“… e adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas.” (Apocalipse 14:7)
Um dos temas mais desenvolvidos na Bíblia, especialmente no livro do Apocalipse, é a distinção feita por Deus entre o verdadeiro e o falso, o santo e o comum. Neste contexto, destacam-se o conflito e o contraste entre o verdadeiro e o falso culto (Mateus 24:24; João 4:23-24).
Esse conflito se intensifica e atinge seu clímax pouco antes do retorno de Cristo, quando Satanás redobrará seus esforços para confundir as pessoas quanto à adoração (Apocalipse 13:4, 8, 11-18; 16:13-14).
O apelo final do primeiro anjo para adorar a Deus como o Criador (Apocalipse 14:7) visa desviar nossa atenção de toda forma de culto ou filosofia que pretenda substituí-Lo pela devoção à criatura, e conduzir-nos de volta ao pleno significado da vida expresso na verdadeira adoração a Deus.
No princípio, Deus criou…
O convite do primeiro anjo para adorar ao Senhor nos remete imediatamente à primeira revelação divina no livro de Gênesis – revelação que Deus faz de Si mesmo como nosso Criador e Redentor, e que é desenvolvida ao longo das Escrituras.
Gênesis apresenta alguns conceitos fundamentais sobre Deus. Ele é chamado:
- Criador (1:1);
- Juiz (6:11-13);
- Soberano (14:19, 22);
- Misericordioso (18:23-33);
- Mantenedor (48:15).
Todas essas qualidades divinas demonstram um Deus presente, intimamente associado com os seres humanos, não obstante a trágica realidade do pecado (Gênesis 3:15; João 3:16; Filipenses 2:5-8).
Ao contrário da visão deísta, segundo a qual Deus criou o mundo e o abandonou à própria sorte, o modo especial como o Criador interage com o homem nos leva a uma melhor compreensão sobre o verdadeiro caráter e propósito divinos (ver, por exemplo, Gênesis 2:7; 3:8; 18:17; 39:21).
Os primeiros versos do Gênesis apresentam o início do mundo físico, da vida, e da própria história a partir dos atos criativos de Deus. Todos os livros da Bíblia têm suas raízes no Gênesis, pois tudo será duvidoso se nossa origem for incerta.
Não admira que este livro esteja sob feroz ataque do inimigo de Deus e da verdade. Satanás tem aspirado exercer a prerrogativa divina de liderança e obter para si a fidelidade e a honra que pertencem somente a Deus (Isaías 14:12-14; Ezequiel 28:12-16).
O direito de governar, contudo, está fundamentando na criação do universo e da vida (Apocalipse 4:11), e Satanás não passa de um ser criado. Apesar disso, ele se recusa a aceitar os limites de sua natureza, e insiste em levar adiante suas infundadas pretensões.
De modo que seus ataques são especialmente dirigidos contra o relato bíblico da criação e tudo o que se relacione com ele. A dúvida tem sido um de seus ardis mais eficazes para enfraquecer nossa fé na mensagem clara e distintiva sobre nossas origens e, consequentemente, abalar a crença nas demais verdades que compõem as Escrituras.
Por essa razão, Jesus Cristo e os autores inspirados do Novo Testamento testificaram da autenticidade e validade do livro de Gênesis, confirmando seu conteúdo objetivo (Mateus 19:3-8; Lucas 17:26-30; Atos 7:2-17; Romanos 4:3, etc.) e reafirmando o testemunho de toda a Escritura quanto à origem da matéria e da vida (Salmo 95:3-6; Isaías 40:26; Jeremias 10:16, João 1:1-3, etc.).
Desafiando o acaso e o afinalismo
Gênesis 1:1 afirma que Deus existia antes que tempo, espaço e matéria fossem criados, sendo Ele a causa única do universo material. “Ele falou, e tudo se fez; ele ordenou, e tudo passou a existir” (Salmo 33:9). Por Sua vontade, todas as coisas foram criadas (Apocalipse 4:11), e são mantidas “pela palavra do seu poder” (Hebreus 1:3).
Nenhuma outra introdução às Escrituras poderia ser mais apropriada, pois de imediato somos apresentados a um Ser onipotente e eterno, que possui personalidade, vontade e propósito demonstrados no exercício de Sua capacidade criativa. O primeiro verso da Bíblia é o fundamento da verdadeira compreensão sobre a origem do mundo físico.
Pela fé, entendemos que foi o universo formado pela palavra de Deus, de maneira que o visível veio a existir das coisas que não aparecem. (Hebreus 11:3)
O aspecto do poder criador de Deus salientado aqui se opõe à explicação naturalista sobre a origem do mundo físico e suas formas de vida. A teoria da evolução não atribui qualquer significado sobrenatural a esses eventos, não obstante as fortes evidências em favor das causas inteligentes e contra o naturalismo demonstradas recentemente pela Matemática, pela Bioquímica e pela Biologia Molecular.
Com efeito, as controvérsias acerca da criação não se baseiam na ausência de evidências a seu favor, mas na recusa dos defensores da evolução em apreciá-las objetivamente.
É preciso reconhecer que tanto o criacionismo como o evolucionismo não são ciência, mas doutrina. Como se sabe, o método científico exige observação, experimentação e repetibilidade. Isto significa que um experimento realizado dentro de certas condições deverá ter os mesmos resultados se repetido dentro das mesmas condições. Teorias e leis científicas são estabelecidas a partir dessa dinâmica.
Com base nesse princípio, criação e evolução se enquadram mais no domínio da filosofia do que das ciências naturais, visto que as condições do passado remoto não podem ser reproduzidas experimentalmente em um laboratório. Uma vez que esses eventos primitivos não estão sujeitos à experimentação científica, ambas as explicações envolvem uma escolha filosófica.
Consideremos, porém, quanta convicção o evolucionismo reclama de seus adeptos ao refletirmos sobre a impossibilidade da origem espontânea do universo físico e da vida, em contraste com a crença na inspiração e revelação das Escrituras.
Condições singulares para a existência da vida na Terra
A vida na Terra só é possível dentro de parâmetros muito estreitos e delicados que sugerem planejamento, desígnio e propósito. Citamos a seguir alguns desses parâmetros. (1)
A vida como nós a conhecemos pode existir e reproduzir somente em uma limitada faixa próxima de 28ºC. Pequena variação neste limite poderia resultar numa extinção da vida no planeta. O oceano e a umidade atmosférica ajudam a estabilizar a temperatura na face da Terra dentro dos limites para a manutenção da vida.
Se a Terra fosse menor, como a Lua, por exemplo, que é cerca de um quarto do diâmetro da Terra, as forças gravitacionais seriam pequenas para evitar que tanto a atmosfera, como a água fosse para o espaço. A temperatura da Lua é cerca de 116ºC durante o longo dia (duas semanas) e cai rapidamente para -138ºC durante a longa noite.
Se a Terra não tivesse rotação diária sobre seu eixo, pouca área de sua superfície poderia ser habitada. No caso de Mercúrio, a rotação se faz somente uma vez por ano. Assim, a mesma face permanece muito tempo exposta ao sol, e a temperatura é fatalmente alta, e do outro lado, intoleravelmente baixa.
Se nossa Terra tivesse maior densidade ou maior tamanho, a atmosfera poderia ser perigosamente baixada pelo aumento da gravidade e a evaporação da água reduzida. A atmosfera da Terra forma uma cobertura protetora para a vida e, juntamente com o campo magnético, é efetiva especialmente na proteção de radiações nocivas à vida e meteoritos.
Ao referir-se à composição do ar, Herbert Morris considera os desastrosos resultados que se seguiriam a qualquer mudança dessa fórmula:
Não se poderia fazer qualquer modificação na composição do ar, sem torná-lo nocivo à vida tanto dos homens quanto dos animais e dos vegetais. Se a quantidade de nitrogênio fosse ligeiramente aumentada, todas as funções vitais do homem seriam efetuadas com dificuldade, dor e vagareza, e o pêndulo da vida cedo pararia. Se, por outro lado, a proporção de oxigênio fosse aumentada, todos os processos da vida seriam acelerados até se tornar ela febril, e a parte animal se complicaria, destruindo-se, por assim dizer, com seu próprio fogo. Se, novamente, modificassem a proporção, misturando duas partes de nitrogênio para uma de oxigênio, o resultado seria óxido de nitrogênio que, se inspirado durante dez minutos, converteria a raça humana toda em tantos maníacos intoxicados e a terra num vasto hospício, ou pandemônio! Também se duas partes de oxigênio para duas de nitrogênio fossem usadas, o resultado seria óxido nítrico, que é tão irritante que faz a glote se contrair espasmodicamente, cada vez que se tentasse inspirá-lo! Vemos, então, que, dentre mil propostas de modificação da fórmula usada por Deus, há só uma que é satisfatória, e é a que Ele usou e a que serve para o homem e os animais. (2)
A complexidade, função e desígnio de todos os níveis de organização da vida demonstram indubitavelmente a intervenção de uma Inteligência Suprema – verdades que a visão ateísta do naturalismo metafísico é incapaz de explicar.
A complexidade da vida
George Wald, em ”
“, observa que para fabricar um organismo não só é necessária tremenda variedade de substâncias em quantidades e proporções adequadas, como também a perfeita coordenação das mesmas, a nível molecular, o que não está ao alcance de nenhum químico. Ele argumenta que nosso conceito habitual do que seja impossível, possível, ou certo deriva da nossa experiência, ou seja, o número de casos abrangidos por uma vida humana ou, quanto muito, pela história humana conhecida.
Assim, quando levamos em conta eventos na escala da experiência humana, admite-se que a origem espontânea da vida é impossível. Não obstante, Wald atribui a origem da vida à categoria dos fenômenos do “pelo menos uma vez”, isto é, por mais improvável que julguemos esse evento ou qualquer de suas etapas, um intervalo suficientemente longo permitiria quase com certeza que ele acontecesse pelo menos uma vez. Neste caso, o “impossível” se tornaria possível, o possível, provável, e o provável, virtualmente certo. “Basta esperar, o tempo, por si só, realiza milagres”. (3)
Uma mente aberta e inquiridora suscitará as seguintes questões: Quantas tentativas seriam de fato necessárias para se chegar ao estágio atual da vida, e quanto tempo esse milagre demandaria? Mesmo Wald reconhece essa impossibilidade. A menos que ocorra um milagre, “o impossível” não se tornará “virtualmente certo”. O microbiologista ateu Michael Denton reconhece esse fato ao declarar:
A complexidade do tipo mais simples de célula é tão grande que é impossível aceitar que tal objeto possa ter sido reunido repentinamente por algum tipo de acontecimento caprichoso ou altamente improvável. Tal ocorrência seria indistinguível de um milagre. (4)
Edwin Conklin observa que “a probabilidade de a vida originar-se por acaso é comparável à probabilidade de um dicionário completo surgir como resultado da explosão de uma tipografia”. Essa impossibilidade se torna ainda mais clara quando consideramos a incrível complexidade específica da vida presente na mensagem encontrada no DNA de um organismo tão ínfimo como a ameba unicelular.
Richard Dawkins, cientista darwnista convicto e professor de zoologia na Universidade de Oxford, admite que a mensagem encontrada apenas no núcleo de uma pequena ameba é mais do que os 30 volumes combinados da Enciclopédia Britânica, e a ameba inteira tem tanta informação em seu DNA quanto mil conjuntos completos da mesma enciclopédia! Em outras palavras, se fossemos ler todos os A, T, C e G na “injustamente chamada ameba ‘primitiva'” (como Dawkins a descreve), as letras encheriam mil conjuntos completos de uma enciclopédia! (5)
Há que se considerar, porém, as características singulares a ainda mais complexas que diferenciam o homem dos demais seres vivos. Escrevendo sobre as semelhanças entre o DNA humano e o DNA dos chimpanzés, Michael D. Lemonick e Andrea Dorfman declaram significativamente:
No entanto, diferenças minúsculas, espalhadas por todo o genoma, têm feito toda a diferença. Agricultura, língua, arte, música, tecnologia e filosofia – todas as conquistas que nos fazem profundamente diferentes dos chimpanzés e que fazem um chimpanzé num terno e gravata parecer tão profundamente ridículo – estão de alguma forma codificadas em frações minúsculas de nosso código genético. Ninguém ainda sabe exatamente onde estão ou como elas funcionam, mas em algum lugar nos núcleos de nossas células há muitos aminoácidos, arranjados numa ordem específica, que nos dotaram com a capacidade intelectual para suplantarmos em pensar e fazer nossos parentes mais próximos na árvore da vida. Elas nos dão a capacidade de falar, escrever, ler, compor sinfonias, pintar obras de arte, e aprofundar-nos da biologia molecular que faz de nós o que somos. (6)
De fato, vista a partir dessa perspectiva, a explicação evolucionista mostra-se tão ilógica quanto absurda. Ela pretende explicar a origem do mundo e do universo a partir de eventos improváveis e processos casuais dependentes de condições incomuns e longos períodos de tempo.
Se a visão naturalista para o surgimento de organismos relativamente simples como os unicelulares (que, como foi mostrado, são mais complexos do que a sua aparência possa sugerir) envolve um grau tão significativo de improbabilidades, que dizer então das formas mais complexas de vida, como o homem?
Parece incoerente e até mesmo grosseiro atribuir a origem da inteligência a causas não inteligentes, especialmente quando se considera a impressionante complexidade do cérebro humano.
O astrônomo e evolucionista, Carl Sagan, o chamou de a “máquina mais maravilhosa do que qualquer uma que o ser humano já tenha visto”. Em seu livro de sucesso, Cosmos, ele escreve:
Há muitos vales nas montanhas da mente, circunvoluções que aumentam muito a área da superfície disponível no córtex cerebral para armazenagem da informação em um crânio de tamanho limitado. A neuroquímica do cérebro é estonteantemente movimentada, circuito de uma máquina muito poderosa do que qualquer outra idealizada pelo homem. O conteúdo de informação do cérebro humano expresso em bits é provavelmente comparável ao número de conexões entre os neurônios, cerca de 100 trilhões, 10 elevado a 14, de bits. Se escritas, por exemplo, em inglês, estas informações preencheriam cerca de vinte milhões de volumes, tantos quantos os existentes nas maiores bibliotecas do mundo. O equivalente a vinte milhões de livros está dentro da cabeça de cada um de nós. O cérebro é um local muito grande em um espaço muito pequeno. (7)
A despeito dos grandes avanços científicos e tecnológicos das últimas décadas, as mentes mais brilhantes do mundo ainda não foram capazes de desenvolver algo semelhante ao cérebro humano. Parece-nos bastante improvável que fenômenos naturais desprovidos de inteligência, operando de maneira casual e aleatória, pudessem fazê-lo.
Uma escolha inteligente
O Criador dotou os homens com razão e consciência de modo que pudessem investigar as obras de Deus e encontrar nelas sinais distintivos de Sua bondade, sabedoria e poder. Conjeturar a respeito das origens significa ignorar o que a Bíblia e a natureza revelam sobre o Criador. A Escritura declara:
Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis. (Romanos 1:20)
Deus é o nosso Criador e Ele nos criou à Sua imagem (Gênesis 1:1, 26 e 27). Esta é, sem dúvida, uma boa razão para O adorarmos. O salmista reconheceu esta verdade ao declarar:
Graças te dou, visto que por modo assombrosamente maravilhoso me formaste; as tuas obras são admiráveis, e a minha alma o sabe muito bem. (Salmo 139:14)
A vida não é o resultado de processos aleatórios e espontâneos, ocorridos durante longos períodos de tempo com base em uma matéria inanimada. Em contraste com esse modelo impessoal, erigido sobre a areia do tempo, do acaso e das imaginações humanas, o relato bíblico da criação revela um Deus pessoal cujo profundo amor se manifesta no propósito e no cuidado com que concebeu e mantém Suas criaturas.
A aceitação de que Deus nos criou à Sua imagem e nos sustenta em todos os aspectos exerce um efeito transformador sobre nosso conceito de vida, pois revelam uma origem nobre baseada em planejamento, desígnio e intenção – evidências da vontade divina que nem mesmo o pecado pode frustrar (ver Apocalipse 21:1-5).
O apelo contido na primeira mensagem angélica para adorar o Criador indica um dos traços distintivos do verdadeiro Deus, em contraste com os falsos deuses, que não têm o poder de criar. Somente Deus pode requerer adoração, visto que o Universo e a vida são produtos de Seu poder criador.
Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o poder, porque todas as coisas tu criaste, sim, por causa da tua vontade vieram a existir e foram criadas. (Apocalipse 4:11)
Notas e referências
1. Admir Arrais de Matos. O Herói da Ciência Moderna (Ciência e Religião). São Paulo: Instituto Adventista de Ensino, 1983, p. 26.
2. Ibid., p. 27.
3. Ibid., p. 18.
4. Norman Geisler, Frank Turek. Não Tenho Fé Suficiente para ser Ateu. São Paulo: Editora Vida, 2006, p. 124.
5. Ibid., p. 118.
6. Michael D. Lemonick, Andrea Dorfman.
Time, Sunday, Oct. 01, 2006. Acesso em: 10 jun. 2014, 12h28min.
7. Carl Sagan. Cosmos. 1980, p. 277 e 278.
Fonte: Três Mensagens