Sempre haverá pobres na terra

Deuteronômio 15:11 nos mostra uma profecia que diz: “Sempre haverá pobres na terra”. A pobreza provém de vários fatores, causando a longo prazo desigualdades sociais. É normal pensarem: “E se toda a riqueza dos homens mais ricos do mundo fossem divididas igualmente, viveríamos numa sociedade mais justa?”. Para pessoas que se identificam com o pensamento de esquerda, geralmente a resposta é afirmativa.

Segundo dados sobre riqueza da Credit Suísse, a riqueza total do mundo está em torno de 223 trilhões de dólares. Se toda essa riqueza fosse dividida equitativamente para as 7 bilhões de pessoas existentes no mundo hoje, cada um ficaria com cerca de 32 mil dólares. Considerando que as crianças não têm autonomia, se a divisão fosse feita para cada pessoa adulta, o resultado seria algo próximo a 50 mil dólares para cada um, o que, na cotação atual equivale a cerca de 158 mil reais. Então, vamos imaginar que realmente as riquezas foram divididas entre todos os adultos do mundo e agora todos possuem a mesma quantidade de dinheiro.

Verdade seja dita: quem não ficaria feliz em receber 158 mil reais do nada? O que nos leva a pensar: o que você faria com o dinheiro? Muitos comprariam a tão sonhada casa, quitariam dívidas, viajariam, trocariam o carro, tirariam um ano sabático do trabalho, enfim, várias possibilidades. Mas quantos estariam dispostos a abrir um negócio, já que não há mais empresas (privadas) devido a redistribuição de riquezas? Quantos estariam dispostos a empregar parcial ou totalmente seu dinheiro igualmente distribuído num futuro incerto? Não há garantias de retorno. Se 25% de todos no mundo que receberam o dinheiro o fizessem, seria muito.

O mercado é seletivo, em grande parte, porque depende do consumidor, que possui preferências. O consumidor manda no mercado porque é ele quem pede e compra (ao menos, em um mercado razoavelmente livre). Se um negócio quer continuar vivo, precisa fornecer o que o consumidor deseja. A longo prazo, pela seletividade do consumidor, destes hipotéticos 25% que empregaram seu dinheiro ao mercado, talvez apenas 10% se manteriam e cresceriam (ficando mais ricos) e os outros 15% estariam mais pobres. E todos os outros do mundo? Bom, muito provavelmente trabalhariam para as empresas já muito bem estruturadas (com um salário menor que o do patrão) ou trabalhariam para o Estado. A longo prazo, as desigualdades sociais voltariam. E neste ponto, sabe o que muitos começariam a propor? Isso mesmo: redistribuição de riquezas. Engraçado, né?

Caro leitor, obviamente essa ilustração não é perfeita, mas ela possui questões-chave plausíveis. A principal delas se chama: escolha. Cada cidadão possuía os mesmos benefícios e direitos, mas suas escolhas limitaram seu sucesso no que diz respeito ao crescimento financeiro. Existem ainda outros fatores intrinsecamente ligados ao sucesso financeiro como educação e aptidão à negócios. Essas diferenças na trajetória de cada um irão criar desigualdades naturalmente. Então, ainda que fosse possível dividir toda a riqueza do mundo equitativamente, a desigualdade tenderia a retornar. Ademais, se toda a riqueza fosse equitativamente dividida e apenas as empresas públicas restassem, a demanda de serviços e produtos seria maior que a oferta. Afinal, no processo de divisão, empresas, propriedades e fazendas foram fatiadas. Assim, empregos se findaram, reduzindo a produção e prestação de serviços. Uma vez que o dinheiro é mero símbolo, havendo menos produtos e serviços, o dinheiro se desvalorizaria.

A lição que isso nos deixa é que devemos ser mais realistas. Olhar para as riquezas de grandes homens e crer que arrancá-las e dividi-las igualmente resolveria os problemas do mundo não é algo racional. É claro que isso é um pensamento simplificado e que, em geral, os modelos de redistribuição propostos não são tão radicais e diretos (já que isso é claramente falho). Mas em maior ou menor grau muitos creem que na distribuição de riquezas estaria a salvação do mundo, pressupondo que o melhor remédio para acabar com a pobreza é retirar riquezas dos mais ricos.

Curioso é que as mesmas pessoas que creem nessa distribuição como a salvação do mundo, se esquecem que são os governos, não os empresários, que detém a maior parte das riquezas do mundo. Só o Brasil, por exemplo, arrecadou cerca de 2 trilhões de reais em impostos no ano passado. À título de comparação, Amancio Ortega e Bill Gates, que dividem as duas primeiras colocações entre os homens mais ricos do mundo possuem, respectivamente, 78 e 79 bilhões de dólares, algo em torno de 240 bilhões de reais. Isso quer dizer o seguinte: o que Bill Gates levou cerca de 50 anos para conquistar, o governo brasileiro leva pouco mais de 1 mês para conseguir. E embora, em tese, esse dinheiro devesse retornar para a população em bons serviços, sabemos que não é isso o que acontece. Isso é mais uma demonstração clara que simplesmente tirar o dinheiro dos mais ricos não é o que vai resolver os problemas do mundo.

Em contraponto a essa ideia de salvação do mundo via distribuição equitativa de todas as riquezas, a profecia de Deuteronômio 15 enfatiza que não importa qual seja nosso sistema político/econômico ou o que façamos, sempre haverão pobres no mundo; e isso só irá acabar na ocasião da volta de Jesus Cristo. Ele nos preparou um lugar onde jamais passaremos pelas consequências do pecado.

Então, não devemos nos preocupar com o problema da pobreza? Claro que devemos. A Palavra de Deus nos ensina sobre como podemos amenizar as aflições dos necessitados. Todas elas são de forma altruísta, portanto, pessoal. Sendo assim, é dever nosso ajudar os pobres e não delegar esta missão à terceiros, como amigos, familiares e principalmente o governo. Este é formado por seres humanos que são naturalmente egoístas. E quanto mais poder eles recebem sem a devida orientação divina, maiores as chances de se corromperem, trazendo por fim miséria para o povo.

Aliás, lutar por um Estado menos poderoso é uma forma de ajudar os pobres, já que Estados poderosos espoliam o trabalhador com altos impostos, dificultam a geração de empregos, geram inflação, criam déficits que a população acaba tendo que arcar, desviam grande quantidade de verbas e sustentam gastos inúteis e/ou supérfluos, no lugar de prestarem serviços públicos de qualidade. Quem mais sofre com tudo isso é o pobre.

É por esse e outros motivos que defendemos um Estado mais enxuto. Não foi coincidência que todos os países de governos socialistas acabaram no problema de proliferação da miséria, isso sem falar nas ditaduras. A verdade é que tanto o capitalismo (até no seu estado puro) quanto o sistema de governo socialista não acabarão com a pobreza do mundo. Mas a história nos mostra que esse sistema definitivamente não serve para reduzir o número de pobres no mundo.

Ellen White enxergava a questão da pobreza e da desigualdade social para além do prisma econômico, observando que o próprio Deus possui propósitos diferentes para cada pessoa e que, portanto, a igualdade plena jamais irá ocorrer no mundo. Assim, mesmo que fosse possível deixar todos igualmente ricos (o que sabemos que não é), isso não seria algo desejável, do ponto de vista divino, nesta terra pecaminosa. Tal fato não implica, de forma alguma, que devamos nos esforçar para manter a miséria ou não nos esforçar para combatê-la. Significa sim que nosso alvo não deve ser a promoção de uma igualdade financeira plena, o que é utópico e inviável, mas sim dar às pessoas uma vida digna. Nas palavras de White:

“Não é plano de Deus que a pobreza desapareça do mundo. As classes sociais jamais deveriam ser igualadas; pois a diversidade de condições que caracteriza nossa raça é um dos meios pelos quais Deus tem pretendido provar e desenvolver o caráter. Muitos têm insistido com grande entusiasmo em que todos os homens devem ter parte igual nas bênçãos temporais de Deus; não era este, porém, o propósito do Criador. Cristo afirmou que sempre teremos conosco os pobres. Os pobres, bem como os ricos, são comprados por seu sangue; e, entre os Seus professos seguidores, na maioria dos casos, os primeiros O servem com singeleza de propósito, enquanto os últimos estão constantemente colocando as suas afeições nos tesouros terrenos, e Cristo é esquecido. Os cuidados desta vida e a ambição das riquezas eclipsam a glória do mundo eterno. Seria a maior desgraça que já sobreveio à humanidade se todos devessem ser colocados em posição de igualdade em possessões terrenas” (WHITE, Ellen G. “Conselhos sobre Saúde”, p. 230).

Fontes:

https://leituradobem.wordpress.com/2013/09/25/o-que-aconteceria-se-toda-a-riqueza-do-mundo-fosse-dividida/

http://sitebarra.com.br/2016/01/o-que-aconteceria-se-toda-a-riqueza-do-mundo-fosse-dividida.html

http://spotniks.com/e-se-dividissemos-a-riqueza-do-brasil-igualmente-uma-dica-ainda-seriamos-pobres/

http://text.egwwritings.org/publication.php?pubtype=Book&bookCode=CSa&lang=pt&collection=65&section=all&pagenumber=230&UIlang=fr&t=1&paragraphReferences=1

Por John Churchill

Fonte: Reação Adventista

Sobre Weleson Fernandes

Escritor & Evangelista da União Central Brasileira

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