Por que Deus quis matar Moisés no caminho de volta ao Egito?

O relato de Êxodo 4:24-26 é bastante estranho, pois, após Deus ter comissionado Moisés para libertar da escravidão os israelitas, esse mesmo Deus quis matá-lo no caminho de volta ao Egito. Como entender esse incidente?

Realmente, parece não ter sentido o fato de Deus chamar Moisés para uma missão e, logo em seguida, tentar matá-lo. Além disso, o relato pode dar a impressão de que Deus seria bastante instável emocionalmente, podendo agradar-Se de alguém e escolhê-lo para uma importante missão, para, em seguida, desgostar-Se do escolhido a ponto de querer matá-lo. Como, pois, entender o incidente ocorrido com Moisés naquela estalagem na rota Midiã-Egito?

O contexto em que está inserido o verso 24 (que menciona o risco de morte corrido por Moisés nas mãos do Senhor) apresenta-nos cinco personagens: Jetro (sogro de Moisés), o Senhor (que havia ordenado a volta de Moisés ao Egito), Moisés (aquele que o Senhor quis matar), Zípora, esposa de Moisés (que, às pressas, circuncidou um filho), e o filho que foi circuncidado. Desses cinco, Zípora é o personagem-chave para a compreensão do relato da quase morte de Moisés.

A Bíblia nos informa que Zípora, esposa de Moisés (Êx 2:21), era midianita (Nm 10:29) e, assim, descendente de Abraão. Ela fazia parte de uma família de oito irmãos (sete mulheres e um homem, cf. Êx 2:16; Nm 10:29). Seu pai chamava-se Jetro (Êx 3:1; 4:18), também chamado de “Reuel”(Êx 2:18; Nm 10:29 – talvez seu nome religioso, sacerdotal). Quando conheceu Moisés, Zípora trabalhava como pastora de ovelhas (Êx 2:16-20). Foi mãe de dois filhos, Gérson e Eliézer (Êx 18:3, 4).

Em Êxodo 18:2 e 3, é dito que Moisés enviou Zípora e os dois filhos de volta a Jetro, o pai dela. Isso certamente ocorreu antes de chegarem ao Egito. Embora a Bíblia não seja explícita quanto aos motivos desse envio, o relato da circuncisão de um dos filhos, efetuada por ela, e as palavras “tu és para mim esposo sanguinário” (Êx 4:25) indicam que Zípora era muito sensível ao sofrimento. Daí Moisés enviá-la de volta ao pai, para que ela não presenciasse todas as pragas que se abateriam sobre o Egito, o que resultou em muita destruição, sofrimento e morte de pessoas e de animais.

Ellen White diz que “Zípora era adoradora do verdadeiro Deus. Tinha disposição tímida, acanhada, e era gentil, afetuosa, e grandemente sensível à vista do sofrimento; e foi por esta razão que Moisés, quando a caminho para o Egito, consentiu que ela voltasse a Midiã. Ele quis poupar-lhe a dor de testemunhar os juízos que deveriam cair sobre os egípcios” (Patriarcas e Profetas, p. 383, 384).

Temos agora os elementos que nos permitem entender a razão de Deus em querer matar Moisés naquela estalagem, no caminho para o Egito. Pela sensibilidade de Zípora ao sofrimento, Moisés não havia circuncidado seu segundo filho (Eliézer). Esse patriarca, em consideração aos sentimentos da esposa, passara por cima da clara ordem divina quanto à circuncisão: “[…] todo macho entre vós será circuncidado […]; será isso por sinal de aliança entre Mim e vós. O que tem oito dias será circuncidado entre vós” (Gn 17:10, 11). Desatendendo ao mandado divino, Moisés incorria no desfavor de Deus e, assim, não podia contar com a bênção e a proteção divinas.

Os detalhes que faltam ao relato bíblico são supridos por Ellen White: “Um anjo apareceu-lhe [a Moisés] de maneira ameaçadora, como se o fosse imediatamente destruir. […] Moisés, porém, lembrou-se de que havia desatendido um dos mandos de Deus; cedendo à persuasão de sua esposa, negligenciara efetuar o rito da circuncisão em seu filho mais moço. Deixara de satisfazer a condição pela qual seu filho poderia ter direito às bênçãos do concerto de Deus com Israel. […] Zípora, temendo que seu marido fosse morto, efetuou ela mesma o rito, e o anjo então permitiu a Moisés que prosseguisse com a jornada” (Ibid., p. 255, 256).

As lições do relato da quase morte de Moisés são claras: (1) Deus espera que todos, incluindo os líderes, obedeçam ao que Ele ordenou; (2) as ordenanças divinas estão acima do gosto e sensibilidade pessoais – deve-se obedecer, porque Deus ordenou; (3) não há segurança para o transgressor. Os anjos não podem proteger os que transgridem conscientemente e propositalmente o que Deus ordenou (cf. Ibidem, p. 256).

Autor: Ozeas C. Moura, doutor em Teologia Bíblica e professor no Unasp – Campus Engenheiro Coelho, SP. Publicado na RA de Mai/2011.

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Escritor & Evangelista da União Central Brasileira

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