É preciso sempre muito cuidado ao tentar usar passagens bíblicas para defender alguma tese que não se encontra explicitamente na Palavra de Deus. Embora essas aplicações possam ser feitas a partir de princípios derivados da Escritura, tais princípios precisam realmente fluir da Escritura e não serem imputados nela pelo intérprete. E para extrair princípios da Escritura é preciso interpretar as passagens levando-se em conta os seus contextos e intenção originais. Em outras palavras, primeiro entendemos o que aquele texto queria dizer para seus destinatários. Feito isso, aí analisamos qual o princípio usado para aquela situação que poderia ser usado também para outras situações.
Infelizmente, muitos leitores da Bíblia não atentam para isso. No afã de defenderem um ponto de vista, se utilizam de textos que nem falam do tema em questão, nem possuem princípios que realmente poderiam servir de sustentação de sua tese. Ou ainda: esticam os princípios derivados de determinado texto até um ponto ilegítimo, fazendo a Bíblia falar o que não diz.
Note-se que não necessariamente a tese do intérprete está incorreta. É comum que crentes piedosos tentem defender pontos corretos, porém de maneiras ilegítimas, torturando textos bíblicos para obter a resposta que desejam. Infelizmente, esse tipo de atitude costuma a contar com a condescendência daqueles que concordam com a tese. Tacitamente estão dizendo: “Tudo bem os textos terem sido torturados. O importante é que eu concordo com a tese defendida”. Essa é precisamente a ética do Príncipe de Maquiavel: os fins justificam os meios. Não é algo pertinente ao cristão.
Independente do que defendemos ou não, precisamos sempre rechaçar aplicações equivocadas de textos bíblicos. Se fere a intenção e os princípios originais do texto, não serve para suportar nossas crenças. A verdade deve ser sustentada a partir das mais honestas e precisas formas de interpretar e aplicar o texto. Os contextos devem ser considerados, as situações devem ser comparadas. Não é um trabalho simples. Mas é a única forma legítima de tratar o texto bíblico.
Finalmente, devemos ter a humildade de reconhecer que, em alguns momentos, a Bíblia só nos dará substrato para ir até determinado ponto. Daquele ponto em diante, portanto, não poderemos dar às nossas teses o caráter de “regra”. Onde a Escritura silencia e de seus princípios gerais nada concreto se deriva, cada um é livre para seguir a sua própria opinião. Não há regra que se sustente sem um lastro bíblico. Isso é Sola Scriptura. O resto é desrespeito à Palavra de Deus.
Por Davi Caldas
Fonte: Reação Adventista