Dez princípios para ajudar críticos da IASD a tecerem análises mais honestas e precisas

Eu quero ajudar os críticos do Adventismo a fazerem críticas mais honestas e precisas. Sendo assim, separei aqui alguns princípios para começar a estudar e entender melhor o Adventismo. Creio que tenho alguma propriedade para falar do tema, já que sou adventista há quase dez anos e estudo o tema há mais de uma década. Além disso, como nasci em um lar cristão protestante e sempre fui de igreja, também tenho a experiência de não ter sido Adventista até os 18 anos. Ou seja, eu conheço bem a visão de fora e de dentro dessa denominação. Pois aqui vão os princípios:

1) A IASD não é monolítica. É possível encontrar alas distintas dentro da Igreja Adventista, ainda que essas alas tenham, evidentemente, características básicas em comum. Eu costumo a dividir em quatro principais: tradicionalista, progressista, amorfa e equilibrada. Mas esses são apenas “tipos ideais”. Em outras palavras, você vai encontrar gente que tem características de mais de uma ala (às vezes até das quatro) e gente que está em meio termo entre duas ou mais alas. Nesse espectro teológico, há muitos “tons de cinza”. Assim, se você quer entender o pensamento adventista, precisa cuidar para entender o pensamento dos representantes de cada ala, e daqueles que estão em intercessões.

2) Existe uma diferença entre doutrina, explicação da doutrina e aplicação da doutrina. A doutrina tem a ver com a crença ou a prática em si. A explicação envolve o modo como cada pessoa expõe e repassa a doutrina para os outros. Aplicação se relaciona com a contextualização da doutrina. Então, é possível que dois adventistas concordem em determinada doutrina, mas discordem no modo de explicá-la e/ou de aplicá-la. Por exemplo, dois adventistas podem concordar que o cristão deve se vestir modestamente (doutrina). Mas um pode aplicar de modo a concluir que mulheres não podem usar calça, mas apenas vestido. Já o outro pode aplicar de modo a concluir que o uso de calça por mulheres não fere a modéstia em si.

Outro exemplo: dois adventistas podem concordar com a doutrina do juízo investigativo. Mas um pode explicar que esse juízo serve para Deus descobrir ou decidir quem é salvo ou não (uma explicação que fere a onisciência de Deus, além de uma série de textos bíblicos). Já outro pode explicar que Deus já sabe desde sempre quem seria salvo e quem se perderia, de modo que esse juízo serve apenas para gerar um processo transparente para os anjos.

Para deixar ainda mais claro, vejamos um exemplo menos adventista. Suponha que dois cristãos creiam que devemos tomar da santa ceia (doutrina). No entanto, um entende que a santa ceia serve para curar doenças físicas. Assim, se você estiver doente e tomar da ceia, ficará curado. Já outro entende que não é essa função da ceia, mas que ela serve apenas como um memorial da morte de Cristo. Como o leitor pode perceber, a discordância não está na doutrina em si, mas na interpretação da mesma, a qual gera explicações e aplicações distintas.

Fazer essa distinção entre doutrina, explicação e aplicação é fundamental. Afinal, nem sempre a explicação e a aplicação de um adventista está de acordo com a doutrina da IASD em si e com aquilo que a Bíblia diz.

3) Para saber no que a IASD crê é essencial consultar aos materiais doutrinários básicos da denominação. Isso não quer dizer que você não pode ler livros ou artigos não adventistas falando sobre o adventismo. Você pode e até deve. Mas o ideal é que essas leituras sejam realizadas juntamente com as obras doutrinárias da própria IASD. Por que? Porque assim você pode se certificar se os autores não adventistas estão sendo precisos e honestos ao explicarem as crenças adventistas. Na verdade, esse é um procedimento importante de ser adotado no estudo de qualquer confissão religiosa. Para ajudá-lo nisso, apresento aqui alguns dos mais importantes materiais oficiais da IASD sobre sua doutrina: a “Declaração de Crenças Fundamentais” (também chamada de “As 28 Crenças Fundamentais”), o “Tratado de Teologia Adventista”, o “Nisto Cremos” e “Questões sobre Doutrina”.

Esses são os mais básicos. Além desses, se você quiser tratar de assuntos um pouco mais específicos dentro da área da interpretação adventista ou da história do movimento, eu indico o “Interpretando as Escrituras”, organizado por Gehard Pfandl, e “Em busca de identidade”, do George Knight. Aliás, do George Knight eu indico todas as obras. Knight é simplesmente um dos maiores teologos e historiadores da IASD. Sempre digo que quem não lê Knight, pouco ou nada sabe de Adventismo.

Em um nível mais específico, você também pode ler algumas obras que tratam de escatologia. Indico os clássicos “Uma Nova Era Segundo as Profecias de Daniel” e “Uma Nova Era Segundo as Profecias de Apocalipse”,ambos de Mervyn Maxwell. Mas lembro: já é uma obra antiga. Então, não deixe de consultar obras mais recentes. Dois livros que gosto muito são “Segredos de Daniel” e “Secrets of Revelation” (ainda não publicado no Brasil), de Jacques Doukhan.

4) A IASD não tem credo. A Declaração de Crenças Fundamentais (que hoje conta com 28 crenças) é uma exposição de doutrinas, não um documento fixo e imutável. A doutrina da IASD só reconhece a Bíblia como credo. Isso significa que se a igreja entender, a partir de estudos sérios e oração, que deve rever certos entendimentos, isso será feito. De fato, na história adventista, justamente por não ter um credo, foi possível a congregação aprimorar muitos pontos de vista doutrinários. Certos pilares resistiram ao teste do tempo, mas a capacidade da denominação de corrigir algumas interpretações e explicações ao longo das décadas é notável a qualquer um que estude seriamente o Adventismo. E isso faz parte do conceito adventista de verdade presente, onde se entende que a reforma não termina e que cada geração pode receber mais luz divina através do estudo da Palavra.

A implicação disso é que pode ser enganoso tentar entender a doutrina adventista recorrendo apenas a livros, textos e estudos antigos. Há, por exemplo, entendimentos majoritários entre teólogos adventistas na década de 1920, 1930 e 1940, que hoje são uma página virada na IASD, não podendo ser considerados como uma crença da denominação. A melhor forma de estudar, portanto, é comparar o desenvolvimento de cada interpretação e explicação doutrinária ao longo da história adventista, desembocando nos estudos mais atuais.  

5) Todas as crenças fundamentais distintivas da IASD são historicamente anteriores ao ministério profético de Ellen White. A maioria é anterior até mesmo ao nascimento de Ellen White. Então, não faz sentido discuti-las apelando para chavões como “os adventistas crêem nisso por causa de uma visão de Ellen White”. É mais honesto e útil discutir às questões com base na Bíblia mesmo.

6) Oficialmente, a IASD defende o princípio do Sola Scriptura. E a própria Ellen White passou a vida sustentando este preceito. No meu livro “Conselhos de Ellen White sobre Sola Scriptura”, eu coletei e expliquei 110 citações dela sobre o tema. Já no livro “Adventismo e Reforma Protestante”, que devo publicar nos próximos meses, explico, entre outras coisas, como é possível conciliar o Sola Scriptura com a continuidade do dom profético. Uma das implicações disso é que os escritos de Ellen White não devem ser usados para criar novas normas ou crenças fundamentais não se encontram na Bíblia ou que não possam ser deduzidas da Bíblia. Como resultado, se um crítico (ou mesmo um adventista) aponta para um texto de Ellen White como base para uma nova norma ou crença fundamental, esse é um mau uso dos escritos de White.

7) O ponto anterior nos dá um gancho para este ponto: os escritos de Ellen White também precisam ser interpretados. Isso significa que há regras objetivas de interpretação para entender corretamente os escritos da mensageira. Falo de algumas dessas regras nos meus livros “Conselhos de Ellen White sobre sola Scriptura” e no “Adventismo e Reforma Protestante”. Se você não conhece essas regras, não tente interpretar Ellen White a seu próprio modo. Não vai dar certo.

8) Heresias que surgem no meio adventista não necessariamente fazem parte da doutrina oficial adventista. A IASD, como qualquer igreja, é formada por pessoas. Pessoas são pecadoras. E pessoas pecadoras eventualmente criam, sustentam e/ou espalham heresias. Então, cuide para não tomar algo que algum Adventista diz hoje ou disse no passado como a doutrina da IASD. Pode ser. Mas pode não ser.

9) O ponto anterior se desdobra no seguinte: não se analisa uma igreja com base no comportamento de alguns (ou muitos) membros, mas com base na doutrina oficial da igreja. É possível que você já tenha topado com muitos adventistas com práticas repreensíveis ou mesmo com um péssimo caráter. Mas a não ser que a doutrina da IASD aprove essas posturas, não é honesto julgar a Igreja com base em tais pessoas. A prática dos indivíduos de uma congregação nem sempre é fiel ao que a congregação ensina. Nestes casos, o problema está nos indivíduos e não na doutrina da Igreja.

10) O estudo do Adventismo é complexo. Falo isso com a propriedade de quem estuda esse negócio há mais de uma década. Então, procure não tirar conclusões precipitadas. Estude com calma. Não ponha a carroça na frente dos bois.

Por Davi Caldas

Fonte: Reação Adventista

Sobre Weleson Fernandes

Escritor & Evangelista da União Central Brasileira

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