Alguém que tenha sofrido alguma vez com a percepção de que seu vaso é de barro, jamais atirará a primeira pedra.
Você já se sentiu desapontado consigo mesmo por haver praticado algo ou se comportado de modo reprovável? Eu já. E devo admitir que não gostei da experiência.
Não consigo deixar de pensar na vida de personagens da Bíblia como Davi, Pedro e Judas, quanto a esse assunto. Davi foi chamado o “homem segundo o coração de Deus” (At 13:22). Ele deve ter se sentido miseravelmente sujo, antes de escrever o Salmo 51. Assim que o Espírito de Deus o convenceu de seu estado, deve ter provado a mesma sensação de desamparo e desproteção de Adão, quando a cobertura da glória de Deus se foi, deixando-o à mercê dos efeitos devastadores dos sentimentos de culpa, vergonha e nudez. Em estado tão deplorável, não podia dar-se ao luxo de reagir às eventuais críticas de seus “irmãos”.
Pedro também teve uma história semelhante, no momento em que os olhos amorosos de Jesus o atravessaram como duas flechas de fogo, logo depois que ele o negou. “Quando o cantar do galo lhe lembrou as palavras de Cristo, surpreso e atônito pelo que acabara de fazer, voltou-se e olhou a seu Mestre. Simultaneamente, Cristo olhou a Pedro e sob aquele olhar aflito em que se misturavam amor e compaixão por ele, Pedro conheceu-se. Saiu e chorou amargamente. Aquele olhar de Cristo lhe partiu o coração. Pedro chegara ao ponto decisivo, e amargamente se arrependeu de seu pecado” (Eilen G. White, Parábolas de Jesus, p. 154,155).
Se Davi e Pedro vivessem entre nós, talvez não conseguissem reerguer-se. Temos tamanho senso de justiça que ficamos chocados ao saber do pecado de homens honrados. E então, quem sabe até com satisfação, começamos a exigir justiça e condenação do pecado na vida dos outros, sem nos apercebermos de que somos tão pecadores e dependentes da graça divina quanto eles.
Quando deparamos com pecados cuja gravidade sócio-espiritual nos leva a deplorar, não devemos ficar chocados. Jesus não ficou chocado diante da mulher pecadora, de Pedro, nem de Judas. “Ele não precisava de que alguém lhe desse testemunho a respeito do homem, porque Ele mesmo sabia o que era a natureza humana” (Jo 2:25).
A pergunta relevante é: Conheço de fato a natureza humana? A resposta nos põe diante de dois tipos de pecadores: aquele cuja consciência o leva a um encontro com seu verdadeiro eu pecaminoso e com o Salvador; e aquele que, no afã de manter a ilusão de estar vestido, se recusa a admitir essa necessidade.
Judas pode servir de exemplo. Tenho dúvidas de que ele tenha conhecido a natureza humana. Comportava-se como alguém acima de qualquer reprovação. Agia como um autêntico fariseu, muito “certinho” aos próprios olhos para se aborrecer com palavras como renúncia e rendição. Pós-graduou-se na dissimulação dos pecados que a sociedade punia com a desonra. Comprazia-se em expor o ponto fraco dos outros discípulos.
Não sei quanto a você, mas para mim o contraste entre a vida de Judas e a de Davi e Pedro me ensina algumas lições.
Um pecador como Davi, Pedro ou eu, que tenha sentido as misérias do pecado, jamais olhará para outro pecador com um olhar de menosprezo. De tanta compaixão, ele morrerá um pouquinho e sentirá um enorme desejo de ajudar aquele que errou a erguer-se. Seus olhos terão o mesmo brilho compassivo e terno que atravessou a alma de Pedro naquela sexta-feira da paixão.
Um pecador como Davi, Pedro ou eu, que tenha provado apenas um gole da taça do conhecimento da natureza humana, jamais lançará o peso adicional da censura sobre os ombros de quem já verga sob sentimentos de culpa e inadequação.
Um pecador como Davi, Pedro ou eu, que tenha tido apenas um vislumbre do contraste entre a glória de Cristo e o seu próprio coração, não se afastará chocado diante dos estragos na vida de um irmão, nem lhe aumentará o sentimento de abandono ao pôr em dúvida a legitimidade de seu arrependimento.
Um novo ano está à nossa frente. Que o Senhor nos conceda “bons olhos” para com nossos irmãos de caminhada e nos dê a graça de participar, na Sua vinda, do grande grupo de pecadores redimidos que se unirão a Davi, a Pedro e à galeria da fé descrita em Hebreus 11, para louvar o Cordeiro.
Texto de autoria de Joubert Castro Perez, professor no Unasp, Campus de Engenheiro Coelho, SP. Publicado na Revista Adventista de Janeiro/2009.
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