Megalomania Eclesiástica – 15. Solidariedade, Subsidiariedade e Bem Comum

 

“O princípio da solidariedade”‘, diz o Catecismo da Igreja Católica, “é uma exigência direta da fraternidade humana e cristã”. Isso, naturalmente, não é uma definição do termo. Às vezes, o princípio da solidariedade é chamado de “amizade” ou “caridade social” e é um aspecto importante da “justiça social”. [1] Nem isso é uma definição. Sem ter definições claras, ou neste caso, nenhuma definição, o Catecismo continua: “A solidariedade se manifesta em primeiro lugar pela distribuição de bens e pela remuneração do trabalho. Também pressupõe o esforço por uma ordem social mais justa, em que as tensões podem ser mais bem reduzidas e os conflitos mais prontamente resolvidos por meio de negociação”. [2]

“Os problemas socioeconômicos só podem ser resolvidos com a ajuda de todas as formas de solidariedade: solidariedade dos pobres entre si, entre ricos e pobres, entre trabalhadores, entre patrões e empregados em uma empresa, solidariedade entre nações e povos. A solidariedade internacional é um requisito da ordem moral; a paz mundial depende em parte disso. A virtude da solidariedade vai além dos bens materiais… A solidariedade é uma virtude eminentemente cristã. Pratica a partilha dos bens espirituais ainda mais do que dos materiais.” [3]

Essa ideia parece uma vaga afirmação do coletivismo ético e econômico. Pelo menos tem a ver com virtude, é uma “exigência da ordem moral” e é uma “partilha” que envolve bens materiais. Essas noções coletivistas vagas são muito úteis para a Igreja-Estado Romana na construção de seus argumentos para o intervencionismo doméstico e o governo mundial.

Quando certos católicos concorreram a cargos políticos nos Estados Unidos, eles afirmaram o princípio da subsidiariedade durante suas campanhas como a razão pela qual eles, como bons filhos da Igreja-Estado Romana, podem se opor a alguma intervenção federal em questões estaduais, ou a alguma intervenção estadual em questões locais. Eles afirmam que a Igreja endossa algum tipo de sistema federal ou descentralizado.

De acordo com a Igreja-Estado Romana, a subsidiariedade

“… é um princípio fundamental da filosofia social, inabalável e imutável… O estado deve deixar para esses grupos menores a resolução de negócios de menor importância. Desempenhará assim com maior liberdade, autoridade e sucesso as tarefas que lhe dizem respeito, porque só pode realizá-las eficazmente, dirigindo, vigiando, estimulando e restringindo…”. [4]

Segundo Pio XI, o estado deveria delegar alguns assuntos, aqueles de menor importância, a grupos menores dentro do estado e da sociedade. Isso liberaria o estado para cumprir seus deveres mais importantes com maior autoridade e êxito. Os deveres mais importantes são dirigir, vigiar, estimular e restringir os grupos menores da sociedade. Longe de ser uma restrição ao poder do estado, a subsidiariedade aumenta o poder do estado. Além disso, esse poder maior do estado deve ser usado para monitorar todos os aspectos da sociedade, para direcioná-los aos fins e propósitos escolhidos pela autoridade máxima dentro do estado, para estimulá-los e restringi-los a fim de que sigam as instruções emitidas pela autoridade superior. Assim, a subsidiariedade não é, de forma alguma, uma restrição ao poder do governo, mas apenas um princípio de gestão eficiente projetado para fazer o uso mais eficaz do poder e dos recursos do governo.

Um exemplo de como a doutrina da subsidiariedade funciona na prática pode ser encontrado no New Deal. David O’Brien relatou que “os católicos interessados encontraram no ensino papal ampla justificativa para a ação governamental. Aplicando o princípio da subsidiariedade, poucos poderiam ver qualquer alternativa para uma intervenção mais forte do governo nacional na vida econômica do país”. [5] Mais do que um obstáculo à centralização, a subsidiariedade é a razão da centralização do poder.

O princípio da subsidiariedade é a ficção pela qual os leigos católicos conservadores tentam reconciliar o autoritarismo óbvio de sua Igreja-Estado com seu próprio desejo de liberdade. Eles se referem a afirmações como esta no Catecismo da Igreja Católica: “O princípio da subsidiariedade se opõe a todas as formas de coletivismo. Ele estabelece limites para a intervenção do estado. Tem como objetivo harmonizar as relações entre indivíduos e sociedades. Isso tende ao estabelecimento de uma verdadeira ordem internacional”. [6] Como esse princípio faz todas essas coisas, não nos é dito. Que isso acontece é afirmado dogmaticamente. Quais são os limites, não nos é dito. Que existem limites é afirmado como um ipsedixitismo [uma afirmação sem prova]. Que o princípio se opõe a todas as formas de coletivismo é uma afirmação que requer a crença dos fiéis; por que ou como ele é tão oposto não é argumentado nem especificado. Acreditar nessas declarações requer fé implícita.

Em outra parte, o Catecismo continua:

“O ensinamento da Igreja [Romana] elaborou o princípio da subsidiariedade, segundo o qual ‘uma comunidade de ordem superior não deve interferir na vida interna de uma comunidade de ordem inferior, privando esta de suas funções, mas antes deve apoiá-la em caso de necessidade e ajudar a coordenar a sua atividade com a do restante da sociedade, sempre na perspectiva do bem comum’.” [7]

Poucos se preocupam em perguntar aos candidatos políticos católicos como, exatamente, esse princípio de subsidiariedade deve limitar o poder em uma estrutura política ou eclesiástica na qual o poder flui de cima para baixo. Quem deve julgar quando uma “comunidade de ordem superior” está interferindo demais em uma “comunidade de ordem inferior”? A comunidade de ordem inferior não pode julgar. A comunidade de ordem inferior é, de acordo com o pensamento político católico, monitorada, dirigida, estimulada e restringida pela comunidade de ordem superior. A comunidade de ordem inferior entende apenas seus próprios interesses e age em seu nome, enquanto a comunidade de ordem superior entende o bem comum e age em seu nome. Todos os julgamentos sobre o que constitui demasiada interferência devem sempre ser feitos pela comunidade de ordem superior, que é a única que tem em vista o bem comum. A autoridade para julgar tais questões é inerente à definição do termo “ordem superior”. O corpo não julga a alma; a alma julga o corpo. A criança não julga os pais; os pais julgam a criança. O leigo católico comum – mesmo os cardeais – não julga o papa; o papa não é julgado por ninguém.

Além disso, o próprio princípio da subsidiariedade não implica nem estabelece nenhum critério para decidir quando a interferência é injustificada; essa decisão fica inteiramente a critério da comunidade de ordem superior. O próprio princípio, conforme apresentado no Catecismo da Igreja Católica, determina que a comunidade de ordem superior “deve apoiá-la [a comunidade de ordem inferior] em caso de necessidade”. Qual pode ser essa “necessidade”, não nos é dito. Qual poderia ser o “apoio”, não nos é dito. Como vimos na Parte I, no pensamento econômico da Igreja-Estado Romana, “necessidade”, “bem comum” e “justiça social” são os mantras que autorizam governos e indivíduos a cometer vários crimes e pecados.

Catecismo da Igreja Católica também declara que a comunidade de ordem superior “deve ajudar a coordenar sua atividade [da comunidade de ordem inferior] com as atividades do restante da sociedade”. Essa função requer que a comunidade de ordem superior atue como planejadora e diretora de todas as comunidades subordinadas na sociedade. É por isso que o princípio da subsidiariedade, segundo o Catecismo, “tende ao estabelecimento de uma verdadeira ordem internacional”. Mas, ao discutir a ordem internacional, estamos avançando em nossa história e devemos adiar nossa discussão sobre a defesa do governo mundial pela Igreja-Estado Romana até o capítulo dezenove.

É bastante claro que, ao afirmar o princípio da subsidiariedade, a Igreja não está defendendo o sistema descentralizado e federal determinado pelas Escrituras [8] e refletido na Constituição dos Estados Unidos, mas apenas sua própria estrutura hierárquica em que as ordens superiores, a seu critério, controlam as ordens inferiores, e o poder da ordem superior, o papado, controla tudo e não é controlado por ninguém. O papa, que é a autoridade máxima na Terra, permite que homens inferiores exerçam o poder que ele recebeu de Pedro e, por sua vez, delegue a eles sob o princípio da “subsidiariedade”. Ele dirige, monitora, restringe e estimula para que todos cumpram suas ordens. Há pouca acomodação necessária entre o princípio da subsidiariedade e a teoria por trás dos regimes fascistas do século XX.

Em sua encíclica Mater et Magistra de 1961, João XXIII explica como o princípio da subsidiariedade justifica a intervenção do governo na economia: “Mas neste assunto [assuntos econômicos]… é necessário que as autoridades públicas tenham um interesse ativo… Esta intervenção das autoridades públicas, que incentiva, estimula, regula, suplementa e complementa, é baseada no princípio da subsidiariedade…”. [9] O papado tem uma compreensão muito diferente do princípio da subsidiariedade que alguns leigos católicos romanos americanos parecem ter, e na Igreja-Estado romana, é o papado, não os leigos, que tem autoridade e é infalível. A doutrina da subsidiariedade é um dos subterfúgios da Igreja para alcançar um grande governo; não é um limite para o poder do governo.

Agora, quem exerce o poder político deve exercê-lo, afirma a Igreja repetidas vezes, para o “bem comum”. O termo aparece dezenas de vezes nas encíclicas papais, no Catecismo da Igreja Católica e em declarações emitidas por outros bispos. Somos informados:

“Em primeiro lugar, o bem comum pressupõe respeito pela pessoa como tal. Em nome do bem comum, as autoridades públicas [isto é, os governos civis] são obrigadas a respeitar os direitos fundamentais e inalienáveis da pessoa humana… Em particular, o bem comum reside nas condições para o exercício das liberdades naturais indispensáveis ao desenvolvimento da vocação humana, tais como o direito de agir segundo uma norma sã de consciência e de salvaguardar… a privacidade e a liberdade legítima também em questões de religião.” [10]

Catecismo aqui endossa os “direitos inalienáveis”, um conceito que é logicamente incoerente e incompatível com a justiça, como já demonstrei em outro lugar, [11] dizendo que todos os governos civis devem respeitar os direitos fundamentais e inalienáveis da pessoa humana. [12] Para que ninguém confunda o papa com, digamos, Thomas Jefferson, a Igreja-Estado Romana qualifica seu aparente endosso à liberdade, observando que o bem comum reside nas condições para o exercício das liberdades naturais. Em outros lugares, a Igreja explica que, sem tais condições, a liberdade não tem sentido. Portanto, o bem comum é anterior, mais importante e mais fundamental do que a liberdade.

Mesmo essa declaração do Catecismo parece dizer muito mais sobre a liberdade do que realmente diz. Por exemplo, não é a liberdade de consciência que a Igreja-Estado Romana deseja proteger, mas “o direito de agir de acordo com uma norma sã de consciência”. Quem decide o que é uma “norma sã de consciência”? A infalível Igreja-Estado. Quem decide o que é “liberdade legítima também em matéria de religião”? A infalível Igreja-Estado. Muitos pronunciamentos da Igreja são redigidos desta forma ambígua, de modo que o leitor casual, não familiarizado com todo o pensamento político e econômico da Igreja, os leia descuidadamente, sem perceber que cada palavra, frase e sentença é cuidadosamente pesada e medida para revelar e ocultar exatamente o que a Igreja-Estado pretende. A Constituição soviética de 1936, escrita e adotada pelo governo de um dos governantes mais sangrentos do século XX, Joseph Stalin, também protegia a liberdade de religião e de consciência. [13] Só quando se entende como essa frase da Constituição de 1936 se encaixa no sistema comunista é que você pode entender que o que Stalin quis dizer com a frase “liberdade de religião” não é o que os autores da Primeira Emenda da Constituição dos Estados Unidos queriam dizer com a frase “livre exercício da religião” . A equivocação sempre foi uma ferramenta indispensável para quem deseja ocultar suas intenções ou suas ideias. [14]

A linguagem do Capítulo X da Constituição Soviética de 1936, sobre os Direitos e Deveres Fundamentais dos Cidadãos, é semelhante às declarações emitidas pela Igreja-Estado Romana. O Artigo 118 estabelecia que “os cidadãos da União Soviética têm o direito ao trabalho, isto é, o direito a emprego garantido e ao pagamento pelo seu trabalho… O direito ao trabalho é garantido pela… abolição do desemprego”. O artigo 199 estabelecia que “os cidadãos da União Soviética têm direito ao descanso e ao lazer. O direito ao descanso e ao lazer é garantido pelo estabelecimento da jornada de oito horas para os operários de fábrica e escritório…”. O Artigo 120 determinava que “os cidadãos da União Soviética têm direito ao sustento na velhice e também em casos de doença e deficiência…”. O Artigo 121 estipulava que “os cidadãos da União Soviética têm direito à educação. Este direito é garantido pelo ensino fundamental obrigatório e universal; pela educação gratuita até e incluindo a sétima série; por um sistema de estipêndios estatais para alunos de estabelecimentos de ensino superior que se destacam em seus estudos…”. O Artigo 122 afirmava que “As mulheres na União Soviética têm direitos iguais aos dos homens em todas as esferas da atividade econômica, governamental, cultural, política e outras atividades públicas. A possibilidade de exercer esses direitos é assegurada pela igualdade de direitos das mulheres com os dos homens ao trabalho, à remuneração, descanso e lazer, seguro social e educação, e pela proteção estatal de mãe e filho, auxílio estatal às mães de famílias numerosas e mães solteiras, licença-maternidade com vencimento integral e a oferta de uma ampla rede de maternidades, creches e jardins de infância”. O Artigo 124 estabelecia que “a liberdade de culto religioso… é reconhecida a todos os cidadãos”. O Artigo 125 estipulava que são “garantidos por lei aos cidadãos da União Soviética: (a) liberdade de expressão; (b) liberdade de imprensa; (c) liberdade de reunião…; (d) liberdade de passeatas e manifestações de rua”. Em todos esses direitos, comunismo e catolicismo são semelhantes.

A Igreja-Estado Romana reconhece o direito dos homens de buscar a verdade. Mas quem detém o monopólio da verdade? Os papas nos disseram que: “… a Cátedra de Pedro, [é] aquele sagrado depositário de toda a verdade…” [15] e “… a doutrina da Igreja, que não apenas no social, como também em todos os demais campos, pode oferecer luz real e assegurar a salvação…”. [16]

“Em segundo lugar”, diz o Catecismo,

“o bem comum requer o bem-estar social e o desenvolvimento do próprio grupo. O desenvolvimento é a epítome de todos os deveres sociais. Certamente, é função própria da autoridade arbitrar, em nome do bem comum, entre vários interesses particulares; mas deve tornar acessível a cada um o que é necessário para levar uma vida verdadeiramente humana: alimentação, vestuário, saúde, trabalho, educação e cultura, informação adequada, o direito de constituir família, etc.”. [17]

O bem comum se torna a razão para uma ampla intervenção governamental na economia. Não só o governo – que é o único representante temporal do “bem comum” – “arbitra” entre os “interesses particulares”, mas também tem o dever de proporcionar as condições de liberdade: alimentação, vestuário, saúde, trabalho, educação, cultura, informação, direito de constituir família, etc. O bem comum, que só pode ser determinado pelo governo, uma vez que todos os outros grupos (exceto, é claro, a Igreja-Estado Romana) são de ordem inferior e representam apenas interesses particulares, é a grande ficção pela qual o estado defende seu controle da sociedade. [18] Veja a lista novamente: alimentação, vestuário, saúde, trabalho, educação, cultura, informação. Poucas coisas são omitidas. E o que é esquecido nesta lista encontra-se em outras encíclicas. No pensamento político católico, o governo age pelo bem comum; o próprio governo não é visto como um interesse particular; só ele se preocupa com o bem-estar público. Foi uma das maiores conquistas dos fundadores americanos – conforme expresso, por exemplo, no Federalist Número 10 – considerar os governantes não como acima das facções ou da política, nem como motivados por benevolência desinteressada, mas como facções que defendem interesses particulares. Os governantes não estão acima das facções, puros e de espírito público, como a Igreja pretende, mas eles próprios são facções. Como os homens não mudam sua natureza quando assumem cargos públicos, o desiderato fundamental na construção de um governo é um sistema de freios e contrapesos para colocar as facções dentro do governo umas contra as outras, de modo que o próprio governo possa ser contido. Mas uma monarquia absoluta como a Igreja não sabe nada sobre limitar o poder dos governantes e nada sobre a liberdade. [19]

Aristóteles é também a fonte do conceito da Igreja-Estado Romana sobre o bem comum: “Cada comunidade humana possui um bem comum que permite ser reconhecida como tal; é na comunidade política que se encontra sua realização mais completa. É papel do estado defender e promover o bem comum da sociedade civil, seus cidadãos e órgãos intermediários”. [20] Esta declaração do Catecismo da Igreja Católica poderia ter sido plagiada da Política. [21]

Notas

  1. Catecismo da Igreja Católica(1994), 1939.
  2. Catecismo da Igreja Católica(1994), 1940.
  3. Catecismo da Igreja Católica(1994), 1941, 1942, 1948.
  4. Pius XI, Quadragesimo Anno(1931), 40-41.
  5. David O’Brien, Public Catholicism, 173.
  6. Catecismo da Igreja Católica(1994), 1885.
  7. Catecismo da Igreja Católica(1994), 1883.
  8. Ver E. C. Wines, Commentaries on the Laws of the Ancient Hebrews. Filadélfia e Londres: William S. e Alfred Martin, James Nisbet and Company, 1859.
  9. João XXIII, Mater et Magistra, Sobre o Cristianismo e o Progresso Social (1961), 52-53.
  10. Catecismo da Igreja Católica(1994), 1907.
  11. Ver John W. Robbins, Without a Prayer: Ayn Rand and the Close of Her System. The Trinity Foundation, 1997, 180-214.
  12. Não foram apenas os fundadores americanos, mas também os revolucionários franceses que usaram a retórica dos direitos, mas embora as palavras fossem as mesmas, os significados não eram.
  13. Communism in Action: A Documentary History, Henry M. Christman, editor. Nova York: Bantam Books, 1969, 114-116.
  14. Talvez o melhor ensaio sobre o assunto ainda seja “Politics and the English Language” de George Orwell.
  15. Pio XI, Quadragesimo Anno(1931), 5.
  16. Pio XI, Sobre o Comunismo Ateísta (1937), 59. Às vezes, “Evangélicos” nos Estados Unidos afirmam que em muitos, senão na maior parte dos pontos doutrinários, a Igreja-Estado Romana ensina as mesmas coisas que os protestantes ensinam, com o que querem dizer: A Igreja concorda com a Bíblia. Eles estão bastante enganados. Aqui está o que a Pastoral Statement on Biblical Fundamentalism(1987) disse sobre a Bíblia: “Os fundamentalistas bíblicos são aqueles que apresentam a Bíblia, a Palavra inspirada de Deus, como a única fonte necessária para o ensino sobre Cristo e a vida cristã”. “Uma outra característica do fundamentalismo bíblico é que ele tende a interpretar a inerrância da Bíblia, ou como literalmente verdadeira, de uma forma bastante diferente do ensino da Igreja Católica sobre a inerrância da Bíblia. Para alguns fundamentalistas bíblicos, a inerrância se estende até mesmo a questões científicas e históricas. A Bíblia é representada sem levar em conta seu contexto histórico e desenvolvimento”. “Com o Vaticano II, acreditamos que ‘os livros da Escritura devem ser reconhecidos como ensinando com firmeza, fidelidade e sem erros aquela verdade que Deus quis colocar nas escrituras sagradas para o bem da nossa salvação’ (Constitution on Divine Revelation, nº 11). Não consideramos a Bíblia uma autoridade em ciência ou história. A verdade na Bíblia não deve ser reduzida apenas à verdade literal, mas também inclui verdades de salvação expressas em várias formas literárias”. “Observamos no fundamentalismo bíblico um esforço para tentar encontrar na Bíblia todas as respostas diretas para a vida – embora a própria Bíblia em nenhum lugar reivindique tal autoridade”. Outro documento oficial do Vaticano, The Interpretation of the Bible in the Church, nos diz que “a abordagem fundamentalista [da interpretação bíblica] é perigosa…” (19). Nessas declarações, a Igreja-Estado Romana negou a suficiência, a infalibilidade, a inerrância, [a] a exatidão histórica e científica e a verdade literal da Bíblia. Adicione a isso as doutrinas romanas de que existem 73 livros na Escritura, que a Igreja escreveu, canonizou, aprovou e autenticou as Escrituras, e que a Igreja é a única intérprete autêntica e autorizada das Escrituras, e, é claro, que o Catolicismo Romano e o Protestantismo nada têm em comum na doutrina da Escritura. No cristianismo, são as Escrituras que têm um monopólio sistemático da verdade. No romanismo, é a Igreja. A questão permanece: sola Scripturaversus sola Ecclesia. Além disso, é o fundamentalismo, ou seja, o protestantismo, que o Vaticano caracterizou como “perigoso”. Que eu saiba, nenhum outro movimento, social ou político (a menos que seja o capitalismo), foi denunciado pela Igreja como “perigoso” nos últimos 25 anos. Aqueles que dizem que o protestantismo tem muito em comum com o catolicismo estão culposamente enganados. Se alguém examinasse cada doutrina que o cristianismo supostamente tem em comum com o catolicismo, encontraria a mesma divergência que encontramos com a doutrina da Escritura. Os frequentadores da igreja são facilmente enganados pela semelhança de frases sem entender como o significado de palavras, frases, sentenças e até mesmo parágrafos é modificado pelo sistema do qual fazem parte. A Igreja usa esta aparente harmonia doutrinária para convencer outras igrejas e indivíduos a aderirem a ela: “Esta Igreja, constituída e organizada no mundo como uma sociedade, subsiste na Igreja Católica, que é governada pelo sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele, embora muitos elementos de santificação e de verdade sejam encontrados fora de sua estrutura visível. Esses elementos, como dons pertencentes à Igreja de Cristo, são forças que impulsionam a unidade católica” (Concílio Vaticano II, Lumen Gentium [21 de novembro de 1964]).
  17. Catecismo da Igreja Católica(1994), 1908.
  18. “O poder político, que é o elo natural e necessário para assegurar a coesão do corpo social, deve ter por finalidade a realização do bem comum. Respeitando as liberdades legítimas dos indivíduos, famílias e grupos subsidiários, atua de forma a criar, efetivamente e para o bem-estar de todos, as condições necessárias para alcançar o verdadeiro e completo bem do homem, inclusive seu fim espiritual”. (Paulo VI, Carta Apostólica Octogesima Adveniens[1971], 46). Observe que esta declaração implica claramente a união da igreja e do estado, pois o poder político fornece as condições necessárias para atingir os objetivos espirituais.
  19. John Hughes, bispo de Nova York no início do século XIX, refletiu a eclesiologia da Igreja-Estado quando trovejou: “Não suportarei ninguém em minha diocese que eu não possa controlar”. Francis Patrick Kenrick, bispo da Filadélfia, comentou sobre “como é difícil defender os direitos sagrados quando os leigos se intrometem nos assuntos da igreja”. “Em 1829, reunindo-se pela primeira vez como um conselho legislando para a igreja americana, os bispos [católicos romanos] decidiram eliminar, tão rápido quanto a lei permitia, todas as formas de participação efetiva dos leigos e, em vez disso, garantir que o título de propriedade da igreja fosse colocado sob o controle efetivo do bispo. Demorou anos para encontrar o clima político favorável em cada estado que permitisse tal controle na lei, mas bispos fortes agora insistiam que o título fosse entregue a eles antes que novas igrejas fossem abençoadas. Às igrejas mais antigas eram negadas serviços pastorais, mesmo em alguns casos eram postas sob interdição, se elas se recusassem a reconhecer o controle absoluto dos bispos… A igreja, ao que parecia, embora afirmasse os valores republicanos de autogoverno e responsabilidade individual na vida pública, rejeitou totalmente esses princípios na organização dos assuntos internos da igreja” (David O’Brien, Public Catholicism, 26). Na mesma época em que os bispos estavam assumindo o controle das igrejas católicas americanas de administradores e leigos intrometidos, “eles estabeleceram diretamente seu compromisso com as instituições americanas e os princípios republicanos, afirmando ‘um princípio mais brando, melhor e mais cristão, que da genuína liberdade religiosa…'” (O’Brien, Public Catholicism, 30).
  20. Catecismo da Igreja Católica(1994), 1910.
  21. Gordon Clark escreveu sobre Aristóteles: “Agora, se a teoria de Platão é uma forma de comunismo, talvez Aristóteles pudesse ser chamado de fascista. O importante é que ambos são totalitários” (A Christian View of Men and Things, The Trinity Foundation [1952] 1998, 109).

Nota adicional

  1. A ideia de inerrância das Escrituras, defendida por alguns evangélicos conservadores, sustenta que a Bíblia não possui erros de espécie alguma, inclusive em todas as suas referências à história, geografia, cosmologia, ciência, etc. Este ponto de vista extremo nega a dimensão humana das Escrituras, que é passível de erro, embora não comprometa a integridade da revelação divina. Para uma exposição detalhada sobre o assunto, ver Samuele Bacchiocchi, Crenças Populares: O que as pessoas acreditam e o que a Bíblia realmente diz. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2012, p. 27-45.

 

 

Capítulo 16

Voltar ao índice

 

Sobre Weleson Fernandes

Escritor & Evangelista da União Central Brasileira

Verifique também

Tréplica sobre a questão dos alimentos puros e impuros

O amigo e irmão (em Cristo) Raphael Meza gentilmente leu meu texto “Por que a …

Somos obrigados a seguir os 613 mandamentos da Torá?

Um argumento muito comum utilizado contra os adventistas do sétimo dia é o de que …

A influência (negativa) dos “pais” da Igreja na rejeição do sábado

Como se deu a rejeição do sábado na Igreja? O processo não pode ser explicado …

Deixe uma resposta

×

Sejam Bem Vindos!

Sejam bem Vindo ao Portal Weleson Fernandes !  Deixe um recado, assim que possível irei retornar

×