Movimento Profético – O brilho da Palavra de Deus é irradiado pelos verdadeiros profetas!

Instituições que sabem a razão de sua existência costumam ter uma declaração de missão. A declaração adventista define que nosso objetivo como igreja é proclamar o evangelho eterno no contexto profético de Apocalipse 14:6-12.

Na abertura  do Concílio  Anual  da  Associação  Geral,  em 2001 , o pastor Jan Paulsen , atual presidente  mundial  da Igreja ,  resumiu em  duas palavras a missão que nos identifica , definindo o povo adventista como um “movimento profético”!2 Declarações como essa nos dão a noção de que estamos inseridos em alguma coisa muito importante. Mas o que significa, de fato, fazer parte de um movimento profético ?

Na busca por uma resposta, é necessário considerar que os adventistas do sétimo dia não são os únicos que acreditam ser um movimento profético. Apenas nos Estados Unidos, grande variedade de grupos religiosos usa o mesmo título. Entre eles figura o pastor Bill Hamon,  fundador de uma rede internacional de Ministérios Proféticos. Ele afirma que seu movimento é a continuidade da renovação pentecostal e s e identifica pela prática de cerimônias pomposas com arte, drama, canto e dança. Também inclui revelações diretamente aplicadas à  vida individual, definidas  como “profecias pessoais”. No Brasil , a novidade também chegou, agitando o mercado religioso com propostas inusitadas como o Ministério Profético Libertação das Finanças e a Ministração Profética para Limpeza do Nome.

Tradicionalmente os adventistas olham com desconfiança para as práticas referidas anteriormente. Porém, se os sinais e prodígios dos proclamados profetas atuais pouco nos impressionam, o que faz de nós um movimento profético? Para a definição do profeta verdadeiro, não importam tanto os sinais prodigiosos. Nem mesmo profecias cumpridas são prova inquestionável. O verdadeiro profeta, sobretudo, fala conforme a Palavra de Deus. “Quando profeta ou sonhador se levantar no meio de ti e te anunciar um sinal ou prodígio, e suceder o tal sinal ou prodígio de que te houver falado, e disser: Vamos após outros deuses, que não conheceste, e sirvamo-los, não ouvirás as palavras desse profeta ou sonhador; porquanto o Senhor, vosso Deus, vos prova, para saber se amais o Senhor, vosso Deus, de todo o vosso coração e de toda a vossa alma” (Dt 13:1-3).

Levando em consideração que o verdadeiro profeta fala sempre conforme a palavra e os mandamentos divinos, destacamos pelo menos três fatos, inicialmente, que nos ajudam a compor a moldura profética da fé adventista: a origem baseada nos escritos dos profetas, a proclamação profética e a valorizações do dom de profecia.

A origem profética

A origem adventista se deu dentro da agenda divina, em cumprimento à maior e também à última profecia de tempo da Bíblia: os 2.300 anos de Daniel 8:14. Segundo a revelação divina, o período iniciado com o decreto para a restauração de Jerusalém deveria se estender até o tempo do fim (Dn 8:17), quando aconteceria a “purificação do santuário” Mais de 60 comentaristas bíblicos espalhados em quatro continentes predisseram, no início do século 19, que a profecia dos 2.300 anos se cumpriria de 1843 a 1847.3 Empregavam a tabela de interpretação profética na qual um dia equivale a um ano (Ez 4:7). Embora os estudiosos apresentassem considerável consenso quanto ao tempo, divergiam quanto à natureza do evento. Entre os pesquisadores despertados por Deus, William Miller incendiou os Estados Unidos com a pregação de que a purificação do santuário aconteceria por volta do ano 1843, e significava a volta de Jesus.

Estudos detalhados do milerita Samuel Snow o levaram a crer que a volta de Cristo se daria em 22 de outubro de 1844. Ele influenciou grande parte do movimento, que chegou a somar 100 mil pessoas na América do Norte.4 Quando os mileritas tiveram que encarar o dia seguinte ao 22 de outubro, ainda no decadente mundo de pecado, o movimento se esfacelou. Mas um pequeno grupo, dentre as ramificações remanescentes, entendeu que o único santuário para ser purificado é o santuário celestial, do qual uma cópia havia sido apresentada a Moisés, no deserto (Hb 8:5).

O tempo da profecia não poderia ser negado. E isso era certo, mesmo porque a primeira parte já se havia cumprido na cruz. Dentro do grande período profético dos 2.300 anos, Daniel registrou um período menor, de 490 anos, iniciado com o terceiro e definitivo decreto para a restauração de Jerusalém, no distante ano 457 a.C. Restando sete anos para o fim desse período, estava prevista a chegada do “Ungido” e do “Príncipe” (Dn 9:25). Três anos e meio depois, o Ungido faria cessar os sacrifícios do templo judaico (Dn 9:27). Foi assim que, no ano 27, Jesus iniciou Seu ministério público e, no ano 31, verteu Seu sangue na cruz como sacrifício definitivo e completo em lugar do pecador. Nunca mais o sacrifício de bodes e cordeiros seria necessário, pois o verdadeiro sacrifício se sobrepôs à sua representação simbólica. O Cordeiro de Deus carregava em Si os pecados de todo o mundo (1 joão 2:2).

Paulo afirma que a encarnação de Cristo se realizou no tempo do calendário divino: “Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou Seu Filho” (Gl 4:4). A “plenitude” é a tradução da palavra grega pleroma5, cujo significado mais comum é “aquilo que é preenchido” Jesus Cristo veio ao mundo quando foi preenchida a medida de tempo predita na profecia. Na noite de quinta-feira, anterior à crucifixão, Ele anunciou aos discípulos que havia chegado a hora de se cumprirem as cenas finais de Seu ministério terrestre: “Eis que é chegada a hora, e o Filho do homem está sendo entregue nas mãos de pecadores” (Mt 26:45). A data estava marcada havia séculos nas páginas do Antigo Testamento.

Foi a certeza do tempo profético, cumprido inicialmente em Jesus, que permitiu ao pequeno grupo compreender que a interpretação milerita sobre o livro de Daniel havia sido doce como mel, mas amarga no estômago (Ap 10:10), pois estava equivocada quanto à natureza do evento esperado. Ainda assim, nenhum sentimento de derrota deveria tomar o lugar do dedicado estudo da Palavra de Deus e sua pregação em uma escala muito superior ao movimento de Miller. Pouco a pouco, os primeiros adventistas descobriram que, antes da volta de Cristo, ainda seria necessário profetizar para “muitos povos, nações, línguas e reis” (Apoc 10:11).

Proclamação profética

A crença na direção de Deus proporcionou ao grupo remanescente não apenas uma missão, mas também um conteúdo distintivo para uma proclamação profética. O retorno às Escrituras e o estudo do ritual do santuário fizeram com que a “purificação” fosse mais bem compreendida em seu contexto bíblico e tipológico referente ao Dia da Expiação. “Como no serviço típico havia uma expiação ao fim do ano, semelhantemente, antes que se complete a obra de Cristo para redenção do homem, há também uma expiação para tirar o pecado do santuário. Este é o serviço iniciado quando terminaram os 2.300 dias. Naquela ocasião, conforme fora predito pelo profeta Daniel, nosso Sumo Sacerdote entrou no lugar santíssimo para efetuar a última parte de Sua solene obra – purificar o santuário.”6

A obra de Cristo na purificação do santuário celestial é marcada por Seu ilimitado amor e perdão oferecidos aos pecadores. Nos registros celestes, é realizada a completa extinção dos pecados daqueles que aceitaram Sua oferta de graça.7 Em virtude disso, podemos nos achegar “confiadamente, junto ao trono da graça” (Hb 4:16).

Como no antigo Dia da Expiação, em Israel, apenas a recusa obstinada e voluntária do oferecimento da misericórdia divina seria a causa de exclusão das bênçãos garantidas por Cristo. “Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados” (Hb 10:26).

A ação divina de atribuir Sua justiça aos pecadores, extinguir a transgressão e salvar todos quantos aceitam o Senhor não acontece de forma velada. Ao contrário, o Universo inteiro é testemunha da ação divina em favor da humanidade. “[Jesus] empreendeu a obra da salvação, e mostrou perante os mundos não caídos e à família celestial que Ele é capaz de terminar a obra por Ele começada…. Naquele dia de punição e recompensa finais, tanto os santos como os pecadores reconhecerão nAquele que foi crucificado, o juiz de todos os vivos.”8

A compreensão da obra final de Cristo no santuário celestial tem motivado os adventistas a empreender a urgente proclamação profética de Apocalipse 14:6-12, em um panorama no qual se desenham os lances finais da derrotada rebelião de Satanás contra o Todo-poderoso. Nesse trecho, o apóstolo João relata o sobrevôo de três anjos que se sucedem anunciando o evangelho eterno e o juízo de Deus, a queda de Babilônia e a condenação final dos ímpios, marcados conforme sua própria escolha para a retribuição divina.

Da mesma forma que o mundo dominado pelo dragão satânico é representado por três espíritos imundos (Ap 16:13), o povo de Deus é representado pelos três anjos. “O dragão se baseia na realização de milagres e na obtenção de apoio dos reis da Terra (Ap 13:13; 16:14). Deus apela à razão humana e às necessidades espirituais reais dos indivíduos e Se assegura de que toda pessoa receba a mensagem e tome uma decisão.”9

Em meio ao cenário de conflito espiritual, os servos de Deus são definidos como aqueles que “guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus” (Ap 14:12). Em seus primeiros momentos pós-desapontamento, a redescoberta do sábado bíblico pelos adventistas ajudou a restaurar uma brecha aberta na lei de Deus desde as longas eras da apostasia cristã, acentuada a partir da união da igreja ao império romano. A valorização do sábado, junto aos demais mandamentos, foi considerada um símbolo de lealdade aos preceitos divinos, vindo a ser no futuro profético o sinal distintivo entre a verdadeira e a falsa adoração.

A restauração dos mandamentos de Deus teve lugar no movimento adventista em correlação à purificação do santuário celestial, no contexto do conflito final entre Deus e Satanás. A integração entre o evangelho, a lei e o juízo divino deu aos adventistas um conteúdo profético, cuja proclama-ção ilumina atualmente mais de 200 países ao redor do mundo.

Dom profético

O conteúdo profético e o alcance da proclamação adventista tiveram como sólido alicerce o compromisso inadiável com a autoridade da Palavra de Deus. Subordinado à revelação bíblica, o dom profético exercido no ministério de Ellen G. White desempenhou um papel de confirmação do “pequeno rebanho” nos caminhos traçados pela providência divina.10

Na fase final de seu ministério, em 1901, Ellen G. White apresentou aos líderes adventistas uma relevante exortação sobre seu papel como mensageira de Deus ao povo do advento. Suas palavras jamais deveriam ser utilizadas isoladamente para justificar opiniões pessoais ou projetos mirabolantes. Seu ministério tinha como objetivo reconduzir a igreja às claras orientações dos profetas e apóstolos bíblicos. Ela declarou: “Não citeis outra vez as minhas palavras enquanto viverdes, até que possais obedecer à Bíblia. Quando fizerdes da Bíblia vosso alimento, vossa comida e vossa bebida, quando fizerdes de seus princípios os elementos de vosso caráter, conhecereis melhor como receber conselho de Deus. Enalteço a preciosa Palavra diante de vós neste dia. Não repitais o que eu declarei, afirmando: A irmã White disse isto e a irmã White disse aquilo! Descobri o que o Senhor Deus de Israel diz, e fazei então o que Ele ordena.”11

O chamado de Ellen White foi feito enquanto filosofias ateístas eram arquitetadas pelos grandes pensadores de seu tempo e movimentos carismáticos se alastravam no meio evangélico. Descartando o racionalismo filosófico e o emocionalismo religioso, a mensageira do Senhor lançou uma âncora segura na revelação divina. Em virtude disso, “nenhuma outra pessoa afetou de maneira tão direta o crescimento e a formação da Igreja Adventista do Sétimo Dia, tanto teológica quanto institucionalmente”12

Conclusão

Analisamos brevemente três fatores que fazem do adventismo um sólido movimento profético, visto que suas raízes estão profundamente arraigadas em terreno bíblico. Vários outros fatores poderiam ser enumerados para delinear o perfil profético do adventismo do sétimo dia. Estes, porém, já revelam o contraste entre o verdadeiro movimento profético e os muitos modismos proféticos, tão distantes entre si como o céu e a terra.

Porém, todas essas características proféticas pouco aproveitarão aos adventistas de hoje se não forem apropriadas individualmente pela ministração do Espírito Santo. Integrar um movimento profético nos coloca no caminho da salvação quando nos apegamos à Palavra de Deus e a transmitimos na exata medida do conhecimento que nos foi legado. O dom profético é concedido por Deus conforme Sua onisciente e soberana vontade exclusivamente aos servos humildes por Ele determinados. Mas a luz da palavra profética é uma bênção repartida a todo o povo de Deus. “Temos, assim, tanto mais confirmada a palavra profética, e fazeis bem em atendê-la, como a uma candeia que brilha em lugar tenebroso, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em vosso coração” (2Pe 1:19).

 

Referências

1.<http://www.adventist.org/mission_and_service/index.html.en&gt;

2. <http://www.adventist.org/world_diurch/officiaLmeetings/ 2001annualcouncil/paulsen_opening.html&gt;

3. George Knight. Em Busca de Identidadde. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2006. p. 43.

4. Gar/ Land (ed). Adventism in America. Berrien Springs, Michigan, EUA: Andrews University Press, 1998. p. 27.

5. Bíblia Online 3.0. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil 1 CD-ROM.

6. Ellen G. White. Cristoem Seu Santuário. 2 ed. Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1984. p. 95.

7. Norman Gulley. Christ is Corning. Hagerstown, EUA: Review and Herald Publishing Association, 1998. p 434.

8. Ellen G. White. Mos lugares Celestiais. Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1968. p. 359.

9. Angel Manuel Rodriguez. Fulgoresde Glória. Buenos Aires: Asociación Casa Editora Sudamericana,2001. p. 134.

10. Alberto R. Timm. O Santuário e as três mensagens angélicas. Engenheiro Coelho: Imprensa Universitária Adventista, 1998. p. 134.

11. Ellen G White. Mensagens Escolhídas. v. 3. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, p. 33.

12. Hebert E. Douglass. Mensageira do Senhor. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2001. pxvi .

Artigo de autoria de Guilherme Silva, editor associado na Casa Publicadora Brasileira. Publicado na Revista Adventista de Março/2008.

Sobre Weleson Fernandes

Escritor & Evangelista da União Central Brasileira

Verifique também

As lentes do santuário

Mais do que uma crença distintiva do adventismo, o santuário é a chave para entendermos …

Como Ellen White via o jogo de Críquete em sua época

A opinião geral é que o trabalho manual seja degradante; todavia, os homens se exercitam …

A casa do tesouro em Mal. 3:10 (contexto bíblico e escritos de Ellen G. White)

Na discussão do texto de Malaquias 3:8-10 levanta-se a questão se este possui uma ênfase …

Deixe uma resposta

×

Sejam Bem Vindos!

Sejam bem Vindo ao Portal Weleson Fernandes !  Deixe um recado, assim que possível irei retornar

×