Tenho dúvida quanto à onisciência de Jesus. Já ouvi que, quando Ele disse: “Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos Céus, nem o Filho, senão o Pai” (Mt 24:36), foi porque, estando Ele encarnado, não teria feito uso de Sua onisciência, em Seu próprio benefício. Mas, lendo Apocalipse 1:1, parece que, mesmo depois de Sua ressurreição e ascensão, Ele dependia da revelação do Pai para eventos futuros. Teria Jesus, por causa da Encarnação, perdido Sua onisciência?
Apocalipse 1:1 diz: “Revelação de Jesus Cristo, que Deus Lhe deu para mostrar aos Seus servos as coisas que em breve devem acontecer e que Ele, enviando por intermédio do Seu anjo, notificou ao Seu servo João.”
Deve-se dizer, de início, que, pelo fato de Se encarnar, Jesus não perdeu qualquer atributo divino. Isso é o que nos diz Paulo, em Colossenses 2:9: “Porquanto, nEle, habita corporalmente toda a plenitude da divindade” (destaque acrescentado). Se, mesmo após Sua ascensão, Paulo fala que “toda a plenitude da divindade” habita corporalmente em Jesus, isso significa que Ele, mesmo tendo passado pelo processo da Encarnação, continua com todos os poderes divinos, que sempre teve, incluindo a onisciência.
Então, como entender que a “revelação” que João recebeu tinha sido dada a Jesus pelo Pai? Essa declaração deve ser vista no papel de cada membro da divindade com respeito ao plano da salvação. Ou seja, como Jesus, mediante a Encarnação, Se tornou o Mediador entre Deus e os homens (ver 1 Tm 2:5), Deus Pai incumbe Jesus de transmitir certas informações que dizem respeito aos humanos, como é o caso do verso 1 de Apocalipse 1. Mas isso não significa que Jesus não pudesse sabê-las, pois se o texto de Colossenses 2:9 está certo, então Jesus sabe todas as coisas, pois é onisciente, e em plenitude.
É interessante ver como os membros da Trindade são altruístas, ou seja, sempre dividem com os outros membros alguma tarefa (mesmo podendo fazê-las sozinhos, se assim o desejar). Um exemplo claro é o da Criação. Deus Pai poderia, sozinho, ter idealizado e criado o mundo, mas não o fez. Deixou que o Filho desse o comando, falasse para as coisas e seres aparecerem. É por isso que Ele é chamado de “Verbo” (Jo 1:1,10) e de “Verbo de Deus” (Ap 19:13). O Filho, o Verbo de Deus, contou com a atuação do Espírito Santo para moldar a face do abismo (Gn 1:2). O “pairar sobre as águas” do Espírito, em Gênesis 1:2, indica Sua obra criadora, e não que Ele tenha ficado olhando passivamente as coisas e seres sendo criados.
Alguém menos avisado poderia inferir do relato da Criação, em Gênesis capítulo 1, que o Pai não seria onipotente, pois foi o Filho quem comandou toda a obra de criação, ou que o Filho teria alguma limitação, pois é dito que quem moldou a face do abismo foi o Espírito Santo (e não só o abismo, mas o próprio homem. Jó 33:4 e 6 menciona que o Espírito Santo moldou o homem do barro e soprou em suas narinas o fôlego de vida. Confira, ainda, Sl 104:30, onde o Espírito Santo é mencionado como Criador).
O que acontece na Criação é uma bela cena de altruísmo: uma pessoa divina aceita a participação de outra na tarefa de criar, mas isso não significa que haja limitação de algum atributo nas pessoas da Divindade. O mesmo se deu com a revelação de Jesus a João: O Pai poderia tê-la concedido diretamente a João, mas deixou o Filho fazer isso, pois Ele é o nosso Mediador, e, pela Encarnação, nosso irmão mais velho.
Por Ozeas C. Moura, editor na Casa Publicadora Brasileira.
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