“Claude Monet, o gênio da pintura, nos ensinou a ver o mundo sob uma luz totalmente diferente. O jogo de luz e cor de suas telas abalou o mundo da arte de sua época. Suas exposições provocavam uma confusa mistura de choque, ofensa e admiração. Com o tempo, o mundo passaria a considerá-lo um pintor singularmente inspirado. Mas os olhos talentosos de Claude Monet não conseguiram ver uma coisa fundamental: uma garota chamada Camille. Ela provou ser a única parte insubstituível da sua inspiração.
No século XIX, em Paris, a Academia de Belas Artes era todo-poderosa. Para os artistas, a estrada do sucesso era através dos professores da Academia, que ensinavam pintura no estilo aprovado: correto, acabado e sem vida. Os alunos talentosos poderiam, um dia, exibir suas obras no salão da Academia. Somente lá, um pintor conseguia a atenção dos críticos e, eventualmente, a admissão na Academia.
Claude Monet, entretanto, não aceitava seguir essa estrada. Monet tinha que pintar o que seus olhos viam diretamente da Natureza. Ele queria captar a vida das coisas, a interação da luz e da cor e as formas em uma impressão momentânea.
Um dos motivos preferidos dele era Camille, uma linda e graciosa modelo. Sua admiração por ela transformou-se em amor e, então, eles se casaram.
Monet havia se tornado um líder do movimento da nova arte chamada Impressionismo. No entanto, ele não conseguia vender sua obra. Quando exibia pinturas nas galerias as pessoas apenas riam. Os críticos eram sarcásticos e comentavam: “Até papel de parede é mais bem acabado que isso”.
Monet e Camille passaram por muita privação, mas ela nunca se queixou. Camille acreditava no sonho do seu marido. Através de preocupações, decepções e sofrimentos, Monet continuou a produzir suas telas vivas e brilhantes.
Camille havia se tornado o centro de sua arte. Ela aparece em muitas das suas pinturas nos campos, alta e imponente, nos jardins, na praia e com seu filho Jean.
Mas o fato de suportar tanta privação teve seu preço. A saúde de Camille sofreu com isso. Monet ficou desesperado. Ela precisava melhorar. Mas como? Ele não se dispunha a parar de pintar e procurar outro trabalho. Monet sentia-se tremendamente culpado, mas sua obsessão o fez prosseguir.
Após o nascimento de seu segundo filho, a doença veio mais forte na vida de Camille. Agora eles sabiam que ela contraíra tuberculose. Monet continuou febrilmente a pintar, esperando, apesar de tudo, o reconhecimento. Sem dúvida, alguém reconheceria sua obra, em breve seus quadros seriam vendidos e eles poderiam se instalar em um bairro mais confortável e tudo ficaria bem.
Mas o reconhecimento não veio a tempo. Em 1879 a tuberculose ceifou a vida de Camille. Monet ainda estava com o estúdio cheio de quadros por vender. Camille jamais se queixou. Ela sempre apoiou o marido e sua obra, mas por isso, morreu.
Além dela, mais alguma coisa se perdeu, embora Monet a princípio não reconhecesse. Como disse um biógrafo: “Com a morte de Camille, seus olhos maravilhosos perderam sua mais poderosa força criativa. Todo o calor, a humanidade e o sentimento profundo de suas pinturas vinham indiretamente dela”.
Alguns anos depois, o reconhecimento finalmente chegou. O público começou a aceitar o Impressionismo. Os quadros de Monet começaram a ser vendidos, sua reputação cresceu e finalmente ele estava vencendo como artista mas… sem Camille.
Monet estava vendendo suas pinturas mais antigas, mas tinha dificuldades com as novas obras. Ele escreveu: “Tenho raspado todas as minhas telas recentes. Sinto-me angustiado”.
Monet tinha perdido a única parte insubstituível de sua inspiração. Havia razões para ele ficar amargurado, mas talvez ele também tivesse razões para reconsiderar. Monet tinha sacrificado sua esposa pela arte. Aí, descobriu que não poderia existir nenhuma arte significativa sem ela. Os perspicazes olhos de Monet não tinham percebido que a própria Camille era sua arte. Se ele tivesse se dedicado a cuidar melhor dela, teria preservado muito mais a sua própria arte.
Sua admirável busca da excelência na arte não havia incluído o esforço para ser excelente no lar, a raiz da sua inspiração.
Muitos de nós temos problemas similares. Não é fácil equilibrar os desafios de nossa missão. Nem sempre vemos claramente o que é de fato insubstituível.
Jaime, por exemplo, teve sorte de fazer tal descoberta antes que fosse tarde demais. Trabalhava como operador de TV e era freqüentemente chamado para ajudar a gravar eventos especiais. Jaime tinha orgulho do seu trabalho e entendia muito bem das minúcias do funcionamento do videoteipe.
Uma ocasião, o Sindicato de Jaime e a Companhia em que ele trabalhava não chegaram a um acordo sobre salários. O Sindicato convocou uma greve e Jaime, juntamente com o resto dos funcionários, faltou ao trabalho. A greve se prolongou e a Companhia não pareceu tão disposta a ceder. Aí, Jaime soube que havia sido substituído. Isso foi um grande choque, alguém havia preenchido sua vaga e, o que era pior, a Companhia continuou produzindo programas exatamente como antes.
Jaime havia se tornado dispensável. Completamente desanimado ele vagava sem rumo por toda a casa. Durante esse período de depressão, a família de Jaime ficou ao seu lado. Ela o confortou e o encorajou. Foi aí que ele começou a se ver sob um novo prisma. Ele olhou de novo para aqueles que dependiam dele no dia-a-dia, sua esposa e filhos, e concluiu que havia uma função na vida que só ele poderia preencher. Havia um lugar onde ele sempre seria insubstituível.
Na família, se Jaime, como marido e pai, entrasse em greve, jamais seria encontrado outro substituto. Ninguém mais conseguiria ter o mesmo relacionamento que ele desfrutava com a sua esposa e com os filhos. Bem, Jaime eventualmente voltou a trabalhar e continuou sua carreira produtiva na televisão, mas nunca mais colocou sua segurança em seu cargo. Ele descobriu onde era verdadeiramente insubstituível.
Você já fez essa descoberta? Tem se dedicado ao desempenho de sua função insubstituível? A luta pela promoção tem mais prioridade do que o cuidado da sua esposa ou do seu esposo?
Eu sei que todos nós falamos que nossa família é muito mais importante. Isso é fácil de dizer. Mas pergunte isto a si mesmo: Quando uma decisão tem de ser tomada entre uma exigência do trabalho e uma exigência do lar, com que freqüência você escolhe o lar? Provavelmente poucas vezes. Eu sei disso, acredite em mim.
Nós, os pastores, somos com freqüência os piores nisso. Tão ocupados tentando salvar o mundo lá fora que nos esquecemos daqueles que estão mais próximos de nós.
O Deus da Bíblia, entretanto, tem uma visão diferente do assunto. Ele valoriza mais o que freqüentemente desprezamos. Deus demonstra isso de um modo muito lindo num pequeno livro chamado Rute. No início dessa história do Antigo Testamento encontramos três viúvas percorrendo a longa estrada de Moabe para Judá, onde a comida era mais farta. Mas, enquanto andava pela estrada poeirenta, Noemi começou a pensar: Rute e Orfa, ambas moabitas, jamais conseguiriam se casar em Judá. Sendo estrangeiras, elas não seriam inteiramente aceitas. Portanto, seria melhor que as garotas ficassem em Moabe. Assim, Noemi parou e disse-lhes: “Voltem para casa.” Mas Rute e Orfa responderam: “Iremos com você para seu povo”. Afinal, elas eram tudo o que restara para aquela velha senhora. Como iria ela sobreviver sozinha? Noemi, entretanto, insistiu. Finalmente, Orfa abraçou sua sogra e despediu-se com lágrimas nos olhos. Mas Rute não conseguiu ir embora. Sua dedicação era muito forte. Aquela jovem fez uma memorável promessa encontrada no primeiro capítulo desse pequeno livro: “Aonde quer que fores, irei eu e onde quer que pousares, ali pousarei eu: o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus. Onde quer que morreres, morrerei eu”. Rute 1:16 e 17. Lindas palavras. Eu não conheço uma lealdade mais eloqüente.
Rute entendeu sua única função insubstituível. Ela se comprometeu com o único laço familiar que restava. Apenas duas pessoas frágeis, agarradas uma à outra na longa estrada para Judá. Você talvez pense que elas iriam ser insignificantes na vastidão da história bíblica, mas Deus enfatizou a história delas. Rute desempenha um papel especial na revelação de Deus.
O livro é, na verdade, o ponto de exclamação de Deus no final de um outro livro chamado Juízes.
Juízes narra uma história muito triste das repetidas apostasias de Israel. De tempos em tempos após uma grande libertação, Israel retornava para Deus, mas logo já estava correndo atrás dos ídolos de seus vizinhos. Os israelitas não conseguiam decidir-se de uma vez em favor do Deus verdadeiro. Rute foi a resposta de Deus para todo aquele triste período. Que contraste essa garota pagã provê para o procedimento erradio de Israel! Deus não precisou pregar um longo sermão sobre lealdade após os decepcionantes atos de Israel na era dos Juízes. Ele apenas contou essa linda história de uma garota e sua sogra. Isso é o que realmente importa, diz Deus.
Reis e guerreiros podem surgir e desaparecer, nações passam por prosperidade e desastre, mas este tipo de relacionamento leal é o que importa, afinal. Rute valorizou, acima de tudo, uma função que ninguém mais poderia realizar. Como resultado, ela se tornou um dos grandes sinais de Deus na História.
Seu casamento pode ser mais um dos lindos sinais de Deus. Paulo nos diz que o relacionamento entre marido e mulher tipifica o relacionamento entre Cristo e Sua Igreja. O mundo deve ver no carinho, consideração e respeito em nossa vida no lar uma imagem do amor de Cristo por Seu povo.
Nada em nosso trabalho, nada em nossa carreira, pode prover essa imagem. Nem todo o “marketing”, propaganda e técnica de venda do mundo podem provê-la. Somente a qualidade do nosso relacionamento matrimonial pode refletir o que Deus quer dizer. Temos uma função insubstituível a desempenhar. Deus quer que sobressaiamos em nosso relacionamento no lar. Isso faz parte de nossa vocação. Não pode ser separada de nossa missão na vida. Se sacrificarmos nossa família por nossa missão, descobriremos, como o pintor Monet, que não temos mais nenhuma missão.
Excelência em nosso relacionamento familiar… Quão poucos de nós a buscam! As pressões do mundo nos levam constantemente a divorciar nossa vocação para o trabalho da vocação para o lar.
Recentemente, centenas de profissionais acadêmicos se reuniram para homenagear um homem que havia recebido o Prêmio Nobel de Ciência. Durante as cerimônias preliminares, sua esposa aguardava nos bastidores com as esposas de outros homenageados. A esposa do ganhador do Prêmio Nobel não parecia muito entusiasmada e as outras mulheres lhe perguntaram a razão.
– Como posso ser feliz com um marido desses? – disse ela e começou a descrever uma vida no lar bastante patética.
Imediatamente, as outras mulheres disseram:
– Ora, esta é exatamente a minha história.
Todas tinham a mesma experiência de abandono e desprezo. Enquanto os “flashs” espocavam no palco e os dignitários faziam seus admiráveis discursos, uma história bem diferente era revelada nos bastidores. As esposas dos dezenove homenageados só podiam descrever uma infelicidade comum. Destacar-se no trabalho e falhar no lar, é um “status quo” que a palavra de Deus não tolera.
Nossa missão na vida é um tecido sem defeitos. Se não pudermos refletir a Cristo em nossa vida no lar, que adianta tentarmos promovê-Lo em nosso trabalho? Cada um de nós pode ir além no relacionamento matrimonial.
A colunista Judith Viorst descobriu estas gemas de excelência no casamento. Elas mostram que atos de amor em forma de atenção nem sempre são dramáticos. Não existem bandas tocando nem multidões aplaudindo. São os atos silenciosos, considerados e graciosos que tornam as famílias grandes. A excelência começa com o compromisso de se dedicar tempo.
Elza e Estêvão estavam discutindo no café da manhã, bem cedo, num dia de semana. Sua acirrada discussão continuou enquanto Estêvão escovava os dentes e se vestia para ir ao trabalho. Ele estava saindo porta afora quando Elza gritou:
– Como é que você pode simplesmente sair assim? Ainda não resolvemos nada.
Estêvão olhou para a esposa por um instante. Ele era um executivo ambicioso e supermotivado. Mas parou, foi ao telefone e cancelou todos os compromissos daquele dia. Elza ficou muito comovida. Ele dissera com isso, que o relacionamento deles significava mais do que suas urgentes reuniões de negócios.
Depois de nos comprometermos a investir tempo em nossa função familiar, podemos começar procurar novos modos de expressar nosso amor.
Júlia conseguiu fazer uma torta de chocolate com creme, mas quando ia de carro para a festa, o casal percebeu pelo cheiro que o creme estava queimado. Júlia começou a temer que sua torta fosse intragável. Bem, a torta foi para junto dos outros pratos que já estavam na mesa. Júlia cortou-a e ofereceu um pedaço ao marido. Pela expressão horrível do seu rosto ela percebeu que a torta estava um desastre. Mas Márcio pegou a torta e disse ao grupo que, já que havia ali tantas sobremesas e sendo que aquela torta era a sua preferida (ele estava brincando, é claro!), iria comê-la toda sozinho. Márcio sentou-se num canto aquela noite, comendo corajosamente a torta e esmagando os pedaços que não conseguiu engolir. Ninguém jamais soube quão ruim ela havia ficado.
O que é verdade nos negócios também é verdade no casamento: nada é melhor do que o sucesso.
A consideração cria mais consideração. Quando você reserva tempo para produzir um bom relacionamento no lar, descobre que as oportunidades para ser especial se multiplicam.
José achou uma oportunidade dessas. Em uma noite muito fria, ele foi ao andar superior da casa e aquece os lençóis para a esposa, passando-os a ferro.
Fábio foi proibido de ficar com sua apavorada esposa durante o parto do seu primeiro filho, mas conseguiu entrar na sala de parto disfarçado de enfermeiro.
Essas pessoas descobriram meios de ir além na única função que nenhum outro pode preencher. Seus atos de consideração demonstraram o amor de Cristo. Eles são sinais de Deus em nosso mundo.
A casa de Ângela e Davi incendiou-se por completo logo após o sexto aniversário de casamento. Logo que lhes foi permitido examinar os restos queimados, a primeira atitude de Ângela foi procurar seus preciosos álbuns de fotografias. Quando ela foi dizer a Davi que as fotografias estavam intactas, encontrou-o de joelhos entre as cinzas, colocando com cuidado em uma caixa suas cartas dos tempos de namoro. Naquele momento, Ângela percebeu o quanto eles significavam um para o outro. No meio da sua maior tragédia, o primeiro pensamento deles não foi para as perdas materiais, mas para o que poderia ter sido a perda dos sonhos do passado.
Ângela e Davi entendiam bem o que era insubstituível. Eles estavam entre os felizardos que lutam para preservar o que realmente importa.
Como está indo você em sua função insubstituível? Quando nosso mundo se transformar em cinzas, não vamos olhar para trás e dizer: “Eu gostaria de ter passado mais tempo no escritório”. Mas vamos apenas olhar para a qualidade de nossos relacionamentos pessoais. Nossas maiores alegrias e tristezas estarão concentradas nas pessoas de nosso círculo familiar, as quais temos atingido para o bem ou para o mal.
ORAÇÃO
Meu Pai, certamente alguns de nós somos inocentes do pecado de negligenciar o que mais importa em nosso lar, mas nem todos nós, não muito de nós, eu inclusive, precisamos desesperadamente de perdão e senso comum para mudar nossos modos e tratar com nossa melhor atenção aqueles que significam muito para nós. Cure os corações feridos, por nossa negligência. A partir deste momento, que a linda graça transformadora de Cristo. Mude os corações orgulhosos e desorientados e lhes dê coragem para fazer as coisas mais importantes primeiro. Em nome do Salvador te pedimos. Amém.
AUTOR: PR. GEORGE VANDEMAN