INTRODUÇÃO
No estudo anterior analisamos o profundo significado do sábado bíblico, sua origem divina, sua natureza moral-espiritual, bem como sua perpetuidade. Vimos também que os cristãos apostólicos guardavam o sábado (Atos 15:21, etc.)
E, na verdade, a Bíblia no seu todo estabelece a observância do sábado corno o dia do Senhor, e em nenhum texto sanciona a guarda do domingo. . .
E neste ponto dos nossos estudos surge a indagação:
Qual é a Origem da Guarda do Domingo?
Quais foram os fatores que determinaram a aceitação quase universal do domingo por parte do cristianismo posterior ao período apostólico?
– Nesta ocasião procuraremos analisar a origem da guarda do domingo e a sua gradual aceitação pelo cristianismo.
l – A ORIGEM PAGÃ DA OBSERVÂNCIA DO DOMINGO
A – A Adoração do Sol no Paganismo Primitivo
a) “A celebração do domingo é muito antiga, estendendo-se à encanecida antigüidade. Ninguém é capaz de dizer onde ou quando ela se originou. Ela é de origem idolátrica, e era consagrada à adoração do sol.” (George I. Butler, The Change of the Sabbath, p. 95)
b) Já no tempo de Moisés aparecem referências bíblicas de povos pagãos que adoravam o sol: – Deut. 4:19; 17:2-5
c) No tempo do profeta Ezequiel já existiam infiltrações dessa prática pagã entre os judeus: – Ezeq. 8:14-17
d) Porém a reprovação divina a essa prática era severa, como pode ser visto em: – Jer. 8:1 e 2
B – A Adoração do Sol na Império Romano
a) As “declarações de respeitáveis autores colocam o Domingo na mais remota antiguidade, como um “memorial” da primitiva forma de idolatria entre os egípcios, dos quais os romanos e os gregos em grande parte derivaram suas formas de culto pagão.
É bem conhecido o fato de que os seus mais célebres filósofos foram ao Egito para se familiarizarem com os seus mistérios sagrados. Entre os assírios e os persas, duas outras nações bem antigas, é bem conhecido que o Sabianismo – a adoração do sol, da lua, e das estrelas – era a mais antiga forma de religião.
Desta forma a adoração do sol, acompanhado de seu “memorial” esforçava-se por conseguir reconhecimento já na antigüidade, e isso, em direto antagonismo com o “memorial” do descanso de Jeová, o sábado do Senhor.” (Idem, p. 97)
b) As próprias palavras Sunday (em inglês) e Sonntag (em alemão) significam literalmente “dia do Sol” É por essa razão que Webster declara: “Sunday; assim denominado porque o dia era antigamente dedicado ao sol ou a sua adoração. O primeiro dia da semana.” (Idem, pp. 95,96)
c) “Nesse meio tempo, uma seita de adoradores do sol estava progredindo grandemente no Império Romano. Uma forma peculiar de culto ao sol foi introduzida da Pérsia pela soldadesca romana que havia empreendido, no século antes de Cristo, campanha militar no oriente.
Esta forma de culto é denominada Mitraísmo, e a sua divindade era o Sol Invictus, ou o inconquistável sol.
De acordo com a evidência arqueológica, os mitraístas usavam o domingo (“Sunday”), o primeiro dia da semana, como seu dia para prestar honra especial ao sol.
Franz Cumont, a grande autoridade francesa sobre o mitraísmo, em seu livro The Mysteries of Mithra, p. 191, diz que os mitraístas ‘veneravam o domingo e celebravam o nascimento do sol no dia vinte e cinco de dezembro’.
“Contudo, a adoração do sol no Império Romano não dependia de qualquer maneira sobre os mitraístas para a sua continuidade. Em realidade, a adoração do sol sempre tem sido a característica das religiões pagãs por toda a parte e em todos os tempos, e a religião romana não foi uma exceção.
Mais e mais os imperadores romanos demonstravam seu grande interesse na adoração do sol. Por exemplo, Bassianus, que sob o nome de Heliogabalus (o deus sol) foi imperador do Império Romano (218-222 AD), era um sacerdote da adoração do sol na cidade oriental de Emesa antes de ser colocado pela soldadesca sobre o trono imperial.
O imperador Aureliano (270-275 AD) embelezou o velho e magnífico templo ao sol em Roma com dádivas e adornos que avultavam vários milhões de dólares de valor.
“Constâncio, o pai do imperador Constantino o Grande, viu no culto ao sol um tipo de monoteísmo que o agradava. Por associar-se com cristãos, como por exemplo a sua concubina, a mãe de Constantino, ele estava ciente do cristianismo; e é provável que ele viu similaridades nos dois tipos de culto.
Ainda que isso tenha ocorrido, seu filho Constantino, que possuía o titulo de imperador desde o ano 306, e foi imperador único de 323 a 337, quando ele morreu, era devoto na adoração do sol.” (Frank H. Yost, The Early Christian Sabbath, pp. 54 e 55).
II – A DEGRADAÇÃO DO CRISTIANISMO
SOB A INFLUÊNCIA PAGÃ DO IMPÉRIO ROMANO
A – “Do Sábado para o Domingo”
a) E foi neste contexto, que acabamos de apresentar, que ocorreu o histórico abandono do sábado bíblico, paralelo à gradual aceitação da observância do domingo em seu lugar.
b) O Dr. Samuele Bacchiocchi, em sua célebre tese doutoral “From Sabbath to Sunday” (Do Sábado Para o Domingo), defendida na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, que recebeu tanto o Imprimatur do reitor da referida universidade, como a aprovação do Vigário de Roma, analisa historicamente o surgimento da observância do domingo no cristianismo primitivo.
“A investigação prova que a adoção do domingo em lugar do sábado não ocorreu na Igreja primitiva de Jerusalém por virtude da autoridade apostólica, porém aproximadamente um século depois na Igreja de Roma. Uma interação de fatores judaicos, pagãos e cristãos, contribuiu para o abandono, do sábado e a adoção da observância do domingo em seu lugar.” (Página 2).
c) Na verdade, “antes de 130 AD. não há uma declaração definida para a observância do domingo, a não ser no Paganismo. (Straw, p. 73).
Mas logo após, entre os anos 140 e 150 AD, temos a primeira referência ao domingo como dia de culto na igreja, e isto vindo de homens contaminados com as noções gnósticas de Alexandria: Justino Mártir, e Barnabé.
E de Clemente de Alexandria, cerca de 190 AD, temos a primeira referência indisputável ao domingo como sendo ‘o dia do Senhor’ Que significa tudo isto? Significa que a observância do domingo entrou na igreja cristã, vinda do paganismo via gnosticismo. (Straw, pp. 73-74).” (M.M. de Oliveira, História do Sábado e Domingo, p. 54).
OBS.: “O gnosticismo era uma síntese de todas as filosofias humanas.” (Ibidem)
B – Fatores que Contribuíram para a Mudança do Sábado para a Domingo
1º) Um Espírito Anti-Judaico na Igreja
– Até antes da queda de Jerusalém (70AD) os cristãos eram considerados pelos romanos como uma seita do judaísmo. Isso foi relativamente bom para o cristianismo, até que por volta de 132 AD irrompeu nova guerra dos judeus contra os romanos, sob a liderança de Bar-Cocheba, o qual tratou de forma muito cruel os cristãos.
– Ao final de 3 anos de luta, os romanos expulsaram os judeus da Palestina, proibindo de praticarem a circuncisão, de guardarem o sábado, e a instrução dá lei (Idem, p. 51)
– Isto levou os cristãos a fazerem o possível para não se identificarem com essas instituições dos judeus.
2º) A Apostasia da Igreja
– O Novo Testamento já profetizara quanto à grande apostasia que ocorreria na igreja: – II Tess. 2:3 e 4; Atos 20:29 e 30; II Tim. 4:2-4
3º) A Interpretação Simbólica do Sábado
Os Pais da Igreja espiritualizavam o sábado e sua observância.
4º) A Influência da Filosofia Pagã
– O Império Romano absorveu em grande proporção a filosofia grega, e esta, por sua vez, penetrou na igreja cristã de Roma por meio dos escritos de Justino Mártir. (Idem, p. 531
Estes e outros fatores contribuíram grandemente para o abandono da observância do sábado, e para o surgimento de leis dominicais.
C – As Primeiras Leis Dominicais
a) O Imperador Constantino cresceu como um adorador de Mitra (o deus sol), e só foi batizado na igreja Cristã em 337 AD, já no leito de morte. A 7 de março de 321 AD, publicou sua lei dominical, ordenando: “Que todos os juízes, e todos os habitantes da cidade, e todos os mercadores e artífices descansem no venerável dia do Sol. …” (Codex Justinianus, livro 3, tít. 12, parágrafo 2. Citado em GC, pág. 53, Popup)
b) O primeiro escritor a pretender que a santidade do Sábado foi transferida para o domingo é Eusébio de Cesaréia: “Todas as coisas, tudo quanta era dever fazer no sábado, transferimos para o ‘dia do Senhor’.”
c) E este processo foi acelerado por uma série de tentativas eclesiásticas para legalizar o domingo:
1º) O Sínodo de Elvira (305 AD) – ‘Se alguém na cidade negligenciar vir à igreja por 3 domingos deve ser excomungado por algum tempo a fim de que possa ser corrigido.” – Concílio de Elvira, Cânone 21.
2º) O Sínodo de Laodicéia (365 ? AD) – “Os cristãos não judaizarão e nem estarão ociosos no sábado.”
3º) O 3º Sínodo de Orleans (538 AD) – “É contra a lei cavalgar ou guiar no domingo, ou fazer qualquer coisa para o adorno da cata ou da pessoa. Mas os trabalhadores rurais são proibidos a fim de que o povo possa estar preparado para ir à igreja e adorar. Se alguém agir de modo diferente deve ser punido. ” O 3º Sínodo de Orleans, Cânone 29. (M. M. de Oliveira, História do Sábado e Domingo, pp. 58-59)
III – A MUDANÇA DO SÁBADO PARA O DOMINGO
– UM CUMPRIMENTO DAS PROFECIAS BÍBLICAS
A – A Profecia Bíblica de Daniel
a) Na mudança do Sábado para o domingo encontramos o claro cumprimento histórico da atuação do “chifre pequeno” de Daniel cap. 7. – Dan. 7:25 (“Chifre pequeno” – representa Roma, tanto em sua fase Imperial como Papal)
b) A profecia declara: “Cuidará em mudar os tempos e a lei” (e a única parte da Lei divina que está diretamente relacionada com o tempo é o 4º mandamento que ordena a observância do sábado (Êxodo 20:8-11).
B – As Justificativas Apresentadas para a Observância do Domingo
a) Segundo o historiador Franz Cumons, muitos cristãos, ainda no século V, adoravam o Sol como um símbolo de Jesus.
E ele acrescenta que “os escritores eclesiásticos, revivendo uma metáfora do profeta Malaquias, comparavam o Sol da Justiça ao Sol Invencível, e consentiram ver no orbe ofuscante que iluminava os homens, um símbolo de Cristo, a Luz do mundo” Histories of Mithra, p. 194.
a) Tertuliano, um dos Pais da Igreja, declarou: “Alguns crêem que o Sol é o nosso deus… Esta idéia originou-se por saber que nos viramos para o oriente quando em o ração.” Apologia, cap. 16.
c) No Ensino dos Apóstolos (Livros Gnósticos do séc. III) é dito que “os Apóstolos indicaram: Orai em direção do Oriente, pois como o relâmpago brilha no oriente e é visto até ao Ocidente, assim será a vinda do Filho do Homem.” Art. l.
d) E João de Damasco (700-750 AD) acrescenta: “Não é sem razão . . . que adoramos voltados para o leste. Deus é a luz espiritual, e Cristo é chamado nas Escrituras O Sol da Justiça e Estrela da Manhã; o leste é a direção que deve ser designada para a adoração d Ele.” Exposição da Fé Ortodoxa, cap. 12. (M.M. de Oliveira, História do Sábado e Domingo, p. 55)
CONCLUSÃO
Estas são as bases sobre as quais repousa a observância do domingo. E em conclusão a isso tudo, podemos apenas fazer alusão às palavras de Cristo, em S. Mateus 15:9 – “E em vão Me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens.”
E o verso 13 acrescenta: “Toda planta que Meu Pai celestial não plantou, será arrancada.”
Constantino decretou que os homens “descansem no venerável dia do Sol”, mas o mandamento da eterna Lei divina continua a proclamar: “Lembra-te do dia de sábado, para o santificar” ( Ex. 20: 8).
De um lado encontra-se o memorial do paganismo, e do outro, o memorial da Criação e da Redenção Divinas. E neste ponto cabe a nós, se quisermos ser salvos, declarar, como o fizeram Pedro e os demais apóstolos diante do sumo sacerdote e do Sinédrio: “Antes importa obedecer a Deus do que aos homens.” (Atos 5:29).
Se nos colocarmos ao lado de Deus, a promessa divina é:
– Sal. 37:23-25; Filip. 4:19
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