Deus, sexo e nosso péssimo senso de humor

Lembro-me de duas vezes em que o antigo programa humorístico “CQC” zombou de uma entrevistada do programa “Sem Tabus”, da Novo Tempo. Numa dessas, o trecho alvo de piadas mostrava a entrevistada dizendo que orava antes e depois das relações sexuais com seu marido. Ela pontuava: “Agradeço a Deus, sim, pela benção; depois de um orgasmo intenso, depois de uma relação sexual bem feita, a única coisa que nos resta dizer é: ‘Bendito seja Deus’”.

A zombaria expõe algo curioso em relação às pessoas que não servem a Deus. Elas acreditam que o sexo é, de alguma forma, algo pecaminoso; que o prazer sexual não foi criado por Deus; que alegrar-se pelas (e nas) relações sexuais não é algo que se possa conciliar com uma vida espiritual santa e de devoção ao Senhor. Na cabeça deles, são como compartimentos estanques, duas coisas contraditórias: ou você tem prazer sexual ou você serve a Deus.

É por essa causa que um mundano consegue ver com seriedade quem agradece a Deus pelo alimento na mesa, mas acha graça de quem agradece a Deus pela ótima noite com seu cônjuge. Parece-me que a culpa dessa estranha visão mundana é, em parte, de uma péssima tradição entre muitos cristãos: deixar que o Diabo, através do mundo descrente, tome conta das coisas boas, por vezes das coisas criadas diretamente pelo próprio Deus, como se ele mesmo fosse o dono.

Foi assim que nós deixamos o mundo tomar conta das faculdades, da razão, da ciência, do teatro, do cinema, das artes, da literatura. Demos de bandeja quase tudo ao inimigo das nossas almas. Deixamos o Anjo das Trevas usar e abusar de tudo o que nós, como Filhos de Deus, deveríamos ter protegido, cuidado, aperfeiçoado. Então, após nosso vilão distorcer tudo, à sua imagem e semelhança, ele disse ao mundo: “É meu!”. O mundo creu. E nós também. Ou quantas vezes não ouvimos pessoas associarem coisas boas às obras malignas? Nós compramos a conversa mole de Satanás. Aceitamos o mundo se impor dizendo: “Nada disso pertence a vocês! Não se pode ser cristão e ao mesmo tempo racional, lógico, científico, culto e, claro, feliz no sexo”.

Sem querer, o que fizemos foi deixar o mundo destituir Deus da posição de Criador. E no caso do sexo, isso é mais que patente. A mais sublime das relações físicas humanas, a qual além de trazer intenso prazer físico, sela e fortalece a união espiritual, emocional e psicológica de um casal, foi creditada como criação satânica ou mundana. Como se o diabo pudesse entender mais de sexo do que Deus; como se o prazer sexual pertencesse ao mundo e não aos filhos de Deus. A teologia da criação se distorce aqui. O diabo passa a ser bem visto. Ele é como Dionísio ou Baco. Um deus do prazer, da bebida, da gandaia, da alegria, do sexo. Yahweh, por sua vez, toma a pecha de um Deus austero, que não sorri. “Talvez o Diabo estivesse certo em sua revolta, afinal”.

A ilusão mundana criada por Satanás acaba por mergulhar seus filhos em uma busca desordenada por um êxtase fictício. O êxtase é distinto da alegria. É um prazer agudo, porém rápido e efêmero. Deixa, quando desaparece, o vazio, a dura realidade do mundo e os efeitos desagradáveis de nossas más escolhas. Por isso é fictício. Se nós podemos chamar de êxtase o prazer do sexo conjugal, feito entre um casal que realmente ama um ao outro, ele não é o mesmo êxtase que o mundo dá, que o Diabo vende. Ele não é uma ficção. É a extensão de uma alegria cotidiana; uma alegria realista, que não se esvai diante dos problemas da vida, mas resiste; e porque resiste, cresce; e ama; e agradece.

A gratidão é uma das características mais nobres que alguém pode cultivar. O homem necessita ser grato. Não pela necessidade de quem é alvo da gratidão. Mas pela própria estrutura do ser humano. Quando somos gratos e quando expressamos isso, a gratidão nos transforma. Nós somos melhores quando reconhecemos as bênçãos que recebemos, quando nos alegramos em e por aquele que torna possível o nosso prazer. Agradecer pelo sexo? Por que não? O absurdo é não ser grato; é não assumir que Deus projetou o seu corpo e o corpo do seu cônjuge para este prazer intenso; é desprezar o fato de que Deus é glorificado quando um casal casado que se ama sente prazer um no outro e se voltam a Deus para agradecer por isso. O grande Deus, Yahweh Elohim, Criador do Universo, Santo e Eterno, é o Senhor do sexo e do prazer. Ele deve ser reverenciado, exaltado e glorificado por isso. Apenas o óbvio ululante.

É um erro achar que Deus é austero e não deseja o prazer de suas criaturas. Toda a criação exala prazer. O Senhor nos criou para nos dar a sua alegria e paz. Não a paz e a alegria passageiras que o mundo nos dá. Mas a paz e a alegria que perduram, que não pesam, que excedem todo o entendimento. Não podemos permitir que essa verdade nos seja roubada. No fim das contas, precisamos aprender mais sobre como de Deus flui intenso prazer. Um professor do meu irmão dizia que “Deus é leve e ri”. Sim, Deus é leve e ri. Nós, humanos, é que não temos um bom senso de humor. Nós não entendemos o humor de Deus.

Por Davi Caldas

Fonte: Reação Adventista

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Escritor & Evangelista da União Central Brasileira

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