Você realmente é contra o acúmulo de riqueza? Vamos testar!

Muitos cristãos mais estatistas dizem ser contra o acúmulo de riquezas e defendem que o Estado deveria controlar esse acúmulo. Mas será que eles são mesmo contra o acúmulo de riquezas? E faz sentido evocar o Estado nessa discussão? Para duas perguntas a minha resposta é não. Vamos trabalhar a primeira. 

Você tem uma casa própria? Se sim, foi necessário acumular dinheiro para compra-la. Se você não o fez, alguém fez. E convenhamos: o valor de uma casa é alto. Exige bastante dinheiro acumulado. Então, se você acha ok ter uma casa, já não é contra acúmulo.

O argumento do leitor pode ser: “Ah, mas casa própria é necessidade. Então, não conta como acúmulo”. Mas isso não é verdade. Ninguém precisa de uma casa própria para viver. E, de fato, milhões de pessoas passam décadas e até a vida toda morando em casas alugadas ou de favor. Você pode argumentar que ter uma casa própria é importante para ter mais conforto e estabilidade, mas não que é necessário para viver. 

Mesmo que o leitor concorde comigo, venda sua casa própria, dê o dinheiro aos pobres e alugue uma para morar, existe outro problema. A casa que você aluga pertence a alguém. E essa pessoa, ou a pessoa de quem ela herdou a casa, precisou acumular dinheiro para construi-la. Portanto, mesmo que você alugue ou até more de favor em uma casa, essa casa só existe porque alguém acumulou dinheiro. E você está se beneficiando disso. Portanto, mais uma vez não pode ser contra acúmulo. 

A questão da moradia não para aí. Você mora em um condomínio? Se sim, esse condomínio também só existe porque pessoas acumularam dinheiro para construi-lo. Pense em quanto dinheiro é necessário acumular para construir um condomínio. Eu morei em um por alguns anos. Eram apenas dois blocos. Mas davam um total de 180 apartamentos. Além disso, havia uma quadra, um salão de festas, uma portaria, um parquinho para crianças e um estacionamento. Tudo isso teve um custo. Então, se você mora num condomínio, não pode ser contra acúmulo também. 

Mas ok, vamos assumir que acumular para construir casa e condomínio não é acúmulo. Ou melhor, que é um acúmulo que lícito. Afinal, as pessoas precisam morar em algum lugar. A questão é: até que ponto é lícito? Talvez alguns pensem que acumular para ter uma casa seria suficiente. Já supre a necessidade, né? Depende. 

Suponha que um homem é casado e tem três filhos pequenos. Uma vez que construir uma casa é difícil, pois é caro, talvez esse homem queira construir casas para os filhos, a fim de que quando eles cresçam possam iniciar suas vidas já com um lugar para morar. Seria isso um pecado? Se morar é uma necessidade e se um pai deve prover o melhor que pode para os seus filhos, não é natural que ele procure legar uma casa para cada um? Se devemos ajudar o próximo, e nossos filhos são as pessoas mais próximas de nós, não devemos ajudá-los? Qual pai que me lê não faria o mesmo se tivesse condição? 

Pois bem, então aqui já temos um pai acumulando dinheiro para comprar não uma, mas quatro casas. Vamos tornar essa história mais interessante. Esse mesmo pai deseja dar aos seus filhos uma boa educação. Seria errado que ele acumulasse dinheiro para pagar bons colégios para eles? Eu penso que não. 

Esse pai também quer garantir uma boa saúde para sua família. Seria um erro ele pagar bons planos de saúde para cada um? Esse pai também deseja o máximo de segurança possível para sua família. Seria um erro ele querer morar num condomínio com segurança e em um bairro com baixos índices de violência (o que tende a ser mais caro)? E mais: seria errado ele juntar dinheiro para ajudar seus pais, que talvez não tenham uma aposentadoria tão grande? Nada disso me parece errado. E tudo isso requer bastante dinheiro acumulado. 

Neste ponto, o leitor deve perceber que este pai precisará de um emprego muito bom para arcar com todos esses gastos. Vamos supor que este homem é um pequeno empresário, um dono de mercadinho de bairro. Aqui a coisa fica mais divertida. Para abrir um mercadinho foi necessário alguém acumular dinheiro. Ou o próprio homem ou algum familiar de quem ele herdou o negócio. Digamos que foi o próprio. Durante uns anos ele trabalhou e juntou dinheiro. Ele não usou essa grana diretamente para ajudar outras pessoas. Apenas a deixou aplicada em algum investimento bancário rendendo juros. E, então, certo dia, ele sacou o dinheiro e começou a montar seu mercadinho. 

Pois bem, se você faz compras nesse mercadinho, não pode ser contra acúmulo de dinheiro. E se você estava desempregado e conseguiu um trabalho nesse mercadinho, também não pode reclamar de acúmulo de dinheiro. Sem acúmulo, o mercadinho não existiria. 

Com o mercadinho prosperando e os filhos na escola, o homem agora vê a necessidade de ter um carro. Com um carro ele pode levar e buscar os filhos na escola, levar e buscar a esposa no trabalho dela e ainda carregar alguma mercadoria quando necessário. 

O leitor tem um carro? Se tem, sabe que para comprar um é necessário acumular dinheiro. Mas vamos além. Para que exista carro, muito dinheiro foi acumulado. Pense no quão caro é abrir e manter uma fábrica de carros. Pense no quão caro é abrir e manter empresas petrolíferas que produzem o combustível para o seu carro. Pense no quão caro é abrir e manter as fábricas que produzem as máquinas necessárias para as empresas petrolíferas e as empresas que produzem os carros. Em todos os casos foi necessário gente que acumulou dinheiro para investir nesses negócios. Você só tem um carro porque existe acúmulo de riqueza.

Mas talvez você não tenha um carro. Isso não muda muita coisa. Você anda de ônibus. E as vezes até pega viagem num aplicativo de transporte. Para produzir ônibus e para comprar uma frota deles foi necessário pessoas acumulando dinheiro. Para produzir e comprar o carro que presta serviço de aplicativo também. Não há como escapar. 

Voltemos ao mercadinho. Muita gente acha que o ganho do empresário e o lucro da empresa são a mesma coisa. Conceitualmente, não. O ganho do empresário é como se fosse o seu salário. O nome técnico é pró-labore. O lucro da empresa é o que sobra depois que já foram pagas todas as contas, todos os salários, todos os tributos e o pró-labore. 

O pró-labore vai pra conta pessoal do dono da empresa. O lucro da empresa deve ficar na conta dela. E como esse lucro da empresa deve ser administrado? Alguns parecem pensar que esse lucro deveria ser todo distribuído para os funcionários. Mas uma empresa organizada precisa dividir o lucro para outras áreas também. Primeira: uma conta para comprar mais materiais, caso a empresa trabalhe produzindo algo tangível. Sem isso, a empresa não pode continuar. Segunda: uma conta para imprevistos. Imprevistos sempre acontecem e se uma empresa não guardar dinheiro para eles, passará aperto. Eis alguns imprevistos um tanto previsíveis: uma máquina quebrada, um processo judicial, um problema na estrutura do edifício da empresa, um mau investimento, uma crise financeira no país, um aumento na inflação, alguma lei tola do governo que onere a empresa, um assalto à empresa, a necessidade de uma auditoria, custos com possíveis demissões, custos com seleção e treinamento de novos funcionários, etc. Terceira: uma conta para melhoria e expansão dos negócios. Aqui entram possíveis reformas no edifício, abertura de novas filiais, assessoria em publicidade, etc. Sem isso, a empresa não poderá beneficiar mais os clientes, podendo inclusive perder boa parte deles em algum momento e indo à falência. 

Note: nenhuma dessas áreas é supérflua. Se uma empresa não acumula dinheiro para estes fins, fatalmente se verá em problemas, o que afetará não apenas o dono, mas todos os que trabalham nela. 

Suponhamos que uma crise no país reduza o número de clientes no mercadinho e aumente os gastos. Passando a ter déficits mensais, o homem começa a usar o fundo de imprevistos da empresa. Duas coisas podem ocorrer: (1) o fundo ser suficiente e a empresa se recuperar; (2) o fundo não ser suficiente e a conta da empresa ficar negativa. No segundo caso, o dono precisará tomar uma decisão: pedir empréstimos ou fazer um aporte pessoal. 

Suponhamos que ele faça um aporte. De onde vem esse dinheiro? Pois é, de acúmulo. Se o empresário é organizado, ele terá um fundo pessoal para imprevistos. Assim, se a empresa estiver em apuros, ele poderá usar parte de seu próprio fundo pessoal para salva-la. Ou seja, ele gastará dinheiro pessoal para manter a empresa assim como gastou para cria-la. E tudo isso requer acúmulo. 

Sendo um homem previnido, talvez o dono do mercadinho da nossa história tenha aproveitado o tempo das “vacas gordas” para investir em vários negócios. Além do mercadinho, ele pode ter comprado outras casas e alugado para vários inquilinos. Ele pode ter aberto alguma outra empresa, como uma loja que conserta bicicletas, por exemplo. Ele pode ter comprado ações de algumas empresas que agora estão dando lucro. E assim, no momento das “vacas magras”, seu fundo de imprevistos tem o suficiente para passar bem pela turbulência. Note: isso é bom para ele, mas também para sua família e seus funcionários. 

Mas o empresário também poderá pedir empréstimos. Pode ser a um banco ou a outros colegas empresários. Aqui também vemos o papel do acúmulo: tanto o banco quanto outros empresários precisam ter dinheiro acumulado para fazer esse empréstimo. Isso quer dizer que se você trabalha numa empresa, ela começa a dar déficit e o patrão pega empréstimos para manter e pagar os funcionários, alguém acumulou dinheiro para isso. Logo, você não pode ser contra acúmulo. 

A maioria das pessoas não é empresária. Então, é possível que esse papo esteja distante do cotidiano de muitos. Por isso, vamos trazer a coisa mais para o trabalhador comum. Talvez você seja pobre, mas vez ou outra compre uma pizza ou um milk shake. Para alguém que passa fome, você gastar 50 reais numa pizza ou 15 reais num milk shake é um baita luxo e um enorme desperdício. E vamos combinar: ninguém precisa de pizza e milk shake para viver. Se você condena o acúmulo, portanto, também deve condenar que os “pequenos acúmulos” que servem para comprar qualquer coisa que não seja estritamente necessária. 

Eu citei coisas não muito saudáveis. Mais posso citar coisas que até fazem bem para a saúde. Por exemplo, eu gosto muito de sucos mais naturais. Há dois em especial que aprecio bastante: o suco de uva integral (da Superbom, por exemplo) e um suco de maçã concentrado da Natura. Mas não é possível comprar um litro desses sucos por menos de dez reais. Eu acho caro. E uma pessoa que passa fome provavelmente acha extremamente supérfluo comprar esses sucos. Dá para comprar um quilo de feijão ou um quilo de arroz com esse dinheiro. A pergunta que fica é: eu não tenho o direito de, após trabalhar duro, comprar com o meu dinheiro um suco que eu gosto? Bom, se a ideia é ser contra o acúmulo, não, eu não tenho. Afinal, eu não preciso de suco para viver. 

Dei exemplos com comida, mas podemos pensar em camisas, calças, vestidos e calçados que sejam um pouco mais bacanas que o normal. Aliás, se você já tem duas roupas para dormir, duas para sair e duas para ficar em casa, por que precisaria de mais? É o suficiente para sempre estar vestido enquanto a outra estiver lavando. 

E o que dizer de livros? Há pessoas que falam contra o acúmulo, mas precisaram acumular muito dinheiro para montar uma vasta biblioteca pessoal. E por mais que conhecimento seja algo bom e, em alguns sentidos, libertador, também não é necessário para viver. E a internet? E o ventilador? E o ar-condicionado? E a geladeira? E o fogão? E a festa de 15 anos? E a festa de casamento? Todas essas coisas são boas. Facilitam e/ou alegram nossa vida. Mas são luxos, no sentido de que poderíamos viver sem isso – como de fato a maior parte da humanidade viveu. Aqui eu pergunto: uma dona de casa que trabalha fora e junta dinheiro para comprar uma máquina de lavar roupa está errada? Se o acúmulo é errado, sim. Ela deveria gastar só com o estritamente necessário, não com aquilo que pode dar maior conforto. E o restante deveria ser dado a pessoas mais pobres. 

Parece-me claro que a maioria das pessoas não pensa assim realmente. É muito fácil criticar o acúmulo de dinheiro dos outros. Mas quando essa crítica precisa incluir a nós mesmos, as “exceções” começam a aparecer. Não vejo coerência aqui. 

E talvez o leitor tente ainda objetar: “O problema não é o acúmulo para algum fim, mas para um fim fútil ou para fim nenhum”. E embora eu não ache que esse argumento esteja totalmente erado, é preciso reconhecer que fazer esse juízo é algo muito complexo. Primeiro: o que é fútil? Talvez comprar um quadro ou uma jóia de 30 milhões seja fútil. Eu acho que é. Mas qual valor tornaria a compra não fútil? 30 mil? 3 mil? 300 reais? O que ou quem determina isso? E se não for um quadro ou jóia, mas uma refeição? É fútil gastar 300 reais em um restaurante? Qual é o máximo que posso gastar? É fútil comprar meu suco de 15 reais? 

Segundo: como saber se o acúmulo de dinheiro de uma pessoa não tem finalidade? E se a pessoa está juntando para comprar uma casa própria? Ou casas para seus filhos? Ou para comprar um carro? Ou para abrir uma empresa? Ou para sustentar a empresa em momentos de crise? Ou para fazer uma reforma? Ou para abrir novas filiais, gerando emprego e atendendo mais clientes? Ou para abrir igrejas? Ou para abrir instituições de caridade? E se uma pessoa demorar 10, 20 ou 30 anos para investir naquilo que é sua finalidade? E se a pessoa ainda não tiver decidido o que fazer com o dinheiro, mas decidir daqui alguns anos? 

Simplesmente não dá para nós julgarmos com exatidão se uma pessoa está acumulando dinheiro por um motivo justo ou não. O que podemos é estimular e exortar pessoas a serem altruístas, abençoadoras e ajudadoras com o seu dinheiro. Podemos e devemos tentar convencer os indivíduos a suprirem as necessidades de quem tem menos. Isso é nobre. Mas não cabe a nós achar que devemos controlar o dinheiro dos outros. Até porque, por mais que o egoísmo seja um pecado, não é um crime. Existe algo chamado livre arbítrio. Se alguém quer ser egoísta, tem esse direito. A pessoa terá de acertar as contas com Deus, não conosco. 

Em terceiro lugar, saindo do ponto de vista moral e indo para o ponto de vista social, também é difícil mensurar o quanto um acúmulo de dinheiro é útil ou não para a sociedade. Por exemplo, um empresário pode escolher não ajudar ninguém com filantropia, manter o dinheiro na sua conta e só gastar consigo mesmo. Ainda assim, o dinheiro na sua conta serve para o banco emprestar a outros empresários que querem melhorar e aumentar seus negócios ou suportar uma crise, o que gera benefícios sociais. Os gastos consigo mesmo também se revertem para a sociedade, já que as empresas que vendem para ele ganharão dinheiro e pagarão seus funcionários. Além disso, esse mesmo empresário gera empregos, o que também é bom. Se isso não muda o fato de que ele é egoísta, ao menos mostra que mesmo sem querer ele gera algum benefício social. 

Em suma, parece-me claro que o acúmulo de dinheiro é necessário para o bem dos indivíduos e da sociedade; que quase todo mundo acumula dinheiro e/ou depende de quem acumulou dinheiro; e que tentar definir o que é um acúmulo útil e não fútil não só é complexo, mas fere o livre arbítrio. 

Isso nos leva ao segundo grande ponto desse texto: faz sentido evocar o Estado nessa discussão? E a resposta claramente é negativa. A questão do acúmulo é de cunho pessoal. Apenas a própria pessoa deve ter autoridade para definir o que é um acúmulo útil na sua vida e o que não é. E é apenas Deus que pode requerer de qualquer homem uma postura mais altruísta. Deus conhece o coração e as finanças de cada um mais do que qualquer outra pessoa de fora. Mais até que o próprio indivíduo possuidor das riquezas. Esta, portanto, não é uma questão de Estado. 

Evocar o Estado aqui é dar a alguns homens limitados e inclinados ao pecado (pois todos os homens assim o são) o poder de administrar aquilo que não é deles com finalidades que eles não têm como saber se serão melhores do que as finalidades do possuidor original da riqueza. Mais que isso: evocar o Estado é evocar o maior acumulador que existe. E boa parte dessas riquezas, arrancadas dos cidadãos à força, vai custear projetos ruins e encher os bolsos de pessoas corruptas, incompetentes e que gastarão o dinheiro dissolutamente. Não faz sentido, portanto, que essa instituição seja a responsável por definir quais acúmulos são fúteis ou não.  

Em vez disso, no entanto, a Bíblia nos instrui a convencer as pessoas daquilo que é bom. Não há Estado na equação. Não há coação. O cristão não coage, convence. 

A questão que resta, finalmente, é: “Mas a Bíblia não fala contra o acúmulo de dinheiro?”. E a resposta é sim e não. Sim, há textos em que o acúmulo é condenado (Mt 6:19-21; Mc 10:21; Lc 12:13-21; Tg 5:1-6). Mas há textos em que o acúmulo faz parte da obra de Deus e é bom. Por exemplo, havia mulheres ricas que sustentavam o ministério de Jesus (Lc 8:3). Para isso ocorrer, foi necessário acúmulo por parte delas e/ou de seus maridos. A mulher virtuosa de Provérbios 31 era empresária e, portanto, uma acumuladora (vs. 13, 16 e 24). A mulher que lavou os pés de Jesus com perfume caro precisou acumular para fazer isso. E Jesus não aceitou o argumento de Judas de que ela deveria ter usado o dinheiro para ajudar os pobres (Jo 12:1-7). José de Arimateia, um homem rico, cedeu uma tumba de sua propriedade para colocar Jesus depois de morto (Mt 27:57-60). Ele pode ceder porque acumulou dinheiro para comprar a tumba. Pessoas da Judeia venderam suas propriedades para ajudar os pobres no início da Igreja (At 2:45). Só vende propriedade quem antes acumulou propriedade. Lídia era uma rica empresária no ramo da púrpura e ajudou igreja de Filipos cedendo sua casa para os irmãos congregarem e repousarem (At 16:11-15). Acúmulo. Abraão ganhou uma guerra e salvou pessoas da escravidão porque a acumulou riquezas e teve condição de ir com um exército pelejar (Gn 14:1-16).

As riquezas podem ser usadas para a obra de Deus. E mesmo o crente pobre muitas vezes o faz. Talvez o leitor já tenha passado pela experiência de precisar juntar dinheiro com a Igreja para poder terminar a construção do templo. E possivelmente o leitor contribui para custear as atividades da sua comunidade espiritual. Isso só pode ser realizado por meio de acúmulo. É preciso que haja pessoas trabalhando e ganhando mais do que o estritamente necessário para a sobrevivência, a fim de que sobre algo e seja usado na obra de Deus. Sem acúmulo não há um local de reunião e louvor, não há ajuda aos mais pobres, não há pastores e missionários mantidos em tempo integral. 

Mas então o que a Bíblia quer dizer quando em algumas passagens fala contra o acúmulo? Minha aposta é que a crítica não é ao acúmulo, mas sim ao que Paulo vai chamar de “amor ao dinheiro” (I Tm 6:6-10). Aquele que ama o dinheiro não ama o próximo, não ama a assistência social, não ama a Igreja, não ama a Jesus. Pelo menos não tanto quanto o dinheiro. Esse tipo de pessoa está mais preocupado em acumular riquezas para si do que em abençoar pessoas com o que Deus lhe deu. Ela está mais preocupada em viver prazeres do mundo (alguns até lícitos) do que em fazer a diferença para melhorar a vida do próximo e alcançar pessoas com o evangelho. E, por vezes, essa pessoa está preocupada em ostentar sua riqueza e esmagar os mais humildes. Este é o acumulador que Deus repreende. Esse é o acúmulo que desagrada a Deus. 

A riqueza em si não é pecado. Até porque riqueza é algo relativo e proporcional. Para quem passa fome, um pobre que pode comprar um milk shake uma vez por mês é rico. O pecado está não na riqueza, mas no lugar que as riquezas ocupam em nosso coração. Disse Jesus: “Onde está o seu tesouro, aí está o seu coração” (Mt 6:21). O que temos considerado nosso maior tesouro? As riquezas terrenas? Ou as coisas imperecíveis? 

Nesse sentido, note, quem consideramos pobre pode ter um coração tão egoísta quanto quem consideramos ricos. Ou quem nunca teve um vizinho ou conhecido mesquinho, “mão de vaca”, avarento, mesmo sendo pobre? Por outro lado, há ricos largamente desprendidos. 

Faremos melhor, portanto, se em vez de julgar o que os outros poderiam fazer com suas riquezas, passemos a julgar o que cada um de nós pode fazer com aquilo que Deus tem nos dado. Tenho eu abençoado o meu próximo? Ou apenas gritado que os outros precisam abençoar? Será que eu não posso fazer mais, ajudar mais, doar mais? Esse é o primeiro passo para que, depois, cada um possa ir adiante e convencer a outros de que abençoar o próximo é algo essencial. 

Por Davi Caldas

Fonte: Reação Adventista

Sobre Weleson Fernandes

Escritor & Evangelista da União Central Brasileira

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