Babilônia: a grande meretriz (parte 2)

A igreja cristã primitiva era uma comunidade singular em virtude da operação invisível do Espírito Santo.

Desde o início, Deus havia planejado que Sua igreja fosse um instrumento para a salvação dos homens, e Cristo prometera dotá-la com poder para que cumprisse essa santa vocação (Atos 1:8).

A promessa, porém, não tinha em vista o mais poderoso anjo do Céu, nem mesmo uma legião de anjos celestiais, mas a terceira Pessoa da Trindade, o Espírito Santo!

Uma vez que os discípulos obedeceram às instruções de Cristo e, pela fé nEle, cumpriram as condições necessárias para o recebimento da promessa, o Pentecostes foi apenas o começo de uma trajetória em que a igreja “saiu vencendo e para vencer” (Apocalipse 6:2). Paulo, escrevendo aos cristãos em Roma, disse: “Em todo o mundo, é proclamada a vossa fé” (Romanos 1:8). E aos colossenses ele escreveu que o evangelho de que era ministro estava sendo pregado “a toda criatura debaixo do céu” (Colossenses 1:23).

Tanto a universalidade da igreja como sua unidade (Efésios 4:4-6) era consequência da obra do Espírito Santo atuando através da liderança e dos membros leigos. Líderes das igrejas locais deveriam ser homens “cheios do Espírito Santo” (Atos 6:3), escolhidos, qualificados e dirigidos pelo Espírito Santo (Atos 13:2), indicados (Atos 6:5) e ordenados pela igreja (Atos 13:3). Enquanto permanecessem na comunhão com Cristo e na pureza doutrinária, manteriam elevados padrões de conduta pessoal e a união indissolúvel provida pelo Espírito Santo.

Desenvolvimento da apostasia cristã

Contudo, a apostasia sobre a qual advertira Cristo e os apóstolos era um fenômeno que ameaçava a integridade e simplicidade da igreja cristã primitiva. À medida que seus membros abandonaram o “primeiro amor” (Apocalipse 2:4), perderam a pureza da doutrina, os elevados padrões morais e espirituais e a direção do Espírito Santo. O conteúdo foi substituído pela forma, e a humildade e abnegação requeridas do verdadeiro líder (I Pedro 5:2-3) foram suplantadas pela popularidade e poder pessoal.

O fortalecimento do episcopado monárquico em sua luta contra as heresias e a crescente primazia do bispo de Roma sobre as demais congregações cristãs foram os eventos catalisadores dessa grande apostasia, que já se insinuava desde os tempos apostólicos. Esses fenômenos vieram acompanhados de tendências estruturais e teológicas paulatinamente distintas do espírito original do evangelho.

Edward Gibbon assinala como os bispos adquiriram uma cota muito maior de poder executivo e arbitrário devido ao uso de conselhos em substituição à autoridade legislativa das igrejas individuais. Unindo-se em torno de interesses comuns ficaram capacitados a atacar, com vigor conjunto, os direitos originais de seu clero e da comunidade. Os prelados do século III aos poucos foram convertendo a linguagem de exortação em linguagem de comando. (1)

Na esteira dessa centralização do poder, estava a corrupção doutrinária. Assim a descreve H.G. Wells em sua História Universal:

Natural ainda para o cristianismo foi a adoção, quase insensível, dos métodos práticos das religiões populares desse tempo. Os seus sacerdotes deram-se ao hábito de rapar a cabeça e ao uso das vestes características dos padres egípcios, pois tais sortes de coisas pareciam ser o meio mais adequado de se distinguir um sacerdote dos demais mortais. Um acréscimo seguiu-se a outro. Quase insensivelmente, o ensino originariamente revolucionário de Jesus se viu sepultado sob essas aquisições do costume. (2)

A razão para que cristãos incorporassem elementos da cultura pagã encontra-se na própria estratégia missionária da Igreja. Como observa L. Génicot, no processo de evangelização dos pagãos, numerosas conversões foram demasiado rápidas, e muitas obedeceram a motivos temporais.

Os evangelizadores limitaram-se ao essencial da doutrina, e não cuidaram de tornar acessível às massas, pelo emprego da língua vulgar, a Bíblia que é a fonte principal. Ergueram igrejas sobre as ruínas dos templos, dedicaram aos santos as fontes sagradas, transmudaram as antigas manifestações do culto em solenidades cristãs, e favoreceram quiçá deste modo a sobrevivência de hábitos pagãos, e por seu intermédio, de um certo espírito pagão.

Génicot acrescenta:

Se o cristianismo da alta idade média é medíocre, se o dogma se limita a algumas fórmulas, se a moral é mais vezes baseada no temor do que no amor, se o maravilhoso ocupa um lugar tão importante, se as relíquias tomam tantas vezes o lugar de amuletos e as bênçãos o de encantações mágicas, caberá a culpa disso unicamente ao caráter rude dos povos, à sua emotividade e à sensação de impotência perante a natureza, ou não se deverá atribuir também às deficiências do clero que sucedeu aos missionários? Não terão uma certa responsabilidade, eles que procuraram em excesso felizes transições? (3)

 

A Igreja reconhecida e favorecida pelo Estado

Desenvolvendo-se à sombra da influência pagã na esperança de atrair e agradar os descrentes, e obtendo, além disso, os favores de Roma na pessoa do imperador Constantino, o cristianismo alcançou o status de religião legal dentro do império.

A nota da edição abreviada de Declínio e Queda do Império Romano, de Gibbon, informa que:

Em consequência desse favoritismo imperial, os bispos e mestres cristãos tinham fácil e constante acesso ao trono; a Igreja se recuperou [das perseguições] e com o tempo adquiriu título legal de posse de todas as terras e propriedades que havia perdido sob a severidade de Diocleciano; a todos os súditos foi dado o direito de legar propriedades à Igreja; os recursos públicos começaram a dar apoio à religião que rapidamente se expandia; o antigo princípio de santuário, outrora limitado aos mais sagrados dos templos pagãos, foi transferido para as igrejas cristãs; e os bispos adquiriram poder bastante para censurar e excomungar altos funcionários civis que lhes desagradassem. A partir do reinado de Constantino, os assuntos civis e religiosos do império se misturaram tão inextricavelmente que raras vezes é possível entender uns sem pelo menos certa compreensão dos outros. (4)

No Curso Popular de História da Igreja, destinado aos dirigentes das comunidades eclesiais de base, há o seguinte comentário acerca deste período:

Com a conversão de Constantino, a partir de 313, os bispos receberam uma posição privilegiada na sociedade e no império. Foram tratados como senadores e governadores de províncias. Receberam para as suas igrejas o privilégio de não pagar impostos e de não depender da justiça comum, mas somente da justiça eclesiástica. A partir desse momento, os bispos se tornaram membros da classe dirigente, sobretudo nas cidades importantes. Receberam distintivos de poder social: mitra, anel, báculo são sinais de dignidade civil, significando o poder. Apareceu uma distância entre o bispo e o povo. Também os ajudantes do bispo foram destacados. Apareceu algo novo, como casta privilegiada e distinta do povo: o clero, que era justamente o que Jesus não queria. (5)

 

Origem e crescimento do papado

Havia já certo tempo que a diocese romana aspirava a uma posição de superioridade sobre toda a Igreja. Um incidente ocorrido por volta do ano 190 tornou notório esse desejo de predomínio que animava não só a comunidade romana, mas principalmente a pessoa do seu chefe.

Em uma longa disputa sobre o dia de celebração da Páscoa envolvendo as igrejas do Oriente, o bispo de Roma decidiu abandonar a tolerância recíproca, esforçando-se por impor a unidade dos costumes. Com base na decisão de um Sínodo, proclamou a excomunhão das igrejas recalcitrantes. Sua atitude autoritária naturalmente ressentiu os Asiáticos: “Ele [o bispo de Roma] deveria recordar-se sempre da paz, da união, do amor ao próximo”. (6)

Mais tarde, as posições de prestígio e poder alcançadas nas cortes imperiais por influência de Constantino contribuíram substancialmente para a supremacia do bispo de Roma.

A autoridade dos papas cresceu gradualmente, apesar do exílio de Libério, a ascensão do antipapa Félix (355-365), e a rivalidade que acompanhou as eleições de Damásio e Bonifácio (418-422). O cânon de Sárdica (343) reconheceu a posição tradicional do bispo de Roma como uma corte final de apelação em matéria de doutrina e disciplina. Este fato foi depois incorporado à legislação de Graciano (375-383) e Teodósio (379-395). (7)

Com a mudança da capital para Bizâncio em 330, o bispo de Roma tornou-se o personagem mais importante na antiga sede do império. Líderes eminentes da Igreja já personificavam com energia a ideia do primado romano, contribuindo para o crescimento do papado.

Entre eles, Calisto I (217-222), Estevão (254-257) e Dionísio (259-268), defensores da autoridade romana em matéria de doutrina; Júlio I (337-352), que sustentou vigorosamente a autoridade suprema da diocese romana; e Leão I (440-461), cognominado “o Grande”, figura chave na afirmação da dignidade de Roma sobre Constantinopla e de sua jurisdição sobre toda a Igreja Ocidental.

Leão I foi o primeiro papa que desenvolveu clara, firme e completamente a doutrina do primado romano, interpretando sua sucessão de Pedro no sentido de pastor supremo e de mestre da Igreja universal. Quando Hilário, de Poitiers, recusou-se a aceitar sua decisão numa disputa com outro bispo gaulês, Leão I enviou-lhe ordens categóricas, as quais o imperador apoiou com um edito imperial que confirmava a autoridade do bispo romano sobre todas as igrejas cristãs.

A totalidade dos bispos do Ocidente concordou com essa supremacia, mas os patriarcas do Oriente recusaram-se a reconhecê-la, o que causou violenta controvérsia com a Igreja Oriental, a qual pouca obediência prestava ao bispo de Roma.

No Ocidente, porém, os papas exerciam cada vez mais influência até mesmo em questões seculares. Não obstante, ainda estavam subordinados, em questões não religiosas, ao Estado e prefeito romanos. A distância do Oriente e a fraqueza dos governantes ocidentais deram, no entanto, grande preeminência aos papas de Roma. Quando, em face de uma invasão, o senado e o imperador fugiram, os papas mantiveram-se em seus postos e seu prestígio subiu rapidamente.

A conversão dos bárbaros fez que se estendessem mais ainda a autoridade e a influência da diocese de Roma. A Igreja participava cada vez mais da riqueza que afluía à capital ocidental à medida que as famílias ricas e aristocráticas abandonavam o paganismo e abraçavam o cristianismo.

Armino surpreendeu-se ao ver que o bispo de Roma vivia como um príncipe no Palácio Laterano e percorria as ruas da cidade com a pompa de um imperador. Magníficas igrejas embelezavam a cidade. Formou-se uma brilhante sociedade, da qual participavam elegantes prelados e lindas mulheres, as quais ajudavam na feitura de seus testamentos. (8)

Referindo-se ao desenvolvimento do poder temporal dos papas, Charles Butler observa:

De um humilde pescador, o papa tornou-se, sucessivamente, proprietário de casas e terras, adquiriu o poder da magistratura em Roma, e grandes possessões territoriais na Itália, Dalmácia, Sicília, Sardenha, França e África e, finalmente, obteve a distinção e importância de um príncipe temporal. O papa não parou aí, mas alegou, por direito divino, a prerrogativa de exercer o supremo poder temporal sobre todos os soberanos cristãos, quando um grande bem da religião assim o exigisse. Essa alegação foi improcedente; tanto o evangelho como a tradição se manifestam contra ela, e resultou em grande mal. (9)

 

Expedientes para legitimar a autoridade papal

Para fundamentar as vastas pretensões de poder do papado, recorreu-se a partir da metade do século XI a um documento supostamente preparado por Constantino em favor do papa Silvestre I e da Igreja.

Nele, o imperador, agradecido ao papa que o converteu, batizou e curou da lepra, determinava que todas as igrejas da terra, inclusive os quatro patriarcados orientais, ficassem sujeitos à Sé romana; concedia a Silvestre e aos seus sucessores o palácio lateranense, a cidade de Roma, a Itália com todas as províncias, o Ocidente inteiro, direitos, insígnias e honras imperiais; e ao clero romano conferia a dignidade senatorial.

Somente no século XV leigos e eclesiásticos convieram em reconhecer esse documento, chamado “Doação de Constantino” (

clique aqui

, para saber mais), como uma falsificação, obra de tempos posteriores ao imperador. (10)

Recorreu-se, ainda, a outro expediente: a coleção de fontes jurídicas criada em 850 por canonistas da arquidiocese de Reims e atribuída a Isidoro de Sevilha, erudito do século VII.

Essas decretais pseudo-isidorianas, mantidas como obras autênticas até o século XV, são uma falsificação composta de trechos autênticos, de trechos modificados e de outros inventados. Foram imaginadas para reforçar não o papado, mas a função episcopal; em razão, entretanto, da sua clara tendência para unir mais estreitamente os órgãos da Igreja à Sé romana, elas se tornaram naturalmente uma poderosa arma do primado papal. (11)

Assim, mais que um agente transmissor da cultura romana ao Ocidente medieval, o cristianismo apostatado converteu-se em um novo “Império Romano”, tendo como seu imperador o papa.

Apropriando-se do título pagão “pontífice máximo”, recusado pelo imperador cristão Graciano em 379, o bispo de Roma pôde exaltar sua dignidade e poder real. (12) Uma amostra dessa arrogante pretensão (veja mais aqui) pode ser avaliada nas palavras de Gregório VII (1073-1085) em seu Dictatus Papae, publicado dois anos depois do início de seu pontificado:

A Igreja romana foi fundada unicamente pelo Senhor. Somente o bispo de Roma merece em direito o nome de universal. Só ele tem o direito de decretar novas leis, de fundar novas comunidades, de depor bispos sem decisão sinodal, de subdividir dioceses ricas e unificar as pobres. Só ele tem o direito de conferir as insígnias imperiais. Só ele dá o pé a beijar a todos os príncipes. Só o seu nome é citado nas preces da Igreja. O seu nome de Papa é reservado a ele só no mundo. Ele tem direito de depor o imperador. Sem a sua vontade, nenhum Sínodo poder ser chamado universal. As suas sentenças são inapeláveis. Ele não poder ser julgado por ninguém. Todos os negócios importantes de todas as Igrejas devem ser levados perante a Santa Sé. A Igreja romana nunca se enganou e nunca se enganará, conforme atestam as Sagradas Escrituras. O Papa romano, quando é consagrado segundo os cânones, torna-se santo pelos méritos de S. Pedro. Ninguém pode ser considerado católico, se não está de acordo com a Igreja romana. O Papa pode dispensar os súditos do juramento de fidelidade prestado a maus soberanos. (13)

A Igreja de Roma cumpre os interesses da profecia

Podemos reunir as especificações proféticas concernentes à grande apostasia e seu cumprimento histórico em Roma papal como segue:

1. A apostasia, sendo um fenômeno tipicamente religioso, desenvolveu-se no seio da igreja cristã, conforme haviam advertido Cristo e os apóstolos (Mateus 24:4, 11 e 24; Atos 20:29-30; II Tessalonicenses 2:3-4; I João 2:18; II Pedro 2:1-3)

2. A apostasia atingiu seu clímax com a instituição do papado e a união da Igreja (a mulher) com o poder civil (a besta), que a favoreceu e a engrandeceu sobremodo, em detrimento da verdade de Deus (Apocalipse 17:1-3; Daniel 7:25; 8:11-12).

Com a queda do Império Romano do Ocidente, o papa tornou-se figura chave na antiga sede imperial, atribuindo-se o título de “pontífice máximo”. Na religião romana, o termo designava os membros do conselho de sacerdotes que compunham o Colégio Pontifício, considerado a maior organização sacerdotal em Roma, presidida pelo pontifex maximus.
A partir da época de Augusto (31 a.C. – 14 d.C.), o imperador atuava tanto como autoridade suprema do Estado como sumo sacerdote, ou pontífice máximo (“Sumo Pontífice”), título adotado pelos papas por volta do século XV. (14)

Os dois lados do denário, moeda cunhada durante o reinado de Tibério. No verso, a inscrição PONTIF MAXIM.

Medalha cunhada em homenagem a Pio XI, em cuja face há o título outrora atribuído ao imperador romano.

3. A Igreja de Roma, na qualidade de religião estatal, exerceu seu poder despótico sobre muitos povos e nações. Esse controle é profeticamente representado pela figura da “grande meretriz assentada sobre muitas águas” (Apocalipse 17:1 e 15).

4. A grande meretriz está vestida de “púrpura e escarlata” (verso 4). Esta Igreja não está vestida de “linho fino” que representa a “justiça dos santos” (Apocalipse 19:8), mas está prodigamente ataviada em púrpura e escarlate, cores da realeza usadas pelos antigos dignitários romanos e que posteriormente foram adotadas pelo clero católico.

 

Créditos da imagem: Arturo Mari.
5. A mulher está “adornada de ouro, pedras preciosas e pérolas” (Apocalipse 17:4b), símbolos de sua riqueza e poder. Na esteira da desordem econômica e social causada pelas invasões germânicas, a Igreja procurou satisfazer seus próprios interesses. Acumulava à custa de doações arrancadas aos reis e aos grandes, e até aos mais humildes, terras, rendimentos, isenções; e, num mundo em que o entesouramento só pode esterilizar cada vez mais a vida econômica, aplicava à produção a mais grave sangria.
Os seus bispos, que pertenciam quase sempre à aristocracia dos grandes proprietários, eram todo-poderosos nas suas cidades e circunscrições episcopais e procuravam sê-lo também no reino. (15)
Durante a Idade Média, a Igreja não só tornou-se membro do sistema feudal, como também a maior proprietária de terras. Uma das razões por que se proibia o casamento aos padres era simplesmente porque os chefes da Igreja não desejavam perder quaisquer terras da Igreja mediante herança aos filhos de seus funcionários. (16)

Mesmo hoje, quem visita um dos maiores palácios do mundo, o Vaticano, com seu acervo artístico e cultural inestimável, não deixa de se impressionar ante a beleza e a pompa da sede espiritual e temporal da Igreja.

6. A mulher tem na mão “um cálice de ouro transbordante de abominações e com as imundícias da sua prostituição” (Apocalipse 17:4c). Na Bíblia, “abominação”, “mentira”, “imagem de escultura” e “falsos deuses” são palavras usadas como sinônimos (I Reis 11:7, 2, 3; Isaías 44:15, 19, 20).

Dentre as doutrinas espúrias do cálice de Babilônia, o sacramento da eucaristia é o dos mais ofensivos (sobre isso, clique aqui), pois se diz ser o “verdadeiro sacrifício” no qual “o próprio Jesus Cristo está sendo sacrificado”. Diz-se, ainda, que “a missa tem valor infinito, já que é o mesmo sacrifício que o da Cruz”. (17)

Tais pretensões injuriosas se opõem abertamente aos ensinos da Bíblia (ver Romanos 6:9; Hebreus 7:26-27; 9:11-12, 24-26; 10:10-12; I Coríntios 11:23-26, onde a expressão “em memória de mim” faz referência a alguém ausente, não presente como na eucaristia).
Note que, segundo a disciplina da Igreja, a copa do cálice usado no sacrifício da missa para a consagração do vinho deve ser feita de ouro, ou de prata dourada no interior (em caso de pobreza, permite-se empregar estanho dourado), e seu suporte pode ser de ouro metal de menor valor. (18)
“O Triunfo da Fé sobre a Idolatria”, obra do escultor francês Jean-Baptiste Théodon, em Chiesa del Gesù, a Igreja Jesuíta de Roma. Em destaque, a mulher, símbolo da fé católica, segurando um cálice com a eucaristia.

7. A mulher traz um nome escrito em sua fronte: “Babilônia, a Grande, a Mãe das Meretrizes e das Abominações da Terra” (Apocalipse 17:5). Roma se refere a si mesma como a “santa mãe igreja”. (19) Como instituição, porém, esta Igreja é tragicamente retratada nas Escrituras como uma “grande meretriz” – “mãe das meretrizes e das abominações da terra” – em cuja mão há um “cálice de ouro transbordante de abominações e com as imundícias da sua prostituição”.

Detalhe de uma das colunas na entrada principal da Catedral de São João Latrão. A inscrição diz: “Santa Igreja Lateranense, Mãe e Cabeça de todas as Igrejas na Cidade [Roma] e em todo o Mundo”.

8. A mulher embriagou-se “com o sangue dos santos e com o sangue das testemunhas de Jesus” (Apocalipse 17:6). A Igreja não somente embriagou-se com falsas doutrinas, mas também com o sangue dos mártires. Falaremos sobre este período sombrio da história da Igreja oportunamente.

9. A mulher está assentada sobre “sete montes”, e ela mesma simboliza a “grande cidade que domina sobre os reis da terra” (Apocalipse 17:9 e 18). Quando os papas subiram ao trono dos césares, a antiga capital do império tornou-se a sede da Igreja Católica e do papado.

Catholic Encyclopedia informa que o Estado do Vaticano encontra-se totalmente dentro dos limites da cidade de Roma, chamada cidade das sete colinas. (20) O nome “Vaticano” provém da expressão “Colina Vaticana”. (21) O termo tem sua origem na palavra latina vaticinia, de vaticinar, profetizar, revelar o futuro por inspiração divina. (22) A raiz vatic, profetizar, oracular, mais o sufixo anus, relativo a nomes de lugares ou pessoas, pode significar também “Cidade da Profecia”, em cumprimento de Apocalipse 17:9 e 18. (23)

Moeda com a efígie de Pio XII. No verso, a imagem da mulher segurando o cálice e a inscrição CITTÁ DEL VATICANO, ou “Cidade da Profecia”.

Medalha comemorativa do jubileu de Leão XII. No verso, a mulher segurando o cálice, e a inscrição: SEDET SUPER UNIVERSUM (O Mundo todo é sua Sede).

Conclusão

Quão rigorosamente as palavras de Paulo se cumpriram na história do cristianismo! Foi com base na autoridade humana que mudanças estruturais e doutrinárias sepultaram a simplicidade da verdadeira religião, a pureza do evangelho e a genuína piedade cristã. A direção humana substituiu a direção do Espírito Santo para prejuízo da própria Igreja e do mundo.

Entre as muitas invenções católico-romanas em vigor a partir do século III, podemos destacar as seguintes:

  • Orações pelos mortos.
  • Observância do domingo como o dia do Senhor.
  • Veneração dos anjos e dos santos mortos e o uso de imagens.
  • Celebração da missa.
  • Exaltação de Maria.
  • A doutrina do purgatório.
  • A infalibilidade do papa.

Quais as implicações destas doutrinas sem fundamento bíblico?

  1. A tradição e os dogmas da Igreja prevalecem sobre a Palavra de Deus.
  2. A justificação por obras meritórias substitui a salvação unicamente pela graça de Cristo.
  3. Os santos e padres são mediadores em lugar de Cristo, o único Mediador.
  4. A lei de Deus pode ser alterada pela Igreja, embora Jesus não a tenha alterado ou mesmo autorizado qualquer mudança.

A apostasia e o surgimento do anticristo que foram preditos por Paulo em II Tessalonicenses 2:3 e 4 e pelos demais apóstolos se confirmaram na história de Roma papal.

Esta instituição, porém, não se encontra sozinha no mundo. Ela possui filhas meretrizes que partilham de sua condição espiritual e que contribuem de algum modo para lançar a verdade de Deus por terra (Daniel 8:12).

Notas e referências

1. Edward Gibbon. Declínio e Queda do Império Romano. Edição abreviada. São Paulo: Companhia das Letras, 1989, p. 219.

2. H.G. Wells. História Universal. 8ª ed. Vol. 5. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1970, p. 208 e 209.

3. L. Génicot. “A Igreja e o Ocidente”. Em Linhas de Rumo da Idade Média. Porto: L.A. Imprensa, 1968, p 83 e 84.

4. Edward Gibbon, op. cit., p. 278.

5. José Comblin, Roberto Eufrásio, Mõnica Maria Muggler. Curso Popular de História da Igreja – 4: A Hierarquia. São Paulo: Edições Paulinas, 1993, p. 23.

6. Joseph Bernhard. O Vaticano – Potência Mundial: História e Figura do Papado. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti Editores, 1942, p. 36.

7. The New Catholic Encyclopedia. 2ª ed. Detroit, MI: Gale-Thomson, in association with The Catholic University of America, Washington, D.C., 2003, Vol. 12, Art. “Rome”, p. 354.

8. Joseph Bernhard, op. cit., p. 37 e 56; Frank K. Flinn. Encyclopedia of Catholicism. New York: Facts On File, 2007, Art. “Papacy”, p. 498; Will Durant. História da Civilização. Tomo I. 4ª parte: A Idade da Fé. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1957, p. 71 e 72.

9. Charles Butler. The Book of the Roman-Catholic Church. Second Edition. London: John Murray, 1825, p. 93 e 94.

10. Joseph Bernhard, op. cit., p. 72, 80 e 81.

11. Ibid., p. 81 e 82.

12. H.G. Wells, op. cit., p. 226 e 227.

13. Joseph Bernhard, op. cit., p. 115.

14. The New Catholic Encyclopedia. Vol. 11. Art. “Pontiff”, p. 473; Frank K Flinn. Encyclopedia of Catholicism. Art. “Caesaropapism”, p. 120.

15. Jacques Le Goff. A Civilização do Ocidente Medieval. Vol. 1. São Paulo: Imprensa Universitária, 1983, p. 61.

16. Leo Huberman. História da Riqueza do Homem. 17ª ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1981, p. 22 e 23.

17. Doutrina Católica, por Boulenger. Terceira parte: Meios de Santificação, Liturgia. Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte: Livraria Francisco Alves Paulo de Azevedo & Cia., 1927, p. 116, 120 e 121.

18. Ibid., p. 252.

19. Em um documento oficial do Vaticano consta esta explicação: “A certeza de que a Igreja pode carregar o peso dos pecados de seus filhos por força da solidariedade existente entre eles no tempo e no espaço, graças à sua incorporação em Cristo e à obra do Espírito Santo, é expressa de modo particularmente eficaz pelo conceito de ‘Igreja Mãe’ (Mater Ecclesia)…”. – Memory and Reconciliation: The Church and the Faults of the Past”. International Theological Commission, December 1999.

20. The Catholic Encyclopedia, edited by Robert C. Broderick. Thomas Nelson Publishers, 1976, p. 529.

21. Frank K. Flinn. Encyclopedia of Catholicism. Art. “Vatican City”, p. 620.

22. Ver <http://lysy2.archives.nd.edu/cgi-bin/words.exe?vaticinia>. Acesso em: 30 mai. 2012, 09h45min.

23. Mais informações podem ser obtidas em: <http://www.biblelight.info/vatican.htm>.

 

Fonte: Três Mensagens

Sobre Weleson Fernandes

Escritor & Evangelista da União Central Brasileira

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