“Amaram mais a glória dos homens” (João 12:43)

Você já deve ter desejado experimentar um milagre ao ler os relatos do Evangelho. Todas as nossas enfermidades, assim como as diversas curas registradas na Bíblia, encontrariam solução instantânea em Jesus. Assim, muitos de nós acreditam que a oportunidade de ver alguma manifestação poderosa de Deus com nossos próprios olhos resultaria em uma fé inabalável. Entretanto, nos esquecemos de que nem todos os que estiveram com Jesus tiveram um encontro com Cristo. Muitos viram no carpinteiro um mestre habilidoso, mas não se entregaram a ele como Senhor e Salvador. Reconheceram o homem sábio, mas não viram o Deus encarnado. Viram seu atos, mas não reconheceram sua glória. Jesus definitivamente não foi uma unanimidade.

Leiamos João 12:37-43:

“E embora tivesse operado tantos sinais diante deles, não criam nele; para que se cumprisse a palavra do profeta Isaías: Senhor, quem creu em nossa pregação? e a quem foi revelado o braço do Senhor? Por isso não podiam crer, porque, como disse ainda Isaías: Cegou-lhes os olhos e endureceu-lhes o coração, para que não vejam com os olhos e entendam com o coração, e se convertam, e eu os cure. Estas coisas disse Isaías, porque viu a sua glória, e dele falou. Contudo, muitos dentre as próprias autoridades creram nele; mas por causa dos fariseus não o confessavam, para não serem expulsos da sinagoga; porque amaram mais a glória dos homens do que a glória de Deus” (Nova Almeida Atualizada).

Quero propor uma razão pela qual muitos não se entregaram a Jesus e os motivos pelos quais outros continuam adiando uma decisão ou desistindo do caminho. O resumo de tudo está na palavra “glória”. De alguma maneira, aqueles judeus viram sinais (12.37) mas não enxergaram a glória. E essa cegueira para enxergar a glória tinha origem em coração endurecido que impedia conversão e cura (v. 40). Esses homens não enxergavam a glória de Deus pois tinham os olhos voltados para um outro tipo de glória.

A razão para não enxergarem a glória de Jesus é simples: eles estavam satisfeitos como outro tipo de Glória.

Enquanto uns não creram apesar de ver, outros creram mas se acovardaram. O segundo grupo se importava com a glória que poderia perder, glória essa que vinha daqueles que havia ignorado a glória de Deus! Eles “preferiam a glória dos homens à glória de Deus” (João 12.43, Almeida 21). Não valorizaram a glória de Jesus pois estavam saciados como outro tipo de glória. Uma glória indigna, por não ser dada a quem merece. Glória pequena, que não via o infinito da grandeza de Deus. Glória que não era tão gloriosa assim. Uma glória ensimesmada.

Ainda no livro de João, no capítulo 5:39-44, encontramos outras palavras de Jesus que ampliarão a nossa compreensão desse texto. A tradução A Mensagem apresenta o texto da seguinte forma:

“Vocês se dedicam a estudar as Escrituras porque acham que vão encontrar ali a vida eterna. Mas vocês olham para a árvore e não veem a floresta. Afinal, as escrituras falam de mim! E aqui estou diante de vocês, e vocês não querem receber de mim a vida que afirmam desejar. Não estou interessado na aprovação da maioria. Sabem por quê? Porque conheço vocês e as multidões. Sei que o amor, especialmente o amor de Deus não está na agenda de vocês. Apresentei-me com a autoridade do meu pai, e alguns de vocês me desprezam, outros me evitam. Se outro viesse, dizendo-se importante, vocês o receberiam de braços abertos. Como esperam receber algo de Deus se desperdiçam o tempo disputando posições, alimentando rivalidades e ignorando a Deus?

Eram estudiosos cuidadosos das palavras de Deus, mas não conseguiram ouví-lo quando o Senhor falou a eles face a face! Mesmo seus esforços teológicos estavam viciados por sentimento egoístas. O que faziam supostamente dedicando a Deus era, tão somente, para que sentissem bem. Sua adoração era dedicada a si mesmos.

Perceba ainda que muitas autoridades chegaram a crer, como afirma capítulo 7.46-49, mas acabaram impedidos de confessar pela ausência de coragem. Essa timidez acontecia pela mesma razão apontada acima: professarem uma religião centrada nas aparências. Não estavam preocupados com o valor das coisas espirituais, mas com a aparência que elas causavam. Em outras palavras, mais queriam parecer piedosos do que de fato viverem como filhos de Deus. Eles não estavam preocupados com a reforma interior, aquela no coração que só Deus sonda e examina, mas com a boa avaliação dos outros acerca de sua fé. Desejavam mais a aprovação dos outros que o louvor de Deus.

NEM TUDO É O QUE PARECE SER

Ainda em João, no capítulo 9, encontramos a história do cego de nascença. Após o encontro com Jesus, já adulto, ele teve sua visão estabelecida e ali mesmo se converteu, tornando-se instantaneamente um corajoso defensor da fé cristã. Seus pais, entretanto, não tiveram a mesma reação. Ao invés de alegria, mostraram covardia. Eles tinham medo dos judeus, pois estes já haviam decidido que, se alguém confessasse que Jesus era o Cristo, seria expulso da sinagoga” (João 9:22, Nova Versão Internacional). Não professaram a Cristo por desejarem mais a aprovação entre os fariseus do que a Glória de Jesus.

Muitos exemplos são possíveis para que, ainda hoje, desenvolvamos uma religião mais preocupada no que os outros acham do que na glória de Deus. Quando fazemos algo para Deus, como cantar, pregar ou ajudar um necessitado, estamos preocupados em agradar a quem está ouvindo? Se sim, na realidade, não estamos pensando em quem vai ouvir a mensagem, mas em nossa própria reputação. Fazemos apelos preocupados em respostas verdadeiras operadas através da pregação ou para postarmos nas redes sociais fotos que irão receber comentários dizendo “homem de Deus”? Quando adoramos, estamos dando glória a quem?

FAZENDO DE TUDO PRA APARECER

Outro resultado perigoso do desejo de aprovação alheia é a deturpação da mensagem de Deus. Sim, podemos fazer isso quando buscamos o engradecimento de nosso próprio nome. Como os liberais, poderemos apresentar uma falsa mensagem de tolerância, esquecendo em nossa pregação dos aspectos da moralidade sexual, limitando-nos apenas a dizer que Deus ama a todos, mas que se ira com seus pecados e oferece, bem como exige, transformação. Como os legalistas, podemos estar comprometidos com a aparência que nos envaidecemos da santidade. Um casal da igreja de um amigo se tornou adepto da reforma de saúde de maneira tão radical que, agora, se recusa a participar da Santa Ceia. O motivo? O pão não é integral!

Na vida diária, podemos querer trocar de carro apenas para não ficar atrás do vizinho que comprou um modelo melhor. Podemos também ficar emocionalmente destruídos quando somos excluídos de grupos sociais por conta de nossas convicções. Quando nos afastamos de Deus em decorrência de amizades, por exemplo, estamos querendo suprir uma solidão abandonado a glória de Deus e a dedicando a outro. Enfim, que tipo de glória estamos buscando? Que tipo de aprovação estamos buscamos? A quem estamos servindo?

RESTAURAÇÃO NECESSÁRIA

Os textos de João nos que estudamos aqui nos revelam que os fariseus haviam tido a mente obscurecida, olhos cegos e ouvidos vedados. Assim, mesmo as ações sobrenaturais de Deus foram insuficientes para que reconhecessem a divindade de Jesus. A razão para isso era que o brilho que buscavam não permitia que enxergassem a glória de Deus. Valorizavam os tapinhas nas costas, gostavam de sorrisos e adulação. O resultado disso? Faremos o necessário para sermos aceitos, ignorando o que é vontade de Deus. Buscar a aprovação dos outros consiste, basicamente, em desejar a aprovação alheia mais do que o agradar a Deus.

Corretamente, definimos a idolatria como sendo o culto a outros deuses. O problema é que nossa ideia de falsos deuses é limitada a esculturas. Dificilmente conseguimos ver o estado do coração ansioso por aprovação alheia como sendo parte desse pecado, onde nos tornamos pequenos deuses falsos e escolhemos a outros como entidades a serem constantemente agradadas. Quando desejamos ser ardentemente aplaudidos estamos nos colocando como objetos de uma glória que só ao Senhor pertence. Que Deus nos abra os olhos para enxergá-lo e nos purifique o coração para recebê-lo.

Davi Boechat

Fonte: Reação Adventista

Sobre Weleson Fernandes

Escritor & Evangelista da União Central Brasileira

Verifique também

Voltando para casa

Deus criou um dia para si (Sábado), a fim de ser lembrado como Criador e …

Resgatar laços com judeus e a fé judaica: fogo estranho?

Recentemente postei um texto intitulado “Voltando para casa”. No artigo eu cito uma série de …

Tréplica sobre a questão dos alimentos puros e impuros

O amigo e irmão (em Cristo) Raphael Meza gentilmente leu meu texto “Por que a …

Deixe uma resposta

×

Sejam Bem Vindos!

Sejam bem Vindo ao Portal Weleson Fernandes !  Deixe um recado, assim que possível irei retornar

×