Pastores e professores atuam na linha de frente da guerra contra o mal, e devem se apoiar mutuamente.
Ao se referir aos dons espirituais, mencionando que o Senhor “concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres” (Ef 4:11), Paulo usou uma construção grega indicadora de que o trabalho de pastor e o de professor eram exercidos pela mesma pessoa. Comentando esse texto, Bruce diz que “os dois termos, pastores e mestres, denotam uma e a mesma classe de homens”.1 Os outros dons são enumerados separadamente.
O significado disso é que o pastor não deve apenas cuidar do bem-estar espiritual do rebanho, mas também deve ser mestre. Por sua vez, o mestre não é apenas expositor da verdade, mas, como o pastor, tem permanente cuidado pelos aprendizes. Mestres atuam como pastores de seus estudantes; e pastores exercem papel de mestres para os membros das igrejas.
Na sociedade do século 21, o mestre cristão geralmente é visto como alguém que pastoreia em um contexto de escola, enquanto o pastor é definido como alguém que ensina a uma comunidade religiosa maior. Porém, embora eles estejam encarregados por diferentes setores da vinha do Senhor, a missão é uma só: “Nossas ideias acerca da educação têm sido demasiadamente acanhadas. Há a necessidade de um objetivo mais amplo e mais elevado. A verdadeira educação significa mais do que avançar em certo curso de estudos. É muito mais do que a preparação para a vida presente. Visa o ser todo, e todo o período da existência possível ao homem. É o desenvolvimento harmônico das faculdades físicas, intelectuais e espirituais. Prepara o estudante para a satisfação do serviço neste mundo, e para aquela alegria mais elevada por um mais dilatado serviço no mundo vindouro.”2
Em uma passagem que sublinha toda a sua filosofia educacional, Ellen G. White mostra que, para compreendermos o significado e objetivo da educação, devemos entender quatro coisas sobre as pessoas: (1) Sua origem natural; (2) o propósito de Deus ao criar o ser humano; (3) a transformação ocorrida na condição humana após a queda e (4) o plano de Deus para cumprir Seu propósito na educação da humanidade.3
Então, ela explica esses quatro itens. Primeiramente, a humanidade foi criada à imagem de Deus. Em segundo lugar, as pessoas deviam revelar ainda mais plenamente a imagem de Deus, por meio do contínuo desenvolvimento na Terra e pela eternidade. Em terceiro lugar, a desobediência maculou, mas não destruiu a imagem em seus aspectos físico, mental e espiritual. E desobediência também leva à morte.
O quarto item é o ponto focal da missão. Apesar da queda, lemos que “o ser humano não foi deixado sem esperança. Por infinito amor e misericórdia foi concebido o plano da salvação, concedendo-se um tempo de graça. Restaurar no homem a imagem de seu Autor, levá-lo de novo à perfeição em que fora criado, promover o desenvolvimento do corpo, mente e espírito para que se pudesse realizar o propósito divino da sua criação – tal deveria ser a obra da redenção. Este é o objetivo da educação, o grande objetivo da vida”.4
Salvação de pessoas
A Escritura apresenta o mesmo quadro. Nem a Escritura nem a experiência diária têm sentido se descartamos como lenda os primeiros três capítulos de Gênesis, segundo os quais, Deus criou a humanidade à Sua imagem e semelhança (Gn 1:26, 27). Entretanto, Adão e Eva rejeitaram a Deus e escolheram o próprio caminho. Como resultado, eles mesmos, seus descendentes e o mundo natural se tornaram alienados de Deus (Gn 3:8-19). Separando-se da fonte de vida, eles ficaram sujeitos à morte (Gn 2:17; 3:19). A humanidade se tornou sem esperança e perdida, no pleno sentido da palavra.
O ser humano perdido é o objetivo de todo ministério cristão. Por isso, Jesus disse ter vindo para “buscar e salvar o perdido” (Lc 19:10). A mensagem da Bíblia, desde a queda até a futura restauração do Éden, é a história de como, por meio de professores, pregadores, profetas e outros instrumentos, Deus trabalha para nos salvar. É nesse contexto que devemos ver o trabalho do pastor e do mestre.
“No mais alto sentido”, escreveu Ellen G. White, “a obra da educação e da redenção são uma”, porque as duas constroem diretamente sobre Jesus Cristo. Conduzir o estudante a um relacionamento salvador com Jesus Cristo “deve ser o primeiro esforço do professor e seu constante objetivo”.5 Aqui está o mais elevado e primário alvo da educação, mostrando como o trabalho do educador e do pastor estão intimamente relacionados.
Clérigos na igreja e clérigos na escola têm a mesma função salvífica. Eles necessitam ser movidos além da dicotomia que tende a dividi-los e compreender que têm um ministério compartilhado, mesmo que este funcione em diferentes esferas.
Mensagem única
Ao mesmo tempo, se pastores e professores se limitam unicamente à função de levar pessoas a Cristo, eles falham em suas responsabilidades, porque o adventismo não é simplesmente outra denominação com algumas doutrinas diferentes e algumas práticas dietéticas contraculturais. Desde o início, a igreja se tem visto como um movimento profético, com uma mensagem especial a proclamar ao mundo, um chamado apocalíptico, ao qual chamamos de três mensagens angélicas (Ap 14). Por alguma razão, o encargo de pregar todas as mensagens dadas por Cristo tem sido negligenciado por outros grupos religiosos. Nesse contexto, os adventistas do sétimo dia se veem como um povo chamado a pregar uma mensagem única em toda a Terra, antes da vinda de Jesus.
Essa é a compreensão que nos tem levado aos confins da Terra, ao ponto de o adventismo ter se tornado a instituição protestante unificada mais difundida na História. Os adventistas têm-se disposto a sacrificar a vida e os bens para conquistar esse objetivo. E, no processo, desenvolveram uma igreja para orientar essa caminhada bem como um sistema educacional e ministério de publicações para iluminar e convencer a irmandade, preparando-a para ir ao mundo ou apoiar outros no cumprimento dessa missão.
Não somos tímidos em relação à missão que é a própria razão da existência da igreja. Caso perca essa visão, o adventismo se tornará mais uma denominação que busca somente entreter os membros e fazer bem à comunidade. A possibilidade de perder a visão apocalíptica e o lugar do adventismo na história profética é a maior ameaça que a igreja e seu sistema educacional enfrentam no início do século 21.6
Certo diretor acadêmico me disse que, tempos atrás, foi a uma Faculdade adventista e entrevistou alguns formandos, buscando preencher algumas funções. Sua pergunta era: “Qual é a diferença entre educação adventista e a educação cristã evangélica?” Nenhum estudante soube responder. Seguramente, essa faculdade falhou em transmitir nossa única identidade e missão, mesmo em se tratando de uma instituição formadora de profissionais da educação.
Uma escola que já não compreende sua razão de ser, que esqueceu sua mensagem e missão, eventualmente perderá seu sustento. E deveria. Uma escola adventista do sétimo dia que não seja cristã nem adventista é desnecessária. As escolas do setor evangélico e público podem cumprir todas as funções dela. Shane Anderson estava correto quando escreveu: “Pais adventistas estão cada vez menos dispostos a pagar o preço de enviar os filhos” para instituições que têm perdido seu propósito. “Por que gastar dinheiro para enviar o filho a uma escola que já não é substancialmente diferente da média das escolas cristãs, ou da escola pública local, na esquina perto de casa?”
Harmonia necessária
Porém, antes que os pastores se sintam tranquilos, aqui vai uma advertência: a mesma doença infecta alguns deles. Muitos pastores pregam bons sermões evangélicos; mas, frequentemente, têm negligenciado e evitado as verdades e a missão que nos têm feito adventistas. Isso pode gerar uma espécie de neutralidade. Afinal, as pessoas podem acabar se perguntando: “Por que ir à igreja adventista, se a mensagem é a mesma de qualquer igreja?”
Se o adventistmo tem uma missão e uma mensagem importantes, vamos proclamá-las tanto nas escolas como nas igrejas, pois ambas têm a mesma missão. O problema é que nem sempre é vista essa importante ligação entre ministério e ensino. Alguns pastores, que veem o sistema educacional como antievangelístico, argumentam com aparente lógica: Considerando que o subsídio à escola é sempre o maior item do orçamento da igreja, por que não redirecionar esse dinheiro para “melhores” propósitos? Afinal, os resultados da educação nem sempre são imediatamente aparentes.
Acaso são válidas tais pressuposições? Um pastor que nunca trabalhou em escolas discorda. “Em minha experiência,” ele escreve, “a educação adventista é uma das mais efetivas maneiras de preparar jovens para a segunda vinda de Cristo. Além disso, creio que nossas escolas têm mais sucesso em fazer isso do que qualquer outro método evangelístico isolado. Também acredito que a educação adventista tem sido a chave para propagar nossa singular missão no mundo.” Ele acrescenta que “nossas escolas são as pernas que mantêm o movimento adventista correndo”.8
O poder da influência
Qual das duas posições é a correta? Para uma resposta curta, necessitamos apenas observar a história do mundo. Há uma razão pela qual nações e igrejas buscam controlar a educação: Quem quer que modele o sistema educacional modela o futuro. Assim, não é difícil ver a lógica do primitivo adventismo no estabelecimento de um sistema educacional que deveria preparar futuros membros e líderes da igreja.
Movendo-nos em direção à função social do sistema, necessitamos compreender o poder da influência do professor. Muitos pastores veem seu rebanho uma ou duas horas semanais e se comunicam com ele, na maioria das vezes, em reuniões impessoais para adultos que já formaram os respectivos caracteres e tomaram as importantes decisões da vida. Em contraste, professores têm contato face a face com estudantes influenciáveis durante 30 horas semanais em média.
Isso nos leva a uma simples interrogação: Que tipo de pessoa você deseja que exerça influência tão forte sobre seus filhos? Quem você deseja que os ajude a definir os valores e atitudes deles? Um não cristão? Um cristão com uma diferente compreensão da Bíblia, ou um comprometido, dedicado e crente mestre adventista? Jamais se esqueça de que os professores são poderosos elos entre seus filhos e Deus, entre seus filhos e o estilo de vida e pensamento adventista. De alguma forma, os professores influenciarão a compreensão de seus filhos a respeito de valores e da verdade.
Anos atrás, quando pastoreei uma igreja no Texas, conheci um casal muito dedicado que desejava dar à única filha a melhor educação possível. O casal concordava em que o sistema público não era a melhor resposta, mas não havia escola adventista na cidade. Então, entendendo que uma escola católica era melhor que uma secularista, para lá a filha foi enviada. Finalmente, os pais ficaram chocados quando a menina decidiu se tornar freira! O poder da educação é um processo modelador de vida.
Não há dúvida quanto ao potencial evangelístico da educação adventista. Mas, o que dizer das finanças envolvidas? Seria justo dizer que a escola mina as finanças da igreja? O único estudo que conheço sobre o assunto data de cinco anos atrás. Ele revelou que igrejas que não investiam na escola tinham perda de membros e dízimos em cada ano da pesquisa. Igrejas que apoiavam financeiramente a escola experimentaram aumento de dízimos e número de membros no mesmo período.9
Por enquanto, deve ter ficado óbvio que os adventistas, tanto no ministério pastoral como no educacional, têm uma mensagem e uma missão. Ambos trabalham para alcançar um mundo perdido para o qual a salvação em Cristo e a crença em Sua vinda gloriosa parecem ser a única real esperança.
São dois ministérios e uma missão. A saúde de cada um está ligada à do outro. Ambos operam na linha de frente na guerra contra o pecado e Satanás. Ambos prosperam mais quando mutuamente apoiados. Portanto, é fundamental que os clérigos educacionais apoiem pública e particularmente seus irmãos pastores. É preponderante que os pastores apoiem os parceiros educacionais. Escolas saudáveis têm bom relacionamento com as igrejas patrocinadoras; e um dos melhores aliados da escola, em termos de estudantes e finanças, é o pastor.
Referências:
1 F. F. Bruce, The Epistle to the Ephesians (Westwood, NJ: Fleming H. Revell, 1961), p. 86.
2 Ellen G. White, Educação, p. 13.
3 Ibid., p. 14, 15.
4 Ibid., p. 15, 16.
5 Ibid., p. 30.
6 George R. Knight, A Visão Apocalíptica e a Neutralização do Adventismo (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2010).
7 Shane Anderson, How to Kill Adventist Education (and How t Give It a Fighting Chance) (Hagerstown, MD: Review and Herald, 2009), p. 22, 56.
8 Shane Anderson, Op. Cit., nº 12, p. 144.
9 Larry Blackmer, Adventist Review, 27/07/2006, p. 8-13.
George R. Knight – Professor de Teologia, jubilado, reside no estado de Oregon, Estados Unidos. Texto publicado na Revista Ministério de Mar/Abr-2011.