Por Davi Caldas
Há alguns meses, eu estava lendo que a cantora Alícia Keys, feminista, não deixa seu filho assistir a filmes de princesas como Branca de Neve. Segundo ela, o filme infantil da Branca de Neve é machista e misógino, pois a princesa fica em casa trabalhando para sete anões. Sim, é sério que ela acha isso. Bom, vamos analisar a historinha então.
Branca de Neve é uma princesa que possui uma madrasta ruim, que a odeia e é uma bruxa. Assim que seu pai morre, a bruxa coloca a moça para fazer trabalhos forçados. Posteriormente, com ciúmes por causa da beleza de Branca, a rainha resolve matá-la e contrata um caçador para fazer o serviço. O caçador não mata a princesa, por piedade, e exorta a moça a fugir pela floresta.
A princesa foge e NÃO TEM para onde ir. Felizmente, ela encontra uma casa sem ninguém e fica por lá. Pelos móveis pequenos, ela conclui que a casa é habitada por crianças órfãs e por LIVRE e ESPONTÂNEA vontade resolve limpar e arrumar a casa. Depois disso, ela tira uma soneca e é quando os donos da casa chegam. Eram anões. Ela acorda, se apresenta e os anões concordam em mante-la na casa. DE GRAÇA. E ela, gentil, se prontifica a cuidar da casa.
Os anões trabalham numa MINA, usando marretas e picaretas em rochas. Trabalhar em uma mina não é fácil. Embora o filme seja infantil e mostre os anões trabalhando muito felizes, a verdade é que trabalhar numa caverna, num lugar úmido, escuro, difícil de respirar, correndo risco de soterramento, e marretando pedras exaustivamente não é um trabalho que se possa chamar de leve.
É o trabalho exaustivo dos anões que leva dinheiro para manter a casa. Enquanto isso, Branca permanece no conforto da casa dos anões, sem pagar, fazendo serviços domésticos normais que ela teria de fazer de qualquer jeito se a casa estivesse abandonada e ela continuasse morando sozinha. No filme, Branca não precisa sair para trabalhar e se dividir entre as tarefas de casa e o emprego (o que os anões faziam antes). Ela tem a opção de ficar protegida em casa (ela é uma refugiada, não se esqueçam), sem se preocupar em conseguir mantimento e com o privilégio de parar suas atividades quando quiser para descansar ou passear pelo bosque.
Onde está a misoginia e o machismo? O que Alícia Keys esperava? Que Branca de Neve se refugiasse na casa dos anões de graça e não ajudasse nas tarefas domésticas? Ou que os anões a levassem para a mina para quebrar pedra e respirar umidade?
O pensamento tosco de Alicia Keys é resultado de anos de cegueira ideológica. A luta de muitas mulheres por direitos legítimos, proteção contra abusos e respeito foi sendo transformada, ao longo do tempo, numa ideologia torpe, mais preocupada com tolices do que realmente com as mulheres, e que representa muito mais os interesses políticos da esquerda do que realmente o interesse das mulheres. No feminismo moderno, não há espaço para a mulher religiosa, tradicional ou conservadora. Seus principais grupos enxergam no cristianismo, na moral judaico-cristã, na família tradicional e nos valores conservadores um conjunto de opressões às mulheres. E é por isso que um desenho inocente como Branca de Neve é capaz de causar furor às feministas.
A moça que escolhe cuidar da casa será encarada como oprimida e serva do machismo. O mesmo se dará a quem quer ser mãe e cuidar dos filhos. Por conseguinte, qualquer um que represente uma mulher nesses moldes estará corroborando com o machismo.
Há, talvez, no pensamento de Alicia Keys uma preocupação genuína de não criar um filho que trate mal às mulheres. Se este é o caso, ela está fazendo isso é errado. Não é impedindo o rapaz de assistir à Branca de Neve que Keys fará dele um bom homem, respeitador e apto para ser marido. Será, sim, ensinando valores morais e familiares sólidos, e dando o exemplo em casa. E aqui está o que o feminismo moderno não percebe: uma educação genuinamente bíblica, munido de um bom exemplo em casa, é o melhor caminho para se gerar esse bom homem.
Fosse cristã, Alicia Keys poderia ler para seu filho o que está escrito em Colossenses 3:19: “Maridos, amai vossa esposa e não a trateis com amargura” (Cl 3:19). Ou ainda a passagem de I Pe 3:7, que destaca o fato da mulher ser mais frágil fisicamente e sensível emocionalmente, no entanto, igualmente herdeira da graça de Deus:
“Maridos, vós, igualmente, vivei a vida comum do lar, com discernimento; e, tendo consideração para com a vossa mulher como parte mais frágil, tratai-a com dignidade, porque sois, juntamente, herdeiros da mesma graça de vida, para que não se interrompam as vossas orações” (I Pe 3:7).
Keys também poderia destacar, na Bíblia, que o homem deve ser amoroso e corajoso o suficiente para se entregar pela esposa se preciso:
“Maridos, amai a vossa mulher, como também Cristo amou a sua Igreja e a si mesmo se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado com a lavagem de água pela palavra, para a apresentar a si mesmo Igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito. Assim também os maridos devem amar a sua mulher como ao próprio corpo. Quem ama a esposa a si mesmo se ama. Porque ninguém jamais odiou a própria carne; antes, a alimenta e dela cuida, como também Cristo o faz com a Igreja; porque somos membros de seu corpo. Eis porque deixará o homem pai e mãe se unirá à mulher, e se tornarão os dois uma só carne” (Ef 5:22:31).
A cantora poderia ensinar ainda a importância de ser fiel à esposa:
“[…] o Senhor foi testemunha da aliança entre ti e a mulher da tua mocidade, com a qual tu foste desleal, sendo ela a tua companheira e a mulher da tua aliança. […] Portanto, cuidai de vós mesmos, e ninguém seja infiel para com a mulher da vossa mocidade. Porque o Senhor, Deus de Israel, diz que odeia “o repúdio e também aquele que cobre de violência as suas vestes”, diz o Senhor dos Exércitos; portanto, cuidai de vós mesmos e não sejais infiéis” (Ml 2:14-16).
Ainda com base na Bíblia, Keys poderia mostrar ao filho que a mulher não precisa se limitar aos afazeres domésticos, podendo também, por exemplo, desempenhar atividades empreendedoras (Pv 31:10-31), ser juíza geral de uma nação (Jz 4:4-5) e até mesmo profetiza (II Cr 34:22, Lc 2:36, At 21:8-9).
Se fosse uma adventista do sétimo dia, Alicia poderia mostrar ao filho ainda os valorosos conselhos de Ellen White, como este, por exemplo:
“Visto como os homens bem como as mulheres têm parte na constituição do lar, tanto os rapazes como as moças devem obter conhecimento dos deveres domésticos. Fazer a cama e arranjar o quarto, lavar a louça, preparar a comida, lavar e consertar sua própria roupa, são conhecimentos que não tornarão um rapaz menos varonil; torná-lo-ão mais feliz e mais útil. Existem muitas moças que se casam, constituem família e que possuem pouco conhecimento prático dos deveres que cabem a uma esposa e mãe. Elas sabem ler e tocar algum instrumento musical, mas não sabem preparar um bom pão, que é essencial para a saúde da família. Elas não sabem cortar e fazer suas roupas porque nunca aprenderam como fazê-las. Consideram essas coisas sem importância e em sua vida matrimonial são tão dependentes de outra pessoa para fazer-lhes estas coisas, assim como são seus próprios filhinhos” (Cartas aos Jovens Namorados, página 18).
Alicia poderia mostrar para o seu filho o comportamento de Jesus para com as mulheres, sempre terno e compassivo, e instigá-lo seu filho a ser como Cristo. Não há melhor modelo de ser humano a ser seguido do que Cristo, Nosso perfeito Senhor e Salvador. Juntamente com todos esses ensinos, sua obrigação seria lutar para criar um lar harmonioso e respeitoso, no qual os laços matrimoniais entre ela e seu marido fossem fortes e estáveis, o amor fosse a base do relacionamento familiar e a casa estivesse fincada em fortes valores espirituais e morais. Alguns cuidados práticos como: não cultivar, na família, o hábito da bebida, das saídas para baladas, dos namoros sem comprometimento, do sexo como mera diversão, etc. também seriam sua obrigação no processo de criar um bom filho, empático, não egoísta, responsável, sem vícios. É assim que se constroi um bom homem, respeitoso para com as mulheres e apto a ser um bom marido. Da mesma forma, é assim que se constroi uma boa moça, respeitosa para com os homens e apta para ser uma boa esposa.
Mas o que Alicia Keys prefere fazer? Enxergar machismo onde não existe e impedir seu filho de ver Branca de Neve. Vamos ver o quão positivo e relevante essa postura será para a construção do caráter do menino…