Breve reflexão sobre o impacto da Reforma Protestante

O quadro acima, pintado por Jean Perrisin no ano de 1565, tem o título de Le Temple Paradis, esboçando o Templo de Lyon, presente na França, mostra como a liturgia de uma congregação foi alterada após a reforma protestante ter sido feita na Europa. Com uma breve análise, podemos ver que o púlpito está ao centro do templo, simbolizando que a mensagem bíblica deveria ser exposta e não os dogmas provenientes da igreja medieval, regida pelos romanos. Outro ponto a se ressaltar é a presença de crianças, mulheres e até mesmo um cachorro, mostrando que a Bíblia era para todos aqueles que quisessem aprender as verdades dadas por Deus por meio das Escrituras Sagradas.

Essa pintura tem muito a nos ensinar, podemos aprender grandes lições, ao ver como o princípio de sola scriptura – expresso neste quadro também – foi fundamental para mostrar aos crentes daquela época a importância da Bíblia e sua superioridade diante da autoridade eclesiástica vigente. O presente texto mostrará de maneira, suscinta e rápida alguns pontos principais que este princípio exposto por Lutero fez a diferença na comunidade religiosa do século 16.

O Impacto do Sola Scriptura na Idade Média

A reforma protestante foi o movimento que marcou não somente a vida religiosa, como também trouxe um grande impacto social, mudando a forma de as pessoas pensarem. Muitos estavam descontentes com a Igreja Medieval que por séculos já estava regendo a sociedade em todas as áreas, desde a religiosa até a econômica. Todavia, algo que certamente marcou este período foi o retorno da Bíblia nas cerimônias religiosas. Utilizando a sola scriptura, Lutero mostrou a necessidade de as Escrituras terem primazia na vida do cristão, além desta ser o único parâmetro para reger se tratar de assuntos soteriológicos. Não são os dogmas da igreja os responsáveis para levar o indivíduo ao céu ou não. Desta maneira, a pregação bíblica tomou o espaço de protagonista nos cultos. As explanações feitas dentro dos templos exprimiam mais as opiniões próprias do que a própria Bíblia em si. Sobre isso Matthew Barret afirma que,

O lema da Reforma Ecclesia Reformata et Semper Reformanda Est não se referia apenas às questões soteriológicas (sola fide, sola gratia, solus Christus), mas, sob ele estava o próprio alicerce, o princípio formal da Reforma: sola Scriptura, a crença de que somente a Escritura, por ser a Palavra inspirada de Deus, é a autoridade inerrante, suficiente e final para a igreja.Em nenhum lugar esse princípio formal estava mais visível para as pessoas comuns do que na reorientação da igreja em torno da Palavra pregada e proclamada. (BARRET, 2017, p.39)

Outro fator a ressaltar é a expansão da Palavra para todas as pessoas, desde os letrados, até aos mais simples. Naquela época não era comum a Bíblia ser colocada nos cultos, era algo estranho para a sociedade. As programações promovidas estavam baseadas em uma forma de como o culto deveria ser regido, se isso não ocorresse, Deus não poderia se agradar e a salvação se tornaria algo impossível. Assim, os dogmas, sacramentos e indulgências faziam parte da vida litúrgica, todavia explanações dos textos bíblicos não eram vistas como comuns, e quando estas ocorriam, não tinham o foco na mensagem principal expressa na Bíblia: Cristo. Ainda utilizando Matthew, podemos ter um panorama maior dos fatos costumeiros na vida religiosa das pessoas nesta época. A citação abaixo exprime isso com mais clareza, pois

No final do período medieval, o sermão não era tipicamente a parte central do culto de adoração, embora isso não signifique negar por completo que a pregação ocorria na igreja medieval. Em vez disso, sermões eram proferidos quando havia um evento singular, como Páscoa ou Natal, ou em locais específicos, como em campos de peregrinação dedicados a Maria e aos santos. Mas, normalmente, as pessoas iriam à igreja esperando ouvir a missa sendo dita, não a Escritura sendo proclamada. (IBID, 2017, p.40)

A pregação era apenas uma mera explanação em alguns eventos anuais, e quando isto ocorria, o pensamento era voltado para diversos fatores externos, provenientes do pensamento romano, no caso a Maria e aos santos, mas a mensagem bíblica, que tem como centro Cristo, a Palavra Viva (Jo 1:14), era deixada de lado. Os cristãos do 16º século estavam seguindo uma rota totalmente diferente daqueles que podemos chamar de pioneiros do cristianismo, no 1º século. Podemos destacar os desvios iniciados no 2º século d.C., quando a filosofia começou a se misturar com o cristianismo, como também a iconoclastia, entre outros fatores. Tudo isso permitiu que o ideal deixado por Jesus de ir e pregar a todo mundo (Mt 28:18-19), fosse deixado de lado por conta de especulações e dogmas instituídos por seres humanos.

Diante disso, a pergunta é: será que após a reforma, em pleno século 21, no período pós-moderno, deixaremos a Bíblia de lado e colocando nossas próprias opiniões, ou dogmas acima da palavra inspirada por Deus?

Considerações Finais

Nos últimos dias vemos muitos alegarem que Bíblia é sinônimo de opressão, algo conservador demais, entre outros pontos que não valem apena serem ressaltados neste breve texto. Muitas vezes, esses pensamentos têm tido sua origem até mesmo dentro de diversas igrejas. Encontramos hoje diversos professos se professarem bíblicos, mas sem a presença da Bíblia.

Por outro lado, da moeda, ainda percebemos o pensamento ecoante do período da reforma, onde diversos líderes religiosos alegam que o texto bíblico deve estar restrito a apenas um grupo seleto, e os fiéis devem confiar nas exposições feitas por esses “professos mensageiros de Deus”.

Assim, devemos compreender que a Bíblia tem de ser primazia na vida do cristão, não permitindo a formação de pensamentos pelas lideranças eclesiásticas, seja de qualquer congregação. Outro ponto é arrazoarmos que da mesma maneira, o cristianismo deve estar pautado pela Bíblia e não por filosofias provenientes do racionalismo, iluminismo etc.

Falando sobre esse assunto, Ellen White afirmou que “A reforma não terminou com Lutero, como muitos supõem. Ela haverá de prosseguir até a conclusão da história terrestre” (WHITE, 2021, p. 353). O que Lutero, Calvino, Knox, entre outros iniciaram, deve ser continuado conosco.

Devemos compreender que “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça” (II Tm 3:16). A Bíblia não é útil somente para a vida do cristão, mas para a sociedade como um todo, pois ela rege não somente princípios morais, mas ajuda o indivíduo em seus relacionamentos horizontais, como também na formação de seu caráter.

Bibliografia:

BARRET, Matthew. Teologia da Reforma. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2017.

WHITE, Ellen. História da Redenção. São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 2021.

Por Carlos Eduardo Oliveira

Fonte: Reação Adventista

Sobre Weleson Fernandes

Escritor & Evangelista da União Central Brasileira

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