O grupo vitorioso de adoradores

A espiritualidade pós-moderna, com seu discurso conciliatório à custa da verdade, não é outra coisa senão uma reedição maquiada do velho paganismo.

Por essa razão, constitui a maior ameaça à igreja remanescente no fim dos tempos, da mesma forma que o culto idolátrico pagão das nações ao redor do antigo Israel ameaçava sua identidade como povo de Deus.

O Apocalipse revela que a adoração estará no centro do último grande drama, e que só poderão prevalecer sobre o poder sedutor do engano aqueles que estiverem intimamente unidos a Cristo e à Sua Palavra (Apocalipse 1:9; 3:8; 6:9; 20:4).

Assim, João pinta em cores muito vivas o contraste que deve existir entre os verdadeiros e os falsos adoradores.

 

Os 144 mil: o último remanescente

O capítulo 14 do Apocalipse começa com a gloriosa visão deste grupo especial de remidos em pé com o Cordeiro no monte Sião. Eles são “os vencedores da besta, da sua imagem e do número do seu nome” (Apocalipse 15:2). Triunfaram sobre os poderes apóstatas mundiais em virtude de sua união com Cristo e perseverante lealdade à Sua Palavra. A descrição das características peculiares desse remanescente final é altamente instrutiva e realça a profunda distinção entre os verdadeiros e os falsos adoradores.

Olhei, e eis o Cordeiro em pé sobre o monte Sião, e com ele cento e quarenta e quatro mil, tendo na fronte escrito o seu nome e o nome de seu Pai.

O verso 1 revela que tipo de caráter os 144 mil possuem – um caráter que cada um de nós precisa desenvolver pela divina graça, se quisermos estar em pé com o Cordeiro no monte da salvação: eles têm escrito na fronte o nome de Cristo e o nome de Seu Pai!

Esse é um desenvolvimento de Apocalipse 7:2-3. O selo do Deus vivo consiste em ter escrito na fronte o nome do Filho e o nome do Pai. Portar o selo do Senhor significa, pois, portar o Seu nome. Significa que o portador possui o caráter de Deus, conforme expresso em Sua santa lei.

Curiosamente, o lobo frontal, sobre o qual é aposto o selo divino, é aquele com maior importância cognitiva em relação aos demais lobos do cérebro humano!

Ao ter o caráter de Deus inscrito na fronte, os 144 mil refletem plenamente a imagem de Jesus. Eles pertencem a Cristo, e, portanto, o selo de Deus é também um sinal de propriedade e de proteção.

Fora do remanescente final estão os babilônios, os que receberam a marca da besta na fronte ou sobre a mão (Apocalipse 13:16; 14:9). Esse sinal também está associado a um nome: “Babilônia, a Grande, a Mãe das Meretrizes e das Abominações da Terra” (17:5). Ao passo que o remanescente simbolizado pelo número 144 mil está com o Cordeiro e reflete Seu caráter, os adoradores de Babilônia mística, representados pelo número 666, constituem “aqueles cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo” (Apocalipse 13:8).

Segundo o livro do profeta Joel (um importante contexto-raiz de Apocalipse 14), os 144 mil possuem duas características fundamentais que testificam de que eles são propriedade exclusiva de Deus e de Seu Filho: (1) possuem a plenitude do Espírito Santo (Joel 2:28-29); e (2) adoram somente a Deus (verso 32). Este último texto é, aliás, um antecedente de Apocalipse 14:1.

E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo; porque, no monte Sião e em Jerusalém, estarão os que forem salvos, como o SENHOR, prometeu; e, entre os sobreviventes [ou “restantes”, “remanescente”] aqueles que o SENHOR chamar.

No capítulo 14 do Apocalipse, João vê em visão o cumprimento triunfante da promessa de Deus por intermédio de Joel! Os servos de Deus selados com a presença de Seu Espírito são os únicos que podem suportar a derradeira e culminante prova relacionada às falsas reivindicações do anticristo e seu modelo de adoração espúrio. São vencedores porque “lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro” (Apocalipse 7:14), e por isso têm direito à árvore da vida e a entrar na cidade santa pelas portas (22:14).

Antecedentes teológicos dos 144 mil

Há dois antecedentes no Antigo Testamento que formam a base teológica para os 144 mil selados (1). Esses protótipos são particularmente esclarecedores quanto às singularidades do remanescente final em meio à apostasia de proporções mundiais representada por Babilônia e seu número: 666 (sobre o significado desse número místico, clique aqui).

O primeiro antecedente teológico está no livro do profeta Ezequiel. No capítulo 9:4, lemos:

Passa pelo meio da cidade, pelo meio de Jerusalém, e marca com um sinal a testa dos homens que suspiram e gemem por causa de todas as abominações que se cometem no meio dela.

A ordem que se emite aqui é uma das mais solenes de toda Escritura e nos lembra que somente o povo da aliança, o povo que é selado na fronte com o selo de Deus, poderá permanecer em pé no grande Dia do Senhor. Todos os que não tiverem o selo divino de proteção estarão marcados para a condenação no dia do juízo (Ezequiel 9:5-6). Esse é um assunto que exige a mais séria reflexão.

Haverá apenas dois grupos de adoradores. No escrutínio definitivo de Deus, não haverá um grupo de indecisos. Todos deverão fazer sua escolha entre servir a Deus ou servir à Babilônia mística. O que determina a maturação das decisões feitas, sejam para o bem ou para o mal, é a proclamação das três mensagens angélicas (Apocalipse 14:6-12) que prepara a terra para a colheita final (verso 15).

A visão de Ezequiel é uma referência primária à destruição de Jerusalém por Nabucodonosor, mas ela terá outro cumprimento durante as cenas finais da história. (2) Agora, que abominações são estas que exigem a separação e proteção dos que suspiram e gemem por causa delas e, em seguida, atraem os juízos de retribuição de Deus? São as abominações descritas em Ezequiel 8, as quais se referem à idolatria praticada pelo professo povo de Deus.

Há novamente dois grupos de adoradores: os que condescenderam com as diversas formas de idolatria provenientes do paganismo, e os que “gemem e suspiram” por conta das abominações cometidas em Sião.

Note que o grupo que recebe o selo de Deus é constituído de pessoas que gemem e suspiram por causa do pecado. Elas não são seladas em virtude de sua linhagem ou posição. Os selados se distinguem por sua angústia de alma devido ao declínio espiritual e moral entre o professo povo de Deus, que abandonou sua santa vocação e uniu-se às nações vizinhas num mesmo conceito de adoração. Os que afligem a alma refletem o caráter de Deus e, portanto, recebem o Seu nome, ao passo que os condescendentes com o pecado sofrerão os juízos divinos.

O segundo protótipo dos 144 mil encontra-se no livro de Sofonias. Por volta do século VII a.C., Sofonias proclamou os juízos de Deus sobre Judá e Jerusalém devido a seus compromissos com a adoração de Baal (Sofonias 1:4-6). O profeta advertiu que a adoção das formas de culto falsificadas atrairia iminente juízo (versos 7 e 14) que acompanharia a invasão babilônica. Cumpre observar que o Dia do Senhor anunciado por Sofonias é um protótipo dos juízos punitivos de Deus por ocasião da segunda vinda de Cristo (veja Profetas e Reis, p. 389).

Da mesma forma que Ezequiel, Sofonias inclui em sua solene mensagem a esperança surpreendente de que um remanescente permaneceria leal a Deus em meio ao apelo sedutor da falsa adoração. Esse restante de Judá é chamado “os mansos da terra”, uma qualidade que nos remete às palavras de Cristo em Mateus 5:5. Eles também são identificados como os que adoram a Deus com “lábios puros” e invocam “o nome do Senhor” e o servem “de comum acordo” (Sofonias 3:9).

Finalmente, o profeta descreve os verdadeiros adoradores com as seguintes palavras:

Os restantes de Israel não cometerão iniquidade, nem proferirão mentira, e na sua boca não se achará língua enganosa, porque serão apascentados, deitar-se-ão, e não haverá quem os espante. (Sofonias 3:13)

As mesmas características que distinguem o remanescente de Sofonias estão presentes no remanescente de João representado pelos 144 mil. O caráter irrepreensível dos “restantes de Israel” se refletia na adoração do Senhor por meio da obediência à Sua lei, e, desse modo, não se deixaram contaminar pela idolatria pagã e tudo o que ela representava. Os 144 mil se distinguem pelas mesmas qualidades, e seu caráter contrasta profundamente com os adoradores da besta e seu culto religioso.

Note que nesses dois importantes antecedentes veterotestamentários de Apocalipse 14:1 a 5, a idolatria é o fenômeno comum que ameaçava a integridade de Israel. O remanescente final deverá enfrentar o mesmo desafio pouco antes do retorno de nosso Senhor.

O perfil dos adoradores verdadeiros

Apocalipse 14 estabelece um contraste intencional entre os 144 mil e os adoradores da besta e de sua imagem descritos no capítulo 13. Cada uma das características que identifica o remanescente final constitui uma contraparte positiva às características negativas que definem os falsos adoradores, conforme demonstrado pelo seguinte quadro:

 

Em seu conflito final com o anticristo, os 144 mil permaneceram virgens, espiritualmente falando, pois não se contaminaram com a prostituição de Babilônia (3), isto é, sua falsa adoração; Seguem o Cordeiro por onde quer que vá, demonstrando lealdade incondicional a Cristo e recusando-se seguir a besta e sua imagem; São as primícias para Deus e para o Cordeiro, ou seja, foram separados, dedicados e consagrados ao Senhor (4), enquanto que o mundo se une num mesmo conceito de adoração em torno da besta; E, finalmente, eles refletem a verdade de Cristo, mantendo a adoração do Senhor mediante fé e obediência, ao mesmo tempo em que rejeitam o culto idolátrico da mentira.

Com efeito, os 144 mil, em virtude de seu relacionamento com Cristo, reúnem quatro características especialmente relacionadas à adoração: Pureza, Lealdade, Consagração e Verdade. Em contrapartida, Babilônia espiritual reflete Prostituição, Rebelião, Profanação e Mentira. Trata-se de contrastes que não podem ser menosprezados. E eles só podem ser plenamente compreendidos quando pensamos na extensão do poder de Babilônia no sentido de seduzir e enganar.

Diante dos fortes apelos da falsa adoração, o que torna possível a existência de um remanescente fiel? Que fenômeno produz uma igreja com essas características singulares, justamente num momento em que o poder sedutor do engano é quase onipresente? Cumpre encontrar as respostas em Apocalipse 14.

Notas e referências

1. Hans, K. LaRondelle. As Profecias do Tempo do FimXXIV – Os Últimos Companheiros do Cordeiro – Apocalipse 14:1-5.

2. Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia. Vol. 4. Vanderlei Dorneles (Ed.). Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2013, p. 663. A propósito desse fato, Ellen G White escreve: “Tão logo o povo de Deus seja selado na fronte – não é algum selo ou sinal que possa ser visto, mas a consolidação na verdade, tanto intelectual como espiritualmente, de modo que não possa ser abalado – tão logo o povo de Deus esteja selado e preparado para a sacudidura, ela virá. Na verdade, ela já começou; os juízos de Deus estão agora sobre a Terra, para advertir-nos, a fim de que saibamos o que virá.” (Comentário Bíblico Adventista, vol. 4, p. 1279 e 1280).

3. A palavra “virgem” era o título hebraico para Sião e Jerusalém em sua relação do pacto com Deus (II Reis 19:21; Isaías 37:22; Jeremias 14:17; 18:13; 31:4; Lamentações 1:15; 2:13; Amós 5:2). As palavras “adultério” e “cometer adultério ou fornicação” usam-se tanto no Antigo Testamento como no Apocalipse para simbolizar a idolatria ou o falso culto (Êxodo 34:15; Juízes 2:17; I Crônicas 5:25; Apocalipse 14:8; 17:2, 4; 18:3, 9; 19:2). O símbolo “virgem” (parthénos) em Apocalipse 14:4 está em contraste com o termo “meretriz” (porné), e, por conseguinte, está de igual maneira determinado religiosamente. – Hans K. LaRondelle, op. cit.

4. A lei agrícola de Israel exigia que os primeiros frutos da colheita se dedicassem ao Senhor em Seu templo (Levítico 23:9-14; Êxodo 23:19). Estas primícias eram também, por definição, as primeiras em qualidade, “o mais escolhido” da colheita (Números 18:12-13; Ezequiel 44:30). Jeremias tinha chamado Israel uma “noiva” santa, “primícias de seus novos frutos” (Jeremias 2:3). Assim considerava Deus o Israel fiel: como as primícias de sua colheita do mundo. De maneira similar, podemos ver os 144 mil israelitas espirituais contados como as primícias da colheita da humanidade no fim da era da história. A qualidade de sua devoção ou santidade se manifesta em seu constante seguir a Cristo durante a prova final de fé (ver Apocalipse 14:4-5). – Ibid.

 

 

Sobre Weleson Fernandes

Escritor & Evangelista da União Central Brasileira

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