Assistência e justiça sociais na Igreja: um princípio ortodoxo

Hoje é observado em diversas igrejas adventistas da América Latina o chamado “Dia de ênfase contra o abuso e a violência”. Esse dia ocorre uma vez por ano, sempre ao quarto sábado do mês de Agosto, e é uma iniciativa do “Quebrando o Silêncio”, um projeto da Igreja Adventista focado na prevenção e assistência contra abusos e violência doméstica. O projeto, criado em 2002, atende a oito países e consiste de palestras, vídeos, revistas, cartazes, banners, adesivos, outdoors, etc. sobre a temática, desenvolvidos durante todo o ano. As campanhas do Quebrando o Silêncio incluem a defesa de vítimas de agressão física e moral que são mais vulneráveis, como mulheres, crianças e idosos.

Quebrando o Silêncio é um dos exemplos de atuação social da Igreja Adventista do Sétimo Dia em favor dos que precisam e dentro dos princípios bíblicos que orientam a sua mensagem e missão no mundo. Tal como esse projeto, a IASD também mantém outras iniciativas que cumprem papel social importante, como a Ação Solidária Adventista (ASA) e a Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (ADRA)

A IASD não faz nada de novo nesse sentido. A responsabilidade de ajudar o próximo, sobretudo os qu.e estão em situação mais desfavorável e sendo oprimidos faz parte do pensamento judaico-cristão há milênios. É bíblico. É ordenança tanto no Antigo como no Novo Testamento. E é por isso que ao longo dos séculos o cristianismo sempre gerou obras de assistência e justiça sociais pelas mãos de cristãos verdadeiros e amorosos. A criação de hospitais, orfanatos e escolas, a luta contra a escravidão e a defesa de direitos humanos inalienáveis são heranças do verdadeiro evangelho e seus seguidores fieis. A escritora adventista Ellen G. White, seguindo esses princípios bíblicos, fez questão de enfatizar o tema para a Igreja durante todo o seu ministério, o que pode ser visto no livro “Beneficência Social”.

O que nós, da equipe Reação Adventista, gostaríamos de enfatizar diante desses fatos é que precisamos urgentemente desfazer alguns mitos e distorções sobre assistência e justiça sociais. Em primeiro lugar, assistência e justiça sociais não são doutrinas estranhas ao evangelho e à ortodoxia cristã, mas sim um dos conteúdos basilares. Não é preciso modificar o evangelho, alterar, adicionar algo ou distorcer para que se pratique ajuda aos pobres e oprimidos. A prática dessas ações é o que se espera e sempre se esperou de cristãos verdadeiros, pois é o que a Bíblia ordena. Assim, para fazer a diferença para os mais desfavorecidos, basta viver genuinamente a mensagem judaico-cristã.

Em segundo lugar, assistência e justiça sociais não são originárias de movimentos hoje secularistas. Foi a moral judaico-cristã que ergueu uma sociedade ocidental civilizada e mais sensível moralmente. Esse ambiente proporcionado pelo cristianismo possibilitou à sociedade perceber, denunciar e lutar contra determinadas injustiças. Também tornou possível o julgamento moral de cristãos que não seguiam os princípios do evangelho no que tange o amor ao próximo. O desenvolvimento desses nobres sentimentos coletivos não seria possível em uma sociedade pagã e politeísta como as do mundo antigo.

Ademais, grandes movimentos em defesa de direitos humanos igualitários, opositores de abusos contra a mulher e antiescravagistas tiveram seu início com cristãos devotos que entendiam tais princípios como provenientes da Bíblia. Da mesma maneira, desde o princípio do cristianismo, muitos cristãos devotos se dedicaram inteiramente ao auxílio de pessoas pobres.

As bandeiras de assistência e justiça sociais que hoje são alardeadas por movimentos e ideologias seculares como suas (marxismo e feminismo, por exemplo), na verdade, não passam de bandeiras judaico-cristãs presentes na Bíblia e defendidas por milhões de cristãos ao longo dos séculos. Apesar de muitos cristãos da história terem vivido de maneira torpe, envergonhando com suas atitudes o evangelho de Cristo, isso não anula a importância do evangelho e dos que escolheram vivê-lo. E isso precisa ser enfatizado.

Como temos dito em outros textos, ideologias e movimentos seculares de pretensão redentora são cópias distorcidas do cristianismo. São cristianismos imorais e sem Cristo, que preservam algumas virtudes cristãs misturadas a erros morais, negação da Palavra de Deus e insubmissão ao Senhor. São religiões políticas, como explicado em um artigo nosso sobre o tema. Certos da originalidade e superioridade do pensamento judaico-cristão e o evangelho de Cristo, não podemos aceitar religiões políticas no lugar (ou juntamente com) o verdadeiro cristianismo.

Em terceiro lugar, quanto à assistência social financeira, ela não deve ser confundida jamais com assistência estatal. A responsabilidade de prestar assistência aos pobres e oprimidos é, primeiramente, individual (e, por tabela, da Igreja). E isso deve ser feito não por meio de coação estatal ou de qualquer tipo, mas por livre e espontânea vontade do indivíduo. A Igreja deve ser, do ponto de vista civil, uma associação livre, que ajuda e influencia positivamente a sociedade com recursos próprios. Cada cristão deve doar seu tempo, seu dinheiro e seus esforços para causas sociais motivado apenas por amor a Deus e ao próximo.

Defender a assistência social não deve ser entendida como a defesa de algum modelo de governo, ideologia ou partido. O cristianismo é maior que essas coisas e Cristo exige do verdadeiro cristão o engajamento direto nas causas sociais, não a delegação de suas tarefas ao governo.

Voltamos ao Quebrando o Silêncio para declarar o nosso apoio a essa iniciativa. Como embaixadores de Cristo devemos fazer todo o possível para frear a violência doméstica, seja contra mulheres, crianças, idosos ou homens. Que possamos participar do projeto e deixar claro ao mundo que é o cristianismo o verdadeiro promotor dos direitos humanos e não ideologias preocupadas com agendas políticas e sem compromisso com Deus.

Por Davi Caldas

Fonte: Reação Adventista


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Sobre Weleson Fernandes

Evangelista da Igreja Adventista do sétimo dia, analista financeiro, formado em gestão financeira, pós graduado em controladoria de finanças, graduado em Teologia para Evangelistas pela Universidade Adventista de São Paulo. Autor de livros e de artigos, colunista no Blog Sétimo dia, Jovens Adventista. Tem participado como palestrante em seminários e em Conferências de evangelismo. Casado com Shirlene, é pai de três filhos.

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