Jesus: pacifista ou pacificador?

No livro de Mateus, no capítulo 5, Jesus inicia uma das suas maiores e mais impactantes pregações aqui na Terra, destinada à priori, a seus discípulos: “O Sermão do Monte”. Enquanto o estudava, dois pontos me chamaram a atenção:

1) A expressão “Bem-aventurado” ou “Felizes” foi muito enfatizada;

2) A única menção ao titulo de “filhos de Deus” nas bem-aventuranças se relaciona aos pacificadores (Mateus 5:9).

Com base no 2° ponto, resolvi escrever este artigo. O que me motivou foi a má interpretação de Mateus 5:9 e como a mudança de uso da palavra “pacificador” para “pacifista” (creio eu por negligência e/ou desonestidade intelectual em relação a imagem de Jesus) causou sérias deturpações dentro e fora da igreja, criando um estilo de vida passivo a qualquer força interna ou externa, resultando em cristãos omissos em relação a verdade.

Por definição, um pacifista é “alguém que é contra (evitando a qualquer custo) formas de contenda, especialmente a guerra, para qualquer finalidade. Um pacifista muitas vezes se recusa a portar armas por razões de consciência ou convicção religiosa”.

No passado, um presidente norte americano achou que receberia o Nobel da paz por ter “mantido a paz” no mundo. Ele conseguiu tal feito enviando suas tropas com outras de outros países a ficarem posicionadas entre duas facções rivais, impedindo de se matarem por um tempo. Porém, bastou as “tropas da paz” saírem que as duas facções voltaram a guerrear.

Por que isso ocorreu? Simples! O objetivo das tropas ali entre as duas facções não era de criar a paz, mas sim, mantê-la. Existe um abismo de diferença entre manter algo e criar algo. Os problemas principais que estimulavam o atrito entre as facções não foram solucionados, mas sim, “abafados” por um tempo. Bastou a turma do “deixa disso” sair, que o problema voltou. Foi uma “solução” temporária.

Infelizmente dentro de nossa igreja também existem “tropas da paz”. Quantas vezes ouvi de irmãos tais frases:

“Olha, melhor não tocarmos neste assunto porque o irmão pode se ofender”.

“Olha, não deveríamos tocar nesse assunto porque o irmão pode sair da igreja.”

“Olha, essa punição é justa, mas vamos ter pena do irmão, ele é gente boa. Vou conversar com ele!”

“Por que punir o irmão se outro cometeu o mesmo erro e nada aconteceu?”.

O malabarismo que os pacifistas fazem para isolar o real motivo das contendas é invejável. “São especialistas em mudar de assunto, evitar argumentações e redirecionar ou confundir a conversa”, mas a causa do problema, o motivo da dissensão, não é solucionada. Neste caso a paz obtida pelo pacifista é extremamente falsa, superficial, curta, externa e incapaz de mudar o coração e a mente de qualquer pessoa. A longo prazo, as consequências de se “tampar o sol com a peneira” resultam no alastramento da doença e em fraqueza espiritual. Tal prática faz com que a igreja evite questionar e posteriormente tratar condutas pecaminosas e nocivas ao Corpo, mantendo a este num ciclo destrutivo a começar pela família.

O pacificador por outro lado, entende que problemas entre irmãos existem e busca, com auxílio de Deus: reconhecer o problema, consertar, reconciliar e restaurar para que, enfim, promovam uma solução a longo prazo. Para tal, o problema precisa ser tratado e esta é a essência do pacificador. Ele simplesmente pratica a vontade de Deus em Mateus 18:15: “Se teu irmão pecar contra ti, vai e, em particular com ele, conversem sobre a falta que cometeu. Se ele te der ouvidos, ganhaste a teu irmão”.

Porém este que chama o pecado pelo nome é entendido como insensível, legalista, julgador e até mesmo de intolerante. Ele é totalmente demonizado enquanto o verdadeiro culpado é desculpado, tolerado e ás vezes segue sem correção. Do Gênesis ao Apocalipse existem personagens que decidiram abrir suas bocas frente a algum comportamento errado, mesmo sendo ameaçados fisicamente, correndo riscos de morte como Daniel e seus amigos, João Batista, Jesus, Estevão, os apóstolos (exceto Judas), entre tantos outros. Eles escolheram não se curvar à omissão e ao erro; optaram por ser luz, se expondo e pagando o preço.

Jesus durante o sermão do monte, utilizou uma metáfora a fim de nos exortar a sermos diferentes: a metáfora do sal e da luz (Mateus 5:12-14). O sal é um dos agentes transformadores/conservantes mais antigos já utilizados pelo homem. A metáfora usada por Jesus foi perfeita porque o cristão precisa entender que ele deve ser diferente do mundo e se conservar assim. Seguir a Jesus requer abnegação do eu, do mundo! Significa estar na contramão do mundo. Porém quando o sal é utilizado, ele deixa de ser visto; já exerceu seu papel. Ele transformou o alimento, transformou a vida. Após sermos sal e experimentarmos a mudança de Cristo em nós, nossa fé precisa mostrar tal transformação para o mundo através de nossas obras; por isso, Cristo nos exorta também a sermos luz. A luz existe para ser vista e muitos irmãos não a mostram. Assim como sal sem gosto não serve para nada além de ser pisado, Ele pede para que seus filhos não escondam sua luz, a luz da justiça. “Assim deixai a vossa luz resplandecer diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está nos céus” (v. 16).

Os pacifistas são de longe os mais amados porque saem declarando seu amor para todo mundo, abrindo concessões para tudo, proclamando que Deus é amor e “vinde como estais”. Mas esquecem de dizer (ou não querem) que o mesmo Deus que ama a todos, também é juiz de todos. Que o mesmo Deus que diz “vinde como estais” quer que você jamais volte como veio.

A profecia para o fim dos dias proferida pelo profeta Ezequiel mostra que os crentes pacifistas serão chamados a prestar contas a Deus pelos pecados do iníquo, porque não o alertaram enquanto os pacificadores não serão responsabilizados pelos pecados do iníquo, porque fizeram a vontade de Deus emitindo alertas (Ezequiel 3: 18 e 19).

Um provérbio que gosto diz: “A mais amarga verdade é melhor que a mais doce mentira”. Os pacificadores buscam confrontar o problema de uma forma amorosa para que a pessoa atribulada alcance a paz que o Senhor deseja. “Paz é algo muito maior do que apenas ausência de conflito. Paz é a presença de retidão, justiça, integridade. A verdadeira paz produz relacionamentos que aproximam e unem antigos inimigos. A integridade, retidão, colocam um fim no desejo de causar danos ou dor aos outros. Ela ministra o amor que produz harmonia. Quando uma pessoa é redimida através do perdão de Deus e realmente experimenta o amor genuíno em seu coração, a paz verdadeira vem fazer morada nela”.

Mateus 5:9 mostra que os pacificadores se destacam porque é muito difícil fazer parte de um processo naturalmente complicado: trabalhar com a mente de seres humanos.

Os pacificadores buscam ser puros em suas intenções e estão dispostos a se envolver em conflitos porque o amor a Deus e Sua Palavra estão acima de qualquer coisa. São firmes e inabaláveis, quando os demais se corrompem e comprometem seus princípios buscando a aceitação mundana. Eles estão dispostos à denunciar heresias e incredulidades através da verdade, mesmo que isso custe um alto preço na tentativa de levar outros a ter paz com Deus.

Jesus disse que os pacificadores serão chamados de filhos de Deus. Isso mostra o tamanho da missão que Ele nos deixou: espalhar a mensagem da salvação para trazer a paz (acerto de contas/reconciliação com Deus) para o homem. Como filhos de Deus aqui na Terra, mesmo lidando com pessoas de pensamentos bem diferentes e que com certeza irão nos criticar, somos exortados a cumprir tal missão com firmeza e compaixão, nunca omitindo a verdade ao próximo porque justamente ela que irá estimular a real necessidade do arrependimento, o primeiro passo para alcançar a paz de Deus.

___________________

Referências:

http://www.barrabaslivre.com/2018/04/pacifista-ou-pacificador-por-peter.html

https://www.gotquestions.org/Portugues/Jesus-pacifista.html

Por John Churchil

Fonte: Reação Adventista

Sobre Weleson Fernandes

Escritor & Evangelista da União Central Brasileira

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