A tríplice mensagem e os verdadeiros adoradores

O caráter irrepreensível do grupo final de remidos representados pelos 144 mil (Apocalipse 14:1-5) é a prova definitiva do poder do evangelho para a salvação de todo aquele que crê (Romanos 1:16).

A aceitação do evangelho eterno implica íntima união com Cristo e separação do mundo pela renovação da mente (Romanos 12:2), e, por isso, o remanescente final permanece íntegro em face dos apelos sedutores de Babilônia mística (Apocalipse 14:8; 17:1-2).

Os 144 mil são puros porque “lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro” (Apocalipse 7:14), ou seja, aceitaram e receberam a justiça de Cristo em lugar da sua, um pré-requisito fundamental para todos os que quiserem adorar verdadeiramente a Deus, no presente e no futuro.

O selamento final sobre esse grupo especial de verdadeiros adoradores (Apocalipse 7:1-4) é a comprovação da parte de Cristo de que os 144 mil desenvolveram mediante Sua divina graça as características essenciais que devem distinguir todo o crente que deseja servir fielmente ao Senhor e estar em pé com Ele no monte Sião – o monte da salvação (Apocalipse 14:1).

Nenhuma aparência de piedade pode garantir aos seguidores de Jesus o desenvolvimento desses caracteres que distinguem entre os que adoram a Deus em espírito e em verdade (João 4:23-24) e os que adoram Babilônia, “cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo” (Apocalipse 13:8).

Caracteres especiais para um tempo especial

Os 144 mil são castos tanto na vida como na doutrina porque têm uma fé pura, fé provada pelo Cristo vivo e por Sua Palavra e não achada em falta. Guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho e a fé de Jesus (Apocalipse 12:17; 14:12), e portanto, não se macularam com os ensinos errôneos de uma fé falsificada. São como as virgens prudentes da parábola de nosso Salvador (Mateus 25:1-13), as quais possuem não só a lâmpada que ilumina seu caminho rumo ao Céu – a Palavra de Deus (Salmo 119:105) -, mas também o óleo, símbolo da presença do Espírito Santo, sem O qual não pode haver profunda experiência cristã.

Eles são os seguidores do Cordeiro por onde quer que vá, sendo os companheiros mais íntimos dAquele que é a sua única e maior referência. Não há nada na vida do Redentor em que eles não tomem parte, seja no Céu, seja na Terra. Eles O seguem em Sua humilhação, em Seus labores, sofrimentos, morte, ressurreição e ascensão. Eles O seguem na prosperidade e na adversidade, na alegria e na tristeza, na perseguição e no triunfo. Seguem a Cristo sem medo da morte, e são transformados por ocasião da Sua vinda (I Tessalonicenses 4:16-17; I Coríntios 15:51-53). (1)

Os 144 mil são também os redimidos da Terra, primícias para Deus e para o Cordeiro. As “primícias” se referem aos “primeiros frutos”. Na lei agrícola do antigo Israel, as primícias consistiam nos primeiros frutos da colheita que eram dedicados ou consagrados ao Senhor no Seu templo (Êxodo 23:19; 34:26; Levítico 23:9-14) e, portanto, eram os primeiros em qualidade (Números 18:12; Ezequiel 44:30). Em Jeremias 2:3, o profeta se referiu ao povo de Israel como “consagrado ao Senhor”, “primícias da sua colheita”. Era assim que Deus considerava o Israel fiel. De todos os redimidos da Terra, o remanescente final é igualmente considerado as “primícias”, os primeiros em qualidade, comprados dentre os homens e separados da corrupção que há no mundo (I Coríntios 6:20).

Finalmente, os 144 mil são verdadeiros, “não se achou mentira na sua boca, não têm mácula”. Assim como Cristo é a verdade (João 14:6) e não possui nenhuma mácula (Hebreus 7:26), o último remanescente reflete as mesmas características que se espera encontrar na verdadeira igreja de Deus (Efésios 5:27). “Os restantes de Israel”, diz o profeta Sofonias, “não cometerão iniquidade, nem proferirão mentira, e na sua boca não se achará língua enganosa” (Sofonias 3:13).

Paulo caracterizou a apostasia do “homem da iniquidade” como “mentira” (II Tessalonicenses 2:9), e todos os que não acolherem o amor da verdade para serem salvos serão vítimas de seu engano (verso 10). Em virtude de seu compromisso com a verdade, os 144 mil não foram seduzidos pelos apelos da adoração da besta e seu culto religioso e, por esse motivo, estão em pé com o Cordeiro no monte da salvação.

Quando apreciamos todas essas características que distinguem o remanescente final, imediatamente nos perguntamos: O que torna possível a existência de uma igreja com esse perfil na hora mais escura da história? Que fenômeno produz um remanescente com características tão singulares num momento em que o poder sedutor do engano parece onipresente? A resposta encontra-se em Apocalipse 14:6 a 12.

Tocados pelo evangelho eterno

Apocalipse 14 é dividido em três partes: (1) a visão do Cordeiro juntamente com os 144 mil glorificados (versos 1 a 5); (2) a proclamação das três mensagens angélicas (versos 6 a 12); e (3) o juízo retributivo de Cristo representado por uma dupla colheita (versos 14 a 20).

Depois de descrever os poderes perseguidores representados pelas duas bestas (Apocalipse 13), João começa o capítulo 14 com a visão animadora do grupo vitorioso de adoradores com o Cordeiro sobre o monte Sião, ou seja, o apóstolo começa com o clímax dos acontecimentos e depois se concentra nos eventos que conduziram a esse clímax: o último apelo de Deus na voz dos três anjos e o juízo simbolizado pela dupla colheita.

O que determina a maturação dos frutos da terra para a ceifa e a vindima (Apocalipse 14:14-20) é a proclamação da tríplice mensagem angélica (versos 6 a 12). A aceitação ou recusa da última advertência divina decide quem participará da ceifa e quem participará da vindima. Naturalmente, uma resposta favorável à derradeira oferta da graça define um remanescente final que rejeita e se opõe à Babilônia mística e seu modelo falsificado de culto.

João inicia a revelação das três mensagens angélicas com a expressão “vi outro anjo” (Apocalipse 14:6). O último anjo mencionado pelo profeta de Deus é o Anjo forte de Apocalipse 10! Este Anjo faz o seu juramento solene “em pé sobre o mar e sobre a terra”, levantando “a mão direita para o céu” (verso 5). “Mar”, “terra” e “céu” revelam a amplitude universal de Seu juramento, cuja mensagem é desenvolvida em Apocalipse 14:6 a 12! No verso 6, o “outro anjo” voa “pelo meio do céu, tendo um evangelho eterno para pregar aos que se assentam sobre a terra, e a cada nação, e tribo, e língua, e povo”.

De fato, o juramento do Anjo forte e seu desdobramento nas três mensagens angélicas alcançam a mesma extensão que a falsa trindade satânica reivindica como sua: o céu (“dragão”, Apocalipse 12:3), o mar (“besta marítima”, 13:1) e a terra (“besta terrestre”, 13:11). À medida que a besta exerce sua autoridade “sobre cada tribo, povo, língua e nação” (Apocalipse 13:7), unindo-os num mesmo conceito de adoração, a derradeira mensagem de Deus deve alcançar o mesmo público-alvo com uma mensagem de separação, não de consenso (Apocalipse 18:4). Esta mensagem de separação é chamada “evangelho eterno“.

É precisamente este evangelho original, sem adulterações, que se contrapõe ao “evangelho” falsificado de Babilônia, simbolizado pela imagem do vinho intoxicante (Apocalipse 14:8; 17:4), e produz um novo grupo de remanescentes no fim dos tempos, “os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus” (Apocalipse 14:12). Esse novo remanescente resulta da compreensão e aceitação da tríplice mensagem, ao mesmo tempo em que está comprometido com a sua proclamação final. Proclamar as três mensagens angélicas é a derradeira missão da igreja, em cumprimento à profecia de nosso Redentor (Mateus 24:14).

A nova mensagem de Elias

A mensagem do primeiro anjo é um solene chamado de Deus à verdadeira adoração. Mas adorar a Deus verdadeiramente é sempre o resultado de temer e glorificar o Seu nome. Assim, a urgente necessidade de temer ao Senhor em face de um juízo investigativo que já começou (Apocalipse 14:7) constitui uma condição essencial para que se possa atender ao último apelo para adorá-Lo:

Temei a Deus e dai-lhe glória, pois é chegada a hora do seu juízo; e adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas.

Como no juramento do Anjo forte em Apocalipse 10:5 e 6, temos aqui a mesma ênfase nos atributos criadores de Deus. Essa ênfase também está presente no mandamento do sábado em Êxodo 20. Note a correspondência significativa entre esses textos:

 

Mais uma vez é possível perceber o que está em jogo no grande conflito entre Cristo e Satanás. A primeira mensagem angélica é um apelo solene à verdadeira adoração, e reproduz a mesma ênfase nos atributos criadores de Deus que encontramos em Êxodo 20:11 e Apocalipse 10:5 e 6. Destaca-se nesses textos a razão pela qual devemos adorar ao Senhor: Ele é o Criador de todas as coisas! Portanto, somente Ele é digno de receber adoração (Mateus 4:10).

Temos aqui um FATO – somente Deus é digno de receber nossa adoração. Mas há também uma NORMA – o sábado é o dia que Deus escolheu para ser especialmente adorado (Êxodo 20:8-11; Lucas 4:16) – e um PRINCÍPIO – Deus deseja ser adorado em espírito e em verdade (João 4:23-24). Babilônia se contrapõe ao fato de que somente Deus é digno de adoração, reivindicando para si essa prerrogativa (Apocalipse 13:4, 8, 12); contraria a norma que Deus estabeleceu, transferindo o dia de adoração do sábado para o domingo (Daniel 7:25); e subverte o princípio da verdadeira adoração, prostituindo-se com o mundo, com suas práticas e seus valores (Apocalipse 14:8; 17:1-2, 4; 18:2-3).

Com efeito, a mensagem do primeiro anjo é um apelo divino para que a humanidade adore ao verdadeiro Deus mediante a aceitação de Seu evangelho eterno, observando-se o FATO, a NORMA e o PRINCÍPIO que norteiam a verdadeira adoração. A segunda e a terceira mensagens constituem uma advertência para não adorar Babilônia (Apocalipse 14:8, 9-12). Em essência, trata-se da mesma mensagem de Elias no monte Carmelo: adorar a Deus ou a Baal (I Reis 18:20-40). Por essa razão, encontramos o “terceiro Elias” nas três mensagens angélicas!

A disputa no monte Carmelo envolvia dois modelos antagônicos de adoração, e a pergunta provocadora de Elias exigia uma decisão final que não podia ser ignorada ou adiada:

Até quando vocês vão oscilar para um lado e para o outro? Se o SENHOR é Deus, sigam-no; mas, se Baal é Deus, sigam-no. (I Reis 18:21, NVI)

Note que Elias não profere esse ultimato aos falsos profetas, mas aos israelitas, os quais haviam rejeitado ao Deus que os tinha escolhido e estabelecido como um povo santo, separado. De preferência a adorar a Deus, escolheram o culto popular de Baal como expressão legítima de sua experiência religiosa.

O modo como os falsos profetas procederam em resposta ao desafio de Elias (I Reis 18:23-24) é bastante esclarecedor no que tange à natureza da falsa adoração. Ao invocarem o nome de Baal, movimentavam-se “ao redor do altar que tinham feito” (verso 26). Segundo o Comentário Bíblico Adventista, o significado é: “saltavam”. Era um ritual de dança, no qual se movimentavam até o ponto de frenesi. (2)

Que contraste com a serenidade e confiança do profeta de Deus e o testemunho que se seguiu como consequência (versos 36-38)! E assim como Elias restaurou o verdadeiro culto ao Senhor (verso 30), a tríplice mensagem visa restaurar a verdadeira adoração de Deus entre o Seu povo nos últimos tempos.

Necessidade de separar-se de Babilônia

As três mensagens angélicas apelam às faculdades superiores da mente. Elas requerem lucidez mental para serem compreendidas e assimiladas. Não há aqui nenhuma forma de apelo meramente emocional ou sensorial. Em contraste, Babilônia parte do princípio maquiavelista segundo o qual os fins justificam os meios: ela seduz mediante sinais e prodígios (Apocalipse 13:14; 16:14; 18:23) e embriaga com falsas práticas e doutrinas (14:8; 17:1-2; 18:3). O viés profético dessas expressões – sedução e embriaguez – é comprovado pelas atuais tendências na adoração, especialmente entre os que professam o nome de Jesus.

Há pelo menos dois antecedentes importantes no Antigo Testamento para o uso que João faz da palavra “Babilônia” no Apocalipse dentro do contexto da adoração (também encontramos anteriormente dois antecedentes veterotestamentários para os 144 mil selados de Israel. Sobre isso,clique aqui).

O primeiro antecedente diz respeito à “imagem da besta” mencionada por João em Apocalipse 13:14 e encontra-se em Daniel 3, que descreve a convocação de Nabucodonosor para que todos os habitantes do império babilônico adorassem a imagem de ouro do rei. Observe que a adoração não era voluntária, mas compulsória. No entanto, havia também certo apelo sensorial, evidente no papel da orquestra de Nabucodonosor para induzir as pessoas à adoração da estátua de ouro e, assim, unir diversos povos num mesmo conceito de adoração. (3) Tanto a sedução como a coerção estão igualmente presentes na imagem escatológica de Apocalipse 13:14 e seguintes.

O segundo antecedente se refere ao vinho intoxicante de Babilônia mística mencionado em Apocalipse 14:8, e encontra-se em Daniel 5, que descreve o banquete que Belsazar ofereceu aos seus convidados na noite em que Babilônia caiu. Na ocasião, o rei ordenou que se trouxessem alguns dos utensílios sagrados do templo de Jerusalém para neles servir o vinho procedente da adega real. O ato irrefletido e blasfemo do rei é usado por João no Apocalipse para descrever a natureza da ação de Babilônia mística durante os últimos dias, que consiste em misturar a verdade com o erro, o santo, com o profano.

Em ambos os antecedentes a questão crucial tem que ver com adoração. Babilônia moderna exige adoração com base em apelos emocionais e sensoriais, que misturam o sagrado com o comum, e, finalmente, compelirá a humanidade a reconhecer suas falsas reivindicações. Deus, por outro lado, apela às faculdades perceptivas da mente, e Sua mensagem reflete uma religião de liberdade e livre escolha. Deus não estabelece Seu reino com base na ação coercitiva, mas em Seus atributos de verdade e justiça combinados num juízo divino que confirma o fundamento moral e legal de Seu governo.

Hoje, somos desafiados pela última mensagem de advertência da parte de Deus a romper com o falso modelo de adoração representado por Babilônia. Os que rejeitarem o convite divino na voz do primeiro anjo estarão em Babilônia e, consequentemente, participarão de sua queda moral e literal. O terceiro anjo acrescenta qual será o juízo sobre Babilônia (Apocalipse 14:10). Trata-se de uma mensagem muito pessoal. Deus não está falando a igrejas e denominações, mas a indivíduos. Não é o bastante, porém, tirar os indivíduos de Babilônia e conduzi-las ao Monte Sião. É preciso também tirar Babilônia do Monte Sião. Esta é a mensagem de Laodiceia. (4)

A aceitação da mensagem de Elias no monte Carmelo era uma condição essencial para um reavivamento legítimo entre os filhos de Israel. Era indispensável abandonar as diversas formas de idolatria e voltar-se para Deus e seu culto verdadeiro. Do mesmo modo, a aceitação da tríplice mensagem é uma condição essencial para que haja entre o povo de Deus verdadeiro avivamento e reforma e, por conseguinte, adoração verdadeira de acordo com a maneira divinamente prescrita.

Mais do nunca, é absolutamente necessário restaurar o altar do Senhor nestes dias em que Satanás, por meio da moderna idolatria, pretende sabotar a fé da igreja de Deus. Mais do que nunca, é preciso ouvir a advertência divina no forte clamor dos três anjos. Essas mensagens são como uma âncora para o povo de Deus, e somente aqueles que as compreendem e recebem serão preservados de ser varridos pelos muitos enganos de Satanás. (5)

Notas e referências

1. Henry Feyerabend. Apocalipse Verso por Verso: Como entender os segredos do último livro da Bíblia. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2004, p. 122 e 123.

2. Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia. Vol. 2. Vanderlei Dorneles (Ed.). Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2012, p. 901.

3. Pode ser de grande proveito para o leitor o artigo de Samuele Bacchiocchi, “Adoração Contemporânea Versus Adoração Tradicional”, disponível no conceituado site Música Sacra e Adoração.

4. Uma Luz Maior sobre o Amargedon. Anotações da Classe de “Escatologia Bíblica” publicadas pelo Pastor Alcides Campolongo com autorização do Professor Hans K. LaRondelle, p. 87 e 88.

5. Ellen G. White. Primeiros Escritos, 2ª edição. Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1976, p. 256.

 

 

Sobre Weleson Fernandes

Escritor & Evangelista da União Central Brasileira

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