É feminismo, não cristianismo

Por Davi Boechat

“Tende muito cuidado para que ninguém vos escravize a vãs e enganosas filosofias, que se baseiam nas tradições humanas e na falsa religiosidade deste mundo, e não em Cristo.” (Colossenses 2:8)

Aplausos, gritos e ovações. A adolescente se alinha frente ao piano, empunha as mãos sobre as teclas e executa os primeiros acordes. No auditório da Escola Adventista, o silêncio predomina. O que viria a seguir estava longe do razoável em uma apresentação de alunos da organização instalada na grande São Paulo.

“Não preciso de você, você só pensa em me ter, mozão. Eu só preciso te dizer que se for pra tirar onda, vai ter que ser com outra”, dizia a menina em prosa e verso.

A apresentação integrava a comemoração ao Dia Internacional da Mulher deste ano na instituição. Na ocasião, não só a música – uma parodia do funk ousadia “Deu Onda”, de autoria do MC G15, sucesso no verão passado, que atingiu a incrível marca de mais de 331 milhões de visualizações no Youtube – parecia destoar do ambiente religioso em que estava inserida, a despeito da versão mais comportada e cadência reflexiva.

Nas imagens, publicadas na internet pelo capelão da escola, era possível ver ao fundo uma faixa com a inscrição “#RespeitaasMina”, que integrava a ornamentação para o evento, estética que remonta aos diretórios acadêmicos da maior parte das universidades públicas do país. Junto às imagens estava o texto, reproduzido na integra a seguir, sem correções. Em negrito dou destaque a algumas das expressões utilizadas:

“Ontem nós decidimos respeitar o lugar de fala das meninas e deixar de lado aquela convencional homenagem que os meninos fazem às meninas. Entendemos que a menina não precisa que o menino lhe confira valor para que ela tenha valor. Elas ocuparam o espaço de voz e falaram sobre o que é ser menina na sociedade que vivemos. Falaram sobre a objetificação da mulher nas letras de funk, fizeram algumas versões de resposta, sobre os relacionamentos abusivos e sobre o medo diário que enfrentam nas ruas. Deram varias dicas para os meninos, denunciaram e reivindicaram. Feliz por saber que existe uma geração mais consciente, mais cristã.

sociedade patriarcal é uma contingência para a condição pós-lapso, não faz parte do plano ideal do Criador. Consequência do pecado. Uma vez que aqueles que se dizem cristãos, devam viver a lógica do Reino, que já chegou, então já podemos viver e promover uma sociedade mais igual.

No teatro da vida, por toda a história, a mulher foi obrigada a desempenhar dois papéis sociais: aquela que tenta o homem ou aquela que serve o homem. A tentadora sensual, é capaz de atrair o homem e conseguir o que quer através da barganha libidinosa. Quando a sensualidade está ausente, então, ela consegue atrair o homem através do serviço.

Logo, viver na ideia da inferioridade, da subserviência, da menos valia da mulher, é viver ainda no padrão da criação caída e pecaminosa — o que é inadmissível para quem se proclama cristão.

Tenho uma filha de 6 anos e outra que está a caminho. Ensino que ela não é obrigada a nada, que sua submissão é devida apenas ao Deus que servimos em nossa casa. Nenhuma opressão pode ser justificada com o texto bíblico, isso é torna-lo instrumento de violencia contra outro ser humano, tenho convicção de que Deus não terá por inocente o que isso pratica.

Sonho com uma vida feliz para minhas filhas, sem que qualquer homem diga o que ela deve ou não fazer. Uma sociedade que não ofereça olhares e gestos recriminatórios quando ela se expressa, seja através da sua roupa, palavras ou atitudes. Sonho com uma sociedade que antes de ensinar as meninas a se vestirem, ensinem os meninos a não serem abusadores ante nenhum pretexto.”

Oro e prego para que a lógica do Reino de Deus, a lógica pré-lapso, permeie a vida dos cristãos a ponto de impactar a sociedade.

Isso não é feminismo, tampouco marxismo cultural, isso é cristianismo. #RespeitaAsMina”

Neste texto tenho como objetivo utilizar o fato acima narrado em um breve estudo de caso. Acredito que ele demostra o avanço do fenômeno de secularização da educação cristã em nosso meio, desvela a ascensão da Nova Hermenêutica em ciclos adventistas e, apesar de indicar o diagnóstico certo para a doença, propõe o tratamento errado.

SECULARIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO

O ano era 1968. Petrópolis, a Cidade Imperial, perdia uma de suas instituições de ensino mais tradicionais. Enfrentando severa crise financeira, o Colégio Notre Dame Sion, fundado em 1889, fechava as portas na região serrana do Rio de Janeiro. De origem francesa, a instituição dedicou-se durante os 80 anos de sua existência ao ensino de meninas da elite fluminense.

À época, o fato ganhou as páginas do principal jornal diário do estado. Em sua coluna no jornal O Globo, Nelson Rodrigues (1912-1980) repercutiu o assunto. No texto, ele afirma que o encerramento nas atividades do Sion era parte de uma série histórica, dizendo que havia um “espantoso fechamento de colégios religiosos”.

A procura por eles minguava e, ainda que hoje diversos fatores sejam levantados para tal conjuntura ­– trabalhos acadêmicos se dedicaram a explicar o fenômeno [2] – o jornalista advogava por uma só hipótese: a diminuição da credibilidade das escolas, resultado do abandono de seus parâmetros religiosos. Comentou Rodrigues:

“O que houve lá é que o ensino religioso se aviltou de tal forma que as famílias católicas entraram em pânico mais profundo e justificado. Os pais foram, pouco a pouco, retirando suas filhas. Preferiram matriculá-las no Pedro II, por exemplo, certos de que, neste, não se agrediria o sentimento religioso de ninguém. Numa palavra: o Pedro II merecia, sim, a confiança de qualquer pai católico.” [3]

O autor disse ainda:

“[…] as autoras de toda decadência do Sion de Petrópolis eram freiras “pra frente”, as “moderninhas”, exiladas por Deus. Claro que nem todas são assim. Mas as autênticas eram logo isoladas e vencidas. Fechou-se o Sion e o que aconteceu com as freiras de verdade? Foram amontoadas num sítio, não sei onde. E, lá, vivem a sua profunda solidão católica. Vocês já imaginaram? É uma espécie de campo de concentração de freiras que o são de verdade e, portanto, tidas como irrecuperáveis.[4]

Conforme supracitado, vê-se, portanto, que o flerte entre ideias modernas e pós-modernas com a educação cristã não vem de hoje. Há quase 50 anos ele resultou em esvaziamento e consequente falência de uma conceituadíssima escola católica fluminense.

Da mesma forma que tal fenômeno não é novo, não é exclusivo do Brasil. No livro “Ateísmo Remix” (Editora Fiel, 2009), o pastor norte-americano Albert Mohler, expondo a teoria da secularização do inglês John Sommerville, comenta:

“Pense em todas as universidades e hospitais estabelecidos como organizações cristãs e que agora estão secularizadas. A dimensão mais significativa desta secularização institucional está relacionada à secularização do ensino acadêmico. A secularização de faculdades e universidades tem moldado a mente e a cosmovisão de inúmeras pessoas.”[5]

Em seu tempo, Ellen White prezava pela integridade das organizações adventistas. Sua mensagem e missão não deveriam ser esquecidas. Em uma ocasião, escreveu:

“Se o adversário pudesse moldar essas instituições de acordo com as normas do mundo, ele alcançaria seu objetivo. […] Preferia morrer para não precisar ver essas instituições mal administradas ou fora do propósito para o qual foram formadas.”[6]

Tanto no caso do Sion quanto no das demais instituições, a religião não foi bruscamente negada. Ao invés disso, a cosmovisão cristã deixou de ser forma única de interpretação de realidade e fonte de filosofia educacional. A síntese entre cristianismo e ideologias seculares foi posta em prática. Como resultado disso, o declínio das instituições, fruto do esvaziamento filosófico delas, foi inevitável.

Diferindo o papel da educação cristã das demais filosofias educacionais, comentou George Knight:

“Práticas educacionais são condicionadas por crenças filosóficas. Professores, pais e outros educadores desenvolvem dificuldades desnecessárias quando suas práticas entram em conflito com a cosmovisão que estão buscando transmitir aos jovens sob seu cuidado. Um programa educacional saudável é aquele que está tão próximo à harmonia com suas crenças filosóficas quanto as circunstâncias externas permitem.”[7]

NOVA HERMENÊUTICA

No célebre “Introdução à Interpretação Bíblica”, os autores William W. Klein, Craig L. Blomberg e Robert L. Hubbard Jr., doutores em suas respectivas áreas de estudos, abordam os diversos métodos de hermenêutica em voga na atualidade.

Um deles, conhecido como Nova Hermenêutica, movimento inspirado por pensadores como Heidegger, ganha espaço nas primeiras páginas do livro. Na definição, afirmam os autores, ao invés de propor um estudo sistemático com métodos, essa tem como objetivo dar novos sentidos às regras passadas, uma forma de adaptá-las ao mundo moderno. O compromisso com a compreensão do texto, gramática e culturalmente, é relegada. Em outra palavras, prevalece a forma como o autor deseja interpretar, não o significado original. A Nova Hermenêutica tem inserções fortes no campo da teologia e direito. Comentando seu uso como ferramenta para a Bíblia, os autores comentam:

“Geralmente essa abordagem pressupõe uma ideologia, atitudes específicas, e um método de abordagem. Dessa forma, uma “hermenêutica feminista” adotará um modo de ler o texto que se amolde aos limites predeterminados de uma ideologia feminista. Substitua por “afro-americano”, “marxista”, “liberacionista”, “homossexual” ou “freudiana” por “feminista” e você poderá ver como adotar um referencial acaba programando uma leitura ou hermenêutica diferente do texto.”[8]

Tal perspectiva faz com que o texto em questão seja lido com lentes viciadas e vem fazendo sucesso na teologia norte-americana há décadas. Kevin DeYoung listou de forma exaustiva algumas das atitudes que provém de sua assimilação em seu livro “Não Quero um Pastor Bacana” (Mundo Cristão, 2006). Na obra, ele define que a Igreja Emergente, movimento que se arroga da nova hermenêutica, está preocupada com pautas sociais que ressoam em ativismo político, sempre voltado aos ideais do partido democrata, a esquerda estadunidense. Ele, entretanto, apesar das contrastivas diferenças de opinião, reconhece a legitimidade do movimento em um ponto:

“Concordamos também que nos devemos preocupar em trazer o céu à terra, e não apenas nos encaminharmos para o céu. Em resumo, afirmamos uma grande quantidade dos diagnósticos emergentes. Os remédios prescritos por eles são o que mais nos preocupa.”[9]

Creio que o trecho supracitado sintetize bem o objetivo deste texto. Certamente, não discordamos que a sociedade atual venha massacrando as mulheres. Concordamos com o capelão na ideia de que uma restauração deva ocorrer. Entretanto, certamente, ela não será operada com o empréstimo do fraseado e métodos seculares.

DIAGNÓSTICO CERTO, TRATAMENTO ERRADO

Concordar com o diagnóstico final, entretanto, não faz com que prescrevamos o mesmo tratamento. Em outras palavras, considerando que uma mesma doença possa vir a ser resultante da manifestação de uma série de fatores, é possível desenvolver perspectivas divergentes a respeito de sua origem.

Como cristãos, cremos que que o mundo em que vivemos padece da corrupção trazida pelo pecado. Portanto, ao abordamos os problemas da atualidade, precisamos apresentar o Evangelho como solução. A dinâmica criação-queda-redenção, princípio básico da cosmovisão cristã, precisa ser considerada. Somente as boas novas são mensagem de esperança para um mundo caótico. Não são apenas esperança para o futuro como também manifestam eficácia imediatamente.

Em uma escola de proposta cristã a pregação jamais deveria ser relegada em um evento que se propõe a abordar problemas surgidos após o pecado. Colocar dezenas de adolescentes para ouvir as eloquentes palavras de meninas da sua idade crendo que isso fará efeito não difere em nada a Escola Adventista de qualquer movimento feminista. Se cremos que o machismo é uma atroz implicação da natureza pecaminosa, precisamos crer que que a Bíblia apresenta a solução para ele, não ideologias ou metodologias seculares, que ignoram a real origem de tais problemas.

A ministração do tratamento para a humanidade perpassa a pregação, responsabilidade do capelão, que optou em ficar calado sob o estúpido respeito ao “lugar de fala”, chavão de esquerda consagrado nos últimos. Ao optar pelo silêncio, o capelão relegou o seu papel como pastor. Deixar que o discurso das adolescentes prevalecesse não amplificou a voz delas, mas rebaixou o papel da Palavra.

Mostrando ser um exímio conhecedor do discurso feminista, o pastor possivelmente temia ser enquadrado como promotor do mansplaining[10], expressão que no glossário feminista caracteriza homens dando sermão.

Outro erro grave é que ao relegar a Cristo como resposta aos problemas do pecado, estamos oferecendo apenas moralidade. Neste caso, a duvidosa moralidade pós-moderna. As palavras do Pr. Schwantes – um dos maiores intelectuais adventistas brasileiros – no best-seller “O Despontar de Uma Nova Era” (CPB, 1984) são pertinentes:

“Se não tivermos a oferecer a nossos filhos senão ideias de honra e virtude, sem qualquer referência à religião, não lhes estamos oferecendo senão flores sem raiz. Essa flores desabrocham nutridas no canteiro fertilizado por convicções cristãs multisseculares. Privadas de suas raízes cristãs, a honra e a virtude não podem florir indefinidamente. […]

Em vão, porém, esperaremos por uma reviravolta moral, enquanto as convicções religiosas que tonificaram a fibra moral de nossos antepassados continuarem sendo minadas. O que o mundo precisa em primeiro lugar é de um reavivamento religioso que vá buscar vitalidade na fonte ilibada da fé cristã. Só podemos falar de rearmamento moral autêntico depois de experimentar a conversão religiosa genuína.”[11]

ATACANDO A DOENÇA, NÃO O SINTOMA

Ao reconhecer que o machismo seja proveniente do pecado, somos levados a atacar a doença, não um de seus sintomas. Fazer o contrário seria como tomar um Dorflex para um caso de aneurisma cerebral. Nas palavras de George Knight:

“Os princípios cristãos, quanto aos valores, são construídos diretamente sobre uma perspectiva cristã no que tange à metafísica e à epistemologia. Em outras palavras, visões da realidade e da verdade conduzem a uma concepção de valores. Os princípios da axiologia cristã são derivados da Bíblia, que em seu sentido absoluto é uma revelação da vontade de Deus.

Uma consideração muito importante que influencia todas as formas de valores é que a metafísica cristã postula uma posição de descontinuidade radical da maioria das visões mundiais quanto à normalidade da presente ordem mundial. Enquanto a maioria dos não-cristãos afirma que atual condição do ser humano e de seus interesses é o estado normal das coisas, a Bíblia ensina que os seres humanos caíram de seu relacionamento normal com Deus, seus companheiros e o mundo à sua volta. De acordo com a perspectiva bíblica, o pecado e seus resultados alteram a natureza da espécie humana e afetou seus ideais e processos de avaliação.

Em resultado da anormalidade do mundo atual e o fato de que muitos indivíduos nem mesmo estão cônicos dela, as pessoas geralmente valorizam as coisas erradas. São inclinadas a chamar o mau de “bom” e o bom de “mau”, pois seus pontos de referência estão falhando. O cristão que nasceu de novo tem um conjunto radical de valores comparados a muitos do mundo à sua volta devido a um diferente ponto de vista quanto à difícil situação humana.”[12]

CONTRA O MACHISMO, CRISTIANISMO

A antítese cristã contra o mundanismo não se concretiza com a apropriação do discurso, estética e métodos usados por não cristãos, mas com a pregação da Cruz. O massacre da mulher pelo homem não regenerado não cessará ou diminuirá com a igualdade de gêneros como proposto pelo pastor – mas com prática da mensagem bíblica da submissão em amor de ambos os sexos – especialmente no contexto do relacionamento conjugal, que teve ênfase na palestra.

Cabe dizer ainda que o patriarcado combatido pela esquerda e todos os seus abusos são uma corrupção do modelo bíblico. Manifestar-se contra o patriarcado dizendo ser este um arranjo pós-queda é um equivoco. A relação entre homem e mulher foi estabelecida na criação

Para usar as palavras do pastor em seu texto-manifesto, “Deus não terá por inocente” quem propõe a emancipação da mulher como solução para o machismo, não a restauração do modelo bíblico para a relação familiar.

Conforme orienta o apóstolo Paulo em Efésios 5:22-33:

“Esposa, obedeça ao seu marido, como você obedece ao Senhor.  Pois o marido tem autoridade sobre a esposa, assim como Cristo tem autoridade sobre a Igreja. E o próprio Cristo é o Salvador da Igreja, que é o seu corpo. Portanto, assim como a Igreja é obediente a Cristo, assim também a esposa deve obedecer em tudo ao seu marido.

Marido, ame a sua esposa, assim como Cristo amou a Igreja e deu a sua vida por ela. Ele fez isso para dedicar a Igreja a Deus, lavando-a com água e purificando-a com a sua palavra. E fez isso para também poder trazer para perto de si a Igreja em toda a sua beleza, pura e perfeita, sem manchas, ou rugas, ou qualquer outro defeito. O homem deve amar a sua esposa assim como ama o seu próprio corpo. O homem que ama a sua esposa ama a si mesmo. Porque ninguém odeia o seu próprio corpo. Pelo contrário, cada um alimenta e cuida do seu corpo, como Cristo faz com a Igreja, pois nós somos membros do corpo de Cristo. Como dizem as Escrituras Sagradas: “É por isso que o homem deixa o seu pai e a sua mãe para se unir com a sua esposa, e os dois se tornam uma só pessoa.” Há uma verdade imensa revelada nessa passagem das Escrituras, e eu entendo que ela está falando a respeito de Cristo e da Igreja. Mas também está falando a respeito de vocês: cada marido deve amar a sua esposa como ama a si mesmo, e cada esposa deve respeitar o seu marido.”

COMPORTAMENTO E VESTIMENTA IMPORTAM

O pastor, replicando parte do discurso sobre a liberdade da mulher, afirma ainda que mulher alguma deve ser censurada pela forma de vestir ou se porta. Ele parece ignorar que a metamorfose operada pelo cristianismo se manifesta de diversas formas, inclusive no exterior.

A mesma hipersexualização que imputou animalização aos homens também respingou nas mulheres. A erotização chegou ainda às crianças, despertando a preocupação de veículos seculares e voltado à esquerda, como o diário espanhol El País[13]:

“[…] vivemos em uma sociedade com profundas contradições e com grandes doses de moral ambígua. O sexo vende sempre, e a atitude da sociedade sobre a sexualidade feminina é no mínimo confusa e ancorada em padrões machistas. Por um lado se critica uma mulher que se veste de forma provocante, mas, por outro, se aceitam tanto uma menina vestida de mulher, maquiada, de saltos e minissaia, como uma mulher vestida de menina, beirando os limites da pedofilia. É o sintoma de uma cultura que flerta desde a infância com o mercado do sexual e que continua ancorada em padrões que enquadram o gênero feminino no acessório’.”

Voltado às mulheres, David Platt chama a atenção das mulheres em sua responsabilidade quanto essa questão de forma magnífica em “Contra Cultura” (Vida Nova, 2017):

“Você costuma usar saias apertadas e roupas decotadas? De que maneira você está cultivando um sistema de entretenimento obcecado por sexo que envenena sua alma enquanto você sente prazer vendo outros pecando sexualmente?[14]”

A proclamação da restauração da identidade pós-lapso é algo mais complexo que convencer adolescentes a respeitar as mulheres. É algo que transforma profundamente a relação de todos em sua conduta – com ênfase para a sexual.

Ao autor diz ainda:

“[…] Deus nos chama a proclamar o evangelho, a nos preocuparmos o suficiente uns com os outros a ponto de chamar o próximo a fugir de todo tipo de imoralidade sexual.”[15]

No mesmo sentido, declarou Ellen White:

“Pela modéstia no vestir e equilibrado comportamento, [as mulheres]  podem dar testemunho da verdade em sua simplicidade. Podem deixar que sua luz brilhe diante de todos para que vejam suas boas obras e glorifiquem ao seu Pai que está no Céu. Uma mulher verdadeiramente convertida exercerá poderosa influência transformadora para o bem. Associada ao marido, ela pode ajudá-lo em seu trabalho e tornar-se um meio de encorajamento e bênção para ele. Quando a vontade e a conduta são levadas em sujeição ao Espírito de Deus, não há limite para o bem que pode ser realizado.”[16]

De forma enfática, ao comentar algumas ações da primeira onda do movimento feminista, que já respingava na igreja em seu tempo, disse:

“Os que se sentem convocados a unir-se ao movimento em prol dos direitos da mulher e da suposta reforma do vestuário, podiam romper toda ligação com a mensagem do terceiro anjo. O espírito que acompanha um movimento não pode estar em harmonia com outro.”[17]

RESTAURANDO A CRIAÇÃO

O obscurecimento moral do homem e sua recusa deliberada a andar corretamente não fazem parte da condição humana original. A condição natural do homem não é impiedade, mas de pureza e retidão, de santidade e justiça, tendo sido formado conforme a imagem de seu Criador. É preciso considerar, entretanto, que a queda destituiu-nos da pureza. A religação desse estado é iniciada agora, mas só será terminada com a glorificação. Até lá, problemas diversos irão macular este mundo. Contra eles, a pregação do evangelho – e não a associação aos movimentos seculares, seja oficialmente ou de forma velada – é a nossa missão.

Encerro com as encorajadoras palavras de Platt:

“[…] estou profundamente convencido de que só o evangelho é capaz de promover a profundidade de mudança para a erradicação da escravidão [sexual]. Sei que é uma afirmação ousada, porém a faço com humildade confiança na verdade do evangelho para mudar mentes e no poder do Espírito de Deus para mudar corações […]

Como igreja em meio à cultura, devemos nos assegurar de não pregar um evangelho que imagine simplesmente Cristo como um meio para uma guinada casual, conservadora e cômoda no sonho americano. Esse evangelho não funcionará na comunidade gay e lésbica – ou, a propósito, em nenhum lugar. O evangelho é um chamado para que todos morram – morram para o pecado para o próprio eu – e vivam com uma confiança inabalável em Cristo, escolhendo seguir sua palavra mesmo quando ela nos coloca em evidente confronto com a cultura.” [18]


[1] Arthur L. White. “Mulher de Visão” (Casa Publicadora Brasileira), página 203, 2015

[2] Márcia de Carvalho Jimenez Alamino. “Na casa de Marta e Maria: um estudo sobre o colégio Notre Dame de Sion em Petrópolis” <disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=165897>

[3] Nelson Rodrigues. “O Reacionário” (Agir, 2008), página 213

[4] Idem

[5] “Ateísmo Remix” (Editora Fiel, 2009), p. 34 e 35

[6] Arthur L. White. “Mulher de Visão” (Casa Publicadora Brasileira, 2015), página 203,

[7] George Knight. “Filosofia e Educação” (Unaspress, 2001), Página 253

[8] William W. Klein, Craig L. Blomberg e Robert L. Hubbard Jr. “Introdução à Exegese Bíblica” (Thomas Nelson Brasil), página 46

[9] Kevin DeYoung e Ted Kluck. “Não Quero um Pastor Bacana: E outras razões para não aderir à igreja emergente” (Mundo Cristã), página 26

[10] “MM360 explica os termos gaslighting, mansplaining, manterrupting e bropriating” <disponível em: http://movimentomulher360.com.br/2016/11/mm360-explica-os-termos-gaslighting-mansplaining-bropriating-e-manterrupting/&gt;

[11] S. Júlio Schwantes, “O Despontar de Uma Nova Era” (CPB, 1984), páginas 201, 203 e 204,

[12] George Knight. “Filosofia e Educação” (Unaspress, 2001), Página 184

[13] Olga Carmona. “Efeitos da hipersexualização: meninas transformadas em ‘Lolitas’” <disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2017/05/30/cultura/1496151116_106223.html&gt;

[14] David Platt.“Contra Cultura” (Vida Nova, 2017), página 208

[15] Idem

[16] Ellen Gould White, Manuscrito 91, 1908

[17] Idem, “Testemunhos para a Igreja” (CPB, 2005), vol. 1, pág. 457

[18] David Platt.“Contra Cultura” (Vida Nova, 2017), páginas 143, 205 e 205

 

Fonte: Reação Adventista

Sobre Weleson Fernandes

Escritor & Evangelista da União Central Brasileira

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