No tocante à sua organização e forma exterior o homem representa uma obra “maravilhosa.” Tendo resistido há quase seis mil anos ao peso incessantemente crescente das enfermidades e dos crimes, deu com isso prova evidente de quanto teria sido capaz em virtude de sua maravilhosa organização. Conquanto os homens antediluvianos se houvessem abandonado ao pecado quase sem restrição alguma, decorreram contudo mais de dois mil anos antes que a violação das leis da natureza neles pudesse ser notada. Se Adão não fosse dotado de uma compleição física superior a dos homens de hoje, o gênero humano há muito que estaria extinto.
Desde o dilúvio a humanidade têm degenerado progressivamente, debilitando-se rapidamente pela transmissão de enfermidades de pais para filhos. Já no berço as crianças de peito estão sofrendo as consequências das transgressões dos pais.
Moisés, o primeiro historiador, nos dá um relatório bastante circunstanciado da vida doméstica e social dos tempos primitivos; em parte alguma lemos, porém, que alguma criança houvesse nascido cega, aleijada, etc. Também não temos notícia de que algum menino de peito, adolescente ou mancebo viesse a falecer de morte natural. O registro de óbitos no livro do Gênesis reza como segue: “E foram todos os dias que Adão viveu novecentos e trinta anos, e morreu.”E foram todos os dias de Seth novecentos e doze anos, e morreu.” De outros lemos: “E Abrahão expirou e morreu em boa velhice, velho e farto de dias.” Gênesis 5:5-8; 25:8. Tão insólita coisa era morrer alguém antes de seu pai, que isto era reputado digno de nota. “E morreu Haran, estando seu pai Terah ainda vivo.” Gênesis 11:28. Os patriarcas desde Adão até Noé viveram, com raras exceções, até a idade de quase mil anos, a partir de então, porém, a idade média dos homens têm ido em diminuição constante.
Por ocasião do primeiro advento de Cristo, a humanidade estava já de tal maneira degenerada, que não somente velhos, mas também mancebos e crianças eram trazidos a Ele de todas as partes para serem curados. Muitos arfavam sob o peso de uma miséria indescritível.
A violação das leis naturais, cuja consequência não pode ser senão sofrimentos e morte prematura, perdurou tão largo tempo, que veio a reputar-se tais consequências uma sorte inevitável predestinada aos homens; Deus, porém, não pode ser responsabilizado por esse estado de coisas. Isso não é obra da sua providência divina, mas a resultante da transgressão do homem e de seus maus hábitos. O homem violou as leis que Deus lhe dera para a manutenção de sua existência. A infração constante das leis da natureza, não são senão uma violação constante da lei divina. Se os homens houvessem obedecido sempre a lei moral de Deus, vivendo segundo os seus princípios, a calamidade das doenças, debaixo da qual está gemendo todo o mundo hoje, não existiria.
“Não sabeis que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós mesmos? Porque fostes comprados por preço glorificai pois a Deus no vosso corpo, e no vosso Espírito, os quais pertencem a Deus.” 1. Cor. 6:19. Se alguém adota um regime de vida, que destrói-lhe inutilmente as forças e lhe atrofia a razão, ele peca contra Deus, e não O glorifica no seu corpo e no seu espírito.
Não obstante o homem ofender assim ao seu Criador, Deus contudo não o priva de Sua bondade. Lançando a luz em sua vereda, busca trazê-lo a convicção de que a sujeição às leis naturais, que regem a sua existência, é condição indispensável para conduzir uma vida perfeita. Quão importante é, pois, que o homem aceite essa luz, usando as forças do corpo e do espírito para a glorificação de Deus.
Vivemos em um mundo inteiramente avesso à justiça, à pureza de caráter e ao crescimento na graça de Deus. Onde quer que lancemos a vista, não vemos senão contaminação, corrupção, degeneração e pecado. Quanto isto se opõe ao que tem de ser operado em nós a fim de podermos partilhar o dom da vida eterna! Os escolhidos de Deus, nos últimos dias, têm de sair purgados e sem mancha alguma, de todos os vícios e corrupções que os cercam. Tanto o corpo como o espírito devem ser santificados. Mas para que isto se possa realizar, cumpre que encaremos o problema com inteligência e gravidade. É necessário que o Espírito do Senhor tenha pleno domínio em nossos corações de modo a influir sobre todos os nossos atos.
Intimamente relacionada com a grande obra que deve preparar um povo para a vinda do Senhor, está a reforma de saúde. É tão estreita essa sua relação com a última mensagem como é a da mão com o corpo. A lei dos dez mandamentos têm sido em grande parte postergada pelos homens; antes, porém, de fazer recair sobre eles a penalidade dessa lei, Deus quer que cada transgressor seja solenemente advertido. Entregando-se a prazeres e apetites pervertidos, os homens violam não só leis naturais, mas, sobretudo, a lei de Deus. Por esse motivo Deus nos revela o modo de conservar e cultivar a nossa saúde, afim de reconhecermos quanto é pecaminoso violar as leis que Deus pôs em nossa natureza. Atentando na condição deplorável dos homens que, consciente ou inconscientemente, infringem os princípios de um regime de vida salutar, Deus, na Sua grande misericórdia, lhes envia a Sua luz para que todos possam aprender e conhecer as condições indispensáveis para a conservação da sua saúde. Tornando publica a Sua lei e a sua penalidade, quer que todos a aprendam a conhecer o que contribui para o seu bem. Essa lei se nos apresenta tão clara e tão eminente como a cidade situada sobre um monte. Todos os seres dotados de razão podem compreendê- la, e terão a responsabilidade da mesma. Tornar patente a lei da natureza e insistir pela obediência a essa lei, é uma obra que caminha de mãos dadas com a última mensagem de advertência.
A ignorância já não pode constituir mais excusa legítima para a transgressão da lei. A luz da verdade brilha em toda sua intensidade e ninguém necessita de continuar em trevas a esse respeito, porquanto Deus mesmo se constitui o Mestre dos homens. Sobre todos pesa a grave e santa responsabilidade de atentar para essa luz e de dar ouvidos às valiosas experiências que Deus lhes dá no tocante á conservação de sua saúde. É a vontade de Deus que essa luz seja apresentada aos homens e que eles sejam incitados a examiná-la, porque é impossível que aqueles que se encontram sob o domínio do pecado e hábitos extravagantes e ruinosos, possam apreciar devidamente as verdades concernentes à sua salvação. Aquele porém que se deixar instruir com relação aos efeitos que a satisfação das paixões carnais têm sobre a saúde e que se submeter a essa reforma, ainda que somente por motivos egoísticos, pode destárte colocar-se em estado de ser atingido pela verdade. Por outro lado, aqueles que já conhecem e já abraçaram a verdade, estão em condições de ter a consciência influenciada pela questão da saúde. Eles reconhecem e sentem a necessidade de renunciar a modos de vida errados e a hábitos tiranizantes que por tanto tempo os haviam dominado. Há muitas pessoas que aceitariam a verdade de Deus, por estarem dela intimamente convencidas, mas as paixões da carne, que estão a exigir satisfação, dominam a sua razão, e a verdade é rejeitada por ser incompatível com essas paixões. Espíritos há que descem a tal grau de baixeza, que Deus nada mais pode fazer por eles. É necessário dar nova orientação às suas idéias e despertar neles sentimentos espirituais, antes que eles possam ter a percepção das exigências divinas.
O apóstolo Paulo exortou a Igreja nestas palavras: “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.” Rom. 12:1. A satisfação de paixões pecaminosas contaminam o corpo e inabilitam o homem para a adoração em espírito. Aquele que souber apreciar devidamente a luz que Deus lhe deu relativamente à conservação de sua saúde, encontrará nela um auxílio poderoso para ser santificado na verdade e preparado para a imortalidade. O que, porém, rejeitar essa luz e desobedecer às leis da natureza, terá de sofrer as consequências; as suas forças espirituais se embotarão e como lhe será possível atingir à santificação perfeita pelo temor de Deus?
Texto de E.G.White publicado na RA de Fevereiro/1908 .
Descubra mais sobre Weleson Fernandes
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.