Qual a base Bíblica do Dom Profético de Ellen White?

A Igreja Adventista do Sétimo Dia advoga o dom de profecia como válido nestes últimos dias e defende sua legítima manifestação como sendo uma das características da igreja remanescente.  Um estudo sobre este tema poderá esclarecer se tal afirmação tem apoio Bíblico escriturístico.

Primeiramente analisar-se-á de maneira sucinta o contexto histórico, bem como o desenvolvimento do dom de profecia em toda a Bíblia.  Posteriormente estudar-se-á os textos que abordam especificamente a manifestação da orientação profética na igreja nestes últimos dias.  

É relevante que se estude este tema, sobretudo por causa das implicações para o tempo presente da atuação do dom profético e sua relação com a igreja remanescente.

O estudo compõe-se de três partes, introdução, um capítulo com subdivisões e, por fim o resumo e conclusões.  O presente trabalho será realizado com base em concordâncias, dicionários e comentários bíblicos, além de léxicos, periódicos e demais fontes teológicas. 

BASE BÍBLICA PARA O DOM PROFÉTICO NA IASD


A compreensão da permanência neotestamentária do dom profético, sua validade pós-cruz e sua manifestação nos últimos dias é de suma importância para comprovar a validade do dom de profecia manifestado na Igreja Adventista do Sétimo Dia. Por outro lado, essa manifestação é contestada por diversos estudiosos da Bíblia  e alguns chamados “cessacionistas”.  

Por isso faz-se necessário um cuidadoso estudo baseado na Bíblia, para analisar se há ou não alguma especificação bíblica de que o dom de profecia é válido para a igreja nos últimos dias, ou se a sua atuação limitou-se apenas ao período vétero-testamentário. 

Como Deus Se Comunica Com o Homem


Antes do pecado, Deus se comunicava face a face com o homem (Gn 3:8) . Mas o pecado trouxe uma ruptura no relacionamento entre o Criador e Suas criaturas (Is 59:2).  

No entanto, a sabedoria divina proveu outros meios pelos quais a divindade pudesse comunicar Sua vontade ao homem. Pode-se citar como exemplo: a consciência (Rm 2:15), os anjos (Hb 1:14) e o testemunho através das coisas criadas (Rm 1:20; At 14:17; Sl 19:1, 2); os patriarcas: Noé (Gn 5-9), Abraão (Gn12-24), Isaque (Gn 26:2-5) e Jacó (Gn 32:24-30). 

Moisés foi um ilustre exemplo de ser humano com quem Deus conversava face a face (Ex 3; 33:11). Deus também se comunicava com os sacerdotes, fazendo conhecida a Sua vontade por meio de Urim e Tumim (Ex 28:30; Lv 8:8; Nm 27:21; 1Sm 22:10; 28:6). 

Através de sonhos como os de José (Gn 37), os sonhos do carpinteiro e do padeiro de Faraó (Gn 40), o sonho de Faraó (Gn 41), o sonho do Soldado Midianita (Jz 7) e os sonhos de Nabucodonosor (Dn 2 e 4). Através dos profetas (Am 3:7; 2Cr 36:15), e a revelação de Jesus Cristo (Hb 1:1 e 2; Jo 14:9). 

O Ministério Dos Profetas


Na história do povo de Deus é comum ver a atuação dos profetas. Segundo Herbert E. Douglass “Embora Deus tenha empregado muitos métodos, o ‘profeta’ foi a forma mais reconhecida de comunicação divina” e também “Os profetas têm sido os canais mais visíveis do sistema divino de comunicação”.
   
O desprezo para com os profetas traria calamidades e sua rejeição era a rejeição da própria palavra de Deus (2Cr 36:16). Champlin declara que: “O simples fato de que a palavra ‘profeta’ ocorre por mais de trezentas vezes no Antigo Testamento mostra-nos a importância da função naquele contexto”. 

A Linhagem Dos Profetas


A iniciativa do chamado de alguém para o ofício profético depende de Deus, e, às vezes sem consultar as conveniências do profeta (Ex 3:1 – 4:17; Is 6; Jr 1:4-19; Ez 1-3; Os 1:2; Am 7:14,15) e é somente o profeta falso que ousa arrogar-se ao ofício (Jr 14:14; 23:21).  

Deus escolhe para atuar como profetas homens e mulheres, sem fazer qualquer distinção entre ambos, concedendo-lhes a mesma autoridade e prerrogativa. “Por todo os dois Testamentos ‘profetisa’ é a palavra usada em sentido tão largo para as mulheres como a palavra ‘profetas’ é usada em relação aos homens”. 

Exemplos de profetisas em ambos os testamentos: Miriã (Ex 15:20); Débora (Jz 1:7; 4:4); Hulda (2Rs 22:14); a esposa de Isaias (Is 8:3); Ana (Lc 2:36); as filhas  de Filipe (At 21:9).  

Paulo refere-se ao ofício profético em Corinto exercido por homens e mulheres (1Co 11:4). O derramamento do Espírito Santo nos últimos dias, que traz consigo o exercício profético, não faz distinção de sexo (Jl 2:28; At 2:16).

Em um sentido, os primeiros profetas foram os patriarcas, desde Adão até Moisés.  Abraão foi a primeira pessoa a ser chamada de profeta na Bíblia (Gn 20:7), embora Judas, em sua epístola, fale da profecia de Enoque “o sétimo depois de Adão” (Jd 1:14). Moisés foi o primeiro profeta nacional de Israel (Dt 18:15-19). 

Profetas Em o Novo Testamento


A profecia e os profetas formam a maior linhagem de continuidade entre o Antigo e o Novo Testamento. A linguagem profética não terminou com Malaquias, ele mesmo encerra seus escritos com a predição de que enviaria “o profeta Elias” antes que viesse o “grande e terrível Dia do Senhor” (Ml 4:5).  

Segundo Jesus esta profecia cumpriu-se com João Batista (Mt 11:14).  O ensino expresso pelo Nosso Senhor é que o meio divino de comunicação profética transpôs o Antigo Testamento e chegou em o Novo Testamento por meio de João Batista, ou seja, houve uma continuação da linhagem profética (Mt 11:10-14).  

Com respeito a isso, assim se expressa Matyer: “A costumeira divisão em dois testamentos, obscura infelizmente essa maravilhosa unidade do programa revelatório de Deus, porém a linhagem tem continuação desde Moisés até João Batista”. 

Profetas no Primeiro Século da Era Cristã


Vê-se em João Batista, como de fato em seu pai Zacarias (Lc 1:67-79), a repetição do padrão de profecia do Antigo Testamento.  Os evangelhos mencionam outros profetas como: Ana, filha de Fanuel (Lc 2:36); Simeão (Lc 2:25-35)  e o próprio Jesus também era declarado “profeta” (Mt 21:11; Lc 7:16).  Ele referia-Se a Si mesmo como profeta (Lc 24:19; Mt 13:57 e 58).

O Ministério do Espírito Santo e o Dom de Profecia


No Antigo Testamento existem cerca de 18 passagens que associam a inspiração profética com a atividade do Espírito Santo: Nm 24:2; 11:29; 1Sm 10:6-10; 19:20-23; 1Rs 22:24; Jl 2:28, 29; Os 9:7; Ne 9:30; Zc 7:12; Mq 3:8; 1Cr 12:18; 2Cr 15:1; 20:14; 24:20; Ne 9:20 e Ez 11:5.   O Espírito Santo é o representante do nosso Senhor. 

Ele revela Jesus à humanidade. Ele é o “Auxiliador” e o “Espírito da verdade” (Jo 14:16); Ele conduz a toda verdade acerca de Deus (Jo 14:17); Ele ensinaria e faria lembrar os ensinos de Cristo (Jo 14:26). O Espírito Santo dá testemunho de Jesus (Jo 15:26).  

O Espírito não só ensinaria a verdade acerca de Deus, mas continuaria informando a igreja acerca da vontade de Cristo e comunicando constantemente esta mensagem à medida que Jesus a revelasse, bem como, anunciaria as coisas que estariam para acontecer (Jo 16:13-15).   

Para tornar efetiva a revelação da vontade de Cristo para a igreja e aperfeiçoá-la como igreja de Cristo, o Espírito Santo concede dons à igreja (1Co 12:4 e 7).   Um desses dons é o de “profecia” (1Co 12:10; Ef 4:11). 

Por meio desse dom, o Espírito Santo liga-Se a determinados homens e mulheres para comunicarem a outros a verdade sobre Jesus, ou seja, o Espírito fala a respeito de Jesus, e comunica a vontade de Jesus para a Sua igreja, “por meio de pessoas dotadas com o dom de profecia”.  

Jesus atua por intermédio do Santo Espírito para revelar a verdade sobre Deus por meio do Seu profeta. O Espírito Santo sempre foi o agente motivador que inspira os profetas a contar a verdade sobre Jesus (1Pe 1:8-12). Paulo associou o ministério profético ao Espírito Santo (1Ts 5:19, 20).

O Dom de Profecia e a Formação da Igreja Primitiva


Assim como o ministério profético foi uma das características do povo de Deus no Antigo Testamento e dos primeiros anos da era cristã, também este estava presente na Igreja Primitiva:

O novo testamento concede ao dom de profecia um lugar proeminente entre os dons do Espírito Santo, colocando-o uma vez em primeiro lugar e duas vezes em segundo, entre os ministérios de maior utilidade para a igreja (veja Rom. 12:6; I Cor. 12:28; Efés. 4:11). Ela estimulou os crentes a desejar de modo especial o dom de profecia (I Cor. 14:1 e 39). 

A palavra grega usada em o Novo Testamento para profeta é prophetes, esta aparece cerca de 144 vezes. O substantivo pode significar “aquele que proclama e expõe a revelação divina”.   

Cristo disse que estava de acordo com a sabedoria de Deus enviar “profetas e apóstolos” (Lc 11:49).   

O apóstolo Paulo declara que a família de Deus é edificada “sobre o fundamento dos apóstolos e profetas” (Ef 2:19, 20).  

De fato, a igreja cristã sempre foi provida pelo dom profético.   O derramamento do Espírito sobre toda carne traz consigo os seus próprios resultados: “profetizarão” (At 2:18).  

Paulo exorta a igreja de Corinto que procurem com zelo os dons espirituais, “mas principalmente que profetizeis” (1Co 14:1). Como afirma Brown: “A igreja cristã primitiva tinha crentes que possuíam o dom da profecia. Eram considerados um sinal de que o Espírito estava presente na igreja”. 

O Dom Profético nos Últimos Dias


A Bíblia indica que nos últimos dias o Espírito Santo será manifestado na igreja e trará consigo o dom de profecia (At 2:17, 18).  O derramamento do Espírito Santo “com ‘poder’ no petecoste (At 1.8) – algo que continuará até o fim”.   Jesus advertiu que nos últimos dias surgiriam falsos profetas como um dos sinais da segunda vinda, “isso implica que existiriam igualmente profetas verdadeiros”.  

O apóstolo Paulo declara que os dons espirituais continuariam na igreja até sua perfeição (Ef 4:11-14) ou até “a revelação de nosso Senhor Jesus Cristo” (1Co 1:7).   A profecia indica que depois dos 1260 dias proféticos (Ap 12:6, 14)  ficaria um remanescente que “que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus” (Ap 12:17), que é explicitamente definido como o “espírito da profecia” (Ap 19:10).  

Ellen White conclui dizendo:


Nos tempos antigos, Deus falou aos homens pela boca de Seus profetas e apóstolos. Nestes dias ele lhes fala por meio dos testemunhos do Seu Espírito. Não houve ainda um tempo em que mais seriamente falasse ao Seu povo a respeito de Sua vontade e da conduta que este deve ter”. 

Esse dom continua sendo usado como um meio de comunicação entre Deus e Seu povo e torna-se tão necessário hoje quanto foi em épocas anteriores na vida da igreja. Com respeito a isso Champlin acentua “Esse dom continuaria sendo útil se fosse genuíno, não-forçado, embora o ‘cânon’ das Escrituras estivesse já firmemente estabelecido”.

CONCLUSÃO


O dom profético, sendo um meio eficaz no sistema divino de comunicação, foi manifestado desde o dia em que o pecado separou a humanidade de Deus, havendo assim, uma necessidade da divindade se comunicar com o homem.  Durante toda a história do povo de Deus sobre a terra, os profetas foram usados para instruir, exortar, consolar e mostrar ao homem a vontade soberana do Senhor.  

Tal revelação é indispensável para a manutenção da igreja em todos os tempos.  E não podia ser diferente nestes dias em que a igreja de Deus carece de orientação para transpor o paganismo de um mundo anticristão e para enfrentar a grave crise que enredará todo o mundo em um engano devastador.  

É inevitável concluir que, o dom profético é tão importante hoje quanto foi em toda a história da igreja.  E que a sua manifestação, segundo a Bíblia, constitui uma das características da igreja nos últimos dias.

 

Fonte: Blog Mais Relevante

 

 


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Sobre Weleson Fernandes

Evangelista da Igreja Adventista do sétimo dia, analista financeiro, formado em gestão financeira, pós graduado em controladoria de finanças, graduado em Teologia para Evangelistas pela Universidade Adventista de São Paulo. Autor de livros e de artigos, colunista no Blog Sétimo dia, Jovens Adventista. Tem participado como palestrante em seminários e em Conferências de evangelismo. Casado com Shirlene, é pai de três filhos.

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