I. Bíblia – A palavra Bíblia, usada com referência às Escrituras Sagradas desde o IV século, é a forma latina da palavra grega Bíblia, plural neutro de Biblion, que por sua vez é diminutivo de Biblos – nome grego para a planta da qual se fazia o papel – papiro. Pelo uso que se fez do papiro é que biblos veio a significar livro e biblion um livro pequeno.
Os fenícios se ocupavam grandemente do comércio de papiro, por isso no segundo século a.C. deram o nome de Biblos ao seu principal porto, passando depois à cidade, e conservado até hoje para as suas ruínas. A palavra Biblos encontra-se em Marcos 12:26 como referência a um livro de Velho Testamento, ou a um grupo no plural para designar os livros dos profetas – Daniel 9:2. O plural usado no Velho Testamento passou à Igreja Cristã e as Escrituras são designadas por livros, livros divinos, livros canônicos.
O nome Bíblia para o conjunto dos livros sagrados, foi usado pela primeira vez por Crisóstomo, no IV século.
Alguns pais da Igreja denominaram as Escrituras de Biblioteca Divina.
II. Escrituras – O Novo Testamento, que ocupa menos da terceira parte do Velho, usa a expressão – Os Escritos ou as Escrituras para os livros do Antigo Testamento, em Mateus 21:42 e João 5:39.
III. Outras Expressões
1. Nomes Técnicos:
a) A Palavra de Deus – Heb. 4: 12
b) A Escritura de Deus – Êxo. 32:16
c) As Sagradas Letras – II Tim. 3:15
d) A Escritura da Verdade – Dan. 10:21
e) As Palavras da Vida – Atos 7:38
f) As Santas Escrituras – Rom. 1:2
2. Nomes figurativos:
a) Uma luz. “Uma luz para o meu caminho.” Sal. 119:105.
b) Um espelho – Tiago 1:23
c) Ouro fino – Sal. 19:10
d) Uma porção de alimento – Jó 23:12. Leite – I Cor. 3:2. Pão para os famintos – Deut. 8:3
e) Fogo – Jer. 23:29
f) Um martelo – Jer. 23:29
g) Uma espada do Espírito – Ef. 6:17
IV. Pentateuco – Etimologicamente, Pentateuco significa cinco estantes, onde se colocavam os livros e depois, por metonímia, os próprios livros. Pesquisando um pouco mais tem-se a impressão de que as estantes eram aqueles pedaços de madeira que sustentavam os rolos, vindo depois a designar os próprios rolos.
O termo pentateuco, de origem grega, significando cinco rolos tem sido usado para os cinco livros de Moisés, enquanto o nome hebraico para estes mesmos livros é Torá. Este vocábulo começou a ser usado para os primeiros cinco livros da Bíblia depois da tradução da Septuaginta.
Estes livros constituem a primeira divisão do Cânon Hebraico, que é formado, como é do conhecimento geral, da Lei, dos Profetas e dos Escritos.
Eruditos modernos têm usado o termo “Hexateuco” em vez de Pentateuco, por adicionarem aos primeiros livros da Bíblia o livro de Josué, por notarem muita afinidade entre os seis. Nenhuma razão plausível existe para a aceitação desta nova nomenclatura, desde que o termo tem sido usado por críticos que não admitem tenha sido Moisés o autor do Pentateuco.
V. Testamento – Este vocábulo não se encontra na Bíblia como designação de uma de suas partes. Sabemos que toda a Bíblia se divide em duas partes chamadas Antigo Testamento e Novo Testamento; contendo a primeira, os escritos elaborados antes de Cristo, a segunda registra o que foi redigido no primeiro século da nossa era.
A palavra portuguesa testamento corresponde à palavra hebraica “berith” – aliança, pacto, contrato, e designa aquela aliança que Deus fez com o povo de Israel no Monte Sinai, aliança sancionada com o sangue do sacrifício como vemos em Êxodo 24:1-8; 34:10-28. Sendo esta aliança quebrada pela infidelidade do povo, Deus prometeu uma nova aliança (Jer. 31:31-34) que deveria ser ratificada com o sangue de Cristo. (Mat. 26:28). Os escritores neotestamentários denominam a primeira aliança de antiga (Heb. 8:13), contrapondo-lhe a nova. (II Cor. 3:6, 14).
Os tradutores da Septuaginta traduziram “berith” para “diatheke”, embora não haja perfeita correspondência entre as palavras, desde que berith designa aliança (compromisso bilateral) e diatheke tem o sentido de “última disposição dos próprios bens”, “testamento” (compromisso unilateral).
Pela figura de linguagem, conhecida como metonímia, as respectivas expressões “antiga aliança” e “nova aliança” passaram a designar a coleção dos escritos que contém os documentos respectivamente da primeira e da segunda aliança.
O termo testamento veio até nós através do latim quando a primeira versão latina do Velho Testamento grego traduziu diatheke por testamentum. São Jerônimo revisando esta versão latina manteve a palavra “testamentum”, eqüivalendo ao hebraico “berith” – aliança, concerto, quando a palavra como já foi visto não tinha essa significação no grego. Afirmam alguns pesquisadores que a palavra grega para contrato, aliança deveria ser suntheke, por traduzir melhor o hebraico “berith”.
As denominações Antigo Testamento e Novo Testamento, para as duas coleções dos livros sagrados, começaram a ser usadas no final do II século AD, quando os evangelhos e outros escritos apostólicos foram considerados como Escrituras.
O cristianismo distinguiu duas etapas na manifestação do dom de Deus à humanidade:
1ª) A antiga – feita por Deus ao povo de Israel. II Cor. 3:14.
2ª) A segunda ou nova designa a união que o próprio Deus, tomando a forma humana, selou com o homem pela oblação de Cristo. II Cor. 3:6.
VI. Torah – Palavra derivada do verbo Yarah, que no “hifil” significa lançar, jogar (Êxo. 15:4, I Sam. 20:36) e de modo especial lançar flechas para se conhecer a vontade divina (Jos. 18:6; II Reis 13:17). O mesmo verbo é usado no sentido de mostrar com a mão, apontar com o dedo (Gên. 46:28; Êxo. 15:25). A significação fundamental de yarah é, portanto; indicar uma direção. O substantivo cognato tem o sentido bíblico mais corrente: ensinamento, instrução, como se deduz da leitura de Isaías 30:9, 42:4; Miquéias 4:2; Malaquias 2:6; Jó 22:22, onde esta palavra aparece.
Do estudo desta palavra conclui-se que o termo português “lei” não traduz o vocábulo hebraico em toda a sua extensão. A torah é o ensinamento que inspira bom procedimento em nosso viver.
VII. Nomes dos Livros da Bíblia – Estes nomes são de origem hebraica, grega e latina.
Os nomes pelos quais são conhecidos, hoje, os livros da Bíblia vêm da Septuaginta (tradução do hebraico para o grego feita no III século a.C.), por isso muitos deles são gregos.
Os títulos foram dados levando-se em consideração duas coisas: a matéria principal contida no livro e os nomes já usados pelos hebreus alexandrinos.
Os judeus designavam os livros do Antigo Testamento pelas primeiras palavras com que se iniciavam.
a) Gênesis – Em grego origem, pois ali é revelada a origem do mundo, do homem e do povo hebreu. Os judeus o chamavam de “bereshith” = no princípio. Gênesis em hebraico seria toledoth, do verbo hebraico yalah, que significa gerar.
b) Êxodo – Palavra grega formada da preposição ec, denotando separação e ódos = caminho. Êxodo portanto significa saída, caminho para fora. É a história da saída do povo de Israel do Egito. Os hebreus o chamavam de Vele semoth = eis aqui os nomes.
c) Levítico – Do grego leviticon, por ser escrito para a tribo de Levi. São leis para os sacerdotes da tribo de Levi. O título hebraico tirado das primeiras palavras do livro é vaiicra = e Ele chamou.
d) Números – O nome Números provém da Vulgata (Numeri), que é a tradução do grego Arithmoi. Os judeus o denominavam de bam ebbar = e falou. O nome números foi dado por causa dos dois recenseamentos do povo de Israel, mencionados no livro.
e) Deuteronômio – Palavra grega composta de deuteros – segunda e nomos – lei. Foi assim denominado porque as leis do livro de Êxodo aparecem aqui repetidas.
f) Crônicas – Do grego chronos = tempo. Narrações históricas segundo a ordem do tempo. Na Bíblia hebraica as Crônicas formavam um só volume com o título de divere haiamim, isto é, “acontecimentos diários”.
Os tradutores da Septuaginta dividiram o livro em dois, denominando-os de Paraleipómenas, que quer dizer “coisas omitidas ou esquecidas”, recebendo este nome porque neles se narram fatos omitidos em Samuel e Reis. A tradução de Figueiredo, em português, conservou o nome Paralipômenos.
O nome Crônicas foi dado por São Jerônimo, na Vulgata.
g) Ester – Nome da principal personagem do livro. Palavra persa que significa estrela. O nome hebraico é “Hadhassah”.
h) Salmos – Ignora-se o nome com que os hebreus designavam esta coleção. Modernamente, na Bíblia hebraica aparecem sob a designação de Thehilim – os louvores. Os setenta o denominaram de Salmos, palavra grega, derivada do verbo “psallo”, que significa tocar instrumentos de corda.
i) Provérbios – Os judeus, denominando os livros pela palavra inicial, conheciam este pela designação de Mischele, termo derivado de maschal, que significa comparação, semelhança, e por extensão máxima, provérbio. Na Septuaginta, recebeu o título de Paromiai que quer dizer provérbios, comparações, parábolas.
O nome Provérbios se derivou da Vulgata, que lhe deu o nome de “Liber Proverbiorum”.
j) Eclesiastes – O título deste livro é tirado do nome que toma o autor “Koheleth”, cuja tradução grega é Eclesiastes, palavra que significa “aquele que fala a uma assembléia”.
O nome hebraico “Koheleth” derivado do verbo “kahal”, significa aquele que chama, convoca para instruir, especialmente com propósitos religiosos.
São Jerônimo, o erudito autor da Vulgata Latina, afirma que Eclesiastes significa no grego – aquele que reúne a congregação. Percebe-se logo que a palavra tem a mesma origem de ecclesia – igreja.
l) Cânticos dos Cânticos – O título hebraico do livro, formado pelas duas primeiras palavras, é shir hashirim, que traduzido em português é Cântico dos Cânticos.
Tem esse nome por ser o cântico por excelência, o mais belo dos cânticos. Segundo a Gramática Hebraica, de Gesenius, esta é uma das maneiras de construir o superlativo naquela língua. As construções – mestre dos mestres, senhor dos senhores, rei dos reis, tão usuais em português, são uma decisiva influência semítica através da Bíblia.
“A Septuaginta e a Vulgata adotaram o nome dado ao livro no “Cânon Hebraico”, mas algumas versões da Bíblia chamam-no ‘O Cântico de Salomão’ ou ‘Cantares de Salomão’. (Panorama do Velho Testamento, vol. 1, p. 153).
m) Apocalipse – É a transliteração da palavra grega, que se fosse traduzida seria revelação, como aparece em inglês.
O vocábulo foi formado dos seguintes elementos:
1º) Da preposição apó, que tem o sentido de separação de alguém ou de alguma coisa, como ilustram as palavras apogeu, apóstata, apóstolo, apócrifo, apoteose.
José Oiticica, no Livro Manual de Análise, pág. 110, escreveu: “Apó – fora de, idéia de afastamento, separação, movimento ou ação contrária à indicada pelo radical.” Apó tem portanto sentido negativo, equivalendo ao prefixo latino des.
2º) Calipsis – ação de ocultar, esconder, do verbo calipto – cobrir, esconder.
Do exposto acima conclui-se que: Apocalipse significa o que não deve estar escondido, aquilo que deve ser conhecido de todos.
Os outros nomes não foram estudados por não apresentarem o mesmo interesse.
Pedro Apolinário, História do Texto Bíblico, Capítulo 9.