O caso Damares e as desculpas esfarrapadas

Futura ministra de Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, fala à imprensa no CCBB. Ela também ficará responsável pela Funai.

Recentemente, muitos progressistas em suas redes sociais na internet e até em sites de notícias iniciaram uma série de zombarias à futura ministra do ministério das “Mulheres, Família e Direitos Humanos”, Damares Alves. O motivo? Um vídeo em que ela diz que viu Jesus em um pé de goiaba.

O grande problema é que a história é um relato de quando a ministra tinha oito anos de idade e pretendia se matar por estar sendo abusada sexualmente desde os seis anos.

Quando muita gente começou a apontar a maldade e a hipocrisia dos que zombavam do relato, levando em conta que os zombadores são aqueles que se dizem defensores dos direitos humanos, surgiu a desculpa de ouro: “Quando a zombaria começou, ninguém sabia o contexto da fala da ministra”.

Bom, eu fui procurar o vídeo na internet para me certificar. No YouTube achei três canais com o vídeo (até a data que pesquisei). Era o mesmo vídeo e o contexto estava todo ali. A ministra, em uma pregação em sua igreja, contava que subiu no pé de goiaba com um veneno na mão, intentando cometer suicídio. Viu Jesus e acabou desistindo.

Postei o vídeo numa discussão sobre a questão, onde algumas pessoas defendiam a inocência dos zombadores. Um comentarista rebateu dizendo que não era aquele vídeo que as pessoas tinham visto, mas outro. “Ok. Me mostre o vídeo”. O rapaz passou o link e aí está. Assistam. Faço meus comentários abaixo.

https://www.instagram.com/p/BrS4RIJArLW/?utm_source=ig_share_sheet&igshid=pze09f7gvvpd

1) Nesse vídeo, ela começa dizendo (é a primeira frase): “Eu não tomei o veneno”. Depois, ao narrar como era Jesus, afirma: “Aquela visão que criança tem de Jesus”. Depois ela diz: “Aí quando eu via Jesus subindo no pé de goiaba, eu pensava assim na minha cabeça – eu esqueci o veneno – ‘Não sobe Jesus’”. Termina o vídeo dizendo que não ia mais pro céu, mas amava Jesus e não queria que ele se machucasse. O contexto é bastante claro para entender que (a) ela era criança; (b) estava com um veneno na mão; (c) Jesus a ‘distraiu’ do veneno; (d) ela pretendia se matar, por isso diz que não iria mais paro céu.

Só um imbecil vê esse vídeo sem perceber esses elementos e entender do que ela está falando. Ou uma pessoa muito antipática à ministra.

2) É o mesmo vídeo que encontrei no Youtube em três canais, só que cortado. Ou seja, quem cortou, o fez de maldade, querendo enfatizar apenas um trecho do testemunho, para que analfabetos funcionais e gente insensível pudesse zombar da ministra.

3) O relato dela é da visão de uma criança. É ridículo que se zombe da visão de uma criança – de algo que ocorreu tem décadas.

4) A obrigação de qualquer pessoa inteligente e honesta (sobretudo jornalistas) é procurar o vídeo inteiro para entender melhor o contexto. Sobretudo quando no vídeo cortado em questão a Damares fala que estava com veneno na mão. É um caso de tentativa de suicídio. O mínimo que se deveria fazer é procurar o vídeo todo pra entender como se deu essa tentativa de suicídio.

É bizarro ver a galera do “direitos humanos” fazendo piada com a tentativa de suicídio de uma criança.

Não pretendo aqui fazer parecer que só esquerdistas (progressistas) cometem hipocrisia ou que todos eles assim agem. Há conservadores se dizendo pró-familia e pró-valores judaico-cristãos, mas traindo a esposa ou sendo agressivo e discriminador com as mulheres. Hipocrisia. Quando Marielle Franco foi assassinada, pela internet afora houve, claro, quem fizesse piada só por discordar das posições políticas da vereadora. Da mesma forma, quando um conservador passa por um problema, de agressão à morte, veremos pela internet progressistas fazendo piada e se regozijando. Mesmo se tratando de mulher, negro ou gay (as classes que os progressistas dizem defender).

No fim das contas, a hipocrisia é algo presente em todos os meios, em maior ou menor grau. A hipocrisia é do ser humano. Em todos esses exemplos, o que vemos são pessoas mais preocupadas em defender sua ideologia e/ou modo de pensar do que realmente a dignidade das pessoas e os valores humanitários. Já dizia a Bíblia que o amor das pessoas se esfriaria nos últimos tempos. Isso independe de posicionamento político. Depende da motivação idolátrica de cada um.

No caso da ministra, é clara a motivação dos zombadores: ela é cristã, pastora e está no ministério de um governo de direita. Fosse uma socialista, representante de um partido de esquerda, e provavelmente nenhum dos que zombaram dela teria feito crítica. Fosse uma umbandista dizendo que viu um espírito ou recebeu um, e isso a salvou do suicídio, haveria palmas. Seria a “quebra de paradigmas”. Uma mulher umbandista, ministra dos direitos humanos, que foi violentada na infância, ia se matar, mas foi salva graças à sua fé na religião afro. Prato cheio para a esquerda. A questão aqui é meramente ideológica. Não importa o que foi falado, bem quem falou, mas a que ideologia serve. Se é dos meus, eu defendo. Se não é, eu zombo.

Aqui pouco importa que a ministra foi violentada na infância, que passou a lutar contra o abuso infantil, que adotou uma criança indígena. É preciso achar algo para deslegitimar Damares. O Jesus no pé de goiaba é perfeito para isso: ela será chamada de fanática e lunática e será acusada de querer quebrar o estado laico. É o discurso padrão progressista.

Mas ao dizer essas coisas, o progressista está (1) dizendo ser ridículo crer que Jesus apareceu para uma pessoa (e eu me pergunto o motivo, já que bilhões de pessoas no mundo creem que Jesus ressuscitou); (2) ser ridículo uma criança de oito anos traumatizada por estupros se agarrar a essa visão para achar motivação para viver; (3) ser quebra de estado laico o simples fato de uma pessoa ter a sua fé e expressá-la no âmbito de uma igreja, sem impor isso a ninguém.

Nenhuma dessas conclusões implícitas na zombaria progressista se sustenta. E a hipocrisia, de fato, salta aos olhos. Cito aqui o que uma agnóstica que sigo nas redes, Mô Arievilo (mulher e negra, diga-se de passagem), escreveu sobre o caso:

“Jesus em cima do pé de goiabeira faz mais por crianças e mulheres abusadas sexualmente do que falsos altruístas, que vivem falando de mudança do mundo, amor aos animais, amor às minorias, aos pobres e oprimidos, mas permanecem no desejo de puro reconhecimento social, sem fazer prova do que prega…

 Mesmo não acreditando hoje na existência de um deus, reconheço que toda pessoa tem o direito de reagir à vida da forma que mais lhe seja agradável. Não posso esperar menos de uma criança de seis anos ou de uma mulher de 40, 50 que tenha tido uma vivência tão amarga.

 Tenho contra a indicação de Damares como ministra meu problema com o radicalismo religioso no geral e o ativismo feminista protestante (que existe muito mais do que se imagina) reforçando a política do privilégio sobre mulheres e não a igualdade de gênero, de forma límpida e literal.

 Reitero que não tem moral para chacotar sobre o Jesus no pé de goiabeira que foi motivo (imaginário ou não) para dar resignificação a uma vida dilacerada pela monstruosidade humana, quem acredita que sua bolha existencial é a dona de verdades.

 Entre todos os devaneios, fico com o que gera motivação.

 Não seria necessário que vítimas de violência tivessem alucinações (ou o que explique “visões do sobrenatural”) se combatessemos os monstros para que jamais fizessem vítimas.

 Talvez se Marielle tivesse visto Jesus no pé de goiabeira sua vida política tivesse sido mais significante, não precisando ser palanque apenas em detrimento de sua morte. Damares na morte da dor do abuso infantil, encontrou vida no Jesus do pé de goiabeira. Como agnóstica desejo que mais crianças vejam Jesus no pé de goiabeira. Esse Jesus faz mais pelas pessoas que qualquer falso herói da esquerda”.

O que o episódio deixa de questionamento é até quando muitos continuarão acreditando que todos os que dizem defender os direitos humanos realmente estão interessados em defendê-los. Nos acostumamos a viver numa senzala ideológica. Alguém nos diz que defende negros, mulheres, gays, crianças que sofrem bullying; diz que só sendo da sua ideologia ou do seu partido que essa defesa pode ocorrer. Então, acreditamos. E aí vemos que essa defesa não acontece quando não convém. É a hora de entendermos que se queremos realmente amar a todos e defender oprimidos sem exceção, devemos abraçar o evangelho de Jesus Cristo e suas Santas Escrituras. Não ideologias. Não socialismos e progressismos. Não qualquer ismo que se inventar. E isso vale para ismos à direita, sem sombra de dúvida. É hora de voltar à Sola Scriptura.

________________________

* O vídeo mais completo que encontrei do testemunho da ministra é esse aqui:

https://www.youtube.com/watch?v=mAgeb3M3H_c&app=desktop

* O texto de Mo Arievilo pode ser lido aqui:

https://www.facebook.com/arievilomo/posts/2324124764538212

Por Davi Caldas

Fonte: Reação Adventista

Sobre Weleson Fernandes

Escritor & Evangelista da União Central Brasileira

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