninguém ousa deter-se para apanhar o mal-adquirido ganho. Jesus não lhes bate com o açoite de cordéis, mas aquele simples açoite parece, em Suas mãos, terrível como uma espada flamejante. Oficiais do templo, sacerdotes, corretores e mercadores de gado, com suas ovelhas e bois, saem precipitadamente do lugar, com o único pensamento de escapar à condenação de Sua presença.

Um pânico percorre pela multidão, que se sente ofuscada por Sua divindade. Gritos de terror escapam-se de centenas de lábios desmaiados. Os próprios discípulos tremem. São abalados pelas palavras e maneiras de Jesus, tão diversas de Sua atitude habitual. Lembram-se de que está escrito a Seu respeito. “O zelo da Tua casa Me devorou” Salmos 69:9. Dentro em pouco a tumultuosa turba com as mercadorias é removida para longe do templo do Senhor. Os pátios ficam livres do comércio profano, e sobre a cena de confusão baixam silêncio e solenidade profundos. A presença do Senhor, que outrora santificara o monte, tornou agora sagrado o templo erigido em Sua honra.

Com a purificação do templo, anunciou Jesus Sua missão como Messias. Aquele templo, erigido, para morada divina, destinava-se a ser uma lição objetiva para Israel e o mundo. Desde os séculos eternos era o desígnio de Deus que todos os seres criados, desde os luminosos e santos serafins até ao homem, fossem um templo para morada do Criador. Devido ao pecado, a humanidade cessou de ser o templo de Deus. Obscurecido e contaminado pelo pecado, o coração do homem não mais revelava a glória da Divindade. Pela encarnação do Filho de Deus, porém, cumpriu-se o desígnio do Céu. Deus habita na humanidade, e mediante a salvadora graça, o coração humano se torna novamente um templo.

O Senhor tinha em vista que o templo de Jerusalém fosse um testemunho contínuo do elevado destino franqueado a todas as pessoas. Os judeus, no entanto, não haviam compreendido a significação do edifício de que tanto se orgulhavam. Não se entregavam como templos santos para o divino Espírito. Os pátios do templo de Jerusalém, cheios do tumulto de um tráfico profano, representavam com exatidão o templo da alma, contaminado por paixões sensuais e pensamentos profanos. Purificando o templo dos compradores e vendilhões mundanos, Jesus anunciou Sua missão de limpar a pessoa da contaminação do pecado — dos desejos terrenos, das ambições egoístas, dos maus hábitos que a corrompem. “De repente virá ao Seu templo o Senhor, a quem vós buscais, o anjo do concerto, a quem vós desejais; eis que vem, diz o Senhor dos Exércitos. Mas quem suportará o dia da Sua vinda? E quem subsistirá quando Ele aparecer? porque Ele será como o fogo dos ourives e como o sabão dos lavandeiros. E assentar-Se-á, afinando e purificando a prata; e purificará os filhos de Levi, e os afinará como ouro e como prata” Malaquias 3:1-3. “Não sabeis vós que sois o templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo” 1 Coríntios 3:16, 17.

Homem algum pode de si mesmo expulsar a turba má que tomou posse do coração. Unicamente Cristo pode purificar o templo da alma. Não forçará, porém, a entrada. Não vem ao templo do coração como ao de outrora; mas diz: “Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a Minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa” Apocalipse 3:20. Ele virá, não somente por um dia; pois diz: “Neles habitarei, e entre eles andarei: […] e eles serão o Meu povo” 2 Coríntios 6:16. “Subjugará as nossas iniqüidades, e lançará todos os nossos pecados nas profundezas do mar” Miquéias 7:19. Sua presença purificará e santificará a alma, de maneira que ela seja um santo templo para o Senhor, e uma “morada de Deus em Espírito” Efésios 2:21, 22.

Dominados de terror, os sacerdotes e os principais haviam fugido do pátio do templo, e do olhar penetrante que lhes lia o coração. Em sua fuga, encontraram-se com outros que iam para o templo, e pediram-lhes que voltassem, contando-lhes o que tinham visto e ouvido. Cristo olhava para os homens a fugir, em compassiva piedade pelo temor deles, e por sua ignorância do que constituísse o verdadeiro culto. Viu, nessa cena, simbolizada a dispersão de todo o povo judeu por causa de sua maldade e impenitência.

E por que fugiam do templo os sacerdotes? Por que não defenderam sua posição? Aquele que lhes ordenava que se fossem era o filho de um carpinteiro, um pobre galileu, sem posição nem poder terrestre. Por que Lhe não resistiram? Por que deixaram o tão mal-adquirido ganho, e fugiram ao mando de uma pessoa de tão humilde aparência?

Cristo falava com a autoridade de um rei, e em Seu aspecto, e no tom de Sua voz havia alguma coisa a que eles não podiam resistir. À voz de comando compreenderam, como nunca dantes, sua verdadeira posição de hipócritas e roubadores. Quando a divindade irradiou através da humanidade, não viram apenas indignação na fisionomia de Cristo; perceberam o significado de Suas palavras. Sentiram-se como perante o trono do eterno Juiz, tendo sobre si Sua sentença para este século e a eternidade. Por algum tempo, ficaram convencidos de que Cristo era profeta; e muitos acreditaram ser o Messias. O Espírito Santo, como num relâmpago, lhes fez acudir à mente palavras dos profetas com respeito a Cristo. Render-se-iam a esta convicção?

Arrepender-se, não o queriam eles. Sabiam que se haviam despertado as simpatias de Cristo para com os pobres. Sabiam-se culpados de extorsão em seu trato com o povo. Como Cristo lhes penetrasse os pensamentos, aborreceram-nO. Sua pública repreensão humilhava-lhes o orgulho, e tinham ciúmes da crescente influência que ia conquistando entre o povo. Decidiram intimidá-Lo a declarar com que autoridade os expulsara, e quem Lha conferira.

Lenta e refletidamente, mas com ódio no coração, voltaram ao templo. Que mudança, porém, se operara durante sua ausência! Ao fugirem, haviam ficado atrás os pobres; e estes contemplavam agora a Jesus, cujo semblante exprimia amor e simpatia. Com olhos marejados de lágrimas, dizia às trêmulas criaturas que O cercavam: Não temas; Eu te livrarei, e tu Me glorificarás. Para isso vim ao mundo.

O povo comprimia-se diante dEle, dirigindo-Lhe insistentes e lastimosos apelos. Mestre, abençoa-me! Seus ouvidos escutavam a todo clamor. Com uma compaixão maior que a de uma terna mãe, inclinava-Se para os sofredores. Todos eram objeto de Sua atenção. Cada um era curado de qualquer moléstia que tivesse. Os mudos abriam os lábios em louvor; os cegos contemplavam o rosto de seu Restaurador. Alegrava-se o coração dos enfermos.

Ao passo que os sacerdotes e oficiais do templo testemunhavam essa grande obra, que revelação não era para eles o que lhes chegava aos ouvidos! O povo contava a história de seus padecimentos, das frustradas esperanças, dos dolorosos dias e noites insones. Quando a última centelha de esperança parecia extinta, Cristo os curara. O fardo era pesado, dizia um, mas encontrei um Ajudador. Ele é o Cristo de Deus, e devotarei minha vida a Seu serviço. Pais diziam aos filhos: Ele te salvou a vida; levanta a tua voz e bendize-O. A voz das crianças e a dos jovens, pais e mães, amigos e espectadores uniam-se em louvor. Esperança e alegria enchiam-lhes o coração. O espírito possuía-se de paz. Eram restaurados na mente e no corpo, e voltavam para casa proclamando por toda parte o incomparável amor de Jesus.

Na crucifixão, os que assim foram curados não se uniram à turba vil que exclamava: “Crucifica-O, crucifica-O”. Suas simpatias eram para Jesus; pois Lhe haviam sentido a grande compaixão e o maravilhoso poder. Sabiam que era seu Salvador; pois lhes dera saúde física e espiritual. Escutaram as pregações dos apóstolos, e a entrada da Palavra de Deus em seu coração lhes dera entendimento. Tornaram-se instrumentos da misericórdia de Deus, de Sua salvação.

A multidão que fugira do templo, passado algum tempo, foi voltando devagar. Haviam-se recobrado em parte do terror que deles se apoderara, mas suas fisionomias exprimiam irresolução e timidez. Olhavam com pasmo as obras de Jesus, e ficavam convencidos de que nEle tinham cumprimento as profecias concernentes ao Messias. O pecado de profanação do templo cabia, em grande parte, aos sacerdotes. Fora por arranjos da parte deles que o pátio se transformara em mercado. O povo era relativamente inocente. Foi impressionado pela divina autoridade de Jesus; mas para ele a influência dos sacerdotes e principais era suprema. Estes consideravam a missão de Cristo como uma inovação, e punham em dúvida Seu direito de interferir naquilo que era permitido por autoridades do templo. Ofenderam-se por haver sido interrompido o comércio, e sufocaram as convicções originadas pelo Espírito Santo.

Mais que quaisquer outros, deviam os sacerdotes e principais ter visto que Jesus era o ungido do Senhor; pois tinham nas próprias mãos os rolos que Lhe descreviam a missão, e sabiam que a purificação do templo era uma manifestação de poder sobre-humano. A despeito de aborrecerem a Jesus, não se podiam eximir ao pensamento de que fosse um profeta enviado por Deus, para restaurar a santidade do templo. Com uma deferência nascida desse temor, a Ele se dirigiram com a indagação: “Que sinal nos mostras para fazeres isto?” João 2:18.

Jesus lhes mostrara um sinal. Fazendo com que a luz brilhasse no coração deles, e realizando em sua presença as obras que o Messias devia efetuar, dera convincentes provas de Seu caráter. Ora, ao pedirem um sinal, respondeu-lhes por meio de uma parábola, mostrando que lhes lia a malevolência, e via a que ponto esta os levaria. “Derribai este templo”, disse, “e em três dias o levantarei” João 2:19.

Essas palavras encerravam um duplo sentido. Ele não Se referia somente à destruição do templo judaico e do culto, mas a Sua própria morte — a destruição do templo de Seu corpo. Esta os judeus estavam já tramando. Quando os sacerdotes e principais voltaram ao templo, haviam-se proposto matar Jesus, livrando-se assim do perturbador. Ao apresentar-lhes Ele seus desígnios, porém, não O compreenderam. Tomaram-Lhe as palavras como se aplicando ao templo de Jerusalém, e exclamaram com indignação: “Em quarenta e seis anos foi edificado este templo, e Tu o levantarás em três dias?” Acharam então que Jesus lhes justificara a incredulidade, e confirmaram sua rejeição dEle.

Não era intenção de Jesus que Suas palavras fossem compreendidas no momento pelos incrédulos judeus, nem mesmo pelos discípulos. Sabia que seriam torcidas pelos inimigos, e voltadas contra Ele próprio. Em Seu julgamento, seriam apresentadas como acusação, sendo-Lhe, no Calvário, arremessadas como insulto. Explicá-las, no entretanto, seria dar a conhecer aos discípulos Seus sofrimentos, trazendo sobre eles uma dor que ainda não estavam aptos a suportar. E uma exposição delas seria desvendar prematuramente aos judeus o resultado de seus preconceitos e incredulidade. Já tinham entrado num caminho em que deliberadamente haviam de prosseguir, até que Ele fosse levado como ovelha ao matadouro.

Foi por amor dos que haviam de crer em Cristo que essas palavras foram proferidas. Ele sabia que seriam repetidas. Pronunciadas por ocasião da Páscoa, seriam levadas aos ouvidos de milhares, e a todas as partes do mundo. Depois de Ele haver ressuscitado dos mortos, o sentido delas se tornaria claro. Para muitos, seriam conclusiva prova de Sua divindade.

Devido a sua treva espiritual, os próprios discípulos de Jesus deixaram muitas vezes de Lhe compreender as lições. Muitas delas se tornaram claras, porém, em vista de acontecimentos posteriores. Quando Jesus já não andava com eles, Suas palavras lhes serviam de esteio ao coração.

No que se referia ao templo de Jerusalém, as palavras do Salvador: “Derribai este templo, e em três dias o levantarei”, tinham mais profundo sentido do que o apreendido pelos ouvintes. Cristo era o fundamento e a vida do templo. Os cultos deste eram típicos do sacrifício do Filho de Deus. O sacerdócio fora estabelecido para representar o caráter mediador e a obra de Cristo. Todo o plano do culto sacrifical era uma representação da morte do Salvador para redimir o mundo. Não haveria eficácia nessas ofertas, quando o grande acontecimento a que por séculos haviam apontado, se viesse a consumar.

Uma vez que toda a ordem ritual era simbólica de Cristo, não tinha valor sem Ele. Quando os judeus selaram sua rejeição de Cristo, entregando-O à morte, rejeitaram tudo quanto dava significação ao templo e seus cultos. Sua santidade desaparecera. Estava condenado à destruição. Daquele dia em diante, as ofertas sacrificais e o serviço com elas relacionado eram destituídos de significado. Como a oferta de Caim, não exprimiam fé no Salvador. Condenando Cristo à morte, os judeus destruíram virtualmente seu templo. Quando Cristo foi crucificado, o véu interior do templo se rasgou em dois de alto a baixo, significando que o grande sacrifício final fora feito, e que o sistema de ofertas sacrificais cessara para sempre.

“Em três dias o levantarei”. Por ocasião da morte do Salvador as potências das trevas pareciam prevalecer, e exultaram em sua vitória. Do fendido sepulcro de José, porém, saiu Jesus vitorioso. “Despojando os principados e potestades, os expôs publicamente e deles triunfou em Si mesmo” Colossences 2:15. Pela virtude de Sua morte e ressurreição, tornou-Se o ministro do “verdadeiro tabernáculo, o qual o Senhor fundou, e não o homem” Hebreus 8:2. Foram homens que erigiram o tabernáculo judaico; homens construíram o templo; o santuário de cima, porém, do qual o terrestre era o símbolo, não foi construído por nenhum arquiteto humano. “Eis aqui o Homem cujo nome é Renovo; Ele mesmo edificará o templo do Senhor, e levará a glória, assentar-Se-á, e dominará no Seu trono” Zacarias 6:12, 13.

O serviço sacrifical que apontara a Cristo passou, mas os olhos dos homens voltaram-se para o sacrifício verdadeiro pelos pecados do mundo. O sacerdócio terrestre terminou; mas nós olhamos a Jesus, o ministro do novo concerto, e “ao sangue da aspersão, que fala melhor do que o de Abel” Hebreus 12:24. “O caminho do santuário não estava descoberto enquanto se conservava em pé o primeiro tabernáculo, […] mas, vindo Cristo, o sumo sacerdote dos bens futuros, por um maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, […] mas por Seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna redenção” Hebreus 9:8-12.

“Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por Ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles” Hebreus 7:25. Conquanto o serviço houvesse de ser transferido do templo terrestre ao celestial; embora o santuário e nosso grande Sumo Sacerdote fossem invisíveis aos olhos humanos, todavia os discípulos não sofreriam com isso nenhum detrimento. Não experimentariam nenhuma falha em sua comunhão, nem enfraquecimento de poder devido à ausência do Salvador. Enquanto Cristo ministra no santuário em cima, continua a ser, por meio de Seu Espírito, o ministro da igreja na Terra. Ausente de nossos olhos, cumpre-se, entretanto, a promessa que nos deu ao partir: “Eis que Eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos” Mateus 28:20. Conquanto delegue Seu poder a ministros inferiores, Sua vitalizante presença permanece ainda em Sua igreja.

“Visto que temos um grande sumo sacerdote, Jesus, Filho de Deus […] retenhamos firmemente a nossa confissão. Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-Se de nossas fraquezas; porém um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado. Cheguemos pois com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno” Hebreus 4:14-16.

Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, Capítulo 16.

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Escritor & Evangelista da União Central Brasileira

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